Das Kino - Um olhar crítico sobre o cinema

Jéssica Frazão é doutoranda na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e escreve sobre cinema, artes e produção audiovisual.

“Assistir e conhecer os filmes feitos por mulheres cineastas é um ato político”

Você costuma assistir filmes dirigidos por mulheres? Saberia dizer de quais diretoras você acompanha o fazer fílmico, e o significado político de dar vez e voz às histórias e formas de percepção do mundo das mulheres cineastas?

Filmes feitos por mulheres, ao contrário do que muita gente pensa, não propõem uma “estética feminina” ou uma “sensibilidade feminina” para fazer filmes. Na verdade, muitas pesquisadoras do cinema defendem que estes filmes apresentam um universo grande de possibilidades, evidenciado pelo encontro das mulheres com as câmeras, e que de forma alguma deslegitima as diferenças entre elas, mas sim reconhece suas singularidades, contradições e pluralidades.

Inclusive, várias diretoras não se consideram feministas, ainda que seus filmes indiquem para aspectos caros ao feminismo – como a desconstrução de estereótipos de gênero. Como menciona a professora Karla Holanda, no importante livro Feminino e Plural: mulheres no cinema brasileiro (2017), ainda que se reconheça as diferenças entre as cineastas, suas obras apontam para as várias experiências partilhadas no mundo, propondo enfrentamentos aos grupos dominantes.

Em dados retirados do site da Ancine, na pesquisa “Diversidade de gênero e raça nos lançamentos brasileiros de 2016”, constatou-se que o mercado cinematográfico brasileiro é, em sua grande maioria, definido pela produção e presença de homens brancos.

Dos 142 longas-metragens lançados no Brasil em 2016 (de forma comercial), sabendo que estes espaços de produção são elitizados, 75,4% dos filmes foram dirigidos por homens brancos. 19,7% por mulheres brancas, e 2,1% por homens negros. A pesquisa aponta para o enorme problema quanto à participação das mulheres no meio audiovisual brasileiro. Um recorte de gênero, mas também de classe e de raça.

Nomes como o de Adélia Sampaio, a primeira cineasta negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, por muito tempo não constou nos registros históricos do cinema. Ela, inclusive, foi a única mulher negra a fazer um filme com estreia comercial no Brasil até 2016. Este e vários outros nomes podem ser encontrados na obra de 2017 acima citada.

Assistir e conhecer os filmes feitos por mulheres cineastas é um ato político, assim como expor, hoje, as opressões que as mulheres ainda sofrem no meio cinematográfico. É necessário que novas representações e reflexões no campo do cinema existam, incluindo toda diversidade que estamos comentando aqui.

Pensando em estratégias que valorizem a democratização do conhecimento, partilhamos a formação ‘Cinema feito por mulheres’, que está no YouTube. Essa formação fez parte de um projeto viabilizado pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017/2020), na cidade de Blumenau:


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