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“Novo cangaço”: conheça modalidade de assaltos violentos que cresce em Blumenau e região

Bandidos fortemente armados, roubos de grandes quantidades de dinheiro, carros queimados, pessoas feridas e até mesmo feitas de reféns. Os assaltos no estilo conhecido como “novo cangaço”, que antes eram acompanhados apenas na televisão, estão se tornando cada vez mais comuns em Blumenau e região.

Nesta quarta-feira, 4, as vítimas foram moradores de Vidal Ramos, município ao sul do Vale do Itajaí. As agências do Banco do Brasil e da Cooperativa de Crédito Cresol foram assaltadas por bandidos armados, que fizeram diversos reféns e balearam dois deles. Ao menos R$ 165 mil foram roubados. Até o momento, nenhum suspeito foi encontrado. Pelo caminho, carros e um caminhão foram incendiados.

Entretanto, a ação dos criminosos lembrou o grande assalto ocorrido em Blumenau no início de setembro, quando uma quadrilha rendeu os clientes e funcionários de uma agência do banco Bradesco na Itoupava Central. Quatro pessoas foram levadas como reféns e os criminosos atiraram com fuzis para o alto.

Meses antes, em março deste ano, o Aeroporto Quero-Quero foi cenário do maior assalto da história do Vale do Itajaí. Três pessoas foram presas, porém o ocorrido deixou uma jovem de 22 morta. A funcionária de uma indústria têxtil vizinha foi atingida por uma bala perdida.

Mas afinal, o que trouxe assaltos tão violentos para cidades que já foram tão pacatas? Para o delegado Anselmo Cruz, responsável pela Diretoria Estadual de Investigação Criminal (DEIC) de Florianópolis, Santa Catarina possui um cenário favorável em comparação ao restante do país.

“Esses tipos de assalto acontecem no Brasil há muito tempo. Muito fortemente no Paraná e no Rio Grande do Sul, mas Santa Catarina sempre conseguiu se desmembrar do chamado ‘novo cangaço’. Em 2017 e 2018 não houve nada desse tipo no estado, enquanto só no Paraná foram mais de 30”, afirma.

Na opinião dele, a chegada dos crimes para SC representa a fuga dos criminosos dos estados vizinhos, onde já foram perseguidos pela polícia. Apesar de o delegado considerar as ações da região tímidas em comparação ao restante do Brasil, reconhece que elas são graves.

“De um jeito ou de outro circula muito dinheiro no Vale [do Itajaí]. Também tem a situação da facilidade das rotas de fuga. Todo esse cenário é mais favorável para esse tipo de assalto”, esclarece.

Novo cangaço

O termo surge inspirado no movimento que ocorreu no Nordeste brasileiro no século 19. Os cangaceiros eram bandidos que vagavam pelas cidades em busca de justiça e vingança. Eles usavam a falta de emprego, alimento e cidadania como justificativa para os crimes.

O nome foi emprestado não apenas por os “novos cangaços” serem marcados pela violência e pânico que trazem às cidades por onde passam. O terror presenciado pelas vítimas remonta as atitudes dos seguidores de Lampião, líder mais conhecido do fenômeno.

Investigações

O delegado Anselmo Cruz alega que já é possível decretar que não há relação entre os dois grandes assaltos blumenauenses: no Aeroporto Quero-Quero e na agência do banco Bradesco.

Segundo ele, as investigações mostraram que se tratam de grupos distintos. Por este motivo, elas também seguirão separadas. O delegado afirma que ambas estão em estado avançado. Porém, ele ressalta que é natural que se leve tempo para levantar informações.

“Na mesma proporção que eles levam tempo planejando o crime, montando tudo e preparando a ação, mais tempo leva o trabalho investigativo. Não é instantâneo, leva tempo. Quanto mais logística eles usam, mais logística é necessária na investigação”, explica.

Sobre o caso de Vidal Ramos, Cruz acredita que também se trate de um grupo de fora do estado. Provavelmente vindo do Paraná. E, ao que tudo indica, um grupo distinto dos que agiram no aeroporto e no banco blumenauenses.

“Ainda estamos colhendo dados e informações para conferir isso. Ontem ficamos até tarde ouvindo depoimentos de várias vítimas e coletando imagens de câmeras de monitoramento”, diz.

Assaltos a banco em queda

Apesar de os roubos de grande porte no estado estarem aumentando, dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que o número de assaltos ou tentativas de assaltos a agências de bancos vêm caindo drasticamente.

Enquanto nos anos 2000 foram registrados 1.903 casos, em 2018 foram 171. Durante o primeiro semestre de 2019, a Febraban registrou 57 ocorrências, número 28% menor em comparação ao mesmo período do ano anterior.

A federação remete a redução expressiva ao aprimoramento no combate a assaltos, tanto da polícia quanto dos recursos de segurança. Segundo eles, os bancos investem R$ 9 milhões em medidas de segurança anualmente. A tecnologia também é uma grande aliada, vide que diversos clientes optam por realizarem suas transações pelo celular.

Colaborou: Jotaan Silva