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Everton Balbinott, assassino de Bianca Wachholz, é condenado a 26 anos de prisão

Exatas 13 horas depois do início do julgamento de Everton Balbinott, assassino de Bianca Wachholz, enfim sua sentença foi definida. Ele ficará preso em regime fechado por 26 anos, um mês e cinco dias. Sua condenação é pelo assassinato, com agravantes de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio, além de ameaça.

O júri começou por volta das 9h desta quarta-feira, 23. O primeiro ato foi o sorteio e seleção dos sete membros do júri. Cinco mulheres e dois homens foram escolhidos. Em seguida foram ouvidas as testemunhas.

Confira como foi a cobertura em tempo real do júri popular

Pouco mais de uma hora após o início do julgamento, o júri popular de Everton Balbinott de Souza, acusado de matar a ex-namorada Bianca Wachholz, 29 anos, já foi marcado por reviravoltas.

Logo após a organização do tribunal, o advogado de defesa do réu, Jeremias Felsky, tentou impedir a realização do julgamento justificando que há outros processos correndo. “Poderia prejudicar a imagem do tribunal. Temos que aguardar o julgamento de mandado de justiça requerido pelo próprio Ministério Público”, explicou.

O promotor Odair Tramontin, responsável pela acusação, se posicionou contrário à sugestão. “Tratam-se de questões meio, não questão fim. Não há indicativo de nulidade. Não haverá prejuízo ao acusado”, afirmou.

A juíza Cibelle Beltrame indeferiu o pedido da defesa alegando que “os jurados hoje convocados, independente de qualquer situação no âmbito recursal, são os juízes naturais da casa, e devem ser respeitados”.

Dos 25 nomes apontados para serem integrantes do júri, apenas 21 compareceram. Os faltantes receberão multas de um salário mínimo. Dentre os sete membros sorteados, cinco eram mulheres e dois homens.

Primeira testemunha

Julia Gonçalves, amiga de Bianca, foi a primeira testemunha ouvida. Apesar de ter se distanciado da vítima no início do relacionamento, ela conheceu Everton cerca de cinco meses depois.

Ela relata que o relacionamento que começou tranquilo logo teve brigas sérias. Ele tinha ciúmes de todos, até mesmo de Julia, e tinha acesso ao celular de Bianca e senhas das redes sociais dela.

“Ele não ia trabalhar pra ficar em casa vendo com quem ela falava ou o que ela fazia. No emprego antigo dela, ela contou que o Everton chegou a entrar na empresa pra ver se tinha algum homem perto dela”, relatou.

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Na descrição de outra briga que envolvia ciumes, Julia contou que Everton prendeu a cabeça de Bianca entre as pernas e arrancou o aplique de cabelo e socou a namorada. “Não vi as agressões, mas vi as feridas no dia seguinte”, contou.

Segundo ela, Bianca tinha medo de procurar a polícia. “[Everton] Queria ouvir tudo, controlava o WhatsApp, ouvia até conversa atrás da porta”. Julia ainda relatou que ele chegou a mostrar para ela a arma que teria sido usada no crime, pois ela ficava no apartamento dos dois.

“Depois ele me mandou um áudio. ‘Matei a Bianca’. Eu disse pra ele não brincar com uma coisa dessas”, disse ao final das perguntas da promotoria.

Perguntas da defesa

O advogado de Balbinott iniciou as perguntas a partir do estado de saúde mental do réu: “você chegou a indicar uma psicóloga para o Balbinott?”. Felsky chegou a realizar três pedidos de exames de sanidade mental do cliente, alegando que ele sofria de distúrbios psicológicos.

Em seguida, Felsky pediu para Julia confirmar que Bianca visita um ex-namorado no Presídio Regional de Blumenau. De acordo com o advogado, ele está detido por tráfico de drogas.

Mãe de Bianca emociona público

Após o relato da primeira testemunha, outras quatro pessoas foram ouvidas. Duas delas apenas como informantes. Uma delas foi a mãe de Bianca Wachholz, dona Sônia. O relato da senhora enlutada levou o público que foi ao Fórum acompanhar o julgamento às lágrimas.

Vestida de preto e ainda muito abalada após ter passado quatro dias sem dormir e ter sido internada na terça-feira, Sonia desabafou sobre a decepção quanto à Everton Balbinott. Durante o depoimento dela, que não foi considerada testemunha por ser muito próxima da vítima, o réu não ousou olhar para a ex-sogra e chorou com a cabeça entre as pernas.

“A raiva que eu tenho é que ele me enganou esse tempo todo. O que me dói foi a decepção. Eu não sabia que tinha um bandido dentro de casa. Ela só vivia estudando. Depois deixou tudo pra trás por uma pessoa que não merecia”, disse a mãe, que afirmou que a relação com ele era maravilhosa.

Ela relatou que a família chegou a comprar um carro para ele trabalhar como motorista de aplicativo, mas ele “só queria saber de celular”. Bianca dizia para a mãe que uma hora iria cansar, e Sonia apenas dizia que a casa dela estaria esperando.

“Ele ligou pra mim e disse ‘sogra, ela quer terminar comigo’. E eu falei pra ele arranjar outra coisa para se ocupar e largar este ciúme doentio”, disse em meio às lágrimas.

No dia em que Bianca foi morta com um tiro em frente à mãe, Everton já havia ameaçado matar Sonia e a cachorrinha dela. A mãe sugeriu que a filha abrisse um boletim de ocorrência, mas não houve tempo suficiente para impedir o crime.

“Ela falou ‘mãe alguém pulou o muro’. Eu abri a porta da cozinha. Fiz a besteira de abrir a porta da cozinha. A porta estava chaveada. Ele ficou se limpando na varanda, se sujou porque subiu na árvore pra pular o muro. Eu abri a porta para esse desgraçado. Ela perguntou ‘você tá armado’? Ele puxou a arma das costas. Ela saiu correndo, ele me empurrou e eu caí. Quando cheguei no banheiro ele botou a arma no rosto dela e atirou. Todos os dias da minha vida eu lembro do sangue escorrendo no banheiro. Ele não me matou, mas é como se tivesse me matado. Ele não sabe o que ele fez comigo. Está aí, preso, mas está vivo”, contou emocionada.

Após ser questionada pelo promotor sobre como estava a vida dela, Sonia afirmou: “Quem for mãe aqui dentro não pode ter noção do que é perder uma filha. Agradeço a Deus todos os dias pelos dois filhos que tenho. Eu não imaginava que poderia existir gente assim. Eu não tenho mais confiança nas pessoas”.

Dona Sonia carregou consigo a aliança que Bianca usava para simbolizar o relacionamento com Everton. “Estou aqui com a aliança para te entregar. No dia anterior da morte dela, ela me entregou e disse para entregar a ele porque eles achavam que seria para sempre”.

Do lado de fora, público se manifesta contra Balbinott. Foto: O Município Blumenau

Testemunha desqualificada

A segunda testemunha a ser chamada, Fernanda, foi desqualificada por estar vestindo uma camiseta com estampa de Bianca Wachholz. A ex-colega de Bianca foi ouvida apenas como informante.

Fernanda não pode testemunhar por estar vestindo uma camisa com a estampa de Bianca. Foto: O Município Blumenau

As duas frequentavam um curso de pintura juntas e Fernanda relata que incentivou a amiga a viver da arte dela. Entretanto, ela nunca conheceu Everton.

“Ela falou que tinha medo. Disse que não queria o Everton na festa de encerramento do curso que a gente participava. Ela sempre foi mais tímida. Não falava sobre a vida pessoal”, contou.

“Limpei o sangue da minha amiga”

Após um recesso de cinco minutos, Naschara Nogueira Filiponi foi chamada para testemunhar sobre a relação de Bianca e Everton. Ela descreveu o réu como controlador e ciumento.

“Desde o início ele já pegou celular dela. Olhava conversas dos grupos de WhatsApp. Era controle, queria saber o que ela falava, se ela era fiel a ele. Piorou com o tempo. Ele instalou um aplicativo que rastreava as mensagens dela. Às vezes ele chegava a fingir que era ela em algumas mensagens”, disse.

A amiga contou sobre um episódio em que, ao voltarem de um food truck, Bianca foi humilhada e agredida pelo então namorado. Ao pedir para ser deixada na casa da mãe, ela teve o celular quebrado e a ameaça de ter a casa incendiada.

“Ele tentou estrangular ela. Ela disse pra mim que sentiu a pressão do estrangulamento. Depois cortou a mão dela com uma faca. Ela só contou isso meses depois. O Everton falou pra gente na época que ela se cortou sozinha porque era desastrada”, relatou.

Naschara foi considerada a segunda testemunha. Foto: O Município Blumenau

Naschara foi mais uma pessoa próxima de Bianca que comentou o desejo da amiga de registrar um boletim de ocorrência. Além disso, ela também ouviu falar sobre a arma que Everton mantinha em casa e que já havia mostrado para Bianca.

“Ela disse que não queria mais ficar com ele. Ela foi pra casa da mãe dela. Ela disse pra mim que ia fingir que voltaria pra ele, mas pra ir tentando separar aos poucos porque ele estava muito violento”, contou.

Por volta das 14h do dia do crime, Naschara contou ter recebido uma ligação de Julia, amiga de Bianca que foi a primeira a testemunhar e recebeu uma ligação de Everton afirmando ter matado a namorada.

“Eu fui pra lá já desesperada. Quando cheguei, a dona Sônia me recebeu já toda ensanguentada. Limpei o sangue da minha amiga do chão da casa deles”.

Vizinho ouviu o tiro

Dirceu Carlos, vizinho de dona Sonia, relata que ouviu o estouro do tiro que matou Bianca. Segundo ele, a vizinha chamou por socorro enquanto ele cuidava da horta. Ao perceber que algo estava errado, Dirceu pediu para o filho chamar a polícia e os bombeiros.

“Fui lá dentro com ela e estava a Bianca, acredito que morta, dentro de um banheiro. Perguntei se era assalto, a Sônia falou que não, foi o ex-marido”, relatou.

Depoimento do réu

O advogado de Everton Balbinott, Jeremias Felsky, optou por não ouvir as testemunhas de defesa. Portanto, o depoimento do réu foi antecipado. Ele começou respondendo à juíza Cibelle Mendes Beltrame perguntas sobre idade e profissão. Em sua defesa, afirmou que as testemunhas que deram depoimentos antes falaram mentiras e verdades.

Falando já sobre o assassinato, ele falou que perdeu a cabeça em um momento de impulso. “De maneira alguma fui para matar. Perdi a cabeça. Não mirei, estava transtornado com a situação”, diz.

Segundo ele, como soube que Bianca faria um boletim de ocorrência, foi até a casa para conversar com a mãe dela. Everton alega que queria entregar a arma a Sônia, mãe da vítima, já que Bianca estaria amedrontada pelo fato de ele possuir um revólver.

Ela negou algumas das acusações das testemunhas. “”Conversamos no apartamento sobre o que faríamos sobre o restante das dívidas, já que iríamos terminar. Jamais falei que se ela não fosse minha não seria de mais ninguém e que sairíamos de lá em um saco preto”.

Everton diz que a única agressão que cometeu foi em um episódio, em um food truck. Ele nega todos os outros relatos de violência. “Jamais tive isso em mente. Eu amava ela. Não queria estar passando por isso. Não é só a mãe dela e família dela que estão sofrendo. Eu também estou, meus pais também estão”, diz, com voz embargada, Everton.

“Eu peço perdão a eles (pais de Bianca), aos amigos, que eram meus também e não são mais. Aos meus pais. É triste, a vida que levava e agora a cela que estou lá”, disse, emocionado, Everton Balbinott.

Colaboraram Alice Kienen e Bianca Bertoli.