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Quem foi Pedro Wagner, pioneiro que habitou Blumenau antes mesmo de Hermann

Para a formação da história de um local é necessária a ação de personagens atuantes na sociedade vigente, dentro dos recortes históricos, desde o primeiro sem promover exceções. O início de uma nucleação urbana é passível de observações dos primeiros que chegaram ao lugar (espaço físico) e suas primeiras ações no sentido de construir a infraestrutura básica e também, a nucleação urbana, através da arquitetura e técnicas adotadas.

São muitos, os que desconhecem que Hermann Bruno Otto Blumenau – na época, representante da “Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães”, no Brasil, quando chegou à região das proximidades da Foz do Ribeirão Garcia no Rio Itajaí Açu, pela primeira vez, foi recebido na casa dos Wagner’s.

Até mesmo, tomou café à sua mesa, com sua família, a fim de obter informações sobre a região, pois pretendia fundar uma colônia agrícola e procurava um local adequado para o seu investimento no Brasil.

Hermann Bruno Otto Blumenau

Neste quarto trabalho da coluna Registros para a História vamos conhecer um pouco sobre a biografia desta personalidade histórica, que acompanhou o início da construção da Colônia Blumenau – Johann Peter Wagner / Pedro Wagner.

Iniciamos esta pesquisa em agosto de 2016, com um sentimento de curiosidade e busca de respostas para questões levantadas em outras pesquisas feitas anteriormente e que permaneceram com lacunas abertas. Também, desejávamos conhecer mais um dos personagens da história da antiga Colônia Blumenau, “pouco contemplado em suas páginas”. 

Placa fixada no Obelisco do imigrante na Praça de São Pedro de Alcântara com os nomes das famílias pioneiras

No início dos trabalhos percebemos, não se tratar de um personagem somente da história local – mas também, da História do Estado de Santa Catarina. Seu nome e também de seus familiares, estão entre os nomes dos imigrantes fundadores de São Pedro de Alcântara – segunda colônia fundada por um grupo de imigrantes alemães no Estado de Santa Catarina.

 A história da família de Johann Peter Wagner / Pedro Wagner teve “ecos” nas cidades catarinenses de Brusque, São José, Florianópolis, São Pedro de Alcântara, Gaspar, Alfredo Wagner e Blumenau. Há registros de que dois de seus filhos mudaram-se para outros estados, podendo esta história ter respingos fora do Estado de Santa Catarina. A Família Wagner, cujo patriarca foi Georg Wagner – pai de Johann Peter Wagner / Pedro Wagner, foi uma das famílias pioneiras a residir às margens do rio Itajaí Açu, na região vizinha ao Stadtplatz de Blumenau – na época batizada e conhecida por Capim-Volta, antes da chegada do primeiro grupo de imigrantes fundadores oficiais da Colônia Blumenau. Johann Peter Wagner / Pedro Wagner faz parte da genealogia das primeiras e principais famílias da colônia fundada por Hermann Bruno Otto Blumenau – o qual, doravante chamaremos de Hermann Blumenau.

Explicando um pouco – Johann Peter Wagner e Pedro Wagner

Na Alemanha, geralmente as pessoas possuem dois nomes, mais o nome de família (sobrenome). Na intimidade e no seio familiar, chamam-se usando o segundo nome – dos dois. Johann Peter Wagner, que morou mais de oito anos em São Pedro de Alcântara.

Além de ser chamado pelo 2° nome, o mesmo foi traduzido para o português, oficializado no momento de naturalização do imigrante. O filho de Georg e de Maria ficou conhecido como Pedro Wagner quando foi naturalizado em 1871 – ano que foi criado o país Alemanha. Até esta data, no Brasil, por 43 anos, seu nome oficialmente foi Johann Peter Wagner.

Termo da Naturalização de Johann Peter Wagner 

“Aos vinte e um dias do mez de janeiro do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e oitenta e quatro, perante o Exmo. Snr. Presidente da Província, compareceu Pedro Wagner, por seu procurador Manoel Moreira da Silva, naturalizado por carta desta data, cidadão brasileiro, e em execução aos artigos 5° e 6° do Decreto n° 1950, de 12 de julho de 1871, fez promessa de reconhecer o Brasil por sua Patria de hoje em diante, data em que lhe foi  concedida carta de naturalização: e na mesma ocasião declarou ser casado, Prussiano, Protestante, de 66 annos de idade, tendo os seguintes filhos: Dorothea Knoblauch, de 38 anos; Gertrudes Altenburg; Catharina Germer, 34 annos; Reinold, 28 annos; Luiza, 26; Maria, 22; Selma, 20; Roza (?) e Tecla, gemeas, 19 annos; Alvino, de 17; Carlos 15 annos; Leopoldo, 12 annos; Theodoro, 10 annos; Clara, 8 annos; Jorge, 6 annos; e Arnold, 6 annos. e para constar foi lavrado o presente termo que é assignado pelo mesmo Exmo. Snr. Presidente da Província e pelo naturalizado. Dr. Francisco Luiz da Gama Rosa, Manoel Moreira da Silva”

Como conhecemos Pedro Wagner?

Pedro Wagner – na década de 1970 – recebeu uma homenagem através da colocação de um busto na frente do atual Clube Blumenauense de Caça e Tiro, localizado na Rua Itajaí – bairro Vorstadt, Blumenau – coincidentemente, próximo ao lugar onde ficava a propriedade de sua família. Também tem seu nome emprestado a uma Praça – onde havia um posto de informações turísticas de Blumenau – no mesmo bairro. Poucos, ou quase ninguém, conhece sua história e que esta praça na entrada da cidade tem o seu nome.

Onde está este Monumento?
Praça Johann Peter Wagner – Blumenau SC

Pedro Wagner nasceu na cidade de Bürbach – próximo de Saarbrücken, perto de um afluente do Mosela, em 24 de maio de 1818. A localidade onde nasceu está localizada entre a França e Alemanha e foi algumas vezes disputada entre os dois países e finalmente ficou no território da Alemanha.

Emigrou para o Brasil com a família, em 1828. Tinha, portanto, 10 anos de idade. Era filho de Georg Wagner e Maria Wagner, juntamente com os irmãos: Ludwig Wagner, Mathias Wagner e Dorothea Wagner.

Sua irmã Dorothea, casou-se com seu amigo de infância e também imigrante que viajou no mesmo navio – Peter Lukas, que também se mudou para o Vale do Itajaí e foram uma das famílias pioneiras que já residiam na região antes da chegada de Hermann Blumenau e os primeiros 17 imigrantes oficiais.

Um pouco desta história…

Pedro Wagner e família chegaram em Nossa Senhora do Desterro em um veleiro, em 1828, com a idade de 10 anos.

Antes da vinda dos Wagner para o Brasil, existia a prática de propagar “as qualidades” e “facilidades” de se viver no Sul do Brasil, nas terras onde, atualmente, está o país da Alemanha. Também, existia a mão de obra do imigrante alemão, nas fazendas do Rio de Janeiro e São Paulo ocupando o lugar da mão obra escrava africana e o que fez surgir a “Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães”, a qual Hermann Blumenau representava quando chegou ao Brasil pela primeira vez.

No Sul do Brasil, a propaganda de atrair o imigrante, tinha como objetivo principal atrair soldados alemães para contribuir com segurança do Sul do país recém liberto de Portugal e com fronteiras muito frágeis e com riscos de invasões dos espanhóis. Também, tinha como objetivo promover o adensamento da região e com isto seu desenvolvimento econômico, mediante o surgimento de novas povoações fundadas por estes imigrantes.

O governo brasileiro prometeu aos interessados, na Europa, de que o imigrante em terras brasileiras, receberia cidadania brasileira, terras, cavalos, vacas, bois, galinhas, ovelhas, porcos, etc. Também receberia, durante seu primeiro ano em solo brasileiro, a diária de um franco por cabeça, reduzida no ano seguinte, para meio franco.

Nos 10 primeiros anos em solo brasileiro, não lhe seria cobrado impostos, com a condição de que não se desfizessem da terra durante este tempo. Só depois estas etapas, é que contribuiria com décima parte de sua produção, ao governo brasileiro. Estas promessas faziam famílias residentes na Europa imaginar momentos de tranquilidade no continente americano. Como tantas outras famílias, a Família Wagner emigrou para o Brasil.

Nossa Senhora do Desterro – 1827

Como chegaram em Santa Catarina?

Francisco de Albuquerque Mello, ao assumir a presidência da Província de Santa Catarina em 12 de março de 1825, voltou sua atenção para a imigração alemã. No período de sua administração aconteceu a fundação de duas nucleações coloniais no caminho para Lages.  No ano de 1828, o monsenhor Pedro Machado de Miranda – inspetor da colonização estrangeira no Brasil, encaminhou o grupo de imigrantes alemães no estado, que seria o segundo, após o da nucleação de Mafra, junto ao Rio Negro. Estes embarcaram nos navios Johanna Jacobs e Charlotte e Louse – no porto de Bremen. 

Chegando no Brasil, permaneceram alojados na Armação de São Domingos – Rio de Janeiro – até rumarem para a Província de Santa Catarina em dois navios nacionais: Luíza, com 276 imigrantes e o Marques de Vianna com 359 imigrantes. 

Nossa Senhora do Desterro – Capital da Província de Santa Catarina

O primeiro chegou na costa catarinense em 7 de novembro de 1828 e o segundo, em 12 de novembro de 1828. Os imigrantes que estavam a bordo do Marques de Vianna, depois de passar 3 meses em Nossa Senhora do Desterro – Capital da Província de Santa Catarina, foram conduzidos para a Vila de São José em 11 de fevereiro de 1829, onde permaneceram até o dia 17. Entre os imigrantes, estava a Família Wagner liderada por Georg e Maria Wagner. 

As terras que estes imigrantes alemães deveriam ocupar não se encontravam demarcadas e não tinha muita coisa preparada para assentá-los. O reconhecimento das terras foi feito somente em 4 de dezembro de 1828. As terras ficavam junto a uma antiga “picada” do Vale do Rio Imaruí, onde foi criada a Colônia de São Pedro de Alcântara em homenagem à Família Imperial brasileira. A Família Wagner chegou ao local no qual onde seria fundado São Pedro de Alcântara, em 13 de abril de 1829.

Região montanhosa

Ocupação irregular do solo – à direita da imagem (atual) – Ocupação de encostas – topografia montanhosa

Logo que os imigrantes foram instalados, observaram que as terras que lhes foram destinadas não eram muito apropriadas para a lavoura, para fazer roças e plantios. Apresentavam topografia acidentada. O que não impede que atualmente criem loteamentos – contrariando a opinião dos imigrantes que chegaram ao local no ano de 1829 – entre eles, a Família Wagner, como se percebe na imagem anterior. 

Com a concretização da estrada, passando por São Pedro de Alcântara e Colônia Santana, São José passa a ser um entreposto estratégico

Mesmo sendo terras férteis, a geografia não facilitava a ocupação do solo para a plantação – em terrenos acidentados e com mata fechada – (como também o era, no Vale do Itajaí e, no entanto, se fixaram em nucleações, limpando o terreno). Estes imigrantes que foram levados para o Vale do Imaruí, também cobravam o pagamento combinado (coisa que não existiu no Vale do Itajaí – os imigrantes compraram as terras de Hermann Blumenau). Diante destes desafios, entre outros, algumas famílias se mudaram de suas terras de São Pedro de Alcântara para o local, onde atualmente está Biguaçu. Outros, mudaram-se para a atual “Praia Comprida”, em São José. Outros ainda, em direção a serra catarinense, onde foram pioneiros de muitos lugares, até mesmo no Alto Vale do Itajaí.

Centro de São José – SC

Muitos problemas surgiram no momento do assentamento das famílias de imigrantes alemães na Colônia de São Pedro de Alcântara. Responsabilizavam o governo Imperial brasileiro por isto – a partir de informações recebidas de autoridades locais de Nossa Senhora do Desterro. O que não aconteceu no Vale do Itajaí, três décadas depois, a princípio. Lideranças locais tinham contatos diretos com o Imperador brasileiro, minimizando muito a “boatagem”. Em São Pedro de Alcântara, os imigrantes ouviam a estória de que o Imperador privava o presidente da Província dos recursos necessários para este fim.

Nos dias 15 de abril e 13 de novembro de 1830, houve grandes temporais de granizo, que pioraram a situação dos imigrantes alemães instalados na nova colônia, também para a Família Wagner.

Através de um ofício, o presidente da Província faz um apelo ao Rio de Janeiro pedindo mais subsídio aos imigrantes, o que foi terminantemente negado. Foi instaurada a Lei de Terras em 15 de dezembro de 1830, cujo artigo 4° assinalava: “Fica abolida em todas as Províncias do Império, a despesa com a colonização estrangeira.”  Em meio à confusão burocrática e também problemas internos de instalação, muitos dos imigrantes assentados em São Pedro de Alcântara foram “incentivados”, mediante ressarcimento, a mudar-se para outras regiões do estado de Santa Catarina.

Gravura da Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí – Século XIX

Em  5 de maio de 1835 foi criada a Lei Provincial N° 11, através da qual foi fundada duas colônias na Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí – caminho novo para os imigrantes que mudavam-se da Colônia de São Pedro de Alcântara, considerado, a partir de então, o Centro Emissor de Correntes Migratórias Internas. A partir deste momento histórico, famílias de imigrantes subiram o Vale do Itajaí via Itajaí, antes mesmo de ser fundada a Colônia Blumenau.

A partir da Lei Provincial mencionada anteriormente, foram criadas uma colônia no arraial Pocinho e outra no Itajaí-Mirim, com o Arraial Tabuleiro, a partir do desenvolvimentismo destes, surgiu outros dois que são: Belchior e Ribeirão Conceição (Atual Gaspar). Nesta época, toda esta região desde o mar até o Alto Vale, pertencia à jurisdição do município de Porto Belo.

A nova lei estabelecia que cada imigrante tinha o direito a uma porção de terra. Neste período, o inspetor das novas colônias era Agostinho Alves Ramos que morava na freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí, fundado na foz do grande Rio Itajaí Açu no mar. 

Em 1846, Pedro Wagner, já casado, e demais familiares e também seu pai – Georg Wagner, mudaram-se para o Vale do Itajaí – oito anos após chegarem no Brasil. Na época, ouviram falar da fundação das duas novas colônias e sabiam que já existiam alemães e flamencos residindo na região.

Curioso é que a geografia da região também apresentava um território montanhoso com pouco espaço entre a montanha e o rio para fixar vilas, cidades e fazer plantações. Pedro Wagner se casou, ainda na colônia de São Pedro de Alcântara, com Agnes, filha dos imigrantes alemães Johann Händchen e Maria Margaretha Walldorf, os quais também viajaram com a Família Wagner da Europa para o Brasil.  A família de Agnes – esposa de Pedro Wagner era oriunda da Renânia – Mosela.

Quando a Família Wagner decidiu mudar-se para o Vale do Itajaí em 1846, iniciativa do patriarca – Georg Wagner, sabiam da presença dos brasileiros nativos, indígenas. Na ocasião, solicitaram ao governo da Província de Santa Catarina, a “companhia de pedestres”, uma espécie de “segurança oficial” contra a hostilidade dos índios que viviam na região.

Quando chegaram à região do Vale do Itajaí, tomaram cuidado para oficializar a posse de terras a partir da concessão oficial. Em São Pedro de Alcântara, muitos ficaram desamparados, mediante o surgimento dos “verdadeiros proprietários”, após construído infraestrutura, instalações e feito plantações em propriedades destinadas ao imigrante. As terras não eram mais devolutas. Os Wagner tomaram cuidados formais e oficiais e buscaram segurança nas transações formais na “aquisição” da nova propriedade.

Terras devolutas são terras públicas sem destinação pelo Poder Público e que em nenhum momento integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. O termo “devoluta” tem relação com o conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao Estado. Eco

Como uma prática quase unanime nos territórios que receberam a imigração alemã, também neste caso, os homens da família seguiram na frente – rumo ao local das novas terras, para efetuarem os primeiros preparativos como derrubada da mata para abertura de uma clareira para a construção da casa provisória, área de plantio, e pastos do rebanho. O grupo de homens viajou em uma pequena embarcação marítima de dois mastros conhecida como sumaça, contornando a costa litorânea catarinense da época – em direção ao norte. Foi uma viagem marítima de 12 horas até a Foz do Rio Itajaí Açu no mar. Na época, o grande rio era chamado de  Rio Tahahi e as pessoas que chegavam não tinham conhecimento exato de seu tamanho – o qual conheciam realmente após a chegada ao local. Em alguns mapas, o rio Itajaí Açu sequer existe.

O grupo viajou com o mar revolto, o que os fez aguardar um dia na entrada do porto natural. O porto de Itajaí ficava entre o Pontal do Norte e a Ponta Cabeçuda, ao sul.  Na frente do ancoradouro onde ficou a embarcação dos imigrantes chegantes existia a fazenda chamada Fazenda do Arzão – do Administrador da Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí, Major Agostinho Alves Ramos. 

Agostinho Alves Ramos. Fonte: www.itajai.sc.gov.br.

A fazenda, foi residência de João Dias de Arzão, companheiro do fundador de São Francisco do Sul, em 1658. Por isto, ficou conhecida por este nome. João Dias de Arzão era oriundo de São Paulo e sua família procurava minas de ouro e outros metais preciosos pelo interior do Brasil. Naquele ano, ele requereu e obteve uma sesmaria – que é um lote colonial, às margens do rio Itajaí-Açu, em frente à foz do rio Itajaí-Mirim e ali construiu sua casa. Não tinha intenção de fundar uma povoação. Seu interesse era encontrar ouro e não teve êxito.

Agostinho Alves Ramos – o administrador, viajava a negócios, quando conheceu o local onde seria instalado a atual cidade de Itajaí. Era português (lembrando as mais variadas origens de imigrantes na região – até portugueses) e sócio de uma casa comercial em Nossa Senhora do Desterro – atual Florianópolis. O transporte marítimo existente promovia o comércio nas cidades da costa catarinense e de rios navegáveis.

Foi em uma dessas viagens de negócio que Agostinho Alves Ramos chegou e conheceu a Foz do Itajaí-Açu no mar. Mudou-se para o local e requereu ao Bispo do Rio de Janeiro, permissão para a fundação de um Curato que aconteceu em 31 de março de 1824.

Curato é um termo religioso, derivado de cura, ou padre, que era usado para designar aldeias e povoados com as condições necessárias para se tornar uma paróquia. POLETTO.

Com a criação do Curato do Santíssimo Sacramento, naturalmente foi fundada Itajaí. Foram construídos uma capela e o cemitério aos fundos. Não tardou muito para iniciar o processo de povoação e chegarem novos moradores. Entre estes, a liderança foi exercida por Agostinho Alves Ramos, seu fundador e foi neste momento histórico, que chegou a Família Wagner ao local. O então administrador os recebeu e deu-lhes instruções.

As terras destinadas aos Wagner pertenciam à jurisdição do administrador e estavam ligadas ao recém criado  núcleo urbano de Belchior, cuja fundação  fazia parte  do projeto do governo provincial que visava distribuir terras na região aos novos imigrantes. Distribuir e não vender, como aconteceu na Colônia Blumenau, fundada após esta data.

A demarcação das propriedades cobria toda área da foz do Rio Itajaí Mirim até o ribeirão Conceição (Vila de Gaspar), começando no Estaleiro das Naus, passando por Pocinho, Volta de Gaspar, Pedra de Amolar, Volta de Belchior, Arraial do Belchior, até Fortaleza. Nesta época, Pedro Wagner falava fluentemente o português. Os Wagner não tinham frequentado escolas brasileiras, pois não eram acessíveis e quase não existiam. A grande parte das pessoas que falavam a língua portuguesa eram analfabetos neste período histórico. Pedro Wagner frequentou, juntamente com outras crianças de famílias alemãs, uma escola fundada pelos próprios imigrantes, onde um adulto dispunha ensinar as crianças. A escola era improvisada nos fundos de uma residência e na qual era ensinado no idioma alemão. Aprendeu a falar português, através do contato com as pessoas que residiam no litoral, descendentes de imigrantes portugueses e brasileiros.

Em Itajaí, o Administrador instalou-os em um barracão localizado entre seu casarão e a residência do Padre espanhol chamado Agote, que residia na localidade desde o ano de 1824. Era o capelão no local do Curato, este reivindicado por seu administrador, um tempo antes.

No dia seguinte à sua hospedagem no barracão, rumaram para o Vale do Itajaí via fluvial. Levaram consigo mantimentos, ferramentas de trabalho, que traziam de São Pedro de Alcântara, mudas de cana-de-açúcar, que já pretendiam lavrar, preparar e plantar. A viagem no rio acima, levou 16 horas até os dois núcleos urbanos: Belchior e Pocinho, onde já residiam 65 famílias, entre estas, 17 famílias eram de imigrantes alemães. Os Wagner residiriam no distrito da Freguesia do Santíssimo Sacramento do Itajaí – Gaspar – mas sua localização atual está no território de Blumenau – local conhecido como Capim Volta. Receberam instruções que deveriam ultrapassar a casa do último morador para então, estar em suas próprias terras. Neste tempo, não imaginavam que imediatamente acima às suas terras, seria fundada a Colônia Blumenau e seria onde estaria seu Stadtplatz, ou, a centralidade desta colônia. 

Tiveram muita sorte, os Wagner, pois suas terras ficaram localizadas, após a fundação da Colônia Blumenau, muito próximas do Stadtplatz desta, para onde poderia ir – deslocando-se via Rio Itajaí Açu.

Praça Johann Peter Wagner – Bairro Vorstadt – Blumenau

As novas colônias não possuíam diretores e como já mencionado, sua administração estava ligada ao Juiz de Direito localizado em Santíssimo Sacramento de Itajaí. Como moradores destas colônias, eram aceitos todos os moradores locais e os estrangeiros, sem impedimentos. Os chegantes recebiam terra de 350 a 730 metros de frente por 915 metros de profundidade. Nos primeiros tempos, a terra era cedida gratuitamente, isenta de impostos por 10 anos. Era proibido aos estrangeiros possuírem escravos, pois o imperador brasileiro pretendia fazer a experiência agrícola com propriedades pequenas, possíveis serem trabalhadas pela própria família. Mas não foi bem assim. Talvez daí surgiu a lenda do “embranquecimento” – absurdo diante da própria libertação dos escravos promovida pela Princesa Isabel – em um período depois.

Quando Pedro Wagner e demais imigrantes – entre estes, seus familiares – desembarcaram às margens do Rio Itajaí Açu, encontraram brasileiros que já residiam no local há mais tempo e produziam açúcar. Eram eles, integrantes das Famílias Furtado e Mafra. Limparam o chão e prepararam ripas de palmito para a construção da casa provisória.

Pedro Wagner e os demais homens fizeram um trabalho, em suas terras, semelhante a este: derrubada da mata, roças e casa provisória com material de palmito

Outros do grupo araram a terra para o plantio de cana, de mandioca, feijão, milho, fumo, café e algodão. Faziam o trabalho em mutirão. Neste tempo, Pedro Wagner tinha 4 filhos. São eles: Margarethe (1840) com sete anos; Eugênio (1842) com cinco anos; Dorothea (1843) com quatro anos e Catarina (1845) com quase dois anos. Em São Pedro de Alcântara estavam seus irmãos Christian Wagner (casado com Maria Anna Gödert) e Heinrich Wagner.

Os Wagner partiram, definitivamente, para a nova propriedade no Vale do Itajaí em novembro de 1847, quando já tinham as roças plantadas. Pedro Wagner e os homens permanecerem “arrumando” o local, antes de ir buscar a família, por aproximadamente um ano. 

Com parte da primeira safra colhida e com o auxílio de seu pai, Georg Wagner, Pedro Wagner negociou sua produção agrícola em Itajaí e com o dinheiro adquiriu terras acima de sua propriedade. As terras ficavam onde o rio Itajaí Açu faz uma grande curva, já em território de Blumenau atual.

Pedro Wagner construiu sua casa definitiva com a ajuda dos parentes e vizinhos – na forma de mutirão. O mutirão era uma prática comum da sociedade migratória regional, nas primeiras décadas. Não poderiam contar com a estrutura oficial do estado.

Pedro Wagner e os homens também construíram uma capela que batizaram de Nossa Senhora da Conceição. Esporadicamente recebia a visita de um vigário de Itajaí que rezava as missas. Lembrando que ele era luterano e simpatizava com o catolicismo, pois em seu testamento pediu para ser sepultado no cemitério católico. Supomos que em São Pedro de Alcântara teve 8 anos contato com o catolicismo, uma vez que era mais difícil a presença de uma igreja luterana na região, observando também, que a igreja católica era o próprio estado, nesta época.

Hermann Bruno Otto Blumenau

Ainda na década de 1840, receberam em sua casa a visita do funcionário da “Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães”, no Brasil – Hermann Bruno Otto Blumenau e seu guia na região – o balseiro – Ângelo Dias. A Família Wagner respondeu a muitas perguntas de Blumenau, como: As terras são propícias ao plantio? Os alemães se adaptam bem? Há contato com o restante do mundo? As crianças se desenvolvem bem? Como se mora? Como se vive?

A Família Wagner serviu aos dois visitantes refeições com frutos colhidos na terra. No decorrer das trocas Blumenau continuou a receber informações destes que já residiam no local há um bom tempo e tiravam sua sobrevivência da terra. Anotou as informações. Hermann Blumenau e Ângelo Dias saíram da propriedade dos Wagner e seguiram Itajaí acima, retornando após dois dias. Partiu da casa dos Wagner, prometendo retornar.

Os Wagner e outros da comunidade subiram o rio Itajaí Açú a fim de observar o local que Hermann Blumenau teve seu interesse depositado, ao ponto de ter demonstrado desejo de assentar imigrantes alemães e fundar sua colônia agrícola. 

Ferdinand Hackradt

Definindo o local da colônia agrícola de Blumenau, Hermann Blumenau encontrou um sócio que possuía negócios na capital da Província – Nossa Senhora do Desterro, Ferdinand Hackradt. Hackradt e mais 5 escravos adquiridos junto ao administrador de Itajaí –  começaram a construir ranchos, roças e engenhos no local onde atualmente está a foz do ribeirão da Velha. Também os Wagner enviaram homens de Belchior para contribuir com os trabalhos, pois tinham interesse no êxito deste projeto, que era assunto constante em Belchior. Não durou muito tempo o auxílio e a troca, por incompatibilidade com o método adotado pelo sócio de Hermann Blumenau. Com o passar do tempo, a empreitada quase foi abandonada. Do projeto original restaram um rancho, um engenho de serra semiacabado. Sem plantações.

Hermann Blumenau levou 2 anos para retornar. Hackradt retornou para Nossa Senhora do Desterro. Mais tarde, seu sobrinho Carl Franz Albert Hoepcke, que tinha vindo com uma leva de imigrantes para a Colônia Blumenau, foi trabalhar com ele.

Lembramos deste personagem histórico, porque ele se casou em segundas núpcias com Anna Händchen de São Pedro de Alcântara – filha de Anton Händchen, cunhado de Pedro Wagner – irmão de sua esposa Agnes, portanto sobrinha de sua esposa. 

Também o filho de Pedro Wagner  – Eugen Wagner – tornou-se procurador da  Firma Fernando Hackradt, em Nossa Senhora do Desterro. Por falar em casamentos, também Agnes – sobrinha de Pedro Wagner – filha de seu irmão Christian Wagner que permanecera em São Pedro de Alcântara, casou-se com o filho do imigrante alemão, comerciante, Hermann Moellmann. 

Nesta época, através dos casamentos, ampliava sua rede familiar e de negócios e também pode-se afirmar que é parte de uma cultura que tem o período feudal da Idade Média e gótica, como seu período nacional.

Pedro Wagner, familiares e vizinhos acompanharam a chegada dos 17 imigrantes alemães de um montante de 250 que viriam para iniciar a colônia agrícola de Hermann Blumenau. Em um primeiro momento, a Família Wagner negociou com o Gärtner, sobrinho de Hermann Blumenau, que abriu um pequeno negócio. Cedeu-lhe 11 sacos de farinha, 3 barris de melado. Tiveram relações estreitas e recebiam visitas constantes, para trocas de experiências e também troca de mudas e sementes. Este fato histórico, quase não é mencionado na história formal de Blumenau. É conhecido que Gärtner teve um comércio na Palmenalle Strassen – Rua das Palmeiras.

Fotografia: Bernhard Scheidmantel

Com a fundação da nova colônia alemã, vieram novos profissionais e os Wagner’s e vizinhos passaram a ter maior suporte. Como por exemplo, o agrimensor Julio Richter mediu as terras de Pedro Wagner e as legalizou junto à Colônia Blumenau, tornando parte desta. Passou a fazer parte do Distrito da nova Colônia Blumenau e ficou delimitada com  quatrocentos braças de frente com  mil braças de profundidade – uma braça equivale a 1,8288 m. Portanto suas terras mediam 732 metros de frente e 1830 m de profundidade. Tinha um terreno de 1,34 km 2 no atual bairro do Vorstadt – Blumenau. Local do atual Condomínio City Figueiras – condomínio de alto padrão construído sobre uma das propriedades mais antigas da região. Tinha como vizinhos: a Família de Pedro Deschamps e Ludwig Wagner – seu irmão.

Stadtplatz Colônia Blumenau – Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva
Pastor Georg Hölzel

Com o passar do tempo e o desenvolvimento da Colônia Blumenau, os acontecimentos da Família Wagner tinham laços estreitos com a sociedade da nova colônia. Em 20 de março de 1855, a filha mais velha de Pedro e Agnes Wagner – Margarethe (chamada no seio da família de Gretchen), com 15 anos de idade, casou-se com Karl Friedrich Julius Baumgarten (filho de pastor luterano), 23 anos, natural de Lehre.

O noivo chegou à colônia com 21 anos de idade, em junho de 1853 – deixou na Alemanha, os pais e irmãos. O momento festivo foi o primeiro casamento a se realizar na Colônia Blumenau, junto com o casamento de sua sobrinha, filha de sua irmã – Catarina Lukas que se casou com Wilhelm Schönau. Quem realizou os casamentos foi o Pastor Georg Hölzel, da Colônia Dona Francisca – atual Joinville. 

Logo nasceu o primeiro neto Hermann Baumgarten – fundador do primeiro jornal de Blumenau – Blumenauer Zeitung (1881), sendo o redator Theodor Kleine – cunhado de Hermann Baumgarten – casado com sua irmã Agnes.

Hermann Baumgarten – 1° Neto de Pedro Wagner

O pai de Hermann Baugarten – genro de Pedro Wagner – Karl Friedrich Julius Baumgarten, foi o primeiro Juiz de Paz, quando a Colônia Blumenau  se desmembrou da freguesia de Itajaí. Pedro Wagner lia o jornal para acompanhar as atividades do Kulturverein, com o qual, contribuía como grande e experiente produtor que era nestes tempos. 

Foi publicado um quadro onde aparece a produção da propriedade dos Wagner e da Colônia Blumenau, denotando uma certa concorrência.

Em 1° de setembro de 1861, faleceu a filha mais velha de Pedro e Agnes Wagner – Margarethe Wagner Baumgarten, com  21 anos de idade. Foi sepultada em 2 de setembro, no cemitério evangélico da Colônia Blumenau. Frau Baumgarten faleceu durante o trabalho de parto de seu quarto filho. 

No ano seguinte faleceu a esposa de Pedro Wagner – Agnes Wagner (Solteira – Händchen), com 42 anos de idade, em 19 de maio de 1862. 

Pastor Oswald Hesse

Pedro Wagner e Agnes tiveram 8 filhos. Não se passou nem um mês, após o falecimento de Agnes Wagner e Pedro Wagner se casou com sua vizinha – filha da Família Metzner que se chamava Frederike. Eram vizinhos de porta. Pedro Wagner tinha 44 anos e Frederike tinha 16 anos. Casaram-se em 4 de junho de 1862 na Igreja Evangélica de Blumenau – Igreja Espírito Santo que passa por um restauro – em 2021. A cerimônia foi oficiada pelo Pastor Oswald Hesse. Frederike – era natural de Schönbrunn, Eberfeld – Alemanha. Não existiu um bom clima entre os filhos mais velhos de Pedro Wagner e sua nova esposa. 

Igreja Luterana da Colônia Blumenau – Fotografia de Bernhard Scheidemantel

No ano seguinte, em 8 de dezembro nasceu sua filha Selma, a primeira, de mais 12 filhos que  Pedro Wagner teve com sua segunda esposa Frederike. 

Em 1865, Pedro Wagner, acompanhado de outros da comunidade e da família, como Rodolph Wagner, Heinrich e Christian Lukas, serviram como cabos no pelotão da Colônia Blumenau e fizeram parte a lista de Voluntários da Pátria que lutaram no Paraguai.

Lista parcial dos Voluntários da Pátria – Blumenau – 1865. Acervo de Documentos Raros – Biblioteca Central UFSC

A localidade onde estava a propriedade de Pedro Wagner ficou conhecida na Colônia Blumenau, como Capim Volta. Sua filha Gertrudes, nascida em Capim Volta, logo depois se casou com Luiz Altenburg, nascido em Reichenbach (Silésia) no ano de 1844.

O noivo Luiz Altenburg conheceu a noiva no dia de sua Confirmação na Colônia Blumenau. Casaram-se na sede da Diretoria da Colônia Blumenau em fevereiro de 1867. Neste tempo, as pessoas de religião protestante não poderiam construir igrejas e só poderiam se casar em casa ou em edificações para este fim, sem com isto a volumetria desta edificação tivesse semelhança com um templo religioso. 

Por que isto acontecia? Só poderiam construir igrejas os seguidores da religião oficial do Império – Igreja Católica Romana que também tinha atribuições de Estado.

Igreja Luterana em Itoupava Rega – Blumenau – Enxaimel

Em agosto de 1868 nasceu o primeiro filho do casal Altenburg e neto de Pedro Wagner. Tiveram 6 filhos e 5 filhas – sendo uma prole de 11 filhos. Gertrudes  Wagner Altenburg faleceu com 38 anos de idade, em sua propriedade, em Gaspar.

Cemitério Luterano Centro – Blumenau

Um fato curioso, foi que a filha de Pedro Wagner, antes de morrer e preocupada com a família, acertou o segundo casamento do marido pessoalmente. Sua escolhida para ser a esposa do marido e sucessora foi uma Professora que residia em sua casa e era sua amiga pessoal – Clara Breithaupt. O segundo casamento de Luiz Altenburg aconteceu em 1886. Clara Breithaupt faleceu  8 anos depois, em 1894 e teve 7 filhos (Luiz Altenburg – 18 filhos). Faleceu após seu último parto. Luiz Altenburg casou-se em seguida com a irmã de Clara, com a qual teve mais 2 filhos, somando 20 filhos. Estes acontecimentos contribuem um pouco para criar o contexto de como viviam as pessoas no tempo Pedro Wagner, pessoas que eram parte de sua família e a vida muito difícil para as mulheres.

Pedro Wagner, neste tempo, tinha dois escravos – um canoeiro e uma escrava do lar. Também neste tempo, conheceram Karl Christian Renaux – imigrante da cidade de Lörrach – de Baden, que chegou  à Colônia Blumenau com um pouco mais de 20 anos e que se casou com sua primogênita do segundo casamento – Selma Wagner.

Fonte: RENAUX

Nos primeiros tempos, na Colônia Blumenau, Renaux foi trabalhar em Salto Weissbach. Após um tempo, mudou-se para Brusque, onde foi gerente da filial da empresa Asseburg & Willerding. Conheceu Selma em Gaspar, que era auxiliar de Professora em Blumenau. Casaram-se em 19 de fevereiro de 1884 na Igreja Evangélica de Blumenau – inaugurada em 1877.

Quem celebrou o casamento da filha Pedro Wagner e de Frederike com Carl Christian Renaux foi o Pastor Heinrich Sandreczki, enviado pela missão evangélica de Basel. Neste tempo a igreja evangélica era construída, mas sem torre, pois a religião oficial continuava sendo a Católica. 

Pedro Wagner presenteou sua filha Selma, escolhida entre todos os demais filhos, dos dois casamentos, para receber o jogo de porcelana branca timbrada que pertenceu a sua mãe Maria Wagner e que foi trazido da Alemanha.

Após o casamento, o casal se mudou para Brusque, onde Karl Renaux comprou a filial de Asseburg & Willerding que gerenciava. Depois mudou seu negócio para o ramo têxtil, após adquirir teares usados, passou a produzir tecidos com o objetivo de produzir tecidos para os colonos de Brusque.

A pequena empresa começou a funcionar em 11 de março de 1892, dia do aniversário de Karl Renaux, em instalações improvisadas ao lado da sua casa.

Também na Colônia Blumenau acontecia os negócios dos Hering neste mesmo ramo. Passaram a produzir as camisetas Jaegerhempten, usadas também por Pedro Wagner. Suas bisnetas Clara Kleine e Hedy Kleine se casaram com filhos de Hermann Hering – Max e Curt, respectivamente.

D. Pedro II

Pedro Wagner  foi um republicano, ao contrário da maioria das lideranças entre os imigrantes alemães.  Acreditava que conseguiria todos os direitos de um cidadão brasileiro quando fosse instaurada plenamente a República. Destoava de muitos outros blumenauenses da época que politicamente eram a favor da Monarquia e nutriam simpatia e respeito pelo Imperador brasileiro – D. Pedro II.

Com a aplicação da farsa da Proclamação da República, seu genro de Brusque – Karl Renaux foi eleito deputado da primeira assembleia constituinte estadual, em 1889.

Karl Christian Renaux – Deputado da Primeira Assembléia Constituinte de Santa Catarina (1889) – Fonte: RENAUX

Outros familiares seus, que foram muitos, a partir de seus 23 filhos, tiveram outros rumos. Seu filho Arnold Wagner continuou trabalhando na agricultura na localidade de Belchior, como também, seu filho Theodor Wagner. Duas de suas filhas casaram-se com Oscar Ebert e foi residir em Warnow – atual localidade de Indaial e Johann Schneider, que foi residir em São José – respectivamente.

Um de seus filhos faleceu nas águas do Rio Itajaí Açu – Josef Wagner. Outros dois foram construir a vida longe, em outras regiões brasileiras. Reinold Wagner se fixou em Pirassununga – estado de São Paulo. Outro foi para uma região de imigração alemã do Rio Grande do Sul.

Pedro Wagner  faleceu em 23 de novembro de 1901, na cidade de Blumenau com a idade de 84 anos.

” No dia 23 de novembro de 1901, faleceu em Blumenau, com 84 anos de idade, o senhor Peter Wagner. O falecido se fixara em 1848 junto ao rio Itajaí, a quatro quilômetros abaixo da cidade de Blumenau de hoje, para trabalhar na agricultura. Nascido em  Bierbach, Saarbrücken, na província do Reno, imigrou Peter Wagner como rapaz de 10 anos no ano de 1828 no sul de nosso Estado, para 20 anos mais tarde, ainda antes da chegada do Dr. Blumenau, fixar-se no Vale do Itajaí. Em árduo trabalho o falecido chegou a um relativo bem-estar, de forma que pôde gozar o final de sua vida tranqüila, Os descendentes do falecido se compõem de cerca de 16 pessoas. De seus 23 filhos 7 o antecederam na morte.” Semanário Blumenauer Zeitung – 30 de novembro de 1901.

Testamento de  Johann Peter Wagner / Pedro Wagner 

” Registro do testamento de Peter Wagner na forma que segue: Mil novecentos e um – Juiz de Direito da Comarca de Blumenau. Testamento do falecido Pedro Wagner. Jesus, Maria, José – Em nome da Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, em que eu, Peter Wagner, firmemente creio e em cuja fé protesto viver e morrer. Este o meu testamento e última vontade. Declaro que sou natural da Alemanha e atualmente naturalizado brasileiro, filho de Georg Wagner e Maria Wagner, já falecidos. Falecendo neste município, quero ser sepultado no cemitério católico. Declaro que fui casado com  Agnes Händschen, já falecida e de cujo matrimônio existem os seguintes filhos: Reynold, Gertrudes, Catarina, Luiza, Maria, Dorothea. Declaro mais que tive uma filha deste primeiro matrimônio, casada com Júlio Baumgarten, a qual já faleceu, deixando os seguintes filhos: Júlio Baumgarten e Agnes. Declaro mais que sou casado em segundas núpcias com Frederike Metzner, de cujo matrimônio existem os seguintes filhos: Selma, Tecla, Roza, Alvino, Carlos, Leopoldo, Teothoro, Clara, Jorge, Ana, Arnold e Agnes. Declaro que deixo à minha mulher a terça parte de meus bens. Rogo ao meu genro Renaux queira fazer a obra pia de ser meu testamenteiro. Esta a minha última vontade e disposição para depois da minha morte e por este testamento revogo qualquer outro. Blumenau, vinte e quatro de julho de mil oitocentos e oitenta e cinco. Pedro Wagner (Segue o termo de Aprovação assinado pelo escrivão Elesbão Pinto da Luz e as testemunhas: Frederico Germer, Heinrich Koch, Carl Knoch, João Morbach, Gottlieb Metzner)

Pedro Wagner  foi sepultado no cemitério católico (??) de Blumenau. De acordo com os decretos imperiais  de 1863, quando um dos cônjuges fosse católico, o casamento, para ser reconhecido, tinha que ser realizado dentro da igreja católica que também tinha o papel de Estado.

Agnes era católica e supõe-se que o casamento de Pedro Wagner  e Agnes tenha sido realizado dentro da igreja católica – Na Grande Florianópolis. Talvez por isto, ela tenha sido sepultada no cemitério católico de Gaspar (óbito  n° 24). Após a Proclamação da República e a queda do Império aconteceu a equiparação de direitos entre todas as religiões e a religião foi separada do Estado – coisa que gerou muita confusão na Colônia Blumenau – como fuzilamento de personagens da história local e a quase prisão do Padre José Maria Jacobs

Há possibilidades que os filhos tivessem feito o translado do corpo da mãe – Agnes Händchen Wagner para o cemitério evangélico de Blumenau, onde seu óbito se encontra registrado sob o n° 17.

Karl Christian Renaux – 1° Cônsul alemão em Santa Catarina

O Filho de Selma Wagner e de  Karl Christian Renaux – Guilherme Renaux – foi o responsável, juntamente com o Prefeito de Blumenau – Félix Theiss e Frederico Carlos Allende – titular da Fundação Cultural de Blumenau, a rara homenagem feita Pedro Wagner – o Pioneiro –  na década de 1970.

Onde está o busto de Pedro Wagner?

Maria Luiza Renaux – tataraneta de Pedro Wagner

“Esta cidade, deve tributo ao colono Pedro Wagner, cognominado “O Pioneiro”, por ter sido ele o primeiro morador a se instalar e a produzir com sua família dentro dos limites que viriam a construir a futura Colônia Blumenau. A vida de Pedro Wagner permite entrever, nos propósitos e na labuta diária do homem simples vindo da Europa no século XIX, o que foi a vida dos colonos alemães às margens do rio Itajaí nos primórdios da história do Vale, via esta menos conhecida por tratar-se da ribalta dos cenários oficiais, mas nem por isso menos heroica e, portanto, menos merecedora de ser trazida à luz…”  Maria Luíza Renaux

Familiares que se manifestaram após esta leitura sobre a Biografia

Se você nasceu em Blumenau, dentro de uma das primeiras famílias da Colônia Blumenau, é quase certo de que você faz parte da família de Pedro Wagner.

Referências

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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