Eles largaram as carreiras e fizeram voto de pobreza para integrar comunidade católica em Blumenau

Baiana e mineiro estão entre os que dedicam suas vidas à Arca da Aliança

Ramon Frugoli, formado em Farmácia, tem 30 anos e nasceu em Ipuiuna, no Sul de Minas Gerais. Marla Monyane, de 21, também nasceu no interior mineiro, mas cresceu na Bahia. Na adolescência, sonhava em cursar Medicina.

Hoje, os dois moram em Blumenau com o mesmo propósito: disseminar a fé católica. Indo na contramão de grande parte dos jovens, eles largaram tudo para fazer parte da comunidade Arca da Aliança, localizada na Itoupava Central há mais de duas décadas.

Fundada em Joinville em 1986, a comunidade missionária hoje está em diversas cidades de Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia e no Paraguai. Diferente de um seminário ou de um convento, homens e mulheres vivem juntos na Arca da Aliança para contribuir com o grupo.

“O ser humano nasceu para viver em comunidade. Hoje, muitos acreditam que são capazes de fazerem tudo sozinhos. Mas você tem qualidades e capacidades que eu não tenho e vice-versa. Mais do que trabalhar juntos, nós partilhamos a vida. Nos colocamos à disposição do outro”, comenta Ramon.

Ramon e Marla dedicam suas vidas para a comunidade. Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Marla entrou na missão cedo, antes mesmo de completar 18 anos. Com a autorização dos pais, deixou a Bahia rumo a Joinville, onde foi missionária por dois anos. Em seguida, passou um ano no Paraguai. Atualmente, ela inicia seu segundo ano como responsável pela área apostólica da comunidade católica blumenauense.

“Alguns amigos me questionaram sobre meus planos e acharam uma grande loucura. Mas mesmo que nem todos compreendam, eles apoiam. O que eu vivo aqui transborda. Quando falo com eles lá na Bahia percebo a mudança e o interesse em conhecer mais”, diz a jovem.

Já Ramon ingressou mais tarde. Ele se mudou para Santa Catarina em 2015 após conseguir um emprego na área farmacêutica em Balneário Barra do Sul. Jovem, focava no trabalho e nas baladas com os amigos. Porém, quando encontrou a comunidade, percebeu que era aquilo que faltava em sua vida.

“Mesmo realizado na profissão, sentia que precisava de algo verdadeiro. A alegria da festa desaparecia depois de uma noite. Isso não podia ser a razão da minha existência. Desde 2017, cada dia confirmo mais que é aqui que Deus me chama a viver. Deixei a profissão, mas não o trabalho, já que meu conhecimento é útil aqui dentro”, conta.

Missionário inicialmente em Joinville, ele deve permanecer em Blumenau por mais alguns anos, pois iniciou os estudos para se tornar padre. Apesar de ter perdido o pai em 2012, o apoio da mãe foi incondicional. Curiosamente, nenhum amigo foi contra a decisão. Pelo contrário, Ramon foi encorajado por todos.

“Minha mãe ficou feliz, pois isso significava que eu estaria longe das bebidas e das drogas. Ela é muito devota. Sempre que eu ligo pra ela, ela diz que se não fosse pela comunidade, mandava eu voltar para casa. Tive medo de contar para o meu irmão, que pagou minha faculdade, mas até ele me apoiou. Não houve nenhuma resistência nem palavra negativa”, lembra Ramon.

Organização da comunidade

Para fazer parte da comunidade não é necessário largar tudo. Os que tomam essa decisão são conhecidos como Membros de Vida – pois dedicam todo seu tempo para a missão. Em Blumenau são 13, entre eles dois casais com filhos. Cada um atuando em sua área.

“Seguimos três votos. O de pobreza, pois nada é nosso, tudo é bem comum. Objetos, dons e capacidades. O de obediência, que não é cega, mas ouvimos a voz de Deus através dos irmãos e dos superiores. E a castidade como uma vivência sadia da nossa sexualidade. Não é o celibato propriamente dito, pois há a possibilidade do matrimônio”, explica Ramon.

Os Membros da Aliança também participam da comunidade, porém mantém seu endereço e emprego. Diferente dos missionários, que estão constantemente viajando, eles pregam sua fé em seu entorno. Mais de 20 deles integram o grupo blumenauense.

 

Uma das famílias de membros de aliança vive no terreno da comunidade. Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Já os Membros Comprometidos fazem parte da missão católica, porém sem os vínculos de consagração. Eles integram a comunidade sem terem os mesmos compromissos.

Os Membros de Vida, que abrem mão até mesmo do emprego, se mantém com doações. As providências, como eles chamam, podem vir em forma de alimento, materiais, roupas ou dos Amigos da Evangelização, que mensalmente contribuem com um valor espontâneo.

Processo vocacional

Para fazer se tornar um missionário, não basta ingressar na comunidade Arca da Aliança. É preciso passar por um caminho vocacional. Ele começa com um retiro que acontece em março, chamado Coração Inquieto. O processo continua até novembro, com formações mensais que conectam o integrante com a vivência.

No final do ano, se a pessoa acreditar que realmente quer se tornar um missionário, deve escrever uma carta com o pedido. O primeiro ano na comunidade católica é uma espécie de período de experiência. Em seguida, o integrante passa cerca de três anos em cada cidade.

“O sonho de todo missionário é viver em missão em todo o mundo. Não podemos nos apegar a pessoas ou casas específicas, temos que nos prender a Jesus. Por isso é bom que existam essas transferências”, esclarece Ramon.

O cordão com uma cruz é o símbolo da comunidade. Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Questionados sobre tudo que deixaram para trás para ingressar na vida missionária, os jovens não hesitam em ressaltar que não há arrependimentos. Mesmo precisando deixar alguns planos e sonhos de lado, eles enxergam na comunidade a oportunidade de ressignificá-los.

“Eu olho para trás e penso em como poderia ter sido, mas sou realizada no que vivo hoje. Antes eu desejava seguir a carreira de medicina e viajar, mas Deus nos surpreende. Como missionária, conheci lugares que nunca na minha vida imaginei visitar e pessoas maravilhosas”, exemplifica Marla.

“Antes de entrar na comunidade temos muitos planos, sonhos e desejos. Mas depois você acaba percebendo que aquelas coisas não eram reais desejos do teu coração. Era influência do mundo externo, do consumismo, das pessoas. Sou plenamente realizado e sei que ainda vou ser mais, porque Deus ainda vai fazer muito na minha vida. Nosso fundador sempre diz: ‘Deus não nos tira nada, ele só melhora o que já temos'”, completa Ramon.

Coração Inquieto

O processo vocacional será realizado nos dias 29 de fevereiro e 1º de março. A Chácara Cidade de Deus fica na rua Henrique Griebel, na Itoupava Central. O retiro Coração Inquieto busca reunir pessoas que não encontraram seu lugar na Igreja. Veja o convite feito por Ramon e Marla:

Os interessados em participar do retiro podem falar com a missionária Leila, responsável pela área vocacional da comunidade. O telefone e WhatsApp é (47) 9183-2659.

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