Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“A epopeia do casal indígena da Via Expressa é um resumo da tragédia vivida por este povo no Brasil”

Colunista comenta sobre vigília para proteção de casa indígena em Blumenau

Eles estão por este território há milhares de anos. Pesquisas arqueológicas mostram que mais ou menos 32 mil anos antes deste lugar virar Terra de Santa Cruz, aqui já viviam, amavam e criavam seus filhos. Desfrutavam da liberdade dos verdadeiros filhos da terra.

Eram naquele tempo, aproximadamente, 3 milhões de indivíduos pertencentes a 900 povos. Cada povo tinha seu próprio modo de vida, seus costumes e sua língua. Ocupavam cerca de 8 milhões de quilômetros de território. Em 1500 foram denominados índios por um visitante que dizia estar perdido e acreditava ter chegado à Índia. Há quem diga que a informação que ele estava perdido pela costa brasileira é fake.

Os “índios” acreditavam que os visitantes eram deuses. Casavam-se com eles, e assim, os transformavam em parentes. Os brancos, na sua lógica expansionista e mercantilista, traziam consigo não só a vontade de explorar, mas também uma cruz e um Deus que utilizavam toda hora para justificar seus atos.

A convivência, que no início poderia parecer pacífica e harmoniosa, foi trágica para os primeiros moradores da terra. A tradição e os costumes indígenas foram sistematicamente destruídos. A conquista da alma custou seus corpos.

Os europeus traziam doenças epidêmicas como a gripe e a sífilis que eram desconhecidas até então. Milhares morreram, não somente por conta das epidemias, mas também por guerras, processo de escravização e desorganização cultural trazidas pela colonização.

No Sul a história não foi diferente. Segundo pesquisas arqueológicas, 400 anos antes da chegada dos europeus, indígenas já habitavam a ilha de Santa Catarina. O contato estabelecido por obra de bandeirantes dizimou os povos indígenas que aqui viviam.

As mulheres foram escravizadas, tendo seus filhos capturados por bugreiros e entregues para adoção de famílias não indígenas. Bugreiros aliás, eram indivíduos pagos pelos brancos para caçar e matar índios, feito animal.

O pagamento era realizado mediante a apresentação das orelhas das vítimas. Tudo em nome da ordem, da limpeza, do progresso e de Deus. Foram assim, aldeados e confinados.
Na semana passada, em um post feito na rede social, o prefeito da cidade de Blumenau informou que uma equipe da prefeitura havia realizado a limpeza de um terreno localizado às margens da Via Expressa.

Na ação, a prefeitura usou máquinas para destruir os barracos existentes no local. Os moradores? Um casal indígena Kaigang que utiliza o local como moradia enquanto permanecem na cidade para vender seus artesanatos. Inacreditavelmente eles continuam lá, apesar da idade avançada.

Resistem! Aliás, resistir é tudo o que lhes resta. A epopeia do casal indígena da Via Expressa é um resumo da tragédia vivida por este povo no Brasil.

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