Pomerode – Natal 2019.

N a t a l – uma tradição religiosa, comemorada neste mês de dezembro, em torno do mundo, até mesmo, no oriente, que, historicamente, possui práticas religiosas diferentes das, ocidentais. Outro dia, em um filme transmitido pela Netflix, apresentava uma família chinesa preparando seu presépio natalino munido de todo o significado atual ocidental e de sua simbologia, ou pelo menos era assim que aparentemente tentavam apresentar. Também, no encerramento das atividades de um grupo de Blumenau, na segunda semana de dezembro de 2021, foi destacada a importância do presépio, diante do significado da árvore de natal e do Papai Noel (que se fazia presente e, ele mesmo, mencionou esta importância). Quem veio antes e, depois? Quando e quais seus significados históricos? Por que? Por que no Brasil as pessoas ficam em dúvidas sobre estas questões? Quais as raízes culturais da tradição natalina em Blumenau?

Neste artigo da coluna “Registro para a História”, no mês natalino – dezembro, sob o aspecto histórico, vamos apresentar um pouco sobre a história e a origem do Natal.

O Brasil é uma nação multimiscigenada que recebe e recebeu, culturas de vários lugares do mundo, dentro de diferentes recortes de tempo. Esta tradição natalina é originaria diferentemente, nas várias regiões e lugares do mundo e também, no Brasil continental.

Vamos analisar esta tradição sob enfoque histórico, desprovido de conotação religiosa e como uma tradição, trazida pelos pioneiros que fundaram a cidade de Blumenau e todas as demais cidades que pertenciam territorialmente a grande Colônia Blumenau e neste período, com práticas distintas de outras cidades, fundadas por imigrantes portugueses.

Pomerode – Natal 2019

O Natal comemorado em 25 de dezembro, não é comemorada nesta mesma data, em todos os países do mundo. Em alguns países (eslavos e ortodoxos), por exemplo, é comemorado em 7 de janeiro.

Foi fixada a data de 25 de dezembro para comemorar o Natal, por coincidir com o solstício de inverno e com as festividades “pagãs” romanas, povo que dominou boa parte do território europeu em um período que iniciou antes da era, considerada cristã, e terminou no final do Século V. Parte deste território do Império Romano, era composto por regiões que compõem o território da atual Alemanha e que recebeu grande contribuição cultural deste povo, principalmente, ao sudoeste. Cultura e religião, que após a elitização da religião cristã, a partir da conversão dos romanos ao cristianismo, com o transcorrer do período histórico, predominou praticamente em todo o território alemão, muitas vezes conversões impostas à força, mediante a crença “pagã” dos povos bárbaros. História intensa e cheia de simbologias.

Um exemplo – A base cultural do exército de Bismarck, o líder responsável pela unificação do Estado da Alemanha em 1871, foi feita a partir das práticas e culturas dos soldados prussianos, povo independentemente que foi “descultuado” pela ação das cruzadas,  oriundas da região do Sul da atual Alemanha – até os dias atuais com a religião predominante católica – herança romana) que chegaram ao nordeste europeu, junto ao Mar Báltico, com a missão de converter “os pagãos” locais ao cristianismo – pacificamente – ou não. Em troca receberam os títulos (Feudalismo – tornando-se Senhores) de terras locais, sob domínio do Grande Império Romano – convertido ao cristianismo e na época, com poder ilimitado sob aspecto político, tornando-se, dentro do sistema vigente, senhores das terras e das povoações locais e, consequentemente, a nova elite na região do litoral do Báltico – nordeste da Europa – Ali nascia a Ordem Teutônica. Desta região saíram muitas famílias de migrantes que mudaram-se para a Colônia Blumenau, ainda no século XIX. Trouxeram consigo um mix cultural, a partir de sua própria origem na Europa, resultado de conflitos sociais e religiosos. Resultado de uma história milenar, como a história de suas casas de estrutura de madeira.

Um cavaleiro alemão com um escudeiro e o bispo Hermann von Tartu. É uma base de comando e se mostra aos líderes que não pertenciam à ordem teutônica. Fonte: Figuren und Geschichten

A Ordem dos Cavaleiros Teutônicos foi formada durante a 3ª Cruzada e foi oficialmente reconhecida pelo Papa, em 1189. A marca de identificação dos irmãos cavaleiros era o casaco branco e a cruz preta. Após as batalhas sem sucesso pela Terra Santa, a Ordem Teutônica buscou novos objetivos no nordeste da Europa. Ele lutou primeiro, contra os prussianos pagãos. A ordem então estabeleceu seu próprio estado no território convertido, derrotando finalmente a Polônia e a Lituânia juntos. FURHMANN

O Papa era Inocêncio III confirmou a expedição para o nordeste europeu em 19 de fevereiro de 1199.

Conhecer um pouco – História antiga

Faz-se necessário conhecer um pouco da história antiga da origem social, cultural e religiosa das famílias que semearam cidades no Vale do Itajaí – Brasil, a partir da grande Colônia Blumenau.

Solstício de Inverno – em alemão: Wintersonnenwende

O sol sempre teve muita importância nos rituais das antigas religiões (anteriores ao cristianismo), em torno de todo o planeta –  Origem e alimento da vida. Para muitas culturas, o sol era considerado – deus e quase toda a movimentação social das comunidades transcorriam em torno de seu movimento, em relação à Terra.

O Solstício é o momento, dentro do calendário, no qual o sol incide, com a maior intensidade, sobre o planeta. Visualmente é quando o astro surge no ponto mais afastado da linha do equador, quando realiza seu movimento aparente no céu – Ponto de vista da Terra.

Fonte: The Weather Channel
Símbolo do Natal que lembram o solstício: “Solstício de Inverno: o retorno da luz e a origem do Natal” ou Wintersonnenwende: Die Rückkehr des Lichts und der Ursprung von Weihnachten

Para muitos povos, considerando milhares de anos atrás, a humanidade festejava o nascimento do sol como sendo o acontecimento mais importante da Terra – Solstício de Inverno. Este acontece no período que varia entre os dias 17 a 25 de dezembro, dependendo do ciclo solar de cada ano. Muitas adaptações e má interpretação histórica são apresentadas aleatoriamente em vários períodos sobre esse momento, ao longo da história das civilizações. Teve modificações e adaptações feitas no Império Romano e também, a partir do cristianismo, em várias regiões do mundo e na região onde está localizado o território da atual Alemanha – de onde partiu os imigrantes que fundaram Blumenau e outras cidades na região.

Wunsch – Weihnachten und ein Tribut an die Wintersonnenwende – Heinz Höra Desejo – Natal e uma homenagem ao solstício de inverno
Em algumas partes da Europa ainda se mantém rituais da antiga religião – de antes da chegada do Cristianismo – comemorando o solstício de inverno – Inglaterra
Imagem do deus sumério Sol, Shamash, representado numa parte de uma tabuleta Babilónica de Sippar

A festividade de Natal foi adaptada para esta data, como a data do nascimento do filho de Deus e não mais o nascimento do Sol (Para a maioria dos antigos povos e de seus descendentes  –  igualmente considerado deus) – estes, então denominados “povos pagãos” – entre os quais, estavam os antigos povos alemães e também, outros povos em volta do mundo. Os eruditos Irmãos Grimm, autores do primeiro dicionário alemão, como língua formal, efetuaram uma vasta pesquisa e um apanhado sobre os hábitos e costumes destes povos antigos e sua religião, cujas informações, também alimentavam seus inocentes contos de fadas, maneira que encontraram para deixar um pouco deste registro sem agredir o poder da época. Muitos foram as vítimas da inquisição, dentro de um recorte de período histórico, na região onde hoje está o território da Alemanha.

Solstício de inverno e o nascimento da luz

O solstício de inverno, entre 17 a 25 de dezembro, foi uma data importante, muito antes do nascimento de Cristo: é a noite mais longa do ano. Em seguida, muda novamente. Os dias ficam mais longos novamente e as noites mais curtas. O “meio do inverno” era celebrado em muitas culturas europeias: por exemplo, no Império Romano, existia a festividade da Saturnália, um festival em homenagem ao deus Saturno (Semelhante a uma festividades de carnaval) e na Escandinávia, com o festival de Yule. O poderoso simbolismo desta data de importância indescritível àquele homem que vivia e dependia dos ciclos naturais para suas colheitas e gestações dos rebanhos – o ciclo do nascimento da luz no meio da escuridão do inverno. Esta importante data, foi aproveitada pelos papas e imperadores romanos quando fizeram do Cristianismo a religião oficial, no século IV. Em vez do nascimento do deus Sol Mitras, em 25 de dezembro, se reverenciava o nascimento de Jesus, efusivamente celebrado em Roma, a partir de então – que disse de si mesmo: “Eu sou a luz do mundo”. VON GLINKI

Fonte: VON GLINKI

No ano de 336, o imperador romano Constantino I, aproveitando os festejos do solstício da Luz, no dia do Rei Mitras, nas várias regiões conquistadas pelos romanos, anunciou a nova religião de Roma – o Cristianismo – e contou pela primeira vez, a história de Jesus.

A religião cristã romana tomou como base para sua composição e práticas, informações antigas das “religiões pagãs” locais, que estavam sob seu domínio, e outras dominadas posteriormente, como foi o caso do nordeste da Europa, região junto ao Báltico, onde viviam os pomeranos e depois, os prussianos, etnias importantes para a história de Blumenau e região – Brasil, fundada na segunda metade do século XIX, por personagens desta cultura. 

O nascimento do filho de Deus na Terra na mesma data dedicada ao Sol foi uma dessas adaptações feitas para a nossa era e uma grande “sacada”. O Solstício de inverno, em alemão:  Wintersonnenwende, era uma data comemorada por todos os povos de todas as religiões antigas, em torno do planeta – consideradas “pagãs”, pois se tratava do nascimento do novo ciclo do Sol, sobre a Terra.

Nascimento de Jesus. Teatro C.C. 25 de Julho de Blumenau – Natal 2017

Ainda existem informações sobre o Solstício de inverno – nas paredes de monumentos egípcios e nos registros dos indianos, bem como, em símbolos do Cristianismo.

O Solstício de invernoWintersonnenwende – também foi registrado nas antigas escrituras sagradas e em muitos livros, os quais foram destruídos e queimados pelo Império Romano e durante a Idade Média – tendo seu teor sido considerado material pagão. Foi através da formação do que ficou registrado em Roma, através do Concílio de Nicéia, que Roma mudou a história da humanidade. Este Concílio aconteceu no ano de 336 com o objetivo de criar uma religião oficial para o Império Romano. Foi elaborado não somente um novo calendário para o mundo ocidental, como também, foi mudado o rumo de sua história. Tudo que fosse contado de forma diferente era considerado de origem pagã, a partir de então.

Constantino I criando a Religião Católica de Roma – no Concílio de Nicéia – a partir desse momento os cristãos deixaram de ser perseguidos e passaram a ser perseguidores dos praticantes das religiões antigas – ditas “religiões pagãs”. Na imagem – o imperador com os Pais Sagrados do Concílio de Niceia I. Constantino exibe não o texto original do Credo Niceno (do ano 325), mas uma versão modificada do Credo niceno-constantinopolitano do Primeiro Concílio de Constantinopla (ano 381). Fonte da imagem: Wikipédia

Concílio de Niceia

O 1° Concílio foi realizado entre os dias 20 de maio e 25 de julho do ano de 325, na cidade de Niceia da Bitínia, atual cidade Iznik (Turquia). A partir dessa data, o mundo ocidental foi dividido em cristãos (religião oficial do Estado) e pagãos (religião dos povos locais, posteriormente dominados pelos cruzados).

Esse contexto foi motivo e causa da origem de muitas guerras em nome de Deus e fez apagar muita história da cultura de alguns povos. Na Alemanha, a obra dos Irmãos Grimm contribuiu muito para a preservação da tradição e da história antiga – nas regiões que formaram o país nos moldes atual e arredores. Os personagens de seus contos de fadas remetem aos elementos e personagens importantes da religião tribal, hábitos e costumes, como duendes, fadas, árvores mágicas, elementos da natureza, nobreza de espírito, equilíbrio com a natureza e com seus elementos, entre outros.

As palavras e releitura presente na nova religião que surgia, a partir do grande Império romano:

“Cremos em um só Deus, Pai todo poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial do Pai, por quem todas as coisas foram feitas no céu e na terra, o qual por causa de nós homens e por causa de nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo. Mas quantos àqueles que dizem: ‘existiu quando não era’ e ‘antes que nascesse não era’ e ‘foi feito do nada’, ou àqueles que afirmam que o Filho de Deus é uma hipóstase ou substância diferente, ou foi criado, ou é sujeito à alteração e mudança, a estes a Igreja anatematiza (Significa excomungar ou condenar como anátema – sentença de maldição) Credo de Niceia.

As comemorações – conhecidas natalinas, as quais, na Europa foram e são festejadas em dezembro, foram trazidas para as Américas na época da catequização dos povos nativos brasileiros pelos Jesuítas – irmandade surgida durante a contra reforma. Para registro, a Companhia de Jesus – dos Jesuítas –  surgiu conter a Reforma Protestante, onde um dos líderes foi o ex Padre Martinho Lutero (1517), e propagar a fé cristã. Eram denominados, na época, de soldados de Cristo e formaram uma tropa de elite na defesa do Vaticano, centro da Igreja Católica, durante a Reforma Protestante, quando novas religiões cristãs como o luteranismo e o anglicanismo foram fundadas. 

A Fundação de São Paulo em 25 de janeiro de 1554, com a criação do  colégio jesuíta materializado por doze padres, entre eles Manuel da Nóbrega e José de Anchieta – no alto de uma colina localizada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí. O colégio tinha por objetivo,  a catequização dos nativos que viviam na região do Planalto de Piratininga. Neste momento conheceram a tradição do Natal – do presépio. – Pintura de Oscar Pereira da Silva (1865-1939). Fonte: CURADO

A origem da palavra Natal

Do latim = natális, derivada do verbo nascor, nascéris, natus sun, nasci, significando nascer, ser posto no mundo.

O Natal é comemorado desde o Século IV, após o Conselho de Nicéia, como já comentado, criado pelos romanos, nos territórios dominados pelo Império Romano – o que explica o forte catolicismo no Sul da Alemanha, pois, por muito estiveram sob seu domínio. Já, o luteranismo teve muita facilidade e solo fértil para se fortalecer, em outras regiões, as quais, geralmente, não fizeram parte do grande império. O Natal, comemorado na nova religião, muitas vezes  desconsiderou a história, cultura e religião locais.

Desde o Século V, a partir da readequação dos festejos do Solstício de inverno – Wintersonnenwende – é festejado pelos povos dominados – data que passa a ser a data de nascimento de Jesus Cristo e não mais, do Sol – para a nova religião –  Cristianismo.  Isso aconteceu mais de 300 anos após a histórica data, de fato, do nascimento de Jesus de Nazareth.

Fotografia feita de um motivo presente na 1° Feira Franciscana – Presépios Internacionais – Magia de Natal – Blumenau – 2018
Fonte: 11/29/15 Sermon: Christ’s Mass: Prince of Peace. Abundant Life Ministries

Seu significado, no italiano é Natale, no francês é Noël, no catalão é Nadal, em espanhol e português é Natal. Em inglês, a data é conhecida como Christmas e provém das palavras latinas Cristes measse. Seu significado em inglês: Christ´s Mass – Missa de Cristo.

Do Natalis deriva também “natureza”, o somatório das forças ativas em todo o Universo.

A primeira celebração da data do nascimento de Jesus Cristo – Natal – como já descrito, aconteceu em Roma, em 336, quando o imperador romano Constantino I apresentou a nova religião do Império Romano. Na região oriental do Império Romano, o Natal é comemorado em 7 de janeiro. Segundo consta na história, é a data do batizado de Jesus.

Por que  – 25 de dezembro?

Além de ser o período do Solstício de inverno – Wintersonnenwende –  alguns afirmam que se trata da negação ao Calendário Gregoriano, no qual as igrejas ocidentais adotaram o dia 25 de dezembro para o Natal e 06 de janeiro para a Epifania, ou “Manifestação” – onde é comemorado a visita dos Reis Magos, também conhecido como “Dia de Reis”. É a data, que no tempo presente, tradicionalmente é desmontada a árvore de Natal.

Epifania

Segundo historiadores, a data de 25 de dezembro não é a data real do nascimento de Jesus – filho de José e Maria. Esta data, como mencionado anteriormente, foi adotada para cristianizar as festas “pagãs” e também oportunizar sua popularidade entre os povos das inúmeras tribos/etnias. Festas comuns nas mais variadas regiões, pelo mundo, até mesmo, na região onde viviam os germanos, detalhadamente descritos na obra do romano Tácito. Quase sempre coincidentes, com as festividades do Solstício de inverno – Wintersonnenwende.

“A arqueologia estima que Jesus nasceu entre 7-2 AC e morreu entre 26-36 DC. Não há evidência histórica atual demonstrando a data de Nascimento de Jesus. O calendário gregoriano é baseado em uma tentativa medieval de contar os anos desde o nascimento de Jesus, que foi estimado por Dionysius Exiguus entre 2 AC e 1 DC. O evangelho de Mateus afirma que o nascimento aconteceu durante o reinado de Herodes, que morreu em 4 DC, sugerindo que Jesus pudesse ter até dois anos de idade quando ele teria ordenado o Massacre dos inocentes. O autor do evangelho de Lucas similarmente coloca o nascimento de Jesus como tendo ocorrido durante o reinado de Herodes, mas afirma que o nascimento aconteceu durante o Censo de Quirino das províncias romanas da Síria e Judeia, o que geralmente se crê ter acontecido em 6 DC, ou seja, uma década depois da morte de Herodes.” GOMES

Saturnália

Os romanos, como mencionado, neste mesmo período, tinham uma festividade em honra ao deus Saturno – Saturnália – que era comemorada de 17 a 22 de dezembro. A festividade tinha como características: muita alegria e troca de presentes.

Saturnália. Fonte: Arcana Mvndi, 2017

 O dia 25 de dezembro, igualmente, era conhecido pela data do nascimento do deus persa Mitra – o Sol da Virtude. A festividade de Natal foi criada pelos romanos recém convertidos cristãos, em uma data que também coincide, na época, com uma homenagem à data de nascimento de Mitra, que representa a luz. Ao longo do século II tornou-se uma das divindades mais respeitadas e populares entre os romanos. As festividades ao deus Mitra também tinha como objetivo, celebrar o Solstício de invernoWintersonnenwende – a noite mais longa do ano, no hemisfério norte. Na Mesopotâmia, região onde surgiram a escrita e a roda, a celebração durava até 12 dias.

Mitra. Fonte: Adalberto Bernardes – “ JESUS, é o deus mitra” – Inspiração da face da Estátua da Liberdade americana

Sinais e símbolos do mitraísmo  pode ser encontrado, por exemplo, no ostensório – igreja católica, na indumentária dos Bispos, que também foi usado pelos antigos persas, egípcios e assírios.

Os gregos aproveitavam o Solstício de inverno – Wintersonnenwende – para cultuar Dionísio, o deus do vinho, enquanto os egípcios relembravam a passagem do deus Osíris para o mundo dos mortos. Na China, as homenagens eram para o símbolo do yin-yang, que representa a harmonia do meio, através da energia vital e sua circulação.

Os povos antigos da Grã-Bretanha, mais primitivos que seus contemporâneos do Oriente, comemoravam em volta do Stonehenge, monumento que começou a ser construído em 3100 A.C. para marcar o ciclo anual do sol em torno da Terra.

Com a intenção de converter os “pagãos”, os primeiros cristãos fizeram com que as festas pagãs parecessem “cristãs” e este fato é conhecido e há muito tempo, propagado por historiadores e pesquisadores. Um exemplo disto: o fato ocorrido no século XVII, onde as festividades de Natal, por não apresentar uma origem bíblica, foram abolidas da Inglaterra e em algumas colônias norte americanas.

Na ocasião, se alguém permanecesse em casa e se negasse a ir trabalhar no dia de Natal, era multado. Mais tarde, percebeu-se que comercialmente era um desperdício, por não oportunizar a movimentação comercial dentro das cidades, fomentada pelas compras de Natal, quase como, nos dias atuais.

Augsburg – Alemanha

 Um exemplo pessoal e recente – História contemporânea

Na casa paterna de nossa infância, não eram reconhecidos e nem valorizados: a Árvore de Natal, o Papai Noel e as decorações natalinas – na época o canal de comunicação da televisão não era muito acessível e as comunicações eram muito diferentes daquelas que conhecemos  nos dos dias atuais. O contexto desta prática cultural religiosa é formado pelo espaço localizado no interior do Estado de Santa Catarina, no recorte de tempo histórico – década de 1970 e dentro de uma família de religião católica e cultura miscigenada a partir da imigração portuguesa, espanhola, indígena e africana. Portanto, nossa herança cultural tinha ligação forte com o catolicismo espanhol e português, maior fatia da  imigração para o Brasil – a começar pelos padres jesuítas. E assim foi, por muito tempo. O Natal familiar, de herança portuguesa, não reconhecia as festividades que não tivessem origem bíblica, que primava pela simplicidade semelhante àquela do cenário descrito onde nasceu Jesus.

O Natal, em nossa casa de infância, era comemorado em torno do presépio, geralmente localizado no ambiente onde a família fazia as refeições diárias. No ambiente se arrumava a mesa para todos da casa na véspera do dia 25 de dezembro.

Era uma mesa posta, de maneira muito simples, com pratos identificados, de nosso uso diário, nos quais era servido o alimento (palha) para o burrinho que traria o Menino Jesus, na noite de Natal.

Alertavam-nos que o Menino Jesus traria presentes para todas as crianças da casa que tivessem bom comportamento. Por conta disto e da expectativa da chegada do visitante, todos dormiam muito cedo, para que ele chegasse logo. Na madrugada, o menino deixava seu rastro de alegria durante sua passagem “imperceptível”, mas, real, através da presença dos presentes depositados nos pratos previamente preparados. O burrinho comia o alimento dos pratos e neles, o Menino Jesus deixava os presentes. Estes, quase sempre, algo útil, como: sapatos novos, material escolar ou roupas novas.

Natal 2019

Muito do que “consumimos” hoje, para “fazer” nossa festa de Natal, destoa da originalidade e de nossas raízes culturais, tornando-nos “massa” consumidora. Sem percebermos, estamos no meio de um “ciclone” consumindo, consumindo, sem reflexão sobre o real significado desta data.

Talvez, ao longo da história de sua existência, poucos tenham tido esta consciência. Até mesmo ícones de nossa real cultura estão no balcão de “aliciamento”, de maneira disfarçada, a partir de pseudos valores. As alegrias estão nas pequenas ações, nas dobraduras da ilusão, nas quais muitos vivem no momento presente.

Visita do Papai Noel em aldeia de indígena no Amazonas – Brasil. “´Aqui na aldeia, a gente nunca recebeu Papai Noel´, disse uma das índias.” Fonte: G1 AM

Árvore de natal

A árvore de natal – tradicionalmente usada – é um  tipo de pinheiro, em função de sua origem histórica –  inverno de muitos períodos históricos, no norte do continente europeu, desde muito tempo antes do nascimento de Jesus.

Árvore de Natal da Igreja Luterana de Itoupava Seca – Igreja Martin Luther – Natal 2018

Germânicos

Desde muito tempo, antes de Cristo, haviam civilizações no continente europeu, as quais cultuavam outras religiões, já mencionado anteriormente, povos que também criaram o embrião da técnica construtiva enxaimel 5 mil AC. Isto permaneceu assim até o momento, que grande parte desses povos foram convertidos ao cristianismo pelos romanos. Também, após a queda do Império Romano.

Para estas religiões antigas, dos povos do continente europeu e também, asiático (entre eles, os povos germanos), as árvores eram consideradas símbolo sagrado, a partir de sua religião e mitologia. Entre estes povos, a presença da árvore em seus rituais religiosos e festividades, era muito frequente e quase sempre estava relacionada à religião, colheita, genealogia, fertilidade, à morte e à vida, e, aos ciclos das plantações.

Tinha-se uma visão da árvore, a partir de sua projeção vertical, desde as raízes (e seus significados) sob o nível do solo, até a sua parte aparente, acima dele, inspirando-os a relacionar esta com a conexão entre o divino e a terra ou, à Mãe Terra. Entre os povos germânicos, a árvore sagrada era chamada de  Ash – árvore do inverno.

Estivemos no Sul da Alemanha e percebemos que em várias cidades, as famílias seguem a tradição antiga da religião primitiva,  e atualmente ainda existe a tradição de sepultarem seus mortos junto às raízes das árvores. Vimos esta prática nas cidades de Rödelsee e Ruhpolding e sabemos que acontecem em outras regiões, também. Lembramos, que é mais ou menos nesta região, que aconteceu a principal rota da migração oriunda da África em direção a Grã-Bretanha, no período do degelo glacial e também o local onde ocorreu o início da grande revolução agrícola e foi quando o homem se fixou, deixando de ser caçador e coletor. Nascia a sociedade e as primeiras povoações e com elas a prática da religião – de 4 a 5 mil anos AC.

Schwanberg – Rödelsee Alemanha – Cemitério antigo – sepultamento sob as árvores, com as informações fixadas no tronco através de pequenas placas metálicas

Na região localizada próxima ao Mar Báltico, antes do cristianismo chegar ao local, as pessoas cortavam pinheiros e levavam para suas casas e os enfeitavam, sem a conotação religiosa atual.

São Bonifácio

Há algumas versões, sobre a primeira árvore  de natal decorada, com o significado dos dias atuais. Algumas fontes afirmam que a primeira, foi decorada em Riga – Letônia, em 1510. Haviam muitos conflitos entre os primeiros cristãos e a prática de enfeitar árvores era considerada prática pagã. Contam que no início do século XVIII, São Bonifácio – religioso católico pertencente à Ordem Beneditina – quis exterminar esta “prática pagã” na região de Turíngia. Não foi feliz em seu intento. Mas não desistiu. Resolveu, então, encampar esta crença à Igreja Católica, considerada “pagã”, às práticas da Igreja da época. Associou o formato triangular do pinheiro à “Santíssima Trindade” e os seus ramos, considerados resistentes e perenes, comparou a eternidade de Jesus.

Forma triangular – Natal 2018

Há pesquisadores que afirmam que quem decorou a primeira árvore de natal foi o ex-padre católico e fundador da Igreja Luterana – Martinho Lutero ou, Martin Luther. Lutero viveu em um tempo marcado por muitos conflitos e embates, em nome de Deus. Período pós idade média e muitas quebras de paradigmas. A Igreja Luterana é uma dissidência da Igreja Católica Romana, formada no Império Romano e muitas das festividades religiosas católicas continuam sendo praticadas na religião Luterana, como também, o Natal. Lembramos que nesta mesma época, é inventada a prensa e Martinho Lutero populariza a bíblia, traduzindo-a para o alemão, quando então é publicada. 

É contado que neste período, a primeira árvore de Natal, com o significado atual, foi decorada pelo próprio Martinho Lutero, na Alemanha. Antes de ser um homem que ensinava assuntos da espiritualidade, era um professor conhecedor da filosofia e da mitologia da região.

É sabido e propagado que ele observava o céu estrelado do inverno – entre as copas dos pinheiros, na região que se tornaria a Alemanha. Ao perceber o céu intensamente estrelado parecendo-lhe este, um “colar de diamantes” encimando a copa das árvores. Contam que ficou tão extasiado com o espetáculo natural que decidiu arrancar um galho do pinheiro e o levou para o interior de sua casa, onde tentou reproduzir o que viu ao ar livre.

Colocou o pequeno pinheiro em um vaso com terra e chamou sua esposa e filhos e decorou a pequena árvore com pequenas velas acesas fincadas nas pontas dos ramos. Para a árvore ficar mais bonita e alegre, arrumou papéis coloridos para enfeitar seus ramos. Sobre a copa, representou a estrela cadente, segundo a história, que guiou os reis Magos ao local onde estava o menino Jesus, na cidade de Belém.

A família Lutero ficou maravilhada com a árvore acesa, o que lhes parecia ter adquirido vida. Martinho Lutero quis reproduzir a noite de Natal dentro de sua casa, fora era muito frio, para mostrar aos seus filhos, como deveria ser o céu na noite do nascimento do Menino Jesus. Cantaram hinos em torno da pequena árvore.

Martinho Lutero na véspera de Natal com a família – cantam hinos perto da árvore de natal. Gravura de Bernhard Plockhorst . 1887. Fonte: AKG IMAGES

Este é um dos motivos pelos quais, muitos países católicos não aceitavam a árvore de Natal e somente o presépio natalino – motivos religiosos. Se os fazem – os fazem sem conhecer e através da propagação das mídias.

Alois Döring

“Os católicos zombavam do culto a Lutero da mesma forma que do costume da árvore de Natal”, explica Döring. Aliás, uma das expressões sarcásticas com que denominavam o protestantismo era “a religião da árvore de Natal”. Alois Döring- Etnólogo de Bonn. 

Atualmente a tradição vai além das práticas das religiões cristãs. A tradição, também tem o aspecto comercial (Há muito tempo), nas muitas cidades do Ocidente e até mesmo, do Oriente – onde é comum tradição cristã, mas é praticada a tradição de montar a árvore de Natal para motivar as vendas durante o período que antecede o Natal, durante o mês de dezembro e muitas vezes, presente nos cenários, já no mês de novembro, quase sempre, sem o significado original explicativo de sua existência, antes e depois de Cristo.

Então temos a sensação de período de um ano, transcorreu rápido demais, resumindo-se em 11 meses e não 12 meses.

Pequena árvore de Natal produzida na China

Dia de Montar a Árvore de Natal

A grande maioria de países que praticam religiões cristãs, acompanham e respeitam o período de Advento, o qual tem ligação com a árvore e a decoração de Natal, com início no domingo mais próximo do dia 30 de novembro. Neste ano de 2021, o domingo próximo ao dia 30 de novembro foi o dia 28, ou seja, o dia de montar ou iniciar a montagem da árvore de natal. A tradição, juntamente com a tradição do Advento – contar 4 domingos, até chegar o dia de Natal, comemorado no dia 25 de dezembro. Neste período, deve acontecer a preparação para a grande festa espiritual, nas casas e no coração das pessoas que seguem originalmente a tradição, a partir da religião cristã. No lar, se inicia o processo de decoração da árvore de Natal aos poucos, durante as 4 semanas de advento, sendo que na última semana, onde, de fato, são feitos os acabamentos e repassado todos os detalhes, não somente do término da decoração da árvore de Natal, mas também, os preparativos para a grande festa espiritual.

(A quem pertence esta árvore e este histórico enfeite de natal?) Natal 2017

Em algumas localidades da Alemanha, onde se prima pela tradição, a árvore é buscada pelos homens da família na floresta (reflorestamento), na véspera da noite de natal, enquanto as mulheres se ocupam com os preparativos da festa.

Dia de desmontar a árvore de Natal

No dia 6 de janeiro, comemorado pelos católicos – dia dos Reis Magos. Data da chegada dos Reis e príncipes ao local onde estava o menino Jesus, que segundo transcreve a tradição, seguiram a estrela cadente. Encerramento dos festejos natalinos com o desmonte da árvore de Natal e o recolhimento de todas as demais decorações.

O Presépio

O presépio, na igreja católica, foi usado pela primeira vez por Francisco de Assis, em 1223. O frade franciscano quis celebrar o Natal, na ocasião, de uma maneira mais real possível, e com a permissão do Papa, montou um presépio de palha com a imagem do Menino Jesus, de Maria e de José, juntamente com um boi e um jumento e vários outros animais. Neste cenário celebrou a missa de natal. Foi um sucesso, que logo foi adotado em toda a Itália, passando a ser usado nas casas dos nobres da Europa e depois em todos os lares.

Pomerode SC

Natal na Alemanha

O Natal começa a ser “preparado”, na Alemanha, no período do Advento, no final do mês de novembro e correspondente ao quarto domingo antes da data de natal – Este período, em alemão, é conhecido como: Weihnachtszeit.

Durante o período de advento acontecem os “Weihnachtsmarkt”- as tradicionais feiras de Natal. A maioria destas feiras atende ao público até os dias 23 e 24 de dezembro e quase sempre é ponto de encontro entre familiares e amigos.

Weihnachtsmarkt de Winterbach – Terra da família de Roberto Wittmann
Weihnachtsmarkt – Stadt Braunschweiger.

Advento

O advento é o tempo para a preparação. A coroa de advento, geralmente é feita de ramos de pinheiro e fitas vermelhas e tem importante significado na tradição de Natal, na Alemanha, entre outros países, também. Este conjunto de ramos, conhecido por guirlanda recebe 4 velas, que são acesas a cada domingo que antecede o Natal. Como um marco, contando quantos dias restam para o grande dia festivo. Sua origem está na religião antiga pagã a partir da mandala e do fogo que tem grande simbologia espiritual na religião antiga.

A Origem do Advento

A guirlanda é oriunda da tradição da religião pagã, sendo adotada e modificada pelo cristianismo. Os povos da região, antes da chegada do cristianismo, na escuridão do inverno, em volta das folhas, acendiam velas, que representavam a luz e o fogo do deus Sol, desejando que a luz e fogo do sol retornassem, em breve.

Para cristianizar as pessoas que habitavam a região, os primeiros missionários, adotaram a tradição, dando um outro significado a este costume antigo. Seu significado atual representa a união, o amor de Deus e as velas lembram que Jesus é a luz do mundo.

Adventskalender

O Calendário de Advento – Adventskalender – é um dos principais símbolos do advento alemão. O calendário é formado por janelinhas com números de 1 a 24, sendo que o número 1 representa o primeiro dia do mês de dezembro e o dia 24 é a véspera de Natal. O Adventskalender surgiu na Alemanha e é um tipo de “contagem regressiva” para as crianças, que aguardam, com grande expectativa, o dia de Natal.

São Nicolau

Na Alemanha é comemorado o dia de São Nicolau em 6 de dezembro. Rege a tradição que neste dia, as crianças bem comportadas recebem doces, luvas, cachecóis e ao contrário, as mal comportadas recebem carvão em seus sapatos. Para as religiões cristãs, este personagem bondoso é considerado o verdadeiro Papai Noel. Ele não tinha barriga, não usava roupas vermelhas e nem calçava botas pretas. Ele era alto, esbelto, vestia uma batina branca e usava mitra. A roupa vermelha era sua vestimenta de Bispo, conhecido Bispo de Mira.

A Visita de Saint Nikolaus – ou São Nicolau – São Bento do Sul SC – Natal 2019

Bispo de Mira

São Nicolau, após ser padre, tornou-se bispo. São Nicolau Taumaturgo era da cidade Mira. Foi muito conhecido pelos ortodoxos, principalmente pelos russos, e entre os alemães, que tiveram contato com os russos, sob seu domínio político.

Nicolau nasceu na Ásia Menor, no final do Século III. Sempre teve desejos de entrar na vida religiosa, desde tenra idade. Foi ordenado padre muito jovem. Ainda jovem, Nicolau herdou grande fortuna e a distribuiu entre os pobres. Ajudava aos mais necessitados anonimamente para que ninguém pudesse lhe agradecer.

Conhecer é preciso.

Natal é uma oportunidade concreta de celebrar o amor incondicional no seio da família entre as famílias. Celebrar sem conotação comercial, mas a partir da paz de espírito. Oportunidade para se trocar um abraço acompanhado de um sorriso.  Os presentes, são detalhes e pretextos, para o abraço. Também é uma tradição dos antepassados, independentemente da conotação religiosa.

Que o verdadeiro espírito de Natal seja uma constante…
Em seus lares, todos os dias do ano novo!

 

 

 

 

 

 

Referências

A Capa – Familiar real inglesa – ano de 1848 retratado em uma gravura, que foi distribuída pela Europa do Final do século XIX. Fotografia de Diane Bondareff, Ap Images for Tishmann Speyer/Xinhua/Alamy Stock Photo – publicada pela Nathional Geographic – MCKEEVER, Amy.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twiter)

 

 

 


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