João Natel (PDT) fala sobre educação, saúde e parcerias público-privadas

Médico neurologista foi reitor da Furb por oito anos

Idade: 60 anos
Naturalidade: Santa Mariana (PR)
Profissão: Médico
Grau de instrução: Ensino Superior completo
Número na urna: 
12

Confira o perfil completo do candidato. 

O médico neurologista é conhecido na comunidade acadêmica por integrar e já ter liderado o Departamento de Medicina da Furb, além de ter sido reitor da universidade entre 2010 e 2019. Pai de seis filhos, ele recebeu o prêmio de Mérito Cientifico da Associação Catarinense.

Em 2017, recebeu a Comenda do Legislativo Catarinense por relevantes serviços prestados na atividades e ações pelo ensino superior catarinense. A vice Jussara Inácio nasceu na terra indígena Xokleng/Laklãnõ e auxiliou na fundação da Associação o Brasil é Minha Aldeia (ABRAMA).

Se preferir, ouça a entrevista no podcast do jornal O Município Blumenau no player abaixo:

O candidato falou sobre novas possibilidades na economia blumenauense, a importância de investir em educação, reforçou a pauta da federalização da Universidade Regional de Blumenau e trouxe sua visão sobre parcerias público-privadas.

“Eu acredito que o eleitor de Blumenau procura uma nova alternativa. Novos gestores. Com preparo, experiência e que estão na causa pública com apenas um interesse: o benefício maior de toda população”, comentou.

Assista à entrevista na íntegra:

Qual você acredita que é a principal carência de Blumenau e qual solução você prevê?

Há inúmeros desafios na Prefeitura de Blumenau. Entre os principais, colocaria a educação. Não conseguimos evoluir suficiente pro tamanho da riqueza e da importância da nossa cidade. Nos últimos resultados do Ideb, temos adolescentes com 14 anos, 70% não têm conhecimento de matemática e 50% têm dificuldade de interpretação de texto e leitura.

Vejo que para prepararmos Blumenau para agora e para o futuro, a maior “obra” que temos que fazer é o investimento na educação. Desde zerar as filas de creche, que eu acho essencial, até direcionarmos políticas públicas para que as crianças possam ter escola em tempo integral, com atividades de reforços, lazer, esporte, arte e empreendedorismo.

Vamos modificar Blumenau em uma geração.

Sua carreira é na medicina e também foi reitor da Furb durante nove anos. Mas você não tem experiência política em um mandato eletivo. Por que você acredita que o eleitor deveria confiar no senhor?

Eu discordo. A Furb é uma instituição pública com cerca de 1,5 mil servidores e uma média de 8 a 10 mil alunos, que depois decresceu. Tudo lá é público, com licitação, concurso público e trabalha com as principais temáticas para a cidade. Na Furb se discute saúde, economia, mobilidade urbana e educação.

Para assumir um cargo tão importante como a Prefeitura de Blumenau, é importante ter formação e experiência. Na minha opinião, isso não nos falta.

A prefeitura tem duas dívidas históricas hoje, com a Furb e com o Issblu. Quais soluções você traz para elas?

Em relação à universidade, eu vejo que é muito importante retomarmos a discussão sobre a gratuidade da Furb. É um dos motivos pelos quais estamos aqui. Em 2010 e 2011 estivemos muito próximos de federalizar a Furb. Quando houve a mudança da reitoria da UFSC, ela entendeu que não era um projeto interessante para a UFSC. Foi a perda de uma grande iniciativa.

Hoje, em 2020, teríamos a terceira universidade federal de Santa Catarina em Blumenau. Por ação de uma pessoa, não tivemos esse benefício estendido por toda população. É muito importante que o poder público reivindique com o governo federal e/ou estadual esse pleito legítimo.

Em relação ao Issblu, lembrando que ficamos oito anos na universidade e saímos de lá sem nenhuma dívida com o Issblu. Sempre encaramos esse respeito como essencial para o servidor. Precisamos qualificar melhor as carreiras, abrir concursos públicos para oxigenar a entrada de novos servidores e rever o modelo do Issblu, para trabalhar um teto de aposentadoria para os novos servidores e uma contribuição suplementar se for importante.

Em seu plano de governo, o senhor quer garantir 50% de desconto na Furb para formação de professores da prefeitura. Mas depois fala em garantir gratuidade em todo o curso. Poderia explicar?

Hoje temos um verdadeiro apagão de professores no ensino fundamental. Poucos jovens sentem atratividade pela carreira docente pela perda de prestígio que ela vem sofrendo ao longo dos anos. Inclusive pelos governantes.

Na nossa gestão, já diminuímos em 40% o preço das licenciaturas e eu vejo que a universidade pode reduzir mais 10%. Se a mensalidade custaria metade, a prefeitura pagaria o restante com uma contrapartida.

Os alunos dessas cerca de dez licenciaturas, estariam no contraturno das escolas fazendo as atividades. Essa experiência existe em muitas cidades do Brasil, mesmo em estados mais pobres. Ela se mostra exitosa, desde que seja mantida pelos governantes.

Acredito que todos blumenauenses devem ter as mesmas oportunidades no início da vida. É papel do estado oportunizar que os jovens tenham educação de qualidade, para que possam se tornar cidadãos de fato.

As pessoas que usam ônibus em Blumenau vivem um constante receio de greves. O que o seu governo faria para solucionar de vez a animosidade entre sindicato, prefeitura e empresa de transporte coletivo? 

O modelo de concessão foi extremamente equivocado, é um monopólio. Enfrentamos muitas dificuldades enquanto pagamos um preço muito caro. Eu defendo um novo modelo de transporte coletivo, em relação à questão de licitações.

Tínhamos um modelo bem exitoso no passado, com divisão da cidade em regiões e a exploração desse serviço por diferentes empresas de ônibus. A negligência do poder público levou a esse resultado. O poder público quebrou duas empresas para que essa que está hoje pudesse entrar.

Acreditamos que a concorrência é importante para que possamos ter mais qualidade e harmonia no transporte coletivo de Blumenau. Entre os trabalhadores, os usuários e o poder público.

O que a prefeitura pode fazer para conter o coronavírus sem sufocar a economia da cidade?

Essa é uma questão bem importante. Vimos no Brasil todo uma desarticulação entre medidas do governo federal, estadual e municipal. Para responder pontualmente sobre a situação atual: precisamos de testagem e inquéritos domiciliares. Aqueles que testarem positivo ou tiverem sintomas, serem monitorados e isolados. Garantir tratamento e atendimento desses pacientes.

E, sobretudo agora, criarmos um ambulatório pós-Covid. Essa doença tem muitas complicações neurológicas e pulmonares que podem levar a uma cronicidade. Vejo que na pandemia tínhamos apenas uma variável confiável para a reabertura: a capacidade de atendimento das UTIs.

No pico, em junho, tivemos uma liberação da cidade quando a pandemia se anunciava no auge. Se naquele momento tivéssemos fechado a cidade parcialmente, teríamos um número menor de casos e óbitos.

A variável continua. Ou seja, se a ocupação chegar a 70% novamente, as atividades precisam ser reduzidas a um ponto em que possam ser retomadas com segurança para todos.

Todos sabemos que o senhor é médico aqui em Blumenau. Se for eleito, vai se dedicar integralmente à prefeitura ou vai continuar clinicando?

A resposta está na minha reitoria da Furb durante oito anos. Me dediquei integralmente à universidade. Por entender que os votos que foram me dados pela comunidade acadêmica teriam que ser respeitados na sua totalidade. Uma boa política é o cumprimento do mandato a que se propuseram os eleitos.

A atual administração está fazendo a ligação Velha-Garcia. Se o senhor for eleito, vai manter a obra do jeito que ela está sendo feita?

Não fazemos política olhando para o retrovisor. As obras que foram começadas, têm que ser terminadas. Seria desperdício de dinheiro público. Blumenau precisa ter um instituto de planejamento urbano. Envolvendo o poder público, os profissionais e a sociedade para definir quais serão as obras prioritárias.

Nos últimos oito anos, vimos uma discussão de onde seria construída uma ponte no Centro, perpassando campanhas políticas. Pessoas perderam e ganharam eleições a partir de onde colocariam a ponte. E vemos agora um improviso de última hora duplicando uma ponte e construindo outra que tem muitos questionamentos sobre a validade dela.

A cidade precisa ser pensada como um todo. Temos que fortalecer os bairros. Hoje, as grandes políticas públicas estão no sentido da diminuição da mobilidade urbana. As pessoas que moram na cidade precisam ter equipamentos públicos, lazer, cultura e comércio forte nos seus bairros, diminuindo os deslocamentos.

É preciso transparência, participação da sociedade e entregar o planejamento urbano para quem realmente entende. Não para o prefeito ou uma secretaria interna da prefeitura, e sim quem se beneficiará disso, que é a sociedade.

Você faria um governo com mais presença do município ou abriram portas para possíveis parcerias público-privadas ou buscando privatização definitiva de alguns serviços?

Depende de quais serviços. Não há um antagonismo entre a iniciativa privada e o poder público. Há uma complementariedade. Um exemplo disso é o próprio SUS. Ele não é 100% público. Hoje, uma ressonância magnética feita pelo serviço, é feita através de um local privado.

Essa complementariedade é extremamente saudável. Não fazemos política com radicalismo. É preciso que os diversos setores conversem. Exemplo: como zerar a fila das creches e ter aulas em tempo integral? Uma iniciativa é a “compra” de vagas. Desde que o poder público supervisione as normas educacionais.

O segundo ponto é estimular as empresas para que elas possam construir creches próximas aos seus locais de trabalho. Hoje também temos internalizado o Fundeb na constituição, e 6,5% desses valores vão para educação infantil.

Vamos procurar as parcerias público-privadas para resolver as questões onde a prefeitura precisa de respostas rápidas à cidadania. Sempre com o controle dos conselhos. Vamos fortalecer os conselhos sociais, que serão fiscalizadores e formuladores de políticas públicas.

Neste ano tivemos uma queda de arrecadação, até por conta da pandemia. Como o senhor pretende fazer os investimentos necessários para o ano que vem dentro dessa realidade?

Onde estamos discutindo esse assunto, o pedido das entidades e das pessoas é que a prefeitura não atrapalhe. É uma dificuldade muito grande para pequenos e médios empreendedores conseguir suas certificações, alvarás e licenças.

Estamos perdendo pequenos e médios negócios para cidades vizinhas por conta da burocracia da prefeitura. Na era digital em que vivemos, o processo deveria ser unificado e demorar no máximo dias, não meses ou anos. Acredito nas potencialidades de Blumenau que a tornou forte no poder econômico de Santa Catarina.

Hoje as nossas costureiras, que poderiam iniciar seus próprios negócios e terem suas próprias marcas, são sujeitas a uma legislação muito forte que as levam pras grandes magazines. Por que o poder público, junto das entidades, não ajudam gratuitamente a organização de pequenas facções para resgatar marcas blumenauenses?

Blumenau tem outras potencialidades, como o turismo ecológico, a questão gastronômica, cervejeira. O poder público precisa intentivar. E o capital humano, especialmente na área da tecnologia da informação, precisa ser estimulado. Na Furb fizemos um planejamento de um distrito de inovação entre a ponte do Tamarindo, igreja Luterana e a Paul Werner com IPTU reduzido ou zerado e ISS gerado.

Temos dois departamentos na Prefeitura de Blumenau que poderiam ser muito mais atuantes, a Secretaria de Assuntos para Juventude e o Cepread. Se for eleito, como o senhor vê esses departamentos?

Durante os oito anos que fui reitor da Furb, a prefeitura pontualmente se aproximou pedindo apoio do Hospital de Ensino Veterinário para as castrações, mas nunca foi propositiva, em termos de efetivamente fechar essa parceria. Houve dificuldade até no repasse de custeio de anestésicos e injeções, por exemplo. Vejo a parceria com a universidade e clínicas veterinárias particulares como algo vital para a saúde animal em Blumenau.

Em relação ao jovem, volto novamente à educação. A prefeitura tem que ser indutora de uma cultura de empreendedorismo, lazer, esportes e arte para o jovem. Isso começa no ensino fundamental, com o contraturno. Parceria com entidades e avanço no ensino médio e universidades. Temos jovens no mundo digital com seu próprio negócio, mas que não têm o mínimo incentivo.

Você falou em melhorar a mobilidade urbana nos bairros, mas o Centro da cidade recebeu muitas sinaleiras nos últimos anos, atravancando o trânsito. O senhor tem alternativa para melhorar o trânsito?

Quero começar dizendo que em alguns bairros o trânsito também é muito complicado, especialmente por conta das entradas de Blumenau. O governo estadual e federal precisa dar mais atenção, especialmente para a BR-470.

O prolongamento da Via Expressa à SC-180, parado há quatro anos, é um deboche com Blumenau. Se ele tivesse sido feito, toda Pedro Zimmermann poderia ser revitalizada. É incompreensivo como nossos representantes estaduais não colocam isso como uma bandeira forte para cobrar do governador.

Há muitos exemplos de soluções pontuais. Como facilitar o acesso à rua João Pessoa para quem sai do Morro da Hering e construir um túnel para os estudantes do Santos Dummond, na rua Amazonas. Precisamos de planejamento dos pontos críticos e obras pontuais onde há mais estrangulamento.

Blumenau tem chance de voltar a ter grandes jogos de futebol e ter um Estádio Municipal e um time de representando a cidade?

Na minha opinião, temos problemas graves na formação dos atletas. A prefeitura precisa cuidar melhor do Bolsa Atleta e do acesso dos jovens ao ensino médio e superior. Hoje em Blumenau temos vôlei e basquete feminino nas ligas nacionais e não temos nenhum ginásio de esporte adequado para receber esses esportes.

O Galegão é gerido pela Vila Germânica, que põe muitas dificuldades ao esporte, e não é adequado. No nosso plano está a construção de uma arena multiuso, como a que temos em Jaraguá. O esporte é importante na motivação da economia.

Quanto ao futebol, vejo que é uma discussão que precisa ser forte com a iniciativa privada. Blumenau merece um estádio de futebol, mas não seria a prioridade número um do poder público. Mas uma obrigação buscar recursos junto de outras instituições.

Blumenau está fora do circuito cultural nacional ou estadual por não ter espaços adequados. Não é possível fazer um show musical. A arena multiuso também poderia ser utilizada para apresentações e eventos.

Um dos setores mais afetados pela pandemia é o turismo. Em seu plano de governo, você fala sobre dar mais autonomia ao Conselho Municipal de Turismo. O que isso singnifica na prática? 

O turismo é um bom exemplo de como o poder público pode ser indutor de política, mas não executor. Ele precisa de parcerias. Ninguém sabe mais de turismo e como organizá-lo do que o Trade Turístico de Blumenau.

Discutimos isso no Convention Bureau, que pede respeito para que possa trabalhar. Nossa proposição é dar mais autonomia para que eles possam formular e executar as políticas públicas relacionadas ao turismo.

Bluemnau tem uma marca forte. Os moradores do litoral, ou que visitam a região, querem conhecer a cidade. Turismo tem que ser pensado regionalmente. Queremos turismo 365 dias em Blumenau.

Temos duas concessões importantes em Blumenau, o tratamento de esgoto e o transporte coletivo. Se for prefeito, o senhor pretende revisar os contratos com essas duas empresas?

É uma obrigação de qualquer gestor público revisar estes contratos. Já falamos do transporte coletivo. Quanto ao tratamento sanitário, há muitas regiões invisíveis. Na João Pessoa, se você anda 500 metros, encontra pessoas que vivem com esgoto a céu aberto, sem água encanada e até sem luz. A Prefeitura de Blumenau precisa olhar para toda a cidade. Os contratos são nocivos para a cidade no sentido econômico.

Como médico, o senhor planeja investir na prevenção na área da Saúde?

Sem dúvidas. Na universidade fizemos um estudo em Pomerode junto de uma universidade alemã analisando os condicionantes de adoecimento. Observamos que o alto consumo de alimentos processador e inatividade física levava a doenças. A primeira coisa seria construir mais parques e equipamentos de lazer em Blumenau.

Um segundo ponto importante é reforçar o programa de Estratégia de Saúde da Família. Muitas equipes em Blumenau estão incompletas. Precisamos prevenir e detectar doenças precocemente. Assim como reforçar a estrutura, equipamentos e pessoal dos AGs.

Em uma cidade que deu mais de 80% de votos para um candidato de extrema direita, o senhor acredito que ainda há espaço na cidade para partidos de centro esquerda?

O meu partido é Blumenau. Gostaria muito que minhas propostas fossem consideradas propositivas e modificadoras para cidade. Em uma eleição municipal com tantos problemas como Blumenau, perder tempo em polaridade política e rótulos políticos é desnecessário.

Na história recente eleitoral de Santa Catarina já vimos as grandes consequências de levar pessoas inexperientes a cargos políticos. É por isso que acreditamos que o eleitor de Blumenau vai julgar quem tem as melhores propostas, formação e experiência de gestão pública.

Por que você acredita que temos 12 candidatos a prefeito? Faltou união? 

A maioria dos partidos pensa em eleição. Nós pensamos no que é melhor para a cidade. O que faltou foi uma união programática. Além do mais, precisamos de uma reforma política séria nesse país para que possamos reduzir o número de partidos e para que eles tenham consistência e programas claros para o eleitor.

Blumenau tem perdido muitas empresas para cidades onde existem incentivos maiores. Como o senhor pretende mudar isso e atrair novas empresas?

Blumenau naturalmente atrai empresas pela qualidade das pessoas, alto índice de escolaridade e tradição de capital humano. Mas sobretudo, o que escuto dos empresários, não são incentivos, mas sim “não nos atrapalhe”. Licenças ambientais ou sanitárias demoram muito. Elas procuram agilidade e parceria da prefeitura, e nisso podem contar com a gente.


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