“A gente vê bastante ônibus, mas a maioria deles estão estacionados e poucos de fato circulando”

Com o retorno das atividades após a pior fase da pandemia de Covid-19 ter sido superada, o número de usuários do transporte público foi aumentando, gradativamente. O resultado é que os conhecidos “horários de pico” voltaram a apresentar ônibus lotados nas principais linhas.

No dia 6 de outubro, por exemplo, 61,5 mil pessoas usaram o transporte público da cidade. O recorde registrado desde o início da pandemia. Ônibus cheios nos horários mais procurados em uma fase em que a pandemia de Covid-19 ainda não terminou eleva a preocupação dos usuários com a própria segurança e aumenta os debates sobre a qualidade do serviço oferecido pela Blumob.

“Quando a Blumob assumiu (o serviço), a expectativa era muito alta. Esperávamos que além de entregar ônibus com qualidade superior à qual já tínhamos, ela disponibilizaria vários horários. Horários organizados que atendessem bem todas as regiões de Blumenau. E com toda certeza não foi isso que aconteceu”, avalia Amanda Wilhelms, 22 anos, que trabalha como recepcionista da Bluimagem, na unidade do Hospital Santa Catarina. Ela usa o transporte público desde 2013, época que o Consórcio Siga administrava a operação do transporte público na cidade.

Amanda Wilhelms é usuária do transporte em Blumenau. Foto: Arquivo pessoal

De segunda a sexta-feira, Amanda pega um ônibus que sai da Itoupava Central com destino ao Centro às 5h54, chegando no destino às 6h30. Às 13h ela retorna para casa na Itoupava Central. Daí surge o primeiro desafio. Amanda conta que, caso ela não consiga chegar até 13h30 no Terminal do Aterro, ela precisa esperar até o ônibus das 14h10.

Detalhe: essa segunda opção não leva a recepcionista da clínica até perto da casa dela. Ou seja, quando Amanda perde o primeiro ônibus que sai do terminal, ela precisa caminhar bastante até chegar em casa – além de perder quase 40 minutos por dia esperando a segunda opção.

Depois, para ir para a faculdade, Amanda encara ônibus cheios nos horários de pico. Saindo de casa às 17h30, ela chega no Terminal do Aterro às 18h30. “Para ir pra faculdade é bem complicado. É o pior horário. O ônibus é hiper lotado. Preciso parar no Aterro e a fila lá é quilométrica. E o (ônibus da linha) 10 demora demais”, conta.

Para ajudar no combate contra a Covid-19, a Blumob aderiu a alguns protocolos de segurança para reduzir a disseminação do vírus nos terminais de ônibus. Fazer fila ao entrar nos ônibus foi uma delas. A medida ajudou a organizar a entrada dos passageiros, mas, com o aumento dos usuários do transporte público, tornou-se um transtorno para os usuários porque muitos passageiros não respeitam a fila e acabam criando aglomeração.

Além disso, segundo a estudante de Biomedicina da Unisociesc, raramente são vistos fiscais do sistema nos terminais. Outra medida tomada no início da pandemia foi limitar o número de pessoas nos ônibus. Mas isso deixou de ser cumprido. “Vários ônibus que eu peguei estavam acima do limite permitido. E isso aconteceu com várias pessoas. Principalmente nos horários de pico os ônibus estavam lotados”, observa Amanda.

Falta de horários, ônibus sujo e instabilidade do serviço

Juliana Behrs também utiliza o serviço. Foto: Maria Luiza de Almeida Küster

Juliana Behrs, 24 anos, que também usa diariamente o transporte público de Blumenau, confirma que um dos principais problemas do sistema é a disponibilidade de horários para os usuários. Ela sai do Centro da cidade para trabalhar como designer gráfico no bairro Fidélis. A linha que ela pega tem horário apenas às 7h e às 17h. “Tenho sorte de ter o vale-transporte da empresa, porque não vale a pena o valor que está agora. O preço sobe, mas o serviço não muda”, opina.

Todos os meses, Juliana tem descontado 6% da folha de pagamento para pagar o vale-transporte. Ela diz que se sente aliviada por ter o benefício, pois não acha justo o valor da passagem na comparação com a qualidade do serviço que é prestado pela Blumob. Para a designer, o serviço entregue poderia ser melhorado. Entre outros pontos, ela reclama das condições dos ônibus: “A maioria dos (ônibus) que eu pego estão sempre bem sujos”.

É comum, entre os usuários do transporte público de Blumenau, o sentimento de decepção com o serviço entregue pela concessionária. Para a contadora Zulmiria Küster, de 42 anos, a qualidade do serviço oferecida pela empresa Nossa Senhora da Glória não era tão instável se comparada com o serviço atual.

Zulmiria Küster também comentou sobre como é ser passageira de ônibus em Blumenau. Foto: Arquivo pessoal

“Não lembro de ter tanta instabilidade como hoje e nem de ter tantos aumentos no valor da passagem. Era um valor compatível com o serviço”, opina. Zulmira diz que continua preocupada com a possibilidade de greves. Na visão dela, quando menos a população espera, a frota para sem aviso prévio.

O maior problema do transporte público da cidade e que mais decepcionou a contadora com a chegada da Blumob, foi a pouca quantidade de horário para as linhas, principalmente durante a pandemia. “Hoje temos veículos em boas condições, porém continuam muito cheios. E tem poucos horários, onde o usuário se obriga a ir mesmo estando totalmente desconfortável e sem segurança, com medo do vírus que continua a circular”, comenta.

Apesar da maioria das pessoas já estarem vacinadas, Zulmira lembra que a pandemia ainda não terminou e os protocolos deveriam continuar sendo seguidos, principalmente a questão do distanciamento. “O primeiro (protocolo) a ser quebrado é o distanciamento. Ônibus simplesmente lotados é o que se vê todos os dias e em todos os horários de pico”, critica.

Risco de assédio e críticas ao valor da passagem

Além dos ônibus cheios e do receio de novas greves, outra preocupação das mulheres ao usar o transporte público é o alto risco de assédio. Esse crime pode ser vivenciado de diversas formas. Amanda afirma que não consegue enumerar a quantidade de vezes em que se sentiu incomodada com olhares insistentes enquanto utilizava o transporte público. Para fugir de situações como essa, ela tenta manter a calma e ficar o mais próximo possível de outras pessoas.

O sentimento de descontentamento entre os usuários do transporte público é comum. Todas as mulheres entrevistadas para esta reportagem questionam o valor cobrado. “Muitas pessoas pagam do próprio bolso e ao invés de pagar R$ 4,50, pagam no dinheiro o valor de R$ 4,70. O que, na minha opinião, é injusto”, opina Zulmira.

Na visão de Amanda, o valor atual seria justo se fossem apresentadas melhorias. Como, por exemplo, aumentar o número de horários das linhas. Principalmente nos horários de pico do serviço. “Ter um transporte de qualidade na cidade incentiva as pessoas a parar de usar os veículos particulares. Desta forma, degradando menos o meio ambiente e ajudando a reduzir o trânsito”, aponta a recepcionista e estudante de Biomedicina.

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