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“Desrespeito e crueldade via WhatsApp anulam critérios jornalísticos em caso de suicídio”

Editorial

A essa altura, você já deve saber que um homem tirou a própria vida no interior de um templo religioso de Blumenau no fim de semana. Por mais que o assunto não tenha sido divulgado em veículos jornalísticos (ao menos até domingo à noite, quando escrevo esse texto), os detalhes da tragédia chegaram a milhares de blumenauenses via WhatsApp.

O nome da vítima consta da maioria das mensagens em circulação, assim como uma fotografia do corpo. Em uma montagem específica, alguém cuja humanidade se perdeu nos botões do telefone celular juntou tudo isso com fotos de pessoas que seriam os familiares do falecido. Duas crianças incluídas.

Deixe-me descrever em outras palavras: fizeram uma busca na internet com o nome do suicida, salvaram fotos da mulher e dos filhos e compartilharam junto com o resto. Não basta expôr o morto, é preciso dar rostos a quem segue sofrendo.

Desrespeito, falta de empatia e crueldade espalhados via WhatsApp anulam critérios jornalísticos e o zelo das autoridades de saúde quando o tema suicídio está em pauta. Enquanto, num grupo, colegas jornalistas debatiam se o fato deveria ou não ser tratado como notícia, em vários outros a morte chocante materializava-se em imagens.

Recebi de ao menos três leitores a pergunta: por que a imprensa está escondendo o caso? A questão está invertida. Afinal, qual o interesse social embutido na decisão individual extrema?

Suicídios isolados e descontextualizados pouco ajudam a aprofundar o conhecimento sobre causas e prevenção, apenas saciam curiosidade mórbida. Não é a vontade de esclarecer e prevenir que move os dedos de quem dissemina a fragilidade alheia online.

Jornalistas profissionais evitam divulgar casos de suicídio e, quando o fazem, tomam precauções muito bem resumidas neste documento elaborado pelo Ministério da Saúde de 2017.

Por dois motivos principais:

1) Para preservar a intimidade da família enlutada e evitar que fique estigmatizada pela perda violenta. Quem perde alguém querido nessas circunstâncias já sofre o bastante.

2) Divulgar detalhes sobre a forma como ocorrem suicídios específicos pode encorajar pessoas em situação de fragilidade emocional.

O Município Blumenau abordará o tema suicídio em reportagens, associando ocorrências ao conhecimento de especialistas e autoridades no assunto. Casos específicos serão tratados de acordo com o que recomendam autoridades de saúde e os padrões éticos de nossa atividade.