Entenda como guerra entre Rússia e Ucrânia tem afetado pequenos agricultores de Blumenau

Autoridades e especialista se manifestam sobre o tema

A guerra na Ucrânia vem gerando comprometimento econômico em diversos lugares do mundo, principalmente devido aos commodities exportados em abundância pela Rússia: grãos – como soja, milho e trigo – e metais, como alumínio, níquel e paládio.

Mas, para o Brasil, o que mais afeta é a questão dos fertilizantes, visto que os russos são responsáveis por fatia significativa da nossa importação destas substâncias. No dia 2 de março, por exemplo, a Bielorrússia anunciou suspensão da venda de fertilizantes ao Brasil.

Em Blumenau, os pequenos agricultores, em sua grande maioria concentrados no bairro Vila Itoupava, já sentem diferença considerável. Rosalia Modrow, de 48 anos, é produtora rural no município de Blumenau, mais precisamente na localidade de Itoupava Rega, no interior da Vila Itoupava. Perguntada sobre os fertilizantes, ela reclama do aumento dos preços.

“Está muito mais caro, o dobro pelo menos. Eu uso cálcio, micronutrientes, potássio, fósforo e magnésio. Todos eles aumentaram de preço”, diz a agricultora.

Rosalia diz que planta pepino salada há oito anos e começou a plantar pimentão no ano passado. Segundo ela, o medo de faltar fertilizante não assombra tanto.

“Até agora sempre conseguimos comprar o que precisávamos, mas sempre pesquisando onde está mais barato. Embora não falte, os preços continuam subindo. Cada dia fica mais difícil, se continuar assim, o pequeno produtor vai acabar”, lamenta.

Leandro Rodrigues da Silva, intendente da Vila Itoupava e presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Blumenau, explica que a Rússia e Bielorrússia são os maiores produtores de cloreto de potássio, praticamente única fonte de potássio para produção de fertilizante.

“Em virtude disto (dado o cenário de guerra, sem previsão de cessar-fogo) cremos que poderá haver desabastecimento momentâneo, por problemas logísticos, além de um aumento considerável no preço durante o ano de 2022”, complementa.

Mesmo diante deste momento, Índio acredita que a guerra não deve atrapalhar tanto os produtores rurais da cidade.

“Na Vila Itoupava temos a maior concentração de produtores rurais do município e, em sua maioria, pequenos produtores, uma agricultura familiar. No aspecto de fertilizantes, não há registro de desabastecimento até o presente momento”, diz Leandro.

Arquivo pessoal

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Blumenau e Pomerode, Cátia Hackbarth, concorda que os pequenos produtores andam passando por dificuldades.

“O produto do produtor rural não é muito valorizado. Em um comparativo com o valor do leite, o agricultor não recebe nem a metade do valor, além de ser ele quem tem um gasto enorme para manter tudo. Os valores altos das rações e adubos não ajudam muito”, diz.

Mercado

Tudo aconteceu em um ano que não está fácil para o agronegócio brasileiro (quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo – atrás de China, Índia e Estados Unidos), considerando os aumentos de custos com produção e a estiagem que derruba safras na região Sul.

De acordo com João Paulo Orlow Trindade, head de Negócios da Unidade ES Logistics Centro-Oeste, o fertilizante está entre os setores que deverão receber atenção considerável em função da guerra.

“A Rússia é o país líder de exportações de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) e o Brasil é bastante dependente dessas importações, importando 85% do que utiliza. A Rússia corresponde por 23% dessas importações”, diz João.

Ainda segundo o especialista, em relação aos valores dos fertilizantes, os produtos seguem oscilando devido às incertezas do mercado.

“O preço exato da matéria-prima cria uma dificuldade maior de precificação. O valor médio dos fertilizantes importados em fevereiro de 2022 foi de US$ 553,64 a tonelada, ou seja, US$ 57 por tonelada a mais do que a média de janeiro de 2022”, relata.

De acordo com os dados que constam na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), é importante destacar que as importações correspondentes a janeiro e fevereiro de 2022 (5,3 milhões de toneladas) se comparadas ao acumulado do ano anterior janeiro e fevereiro de 2021 (5,7 milhões de toneladas) demonstram uma pequena queda.

“Mesmo que exista uma preocupação em relação à falta de fertilizantes por conta dos conflitos e dificuldades de exportar e importar que venham a ocorrer, o Brasil conta com outros fornecedores (Irã e Canadá, por exemplo), tendo um estoque necessário para alcançar a próxima safra em outubro”, conclui João Paulo.


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