Das Kino - Um olhar crítico sobre o cinema

Jéssica Frazão é doutoranda na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e escreve sobre cinema, artes e produção audiovisual.

Filme produzido por artistas transgêneros de Blumenau será lançado nesta quinta-feira

Confira entrevista na coluna de cinema

Produção audiovisual catarinense. No dia 15 de abril, ocorre a live de lançamento do curta-metragem “Ela”. Um filme ficcional, com duração de 15 minutos, produzido por artistas transgêneros, bináries e não-bináries de Blumenau, que utilizam de suas percepções para construir uma narrativa poética a partir de suas piores vivências. A estreia do filme será às 22h, pelo canal do YouTube ELA e logo após haverá bate-papo com a presença da produção e do elenco. 

Sobre o documentário

Segundo a atriz e proponente do projeto, Mallu Fonseca, o curta-metragem faz um resgate de temas extremamente importantes nos dias atuais: a depressão, a pedofilia e o abuso sexual. “Penso que um dos objetivos é falar sobre as feridas que muitas pessoas têm e que guardam para si, solitárias. Precisamos falar sobre a violência e estender a mão a quem precisa e dizer ‘vem, a gente te entende’”, comenta Mallu.

“Procuramos, através da ficção, ressignificar histórias reais de vida. A narrativa se desenvolve a partir das lembranças traumáticas da protagonista, a Alma, quando se vê diante de seu maior conflito: Ela, sua própria ansiedade”, explica a atriz e diretora. 

“O curta Ela é o reconhecimento de uma pluralidade identitária, inerente ao século 21, que torna possível a readequação dos papéis sociais, trazendo como principal objetivo a possibilidade da arte como trabalho, utilizando da tecnologia e dos ciberespaços como ferramentas fundamentais. Contando, assim, novas histórias de esperança e de sucesso para aqueles que ainda não viram a potência da sua arte ou que ainda não encontraram um meio tecnológico para se expressar. Pessoas que estiveram historicamente à mercê da marginalização e da prostituição”, complementa a codiretora Neo. 

O curta e o making of em formato de entrevista com os participantes serão disponibilizados pelo canal do YouTube, de forma gratuita. O Projeto Ela, de Mallu Fonseca, é viabilizado por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei nº 14.017/2020) no município de Blumenau. A produção também foi selecionada pelo projeto REDES, Divulgação como Mecanismo de Cultura, de Nane Pereira Comunicação e Arte, viabilizado pelo mesmo edital. Acompanhe as novidades pelo www.instagram.com/elataemtudo 

Ariel

Confira a entrevista com a atriz Mallu Fonseca

Como surgiu a ideia do documentário?
“O curta surge da união de duas amigas trans em uma imersão artística, eu e Neo.  Sempre me vi contemplada e atravessada pela arte dela. Ela foi uma das molas que me impulsionaram na arte. Quando surgiu a oportunidade, sentamos para criar juntas, a história veio através de desenhos meus e dela que se mesclaram”.

Como é o cotidiano das pessoas trans na cidade de Blumenau?
“Primeiro é preciso que pessoas cisgêneras (pessoas cuja identidade de gênero correspondem ao que lhe foi atribuído no nascimento) entendam que pessoas trans (transgênero, pessoas cuja identidade de gênero é o oposto do sexo atribuído – homens trans e mulheres trans, ou pessoas não-binárias) são múltiplas.

Eu não posso falar por todes, até mesmo porque tenho meus privilégios. Sou branca, magra, não fui expulsa de casa e por aí vai. Mas posso falar que na cidade de Blumenau estamos totalmente desamparadas, dificilmente nos empregam, nos negam afeto e nos matam como no país todo, e arrisco dizer no mundo todo.

Aqui não é diferente, esse olhar como quem diz que não somos humanos só é fortalecido pelo ar tradicionalista que flerta com a história nazista de nossa cidade”.

Quem é Ela?
“Ela sou eu, pode ser você. É um sentimento que acompanha todo corpo e mente que foi e é oprimido”.

Como se pode melhorar o atendimento a trans?
“Nos aceitando como somos. Nos levando a sério, nos escutando e entendendo que o nosso valor é igual e até maior em certos casos devido a nossa vivência. Nos incluir de maneira real nos espaços e não somente para ganhar um “selinho LGBTQI friendly”, entender que nossos corpos têm demandas únicas. Que devem ser respeitadas. Abrir portas para que possamos sair da margem, da marginalidade e respeitar nossa individualidade”.

Como é ser uma pessoa trans num país como o Brasil?
“É um ato de coragem diário, somos o país que mais mata pessoas trans e o país que mais consome pornografia trans. Ou seja, vivemos nessa eterna contradição entre o mesmo que nos objetifica e sexualiza nossos corpos também nos mata. É viver tendo que se legitimar como ser humano todos os dias. É ter que brigar por isso, ter que lutar para que consigamos o básico”.

É a primeira ficção que produzem?
“Sim, é o primeiro curta. Nós, como equipe, viemos do Teatro em maioria e de performances artísticas, moda, ilustração, música, acho que um curta veio como uma boa oportunidade de unir todas essas potências”.

Como o cinema pode ajudar na compreensão e na discussão sobre o tema?
“Nosso curta não vai falar diretamente sobre ‘questões trans’, por assim dizer. Mas sendo um projeto 100% composto por pessoas trans, vamos mostrar que somos capazes. Temos talento, somos profissionais como qualquer pessoa cis pode ser.

Muitas das desculpas que já ouvi sendo uma artista trans foi o fato de que não há profissionais trans no mercado, que quando uma pessoa cis interpreta uma pessoa trans no cinema, por exemplo, é por que há uma dificuldade de encontrar esses profissionais, e isso não é verdade. Acho que nosso curta vai mostrar que estamos aqui e somos tão potentes quanto pessoas cis sim, que existimos”.

Qual teu maior sonho?
“Eu sou uma pessoa que tenta não criar muitas expectativas de futuro, talvez porque a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos. Mas eu pretendo me ver num sistema mais justo, menos cruel, onde o dinheiro não domine o mundo, onde religião seja algo pessoal e não manipuladora. Sei lá, minhas utopias são de um mundo menos cruel e com mais respeito à natureza, acho que isso é o que me faria feliz”.

Reprodução

Live de lançamento do curta-metragem: Ela 

Dia 15 de abril, às 22h
Pelo canal do YouTube http://bit.ly/youtube-ELA
Evento gratuito e aberto a toda comunidade
Classificação indicativa: acima de 18 anos.

Ficha técnica 

Direção: Maria F.
Codireção: Neo
Produção executiva: 4MNJ
Intervenção: Black Silencie
Direção de cena: Maria F.
Diretor de fotografia: Ariel
Direção de arte: Ana F
Roteiro: Tiago de Matos
Figurinista/Intervenção Black Silencie: Kinber
Maquiagem: Alice Alves
Atriz convidada especial: Gy Freek
Preparadora de elenco/Compositora de trilha sonora: Neo
Elenco: Personagem Alma: Maria F.; Ela: Gy Freek; Mãe Alma: Alice Alves; Demônios Abusadores: Tiago de Matos; Intervenção Black Silencie: Kinber; Justiça: Kinber
Duração: 15 minutos
Classificação indicativa: acima de 18 anos
Assessoria de imprensa: Nane Pereira 


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