Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“O ensurdecedor silêncio das lideranças de Blumenau sobre presença da Ku Klux Klan na cidade”

Colunista comenta sobre pesquisa realizada por antropóloga que revela incidência de dois grupos racistas no município

Esta semana foi notícia na imprensa nacional os números das pesquisas realizadas por doutora em antropologia pela Unicamp, Adriana Dias, sobre o a incidência do nazismo no Brasil.

Adriana se dedica ao tema há pelo menos 15 anos, e segundo os dados há em Santa Catarina pelo menos 69 células com mais de três integrantes. O estado é o segundo do país.

Entre estes grupos há três que se identificam como seções locais da Ku Klux Klan. Destes, dois estão em Blumenau. Sim, infelizmente Blumenau foi destaque nacional por racismo.

A Ku Klux Klan (KKK) é uma organização racista secreta fundada no final do século 19 nos Estados Unidos. Seu objetivo é lutar contra os direitos civis conquistados pela população negra. Nos Estados Unidos sua doutrina mistura nacionalismo e xenofobia. No Brasil, segundo as pesquisas de Adriana Dias, há elementos religiosos além de ódio aos negros e aos judeus.

A assustadora presença destes grupos é simbolicamente reveladora e preocupante. Consequência de um país que ainda não conseguiu superar as sequelas dos trezentos anos de escravidão. Florestan Fernandes apontava que a escravidão foi regime de trabalho que implicou na incorporação forçada e predatória de populações indígenas e africanas, sacrificando modos de vida e visões de mundo.

As estruturas que constituíram esta ordem social estavam amplamente permeadas pelas mais diversas formas de discriminação racial, e operavam no sentido de manter a posição e a relação entre “raças” a que pertenciam os senhores e as “raças” a que pertenciam os “escravos”.

Os resquícios deste período ainda persistem na vida nacional, e também por aqui. Talvez porque o fim da escravidão não ocorreu de dentro para fora. Foi para inglês ver. Tratou-se de modificar as condições de trabalho pelo alto, sem atender as condições de trabalho que ecoavam no movimento abolicionista.

A abolição foi realizada pelo alto, não garantindo ao trabalhador o acesso à cidadania, sobretudo ao acesso à terra. O resultado disto é que neste 20 de novembro de 2019 pretos e pardos ainda recebem em média salários 45% mais baixos do que um branco com a mesma formação. Representam dois terços da população desocupada e são 75,5% da vítimas de homicídios.

Números tão escandalosos quanto o silêncio de nossas autoridades locais. Mesmo depois da cidade ser notícia nacional por racismo, permanecem em um ensurdecedor silêncio. Nem mesmo uma nota do Executivo, do Legislativo, do Judiciário ou até mesmo das entidades que em que outros temas políticos reivindicam para si a representação da sociedade.

Agora, emudeceram.

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