Reduções e falta de reajustes: porque motoristas de aplicativo de Blumenau estão insatisfeitos

Falta de reajustes, regularização e compreensão dos passageiros são as mais citadas

Na semana passada, mais de 200 motoristas de aplicativo de Blumenau realizaram um buzinaço clamando pelo reajuste das tarifas repassadas aos profissionais. Outra demanda foi o fim de preços promocionais como o 99Poupa e Uber Promo. A reivindicação não é de hoje. Desde que os aplicativos de corrida chegaram ao Brasil, os motoristas não recebem um “aumento”.

O combustível subiu, os gastos com manutenção dos veículos também e os valores cobrados para alugar os automóveis passou a ser inviável para muitos motoristas. Grandes locadoras precisaram ser deixadas de lado e aumentou a procura por pequenas empresas ou até alugueis particulares, direto com o proprietário.

“Ninguém mais aluga carro em locadoras de renome. O aluguel é feito com contrato caução e na maioria das vezes entre pessoas físicas. Os carros já vêm no GNV e a manutenção é dividida”, conta Marcos Antônio.

Ainda assim, eles relatam que alugar o carro continua compensando mais do que usar o próprio veículo. Especialmente por conta dos custos de manutenção. “Mas pensando no alto preço do combustível, não tem vantagem nem com carro alugado, nem particular”, desabafa Flávio Moreira.

“Cada vez mais os aplicativos lançam categorias que abaixam os valores repassados por km e por tempo rodados, pensando apenas na rivalidade entre os concorrentes e esquecendo dos motoristas parceiros. Estamos à mercê”, relata.

Motorista de aplicativo desde o início de 2017, Sérgio Luiz acredita que outro problema forte na categoria é a desunião entre os trabalhadores. “Já tentei organizar uma cooperativa, mas não deu certo por conta dos custos. Agora estamos tentando formar uma associação, mas existe muita briga e competitividade”, desabafa.

Apesar de ter sentido pouca segurança no início, ele entrou no ramo por insistência do enteado e já rodou mais de 230 mil quilômetros com o carro próprio. Sérgio relata que nos quatro anos como motorista, já transportou passageiros de 21 nacionalidades diferentes.

“Os custos estão matando a gente. Pneus, troca de óleo e combustível estão muito caros. Mas o pior é o deslocamento. Ele é responsável por cerca de 30% do nosso custo operacional. É muito raro você encontrar um motorista que consiga parar e esperar uma nova corrida, porque não tem onde parar”, reclama.

Sérgio Luiz atua na Uber desde 2017. Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Sérgio lembra que, inicialmente, os principais atritos ocorriam entre os motoristas de aplicativo e os de táxi. Um protesto com cerca de 100 taxistas chegou a ser realizado na Rodoviária logo que a Uber chegou a Blumenau – um dia após os motoristas do app se manifestarem contra a PEC que equipararia a categoria aos táxis.

Os taxistas tomaram medidas para tentar manter os clientes, como lançar um aplicativo próprio para conectar profissionais e passageiros e oferecer corridas a R$ 5 pelo Táxi Solidário, quando os dois estiverem indo para a mesma região.

“No início todo mundo falava sobre sem conhecimento de causa. Fiquei horrorizado com o que ouvi e li a respeito do que era discutido na Câmara de Vereadores. Fiz um documento explicando nossas reivindicações e entreguei para todos os legisladores, para eles entenderem que estamos vivendo uma virada na mobilidade urbana sem precedência histórica”, diz Sérgio.

Avaliação dos motoristas faz a diferença

Sérgio sugere que os passageiros também podem colaborar com o funcionamento do sistema levando a avaliação dos motoristas a sério. Ele conta que muitos usuários não se dão ao trabalho de dar estrelas após as caronas, mas elas fazem a diferença.

“Abaixo de 4,7 estrelas, você está sujeito à exclusão. A qualificação do usuário é necessária para tirar o motorista ruim e ajudar o bom. Usar os selos e deixar um comentário é muito importante, mas muito raro”, pondera.

De acordo com seus cálculos, Blumenau conta hoje com cerca de 5 mil motoristas de aplicativo cadastrados. “Na Oktober o número praticamente triplica. Todo nosso contingente de apps e táxis da cidade não daria conta, porque é movimento das 8h da manhã às 5h da madrugada”, conta.

Para garantir o lucro, muitos motoristas acabam burlando a regra que permite que eles rodem no máximo 12 horas por dia. A determinação das plataformas é que haja um intervalo de ao menos 6 horas, mas eles saem de uma e vão para outra e continuam trabalhando.

“Acredito que se o motorista fizer com calma e souber administrar os custos, não tem essa necessidade. O profissional tem que planejar o que come, onde parar, tem que ter tudo na ponta do lápis”, opina Sérgio.


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