Opinião: “Onda de restrições alimentares vem da falta de conhecimento do próprio corpo”

Em artigo, nutricionista analisa proibições adotadas por pessoas que não têm orientação clínica específica

Juliana Ardenghi
Nutricionista

Entre os paradoxos do mundo atual que invariavelmente chegam ao consultório dos nutricionistas, alguns se destacam pela dificuldade com que os enfrentamos. Se nunca na história da humanidade houve tanta informação disponível, por que as pessoas estão tão confusas em relação às escolhas alimentares? Se sabemos tanto sobre alimentação saudável, dietas e atividade física, por que a obesidade cresce sem parar?

Acredito que a explicação tem a ver com o fato de vivermos cada vez mais no piloto automático e desconectados do nosso corpo. Ficou mais fácil ter alguém dizendo o quê, o quanto e quando devemos comer, e assim perdemos a conexão com o que sentimos.

Vejamos, por exemplo, a onda das restrições na alimentação. Atravessamos a era do sem glúten, sem lactose, sem sal, sem açúcar… Sem um monte de ingredientes que botam por terra o prazer de comer.

É ótimo para a saúde vigiar os excessos, mas não podemos perder de vista a sabedoria dos nossos avôs e avós que faziam do preparo do alimento um ato de amor. Quem não tem boas lembranças do cheiro de bolo ou do aroma de uma boa geleia de uva pela casa na infância?

A meu ver a onda das proibições vem, em boa parte, da falta de conhecimento do próprio corpo ou de expectativas sociais equivocadas sobre si. Ao não perceber as mudanças no meu corpo com o passar da idade, fecho os olhos para os quilos que ganho com mais facilidade ou para a dificuldade que passo a ter ao digerir alguns alimentos. E aí, para muitos, é mais fácil proibir do que conhecer-se e adaptar-se. É lógico que este raciocínio não se aplica quando há evidência clínica de que devemos evitar certo alimento, avalizada por um profissional.

Diariamente, atendo a pessoas que não sabem o que escolher. Que têm medo de comer pão, arroz, feijão, carne, alimentos de verdade, pois receberam tantas informações distorcidas que não comem quando estão com fome ou comem o que é imposto e, em situações limite, acabam descontando e comendo de modo descontrolado o que foi dito como proibido. E assim passam o dia pensando no que gostariam de comer, com fome ou, pior, sentindo culpa pelas escolhas.

Quanto mais estudo, observo que, se as pessoas começarem a se reconectar com as sensações de fome e saciedade, escolhendo o alimento também pelo prazer – sim, o ato de comer está ligado a prazer, história de vida, lembranças boas e ruins –, voltarão a comer com mais equilíbrio.

E assim eliminarão da mesa a culpa, o pânico ou o medo, sentimentos nocivos que se apresentam na hora das refeições.

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