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Ex-atleta olímpica de Blumenau desenvolve treino que une mães e bebês

A dificuldade das mães em ocuparem espaços com bebês ou filhos pequenos é um problema constante. A situação envolve salas de aula, restaurantes, hotéis e até mesmo academias. Nem mesmo uma ex-atleta olímpica de Blumenau escapou do estigma.

Fabiana Kuestner Gripa, de 40 anos, é profissional de educação física e mestre em educação. Após uma vida toda atuando como jogadora de handebol pelo município, estado e até pelo país, ela decidiu abraçar a maternidade. Após o nascimento da segunda filha, Helena, em 2013, ela mudou de profissão.

A blumenauense começou o curso de doula, profissional que dá assistência durante a gestação e o parto, três meses após o nascimento da menina. Fabi estava realizada com a carreira e decidiu também voltar a praticar exercícios físicos. Como ela precisava ficar com a bebê, levava ela junto e até fazia movimentos do pilates com ela no sling.

“Todo mundo achava um barato, mas um dia a instrutora veio toda sem jeito pedir para eu me retirar. Ordens da dona da academia. Chorei a semana inteira. Pratiquei exercícios físicos a vida toda. O que eu ia fazer se nenhuma academia aceita bebês?”, desabafa Fabi.

Após o período de tristeza, veio a garra em decidir fazer alguma coisa. Foi aí que a treinadora começou a pesquisar exercícios físicos que unissem a mãe e o bebê. Ela aproveitou o contato das amigas com quem jogou na Europa para saber se já existia um treino do tipo por lá.

“De várias que contatei, apenas uma respondeu que sempre via mães treinando com bebês no sling, na mochila ergonômica ou até no carrinho. Pesquisei todo material existente e devorei. Uni várias ideias com minha experiência, usando a Helena como cobaia. Percebi que treinar ‘abraçada’ nela trazia um bem estar danado, liberava muita endorfina”, relata.

Foi aí que ela começou a elaborar o projeto do TMB: Treino Mãe e Bebê. Animada com o assunto, ela compartilhou a ideia com a família nas festas de fim de ano e recebeu o convite de um primo para levar a ideia para a academia dele.

“A mulher que quer treinar com o bebê por perto não tinha opção. A sociedade sempre tenta separar a mãe das crias o quanto antes. Mas as mulheres não precisam se privar de cuidar de si só porque precisam ou até querem cuidar dos pequenos”, defende.

Fabi (centro) desenvolveu treino para que mães possam se exercitam junto dos bebês. Foto: Ana Nascimento

As aulas começaram em abril, no aniversário de Fabiana. A primeira aluna foi uma mulher de quem ela havia sido doula. Na mesma semana, duas novas alunas chegaram e ela acabou formando duas turmas, uma de gestantes e outra de pós-parto.

Quando as mulheres voltavam à musculação, não se identificavam mais com o espaço da academia. Pediam à Fabi para ser personal trainer delas, mas ela não se sentia preparada. Foi então que após mais um ano de estudo, em 2018 nasceu o 4Fabi.

O número quatro representa a camiseta que a jogadora usava na Seleção Brasileira. Na empresa, Fabi atua como doula e personal trainer, tanto na academia quanto a domicílio. Ou seja, acompanha a gestação, parto e pós-parto dessas mulheres. Com a chegada da pandemia, ela também passou a oferecer turmas online.

Benefícios vão além do exercício

Fabi enfatiza que, apesar de o foco ser o exercício físico, os benefícios do TMB vão além do treinamento. O grupo acaba se tornando uma rede de apoio para esta mãe, que entende que não está sozinha.

“A mulher passar a ter mais leveza tanto no corpo quanto na mente. Algumas mães saem de casa pela primeira vez para o treino. É impressionante observar como a expressão delas muda entre o início e o fim da prática. Praticar algo que ela tá a fim com o serzinho mais importante da vida dela. E elas também sentem mais segurança manuseando os bebês”, acrescenta.

Não são apenas as mães que se beneficiam do treino, mas também os bebês. De acordo com Fabi, o uso de sling alivia sintomas de refluxo fisiológico e cólicas por aquecer a região torácica do bebê.

“Também temos estudos comprovando que, quando o bebê permanece no colo da mãe, ele chora 43% menos do que uma criança que não recebe contato físico. Muitas mães relatam isso, especialmente no período da exterogestação, quando os pequenos ainda estão entendendo que saíram do útero”, conta.

Trajetória como atleta

Fabi entrou no mundo do esporte aos nove anos, ainda na escola. Dentre várias modalidades, seguiu carreira no handebol. Após alguns jogos da primavera, ela conseguiu representar a cidade após a mãe dela se desdobrar para conseguir os passes de ônibus para a filha.

Ela permaneceu na Seleção Catarinense até que defendeu a Brasileira no Sul-americano Júnior em 2000. Foi aí que a carreira teve a primeira pausa, quando a mãe dela descobriu um câncer.

“Eu já tinha entrado na faculdade de Educação Física e decidi que não queria mais viajar para poder cuidar dela. Como sabia que ela tinha um prazo de vida, me dediquei totalmente a ela”, relembra.

Dois anos depois ela voltou a jogar por Blumenau e, após os Jogos Abertos de Santa Catarina, ela recebeu o convite para voltar para a Seleção Brasileira. Com muita dedicação, ela foi selecionada para defender o país nas Olimpíadas de Atenas, em 2004. No ano seguinte, veio o mundial na Rússia. Em 2007, na França.

Fabi comemorando a medalha de ouro no Pan de 2007, no Rio de Janeiro. Foto: Streeter Lecka/Getty Images

“Com minha visibilidade consegui uma bolsa integral para fazer o Mestrado em Educação Infantil. Ainda em 2003, noivei com meu namorado que conheci em 1997. Nos anos seguintes participei dos Jogos Pan-Americanos, liga nacional, Jogos de SC, Copa Brasil e vários campeonatos no exterior”, narra Fabi.

Fabi chegou a competir pela liga nacional grávida

Com a chegada de um técnico espanhol, a atleta passou a treinar na Europa para se preparar para as próximas Olimpíadas. Após o auge da sua carreira, com os Jogos Pan-Americanos de 2007, o ano seguinte trouxe a maior frustração.

“Estava em um torneio pré-olímpico na França e sofri um acidente. Fui cortada 15 dias antes das Olimpíadas. Foi devastador. Cheguei em Blumenau querendo treinar como uma doida para provar que tinha sido injusto e acabei sofrendo uma lesão no joelho. Passei por quatro procedimentos cirúrgicos em menos de dois meses”, lamenta.

O ocorrido colocou Fabi em uma depressão profunda e ela desistiu do esporte. Decidiu partir para seu outro sonho: ser mãe. Augusto nasceu em fevereiro de 2010. “Ele veio para me libertar e me fazer caminhar novamente depois da lesão”, celebra a mãe.

Apesar de todas as mudanças, ela continuou jogando por Blumenau. Mas as sensações no corpo mudaram. Ela percebeu que nunca havia ouvido falar sobre possíveis efeitos colaterais da gravidez, como a diástase, incontinência urinária e abdômen fraco.

“Comecei a pesquisar e foi aí que nasceu meu encantamento pelo corpo da mulher. Entendi como podia melhorar e passei a colocar em prática durante os jogos. Mas num susto, engravidei da Helena. Descobri na terça e na quinta joguei pela Liga Nacional sem contar para ninguém”, confessa.

O marido ficou sabendo no domingo. Mas, apesar de ter guardado segredo, Fabi abriu o jogo com a família e com a médica obstetra e continuou competindo até o quarto mês de gravidez. Porém, foi aí que ela decidiu oficialmente largar a bola e se dedicar apenas à maternidade e à sua carreira como educadora física.

Ana e Elis Nascimento

Atualmente, ela tem três filhos. O primogênito Augusto já completou 11 anos, Helena completa 8 no fim de maio e o pequeno Vicente está com 1 ano e 5 meses. Fabi também é tia de Arthur Gripa, o pequeno blumenauense que não anda, mas já participou até da São Silvestre.


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