Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Ligação Velha-Garcia é inviável e prefeito não precisa visitar o local para saber isso”

Colunista afirma que passeio de prefeito no local visa muito mais as eleições de 2020

O bucólico passeio da administração municipal

No último dia 23 de novembro o prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (sem partido), postou em suas redes sociais fotos de uma caminhada que fez junto com alguns dos seus secretários e diretores na região da chamada ligação Velha-Garcia. No dia 27, o prefeito voltou ao tema, com a postagem de um vídeo em que promete que, “com determinação” irá abrir a passagem na região que está fechada há 11 anos.

Somou-se à lúdica experiência do prefeito e secretários municipais, um pueril vídeo publicado pelos vereadores Alexandre Caminha (PP) e Adriano Pereira (PT) em que advogam pela reconstrução da picada, e que acusam o governo municipal de falta de vontade política para a liberação da passagem.

A manifestação do prefeito e vereadores virou tema de debates e saudações por aliados políticos e imprensa. Alguns parabenizaram o prefeito pela coragem e ousadia, outros enxergaram na atitude do prefeito uma espécie de balão de ensaio, visando muito mais a eleição de 2020 do que o encaminhamento do problema.

Data vênia, aos que enxergaram no passeio do prefeito algo inovador, sabemos que na realidade está longe disso. Imagino que o prefeito não precisa ir no local para saber que a obra é e ambientalmente inviável e de difícil execução de forma técnica. Bastaria ele ouvir o que pesquisadores e ambientalistas do município vem alertando há anos.

Também não é verdadeiro o argumento do único vereador declaradamente de oposição quando diz que situação da ligação Velha-Garcia é uma questão de falta de vontade política. Não é. A realidade é que deve-se deixar a região como ela está. Os próprios planos diretores do município incentivam o crescimento da cidade para o lado Norte

Em tempos de nova política, se é que ela existe, o que temos em torno do atual debate é o velho populismo. É famosa a frase do presidente Washington Luis: “governar é construir estradas”. Uma máxima da política tupiniquim que acredita que bons políticos deixam suas marcas desbravando cidades com novas estradas e rodovias.

O que poucos conhecem é que a frase completa é a seguinte: “governar é povoar; mas, não se povoa sem se abrir estradas, e de todas as espécies; governar é, pois, fazer estradas”.

É de conhecimento público que toda a região é área de preservação ambiental. Não é por acaso. São preservadas porque são geologicamente frágeis. Precisamos puxar da memória a catástrofe de 2008. A picada existente entre as duas regiões desapareceu naquela data.

Fazer uma liberação de trafego no local é incentivar a longo prazo a ocupação da área e encubar outro evento parecido. Sem contar que não temos garantia nenhuma da capacidade da prefeitura de frear no local a ocupação desordenada.

A realidade é que fora do período de chuvas, esquecemos dos temas socioambientais. Vivemos como se o problema não existisse em nossa cidade e passamos a armar arapucas que irão desarmar em nossas cabeças na próxima catástrofe. Depois, não adianta pedir proteção divina e culpar as forças da natureza.

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