Em 18 de agosto último, comentávamos que o famoso morro Spitzkopf, no limite de Blumenau com Indaial, não era precisamente o mais alto, mas, dada sua localização e características de destaque na paisagem circundante é o que propicia a mais espetacular visão panorâmica, no vale do rio Garcia, onde se encontram as maiores altitudes do município.
Esse icônico morro consta nos mapas oficiais do Estado de Santa Catarina com a altitude aferida de 913,98 metros acima do nível do mar. Na carta planialtimétrica da Prefeitura de Blumenau consta como 914 metros, dois centímetros a mais! O empresário Udo Schadrack (1910-1983), responsável pela preservação de grande parte do morro, mencionava aferições oficiais do IBGE de 914,26 metros.
Muitos antigos excursionistas conheceram os dois marcos de concreto referentes a essas aferições do IBGE, fincados na parte mais alta do morro. Num triste belo dia, desapareceram. Execráveis vândalos disfarçados de excursionistas os arrancaram do lugar e os jogaram encosta abaixo, ignorando a placa metálica que alertava serem eles “protegidos por Lei”. Sei disso por que, em 20 de junho de 1981, descendo pela face Norte, a mais íngreme do morro, junto com os amigos Antônio Maurício Schmidt e Profa. Lúcia Sevegnani e duas alunas desta, avistamos um desses marcos em local quase inacessível, uns 40 metros abaixo do pico.
Houve também alguns casos de pequenas escavações no pico do morro, certamente feitas, também, por pessoas sem qualquer noção de respeito ao ambiente natural. Sabe-se lá se isso, junto com a compactação causada pelo pisoteio de milhares de visitantes ao longo dos anos, costumo brincar, não tenham sido responsáveis por esse sutil rebaixamento do morro de 914,26 metros para os atuais 913,98 metros!
Ainda bem que de uns 15 ou 20 anos para cá, a conscientização das pessoas melhorou tremendamente e praticamente não se vê mais sinais de vandalismo ou desrespeito ao ambiente natural e nem lixo largado ao longo das trilhas, felizmente.
Voltando às altitudes, como vimos, há discordâncias, dependendo da fonte consultada. Para este breve ensaio, vamos nos basear nos mapas planialtimétricos do IBGE, na escala 1:50.000, onde cada milímetro corresponde a 50 metros na natureza. Nos mapas do IBGE a última curva de nível na representação do morro Spitzkopf é de 920 metros. Não é a altitude exata, como mostramos acima, mas é a que vai servir de comparação ao que veremos a seguir.
Partindo do topo do morro Spitzkopf para o Sul, seguindo o divisor de águas entre as bacias dos rios Encano e Garcia, que também serve de limite entre os municípios de Indaial com Blumenau, encontramos uma cadeia com morros de boa altitude, todos dentro do atual Parque Nacional da Serra do Itajaí, conforme segue:
- até as cabeceiras do Ribeirão Cachoeira Feia, afluente da margem esquerda do Garcia, encontramos três topos de morro com a última curva de nível correspondente aos mesmos 920 metros do morro Spitzkopf;
- na cabeceira Norte do ribeirão Garcia-Janga, vemos outra cota de 920 metros e mais outra na cabeceira do Garcia propriamente dito;
Em seguida, seguindo pelo divisor de águas dos vales do Garcia com o Lageado Alto que determina o limite de Blumenau com Botuverá, encontramos mais morros de altura semelhante ou maior que o Spitzkopf:
- primeiro, os mesmos 920 metros entre as cabeceiras do Garcia e o Canjerana, seu afluente da margem direita;
- a seguir, um morrote na cota 980 metros que se eleva cerca de vinte metros acima de um pequeno platô que adentra também o município de Botuverá;
- o morro seguinte, batizado oficialmente como morro Loewsky, ultrapassa os 980 metros e fica na tríplice junção de Blumenau com Botuverá e Guabiruba. É considerado o morro mais alto de Blumenau, modéstia à parte, descoberta deste que vos escreve.
Seguindo agora mais para Leste, pelos divisores de águas do Rio Garcia com o rio das Águas Cristalinas já no limite de Blumenau com Guabiruba temos:
- um ponto provavelmente acima dos 930 metros, numa linha de cumeada de 750 metros de extensão a nordeste do morro Loewsky;
- novamente uma cota de 920 m nas cabeceiras do Braço Central do ribeirão do Óleo;
- um ponto indicado precisamente com 945 metros nas cabeceiras do Braço Leste do ribeirão do Óleo;
- setecentos e cinquenta metros a leste do morro 945, encontramos uma altitude de 940 metros;
- chegamos agora ao conhecido morro do Santo Antônio, formado por dois montes distintos, o maior, com 970 m e o menor com 949 metros;
Voltando para noroeste do morro do Santo Antônio, deixamos o limite com Guabiruba e adentramos o município de Blumenau, onde, na altura do morro 940 metros já referido, encontraremos, numa pequena linha de cumeada, no exato sentido Norte, duas surpresas:
- um ponto na já repetida cota 920 metros e
- o ponto mais alto inteiramente dentro de Blumenau, na cota de 950 metros entre as nascentes do Ribeirão do Óleo, do Ribeirão Jararaca (não confundir com o ribeirão Jararaca na área urbana de Blumenau) e as cabeceiras do Rio Garcia-pequeno, este um importante afluente da margem direita do Garcia propriamente dito.
Como se vê, salvo levantamento mais pormenorizado, dos dezesseis pontos aqui listados, a metade tem a altitude aproximada de 920 m e a outra metade, ou seja, oito deles, com altitude maior que o morro Spitzkopf em Blumenau, todos localizados nas cabeceiras do rio Garcia de Blumenau. Apenas os dois últimos pontos listados encontram-se inteiramente dentro do município. Os demais 14 pontos ficam nos limites, como vimos, respectivamente, com Indaial, Botuverá e Guabiruba, todos, felizmente, bem distantes das áreas urbanizadas ou agrícolas dos quatro municípios, em região íngreme e sem qualquer acesso viário, com total vocação para a preservação.
Como tratamos no artigo anterior, salvo melhor juízo, nenhum desses pontos eleva-se tão isolado e com o potencial paisagístico espetacular do morro Spitzkopf. Além do mais, praticamente, todos esses topos de morros encontram-se em estado ainda primitivo, forrados com vegetação nativa arbustiva e herbácea, muitas bromélias e enorme capacidade de retenção de água, consequentemente importantes reguladores hídricos das bacias hidrográficas.
Uma eventual frequência a esses pontos impactará as respectivas delicadas floras locais que ainda se encontram com as características primitivas originais intocadas. Como não há como fazer visitas sem abertura de trilha e pisoteios com danos à vegetação, com riscos de erosão e até de incêndios, melhor não o fazer.
Incêndios, erosão por pisoteio e falta de manutenção de drenagem nas trilhas e manutenção inadequada, nas vezes que foi feita, já são problemas sérios que têm que ser resolvidos no acesso ao morro Spitzkopf.
Desaconselha-se, portanto, a visitação nos outros morros, salvo rigorosos estudos que possam indicar a sua pertinência numa futura modificação do Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra do Itajaí. Até porque, também, será pouco provável, qualquer um desses morros, propiciar vista melhor que a dos morros Spitzkopf e morro do Sapo, já abertos à visitação.
Baú Ambiental

Neste lugar do Campus da Universidade Federal do Amazonas havia um descampado por onde, eventualmente, passavam alguns caminhões. Abandonado o local, um início de floresta voltou ao local porém não nos rastros compactados pelo rodado dos veículos. Não tenho observado esse fenômeno com essa intensidade por aqui. Seria um caso de extraordinária fragilidade de um solo amazônico?
Foto: Lauro Eduardo Bacca, em Manaus (AM), em 14/10/1977.






