Dos BRTs aos VLTs: soluções alternativas para o trânsito de Blumenau

Em certos dias, transitar por Blumenau parece ser uma viagem sem fim. E se ficar na dependência dos ônibus e dos carros na cidade é o problema, os modais alternativos podem ser a luz no fim do túnel. Buscando por soluções como estas, algumas das principais cidades desenvolvidas ou em desenvolvimento no mundo têm cada vez mais adotado os sistemas e métodos de transporte interligados como os BRTs (Bus Rapid Transport) e os VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos). 

Só no Brasil, mais de 200 cidades implementaram sistemas troncais de ônibus BRT, que transportam dezenas de milhares de pessoas com agilidade todos os dias. Já os VLTs, presentes em nove capitais brasileiras, podem transportar centenas de pessoas em um só veículo. A “desvantagem” dos VLTs é que os veículos utilizados neste sistema são mais caros. 

Mas afinal, o que são e como funcionam esses modais alternativos? Confira, nesta reportagem, um pouco mais sobre estes sistemas e confira de que forma Blumenau poderia ter o transporte público beneficiado com eles.

Ônibus rápido, acessível e confortável? É possível

De certa forma, possuímos um BRT rudimentar na cidade. Os corredores de ônibus, implementados em Blumenau no final de 2009, são uma forma de separar o trânsito dos transportes coletivos do resto da frota de carros da cidade, desafogando o tráfego e dando mais agilidade aos ônibus. Ou, pelo menos, é isso o que estes corredores se propõem a ser – quando funcionam de forma eficaz.

A diferença é que o sistema de Bus Rapid Transport leva esse conceito a outro nível. Nos sistemas de BRTs do Brasil, presentes em cidades como Rio de Janeiro e Curitiba, modelos de ônibus com grande capacidade operam em faixas completamente segregadas do resto do trânsito, em uma via exclusiva para ônibus. As estações para passageiros são fechadas e a passagem é cobrada antes do momento do embarque, dando ainda mais dinamismo para os veículos. Além disso, as estações devem estar sobre uma plataforma elevada no mesmo nível da porta dos ônibus, facilitando e agilizando a entrada no BRT. 

Curitiba, inclusive, foi a primeira cidade brasileira a ter uma faixa exclusiva para a circulação de ônibus. O sistema de BRT da cidade começou a ser implantado em 1974 e virou referência internacional para a inclusão deste modal em contextos urbanos. 

Hoje, o sistema curitibano engloba uma rede com mais de 80 quilômetros de corredores de ônibus que comportam uma frota de mais de 1,2 mil veículos, transportando em torno de 400 milhões de passageiros por ano. 

Em Santa Catarina, o sistema de BRTs de Florianópolis, chamado de SIM (Sistema Integrado de Mobilidade), é um dos mais conhecidos. Em planejamento desde 2016, apenas em 2020 os primeiros passos para a conclusão das obras foram tomados. Apesar de ter avançado, o sistema na Capital catarinense ainda está longe de ser considerado um modal verdadeiramente integrado.

O sistema de BRTs de Curitiba, com suas icônicas estações em formato de tubo, é um dos primeiros e mais influentes projetos de mobilidade urbana do país 

Uma grande vantagem do sistema de BRT é o seu baixo custo de construção, principalmente quando comparado com outros modais como metrô, VLT e trem urbano. O custo de implementação do modal varia entre R$ 3,2 milhões e R$ 48 milhões, enquanto o custo por cada quilômetro é de aproximadamente R$ 20 milhões. Para os Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), por exemplo, o custo por quilômetro pode chegar a até R$ 80 milhões.

E os VLTs? Como eles funcionam?

Se falta incentivo para que os motoristas deixem os carros de lado e passem a utilizar um tipo de transporte coletivo, o Veículo Leve sobre Trilho pode ser o empurrãozinho que faltava. Previsto no antigo plano Blumenau 2050, onde inicialmente conectaria os terminais do Aterro e da Fonte, os VLTs são uma versão moderna dos antigos bondinhos. 

Na prática, os VLTs são veículos de grande capacidade que demandam um investimento de infraestrutura maior do que os BRTs, com custo de instalação que varia entre R$ 64 milhões e R$ 160 milhões. 

Ainda assim, por serem elétricos e se moverem sobre trilhos, os VLTs são mais ecológicos, com zero emissão de carbono e sem gerar a quantidade considerável de detritos que o transporte via ônibus descarta, principalmente se observada a troca dos pneus dos veículos. 

Os VLTs também são uma alternativa mais segura para o trânsito de Blumenau. Eles chegam a ser até seis vezes mais seguros que o transporte individual motorizado, evitando mais gastos e desgaste nas vias pavimentadas da cidade. 

Isso se dá, principalmente, pelo fato de o VLT ser um modal de transporte ferroviário, ou seja, com um percurso já definido. Os operadores não precisam se preocupar em guiar os veículos que fazem parte deste sistema em grande parte do trajeto. Em sistemas mais modernos, até mesmo tecnologias de inteligência artificial podem ser utilizadas para identificar a presença de pedestres nos trilhos, evitando atropelamentos.

Uma outra vantagem dos VLTs é a possibilidade de usar este sistema em projetos de requalificação urbana. Sistemas como o VLT do Rio de Janeiro são mais facilmente integrados a centros históricos sem modificar a paisagem. Isso ajuda a criar ambientes mais abertos e amigáveis aos pedestres e ciclistas sem depender de estradas de tráfego pesado. 

O VLT do Rio de Janeiro integra o centro histórico da cidade e áreas mais modernas – como a Cidade Olímpica – sem alterar drasticamente a paisagem

Possibilidades para uma Blumenau mais conectada 

A utilização de modais modernos e alternativos em Blumenau parece ter ficado no passado. Apesar de diversos investimentos na malha viária da cidade, construção de novas pontes e a construção de novos terminais para os ônibus, como o terminal da Água Verde, por exemplo, não existem planos para a implementação de sistemas de BRT ou VLT na cidade. 

A empresa Verde Vale, que fazia parte do consórcio Siga e operava em Blumenau, até chegou a adquirir dois modelos de ônibus BRT, mas sem um sistema estruturado e preparado para o modal, pouca diferença fez esta aquisição. Prova disso é que, com o fim do consórcio, os modelos já não fazem mais parte da frota de ônibus blumenauense.

Em 2017, o vereador Zeca Bombeiro (Solidariedade) trouxe para a sessão de abertura da Câmara de Vereadores de Blumenau a discussão sobre os VLTs. Na ocasião, ele defendeu a necessidade da utilização de um novo modal para a criação de um trânsito mais interligado na cidade. Segundo o ex-vereador, o VLT poderia ligar os terminais de ônibus da cidade com um investimento de R$ 80 milhões, podendo operar por até 50 anos. A proposta dele não teve desdobramentos na cidade.

Nos planos atuais da Prefeitura de Blumenau, o estabelecimento de linhas de BRT ou de veículos sobre trilhos ainda é um tópico vago. O Plano de Mobilidade Urbana, derivado do antigo Blumenau 2050 e que orienta as ações da prefeitura na expansão da malha viária da cidade, prevê como necessária uma malha interligada de itinerários com faixas exclusivas ou preferenciais para ônibus, podendo eventualmente operar como BRT. 

O plano também não descarta o uso de transporte sobre trilhos em projeções de longo prazo. Esses novos modais, segundo o plano, otimizariam o transporte público devido à diminuição da interferência de veículos particulares nos trajetos realizados por ônibus, promovendo um aumento da velocidade operacional e redução no tempo das viagens. Mas não há planejamento para este tipo de obra a curto ou médio prazo.

Conforme as administrações públicas mudam na cidade, assim como os seus planejamentos e apostas envolvendo os meios de transporte de Blumenau, a cidade não para de crescer. Um dos desafios do município é que o espaço físico de Blumenau, cortado por diversos rios e morros, é limitado. Especialmente se for analisada a crescente frota de carros. 

Frente a este cenário, pode ser relevante para o município voltar a debater e discutir outros tipos de modais, mais inteligentes, modernos e confortáveis, para levar quem mora na cidade até seus empregos, escolas e lares sobre rodas ou sobre trilhos, mas de forma interligada.

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