O espaço projetado pela OSA Arquitetos para a CasaCor SC 2021 tem 60 m² e leva o nome de Quarto Suna, palavra japonesa para areia. Um local destinado ao descanso e à sensação de calma e fluidez. Celebra a beleza imperfeita, a dualidade, a impermanência da vida. Emprega uma linguagem que transcende tempo e espaço, com diferentes texturas e elementos naturais, unidos por tons claros e linhas sóbrias, com pontuações opostas, de tons escuros e linhas curvas. O contemporâneo aliado às raízes culturais, o minimalismo combinado ao tradicional, o senso estético puro embasado à função.

A planta é dividida por um grande pórtico retilíneo, de bordas suaves. Multifuncional, setoriza o ambiente em dois usos, a área de descanso (cama e estar) e a área prática (sala de banho e closet). O carpete demarca o caminhar da área de descanso, de maior dimensão, e convida o caminhar sem sapatos. Para manter o conforto, a área prática leva piso em madeira Tauari. Ainda assim a circulação é integrada e fluida, criando um circuito agradável e dinâmico.

O descanso é definido pela Cama Orgânica, criação autoral da equipe OSA para a marca de colchões Reveev, tem no seu conceito a sensação de acolhimento. Suas linhas arredondadas, fluidas, e seu tecido felpudo, remetem às formas essenciais da natureza. “A curva quebra a formalidade, a seriedade e flutua no espaço, apesar do seu grande tamanho”.

Além disso, é multifuncional e tecnológica. Pensada para ser também mesa de cabeceira e carregar o celular, assento para calçar sapatos, tatame para meditar. Conta com iluminação sensorial balizadora e tem caixas de som acopladas. A parceria ainda rendeu uma inspiração especial para o teto ripado, que ao mesmo tempo lembra os painéis japoneses Shōji, como também os antigos estrados de colchões, a estrutura original de uma cama. Para máximo efeito, recebe iluminação indireta com fitas led automatizadas, que dançam como areia em movimento, ditando o ritmo de calmaria ao espaço.

Ao lado da cama, uma grande escultura formada por raízes residuais de uma árvore centenária de imbuia enfatizam ao tema da Casacor, Casa Original. Na cabeceira da cama, a parede revestida por painéis no tom carvalho natural conectam a cama ao estar. A mesa redonda Sino proporciona dinamicidade de apoiar, jantar ou trabalhar. É pontuada por cadeiras Beg, de Sérgio Rodrigues, e 12 pendentes Corda, de Guilherme Wentz. Aos fundos, a prateleira chanfrada em mármore Paraná levigado flutua com seus nove metros e mais de 40 vasos cerâmicos produzidos artesanalmente no Parque Nacional da Serra da Capivara, declarado pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade.

Outra grande âncora do ambiente, a poltrona Chifruda, de Sérgio Rodrigues, se encontra no eixo visual de entrada do ambiente e conversa diretamente com a cama, sugerindo o quarto como um ambiente de trocas. É complementada lindamente com a obra de Elizabeth Jobim e demarcado pelo tapete de juta indiano, num jogo de linhas e planos. Entre outras obras artísticas, produções de André Azevedo, Célia Euvaldo, André Nacli, Studio L, Mestra Irineia, Studio Num e Elaya Design. Iluminando a lateral da cama, o abajur Snoopy, desenhado por Achille e Pier Castiglioni para a italiana Flos.

Na sala de banho, banheira de imersão tem apoio do banco Mocho, também de Sérgio Rodrigues, e uma prateleira baixa de seis metros, que abriga inúmeras velas. O teto baixo recebe painéis no tom de carvalho e aquece a temperatura. A área de lavatório é condecorada com louças e metais Deca assinados por Jader Almeida, que misturam linhas precisas a tons de branco e preto fosco, além do espelho retroiluminado, pontuado pela arandela Antígone, de Waldir Junior. Já o guarda-roupas, uma arara aberta e prática, recebe um cabideiro também assinado pelo escritório OSA. Com o nome de Galho, é metálico com pintura preta fosca, tem formato orgânico que lembra um galho de árvore.

O linho é visto nas roupas de cama, roupas da arara e cortinas que emolduram as janelas paralelas à cama, juntamente com a persiana translucida que lembra dobraduras japonesas. A areia do nome do ambiente se faz presente do revestimento das paredes, em papel ecológico, que será posteriormente reutilizado. Aliás, cerca de 75% do ambiente será reutilizado pela modulação como foi projetado.

“A sociedade pede paz, pede calma, pede conforto, pede essência. É nesse ponto que a arquitetura pode e deve influenciar a vida das pessoas. Um quarto que te mostre o que é essencial, com todo conforto para nossa saúde emocional, mas sem esquecer que vivemos em novos tempos. É tempo do despertar da nossa consciência, de sustentabilidade, de empatia, sem excessos desnecessários” ressalta Martina Hasse, coordenadora do projeto.

Detalhe dos detalhes, o cheiro do ambiente lembra a brisa do mar, cocos frescos como centro de mesa, lenhas, velas, muitos livros e uma música leve que convidam à contemplação. “Descanso para o olhar, respiro para a mente, corpo relaxado, paz no coração. Um convite às sensações.”