Por que empresários de Blumenau ficaram pelo caminho nestas eleições

"Efeito Bolsonaro" e "pulverização de partidos" são apontados como principais motivos

Eles levantaram a bandeira da renovação, mas foram atropelados pela força política do partido de Jair Bolsonaro, o PSL, e pela enxurrada de nomes disponíveis nestas eleições. Os empresários de Blumenau Andrey Tomazi (DEM), Ericsson Hemmer (MDB) e Jorge Cenci (PSB) somaram, na cidade, 29.714 votos, o equivalente a 41% do que conquistaram no estado.

Entidades como a Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Sindilojas fizeram campanha para que os moradores escolhessem candidatos da região, pensando na representatividade local.

Apesar disso, o número de deputados blumenauenses na Assembleia Legislativa (Alesc) permaneceu o mesmo, a Câmara de Deputados não terá ninguém da cidade e o Governo do Estado corre o risco de não ter o ex-prefeito João Paulo Kleinübing como vice.

Para Marcos Mattedi, professor do Doutorado de Desenvolvimento Regional da Furb, os empresários foram prejudicados por três fatores principais: a onda conservadora, que evitou partidos do centro, como é o caso do trio, a pulverização de partidos e regras como o quociente eleitoral (cálculo feito para distribuição de vagas).

“Nunca é monocausal. Santa Catarina materializa o que a gente chama de onda conservadora. As pessoas que se elegeram foram as que assumiram um discurso muito polarizado”, explica Mattedi.

“Eu estava no partido errado”

A frase é de Ericsson Hemmer, ex-candidato a uma vaga na Câmara de Deputados, que alcançou pouco mais de 43 mil votos. Hemmer acredita que, mesmo sendo a primeira campanha política dele, o desgaste partidário atrapalhou a tentativa, que foi estudada e estruturada em dois anos.

“O que aconteceu foi o fenômeno Bolsonaro. As pessoas preferiram votar em candidatos ligados a ele, evidenciando o desgaste de partidos tradicionais. Agora, o resultado real dessas escolhas nós vamos ver mais para frente”, reflete.

O presidente da Acib, Avelino Lombardi, lamenta a queda na representatividade da região e aponta que diálogos mais frequentes com representantes de todas as esferas tentarão amenizar os impactos do resultado.

Para Lombardi, a grande quantidade de candidatos blumenauenses impossibilitou a eleição de mais nomes. Emílio Schramm, presidente do Sindilojas, concorda que o número elevado prejudicou e critica a atitude dos partidos que, na visão dele, preferiram lançar diversos candidatos para garantir a eleição por legenda.

A forte presença das redes sociais também pode ter sido um dos motivos da não escolha de candidatos da região, opina Schramm:

“Na hora de escolher a pessoa leva em consideração a empatia, em quem fala bonito. Não leva muito em consideração de qual região é”, analisa.

“Tsunami Bolsonaro”

Andrey Tomazi, que tentou um cargo na Alesc, diz que o efeito Bolsonaro pode ser considerado um “tsunami, que afundou o barquinho de quem estava indo bem”.

“O voto de protesto nesta eleição não foi o branco ou nulo, mas sim o 17”, afirma.

Jorge Cenci, que tentou uma cadeira na Câmara de Deputados, entende que a política atual pode não ser a mesma num futuro próximo. Como Schramm, ele acredita que as redes sociais foram preponderantes para que as pessoas escolhessem candidatos de acordo com as bandeiras que queriam, deixando a questão regional em segundo plano.

Do trio empresarial, Cenci foi o que teve a campanha mais cara. Foi gasto pouco mais de R$ 1 milhão (incluindo auxílio a outros candidatos do partido, mobilizações nas ruas e material gráfico).

“Se me perguntar se estou feliz, não estou, mas me sinto realizado em participar, em conviver com tanta gente e aprender como esse processo funciona. É um aprendizado”, concluiu.

Como Hemmer e Tomazi, Cenci garante que essa não foi a primeira e nem será a última tentativa. Todos continuarão a buscar a carreira política. Tomazi sinaliza a intenção de tentar novamente um cargo na Alesc, podendo, inclusive, trocar de partido.

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