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Com mesma receita desde 1937, Sorveteria Schmitt resiste ao tempo e faz história em Blumenau

Manjericão com creme e limão, gengibre, abóbora com coco, laranja com creme e café com canela; esses são só alguns dos sorvetes que a Sorveteria Schmitt oferece. Ao passar em frente, muitos podem não notar, mas a lanchonete da rua Floriano Peixoto, 231, no Centro de Blumenau guarda muitas histórias e “segredos” na produção de seus sorvetes.

E o dono de muitas delas é Eusébio Godofredo Schmitt, mais conhecido como seu Schmitt, um senhor de 79 anos que começou sua história com sorvetes ainda jovem, na antiga sorveteria Florida, que ficava no Centro de Blumenau. 

Do trabalhador ao empreendedor

Nascido em 1942, e tendo estudado até a terceira série, seu Schmitt trabalhou no sítio com seus pais até os 18 anos quando precisou servir o exército, no Distrito Federal, em Brasília, por volta de 1961. Um ano depois, em 1962, ele voltou para Blumenau. 

Chegando aqui, um dos gerentes de gestão de pessoas da empresa Souza Cruz ofereceu uma proposta para trabalho como guarda do local. Ele trabalhou na empresa durante cerca de cinco anos, quando decidiu ir para outros ramos.

Então, em 1967 que ele começou a procurar vagas de garçom e outros serviços em churrascarias e restaurantes de Blumenau, contudo, nenhum dos locais tinham vagas no momento. Foi quando ele resolveu parar em uma das sorveterias e bar do centro de Blumenau, chamada sorveteria Florida.

Em uma curta conversa com os donos do local, ele já havia conseguido a vaga.“Passei lá de manhã e conversei um pouco, logo em seguida a dona perguntou: ‘sera que você não poderia começar hoje, às 13h?’ e foi assim que começou minha história com os sorvetes. Isso aconteceu em 7 de setembro de 1967. Nunca me esqueço dessa data”, comenta. 

Durante esse tempo de trabalho na sorveteria, muitas outras pessoas convidaram seu Schmitt para trabalhar em outros locais. “Um dos antigos gerentes Frohsinn de Blumenau era um frequentador assíduo da sorveteria e sempre me convidava para trabalhar com ele. Chegavam me oferecer mais do que eu ganhava, mas eu gostava muito de trabalhar no Florida, e não queria sair de lá por nada”, comenta, rindo.

Seu Schmitt trabalhou na sorveteria Florida até 1º de julho de 1974, quando os donos resolveram fechar o local, pois já estavam idosos. Contudo, como gostavam muito dele e pensavam que ele tinha futuro no ramo, os donos o deram as máquinas que possuíam e disseram para ele continuar com os sorvetes.

“Os antigos donos fizeram muitas propagandas e me ajudaram no meu começo. Se eu não tivesse aceitado, tudo isso não teria acontecido. Fico feliz por ter continuado”, relata.

Surgimento da receita dos sorvetes

A sorveteria Florida pertencia a uma família italiana e havia sido criada durante os anos 1930, em Blumenau. Porém a receita dos sorvetes que perduram até hoje é de 1937. A sorveteria que havia sido passada de geração para geração ficava onde atualmente é o Edifício Flamingo, no Centro de Blumenau. 

Por ser no Centro da cidade, a sorveteria era muito próxima do local onde os imigrantes e turistas desembarcavam dos navios. Seu Schmitt relata que alguns turistas que vinham para Blumenau chegavam a passar um mês inteiro na cidade, devido à demora da carga e descarga dos produtos que vinham nos navios. Por conta disso, a sorveteria era muito frequentada por pessoas de fora, que acabavam criando relações com os funcionários. 

É em 1937 que desembarca um casal de sorveteiros italianos, que se oferece para ensinar uma nova receita para a sorveteria Florida. “No dia seguinte após o casal ter conhecido a sorveteria, o homem disse ‘vou ensinar uma nova receita’, e então ele pediu alguns ingredientes. Nós compramos o que ele precisava, e a única exigência dele era que ninguém estivesse lá enquanto ele produzia o sorvete”, comenta

Seu Schmitt ainda relata que todo mundo foi pescar no rio enquanto o homem fazia o sorvete. Todo o processo durou um dia inteiro. “O processo demorou, mas valeu a pena, já que quando experimentaram, todos ficaram encantados. Por isso, a receita segue sendo a mesma até hoje”.

A receita

A Sorveteria Schmitt produz todos os seus sorvetes de forma natural; na composição deles não há nenhum produto químico, nem mesmo gordura vegetal, aromatizantes, corantes ou conservantes, e a base de todos os sorvetes são apenas açúcar, ovos, leite e araruta – um amido obtido a partir dos rizomas de várias plantas tropicais – para engrossar. 

“Todos os nossos sorvetes são naturais, e esse é o nosso mais diferencial. Por exemplo, um sorvete de morango é feito com a base de todos os sorvetes: açúcar, ovos, leite e araruta, e depois é adicionado os morangos. Não é colocado nenhuma química no processo, e a única gordura presente nos sorvetes, é a gordura do leite”.

Mudanças

Seu Schmitt comenta que muitas coisas mudaram ao longo dos anos. “Nossos sorvetes são ótimos, mas já foram melhores. Antigamente as frutas e as coisas não tinham tantos produtos químicos. Hoje as coisas estragam muito facilmente. Até uns dois anos atrás eu conseguia fazer sorvetes de pêssego, por exemplo, hoje já não dá mais. Mesmo os pêssegos sendo bonitos, não tem mais gosto de fruta, é apenas água”, comenta.

O processo para preparar um sorvete mudou muito também. Antigamente no verão, temporada que vendia mais sorvetes, Seu Schmitt relata que era comum que as suas mãos ficassem cheias de calos, por que era tudo feito manualmente. “Ficávamos a noite inteira batendo um sorvete, às vezes. Agora, com as máquinas  é rapidinho, só colocar os ingredientes e em 10 minutinhos já está pronto o sorvete”, relata.

Sorveteria Schmitt e o futuro

A sorveteria Schmitt possui dois locais, um em Blumenau, na rua Floriano Peixoto, 231, no centro, onde trabalham cerca de cinco pessoas, e onde seu Schmitt fica na maioria dos dias, sentado em frente ao bar e conversando com todos que passam. O segundo local é em Gaspar, na rua Dr. Nereu Ramos, 265, no bairro Coloninha, administrado por seu filho e seu neto. 

Muitas pessoas vêm de fora para conhecer a sorveteria, devido sua fama com os sorvetes diferentes. Seu Schmitt comenta ser muito comum argentinos virem provar o sorvete. ”Por conta disso, é difícil sair na rua e alguém não me reconhecer. Uma vez fui para Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, e uma pessoa me reconheceu, fomos conversando e descobri que ele me conhecia por conta da sorveteria”.

Divulgação

Além disso, ele relata que por estar em frente ao Hospital Santa Isabel, muitas pessoas passam por ali para desabafar. “Nós vemos e ouvimos muitas histórias tristes das pessoas do Hospital. O lugar da sorveteria é ótimo, e gostamos de ajudar as pessoas nem que seja com um sorvete, mas é triste ver as pessoas sofrendo”, relata.

Com muitas histórias guardadas, seu Schmitt irá fazer 80 anos no dia 3 de agosto de 2022, e está deixando seu legado para a família. “Agora daqui pra frente, espero que minha familia tenha muito sucesso cuidando da sorveteria. Venho aqui apenas para passar o tempo, já trabalhei que chega já, agora quero descansar. Espero que eles caprichem, porque a sorveteria é para sempre.” 

Ele ainda finaliza prometendo que para seu aniversário, em  irá dar sorvetes de graça para todo mundo que aparecer na sorveteria.


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