Daniel Zimmermann/Festa Pomerana

É uma piada recorrente no meio gastronômico – e uma verdade. A melhor linguiça Blumenau é feita em Pomerode. Nada mais natural, portanto, que um dos principais eventos voltados às tradições germânicas em Santa Catarina – a Festa Pomerana, que começou dia 10 e vai até o dia 21 de janeiro – destaque os pratos feitos com a iguaria.

Entenda abaixo por que esse ingrediente se tornou tão importante para o cardápio e para a economia dos pomerodenses.

1 – A linguiça Blumenau nasceu em Pomerode

A história da linguiça Blumenau começa em 1900, quando imigrantes alemães desembarcaram na região que viria a se tornar Pomerode. Na bagagem, além do projeto de construir uma vida nova, eles traziam a fórmula de como fazer embutidos com qualidade. Mais tarde, em 1934, esta fórmula sofreu alterações para se adaptar aos ingredientes e clima locais. A antiga Weege Indústria Alimentícia, em Pomerode, criou a linguiça Blumenau como conhecemos hoje.

Acontece que naquela época Pomerode ainda fazia parte do território blumenauense. O produto ganhou fama e era comum que viajantes e moradores de outras cidades pedissem pela “linguiça de Blumenau” quando estavam por essas bandas. E assim ela acabou batizada.

Na época, a intenção era produzir o embutido para conservar as carnes por mais tempo – lembre-se que ainda não existiam os refrigeradores elétricos. Os imigrantes alemães dominavam as técnicas de charcutaria e era normal que as residências tivessem nos fundos do terreno um defumador, uma construção de pé-direito elevado, com forno, onde as carnes eram preparadas.

2 – Até o clima local influencia o sabor da autêntica linguiça

Para ser considerada uma autêntica linguiça Blumenau, ela deve ser feita com carne de pernil e paleta suína, além de possuir um tempero natural e passar por um processo de defumação artesanal. Até o clima da região influencia no resultado do produto.

A Olho Embutidos é a herdeira da receita criada em 1934. Até hoje a linguiça Blumenau produzida pela fábrica localizada no bairro Ribeirão Areia, em Pomerode, faz o produto usando a receita de antigamente.

O processo de fabricação não é complicado – como nem poderia ser naquela época. Primeiro as carnes que estavam estocadas em uma câmara fria passam por um moedor, depois por outra máquina que mistura as carnes com os temperos. As carnes são provenientes de frigoríficos da região e precisam apresentar todas os selos de inspeção sanitária e controle de qualidade.

Em seguida, a linguiça ganha forma, é pendurada em barras de metal e levada novamente para a câmara fria, onde descansa por algumas horas. Dali, os embutidos vão para uma sala de defumação, processo que se estende por cerca de 10 horas.

Pelo menos cinco funcionários trabalham neste processo. Segundo o sócio da Olho Embutidos e Defumados, Luiz Antonio Bergamo, um deles inclusive trabalhou na antiga Weege Indústria Alimentícia.

“A linguiça representa muito bem todo esse passado que os imigrantes alemães viveram aqui e até hoje é um produto muito popular. É o nosso carro-chefe, cerca de 60% das vendas da Olho são de Linguiça Blumenau”, explica Luiz.

Daniel Zimmermann/Festa Pomerana

3 – Produto gera renda e empregos

A Weege Indústria Alimentícia movimentava a economia local e era o principal posto de armazenamento de produtos, de transações comerciais e até mesmo de decisões políticas. A empresa foi desativada em 1999 e hoje seus antigos prédios sediam a fábrica da cervejaria Schornstein e o Centro Cultural pomerodense.

Com tanta fama e tradição, não é de se espantar que tenha gente que conte com a linguiça para fazer uma renda extra nesta época do ano. Marli Lemke é vendedora de produtos coloniais na Festa Pomerana há mais de 20 anos e diz que é comum turistas chegarem ao estande procurando pela iguaria.

Muitos compram em grandes quantidades para levar para casa. Outros beliscam o produto ali mesmo. Marli ainda vende na festa a linguiça húngara, própria para comer como petisco, e a linguiça patê, outro clássico da culinária regional.

“Já nem faço mais as contas de quanto vendo, mas teve um ano que só de linguiça Blumenau vendi 300 quilos”, recorda.

Ainda na Festa Pomerana, a Olho Embutidos conta com um espaço dentro do Pavilhão Cultural para venda (e degustação grátis!) de produtos.

4 – Ingrediente com toque gourmet, mas sem perder a tradição

A linguiça sempre foi servida no café da manhã, o Frühstück, uma refeição reforçada feita antes de um longo dia de trabalho no campo. Depois foram surgindo outras maneiras de preparo e que podem ser saboreadas na Festa Pomerana, como a batata recheada, a linguiça flambada com cebolas e acompanhada por pães e a linguiça grelhada.

Mais recentemente a iguaria se modernizou e ganhou status de gourmet. Hoje, na Festa Pomerana, ainda é possível provar a linguiça Blumenau em um refinado risoto com vinho tinto, ou em preparações mais descontraídas, como numa pizza, no hambúrguer, como recheios em minicoxinhas e até em deliciosas e ousadas cucas.

Luiz Antonio Bergamo, da Olho, diz que essa “gourmetização” é um exemplo da versatilidade do produto, que atende a todos os gostos e momentos. “Nós adoramos quando chefs mostram diferentes formas de usar a linguiça Blumenau e quando vamos à festa e vemos as pessoas provando o produto em algum prato. Isso mostra que temos espaço tanto para atender as pessoas que têm um paladar mais conservador quanto aqueles que gostam de experimentar coisas diferentes”, afirma.

Daniel Zimmermann/Festa Pomerana

5 – Festa Pomerana é sinônimo de boa comida (e boa linguiça)

Com tantas opções no cardápio, é justo afirmar que a gastronomia é o ponto alto da Festa Pomerana. Também pudera: podemos aprender muito mais sobre o lugar que visitamos a partir de um prato. Não é só o chef Alex Atala que pensa assim: um dos principais folcloristas brasileiros, Câmara Cascudo, escreveu dois livros falando sobre a história da alimentação no Brasil (inclusive comentando hábitos dos imigrantes alemães aqui da região) muito antes de o assunto virar moda.

A diretora executiva da Fundação Cultural de Pomerode, Ivone Lemke, acredita que a força da gastronomia da festa é ainda maior quando se lembra que a cidade é conhecida como um polo gastronômico no Vale Europeu. Ela recorda que em casa não faltavam linguiça Blumenau e outros embutidos coloniais. Eles representam o verdadeiro espírito da culinária local.

“As salsichas, que hoje também são muito famosas, só começaram a fazer parte da Festa Pomerana e dos nossos costumes muito depois da linguiça. Além das empresas, as pessoas tinham o hábito de produzi-las em casa, por isso elas representam tão bem a nossa cozinha. Eu cresci comendo linguiça com pão e manteiga. Hoje em dia gosto muito de hambúrguer e de cuca com linguiça”, conclui.

Festa Pomerana
Onde: Parque Municipal de Eventos de Pomerode
Quando: até 21 de janeiro
Horários: quarta, quinta e sexta-feira: a partir das 8h. Terça, sábado e domingo: a partir das 10h.
Ingressos: Domingo a sexta-feira, R$ 10. Sábado, R$ 25. Entrada gratuita dia 16 e diariamente para crianças até 12 anos e visitantes em traje típico completo. No último dia de festa (21), o acesso é gratuito após 15h30. Meio ingresso para pessoas acima de 60 anos, estudantes e professores.
Site oficial: www.festapomerana.com.br