Das Kino - Um olhar crítico sobre o cinema

Jéssica Frazão é doutoranda na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e escreve sobre cinema, artes e produção audiovisual.

Conheça plataforma com filmes catarinenses gratuitos para assistir

Colunista apresenta a plataforma da produtora e distribuidora de conteúdo audiovisual Filmes que voam

Conheça mais filmes catarinenses

O cinema catarinense existe, é bom e tem qualidade. Vários catarinenses, porém, pouco conhecem das obras audiovisuais do seu estado. E se eu te disser que vários filmes catarinenses estão disponíveis no YouTube?

Esta foi a proposta da produtora e distribuidora de conteúdo audiovisual ‘Filmes que voam’, que disponibilizou ficções e documentários completos de Santa Catarina, em formato de curtas e longas-metragens, a um clique de distância

Sendo pioneira em acessibilidade no Brasil, a ‘Filmes que voam’ oferece, gratuitamente, obras em libras, audiodescrição e legendadas. Há, inclusive, vários filmes infantis.
Direto de Florianópolis, destaco, inicialmente, o curta-metragem produzido pela Novelo Filmes “Qual queijo você quer?” (2011), da Cíntia Domit Bittar, sobre um momento conflituoso na relação de um casal de idosos.

Outra obra indicada é o “Entre Gerações” (2016), documentário de Chico Faganello, que mostra a visita de estudantes adolescentes da Escola Batista Pereira ao Lar de idosos São Francisco. Juntos, eles assistiram a um filme sobre a história do Brasil e conversaram sobre cinema e experiências pessoais.

Um filme bastante peculiar chamado ‘Muamba’ também merece atenção. A peculiaridade se dá porque a própria produção do filme, por conta de inúmeras dificuldades, interferiu seriamente no roteiro.

Com locações na cidade de Florianópolis e na fronteira do Brasil com o Paraguai, as gravações tiveram que ser interrompidas na metade, uma vez que uma das maiores enchentes no estado destruiu locações e cenários.

À produção, duas alternativas restaram: começar tudo de novo, com novos cenários, ou mudar o roteiro. Optou-se por mudar o roteiro, a partir do que já se tinha. Toda essa adversidade faz do filme uma experiência audiovisual muito interessante.

Por fim, trago filmes que deveriam interessar a todo (a) blumenauense: O primeiro é o curta-metragem “Memórias de Santa Catarina”, apresentando trechos de filmes antigos filmados no Vale do Itajaí sobre a sociedade do começo do século XX, filmados pelos pioneiros do cinema catarinense, José Julianelli e Alfredo Baumgarten. Os filmes originais em 16 mm estão hoje no Arquivo Histórico de Blumenau.

O segundo traz uma reflexão sobre o passado europeu no sul do Brasil que destoa muito das narrativas mais tradicionais, sobretudo na Blumenau da “Alemanha sem passaporte”. “Outra Memória” (2005) recupera, junto a antigas imagens também retiradas do Arquivo Histórico de Blumenau, a jornada da atriz Edith Gaertner.

Filmado no Brasil e na Alemanha, com trilha sonora de compositores como Yamandú Costa, Edino Krieger, Bach, Schubert e Mozart, “Outra Memória” mescla as linguagens do cinema documental e de ficção a partir do desenvolvimento de um ensaio teatral. A obra é fundamental para compreensão da nossa história.

Nas últimas décadas, o audiovisual catarinense se fortaleceu e tornou-se mais competitivo, um resultado conjunto da boa formação dos profissionais, do incentivo de editais de cultura, da consolidação dos cursos de Cinema e Audiovisual nas universidades do estado, das parcerias com canais de televisão abertos e pagos, da participação em mostras e festivais e do espaço para experimentação, que produziu conteúdo em curtas, médias e longas- metragens (alguns premiados).

Quem diria, o cinema catarinense, então, está mais próximo de nós do que imaginamos. Será que estamos sabendo apreciar nossa filmografia? Em tempos de quarentena e fora dela, que tal começar a valorizar mais o que é nosso?

Esse exercício constante exige, portanto, empatia não apenas pelos filmes estadunidenses de super-heróis, comédias românticas açucaradas, e demais longas feitos a partir de fórmulas comerciais pouco aprofundadas, mas também emancipação do espectador, amor e respeito pela produção audiovisual catarinense e nacional.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo