Instituto denunciado pelo Fantástico premiou cinco vereadores de Blumenau

Desde 2012, cinco parlamentares participaram de palestras com dinheiro público e, ao final, receberam medalhas

Colaborou Evandro de Assis

Uma reportagem do programa Fantástico
, da TV Globo, denunciou empresas que estariam vendendo diplomas de melhor gestor para prefeitos, vereadores e secretários municipais. Conforme apurou o jornalista Giovani Grizotti, a União Brasileira de Divulgação (UBD), de Pernambuco, e o Instituto Tiradentes, de Minas Gerais, promovem até 20 eventos de premiação por ano em hotéis brasileiros, quase sempre em cidades turísticas.

Em Blumenau, cinco vereadores participaram de palestras promovidas pelo Instituto Tiradentes, recebendo diploma e medalha por serem os parlamentares “mais atuantes” da cidade.

No total, a Câmara de Vereadores de Blumenau investiu cerca de R$ 3,5 mil nas inscrições dos parlamentares. Sem contar eventuais custos com o deslocamento até Florianópolis, sede dos eventos.

O prefeito Mário Hildebrandt (PSB) participou do encontro em 2014, quando ainda era vereador. O vereador Jens Mantau (PSDB), em 2012. Naquele ano e em 2015, Roberto Tribess (MDB) também inscreveu-se nos cursos. Marcos da Rosa (DEM) aceitou convites em 2015 e 2017. No ano passado, Adriano Pereira (PT) foi premiado pelo Tiradentes e foi à Capital.

Todos conversaram com a reportagem e têm a mesma explicação: foram aos eventos por causa do conteúdo dos cursos, e não pela premiação.

Prêmio para vereadores

O prefeito Mário Hildebrandt lembra ter sido convidado mais vezes, mas não teve interesse porque os assuntos nos anos seguintes foram semelhantes ao curso que frequentou, em 2014.

“Não entendi como um prêmio, mas sim como uma pesquisa, tanto que, na época, nem divulguei tanto que havia ganhado”, conta.

Tal como ocorreu com os demais parlamentares, a Câmara pagou a participação de  Hildebrandt no seminário: R$ 549. Dinheiro que ele se dispõe a devolver ao município, caso seja comprovada má intenção por parte do instituto.

Adriano Pereira manifestou a mesma disposição. Ele afirma que o curso foi pago pela Câmara (R$ 578), mas que em nenhum momento percebeu ilegalidade:

“Se o Judiciário comprovar que o Instituto é fraudulento, que o seminário, por mais bem elaborado e fantástico que tenha sido, foi de fato uma fachada para tal premiação, eu não tenho problema nenhum em devolver o dinheiro”, salientou.

Atual presidente do Legislativo, Marcos da Rosa conta que foi convidado por cinco vezes a participar de um seminário e receber a premiação de “vereador mais atuante”. Em duas delas, aceitou o convite. As inscrições nos cursos em Florianópolis geraram, no total, R$ 1.057 à Câmara de Vereadores.

Segundo Rosa, o Tiradentes proporcionou, em dois dias, seis palestras com temas como a importância do papel fiscalizador de vereadores e transparência na administração pública.

“O que está comprovado que ‘pagou, levou’ é a outra empresa (UBD), não o Instituto Tiradentes. Hoje em dia, dependendo da palestra, é um absurdo o valor. Em nenhum momento eles fazem contato por telefone para dizer: ‘para você ser escolhido, precisa pagar'”, defende. Rosa acredita que se fosse uma “compra”, o Instituto não o teria convidado de novo, após a primeira recusa dele.

 

Roberto Tribess, que atualmente é Diretor de Serviços de Ouvidoria e Atendimento ao Público na Praça do Cidadão, diz que tampouco percebeu qualquer fraude. O Instituto teria enviado um gráfico que justificava a escolha do nome do então vereador. Para as duas idas dele, a Câmara pagou R$ 876.

“Eu achei muito interessantes as palestras e eu fiquei orgulhoso no momento em que fui convidado a participar”, lembra.

O vereador Jens Mantau (PSDB) participou do evento em 2012, em Florianópolis (custo de R$ 397). Mantau não assistiu à reportagem do Fantástico e diz apenas recordar que decidiu ir à Capital por causa das palestras que foram ministradas:

“Eu tenho muito cuidado com esses institutos. A última vez foi em 2012 e eu não participei mais. Eu dou pouca importância para esse tipo de coisa, eu só participei por causa do assunto, lembro vagamente”, enfatizou.

 

A reportagem

Para receber o diploma e medalha de “vereador mais atuante” ou “prefeito mais atuante”, a maioria dos gestores utiliza dinheiro público. No caso da empresa pernambucana, conforme a reportagem do Fantástico, a escolha dos nomes vencedores ocorre após a UBD realizar cerca de dez ligações para moradores da cidade do vereador ou prefeito, conforme explicou Fernando da Cunha, dono do negócio.

Diferente da UBD, onde o evento só é feito para a entrega do prêmio, o Instituto mineiro promove seminários junto com a premiação. De qualquer maneira, para o Ministério Público do Rio Grande do Sul (RS), as palestras são apenas uma forma de maquiar a farsa. Para o procurador-geral de Justiça do RS, Fabiano Dallazesem, não há finalidade pública, apenas promoção pessoal e lucro das empresas.

A pesquisa que o Instituto faz para chegar aos melhores gestores também não é clara. A reportagem mostrou que um chefe de gabinete de uma prefeitura do Rio Grande do Sul havia sido convidado a receber a premiação de vereador mais atuante, porém, no período em que a empresa teria feito ligações para chegar no resultado, ele estava afastado da Câmara.

“A empresa, pelo que vimos, atribui o prêmio em decorrência de uma pesquisa telefônica feita aos eleitores da cidade, que não é comprovada, que não tem documentação de que isso efetivamente aconteceu. Então isso revela a fraude”, concluiu o auditor do Tribunal de Contas do RS, Valtuir Nunes.

 

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