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Quem foi Johann Schreep e qual foi a importância do Hotel Schreep para Blumenau

Carros tracionados à cavalos usados na época do Hotel Schreep – e provavelmente, foi um tipo como este que esteve envolvido no acidente de Johann Schreep.

Há registros do nome em duas versões: Schreep e Schrepp. De acordo com a Professora Elisabeth Derschum, sempre ouviu o nome Schrepp  nas histórias dos mais antigos, na região. Sabendo que há os dois nomes – para registros. Usaremos o nome de Família Schreep, como vimos em documentos de genealogia, da Alemanha e material publicitário do Hotel. Fica o registro.

Quem foi Johann Schreep? Ou Johann Asmus Schreep? Onde estava localizado o Hotel Schreep? O que há no local do antigo Hotel Schreep? Lemos o nome de Johann Schreep em uma nota publicada – a qual noticiava seu falecimento em 6 maio 1882 (com a idade de 85 anos)- a partir de um acidente com um dos cavalos atrelado à sua carruagem. Mais precisamente, conseqüência da amputação de sua perna quebrada pela ação de um coice do cavalo que ele desatrelava da carruagem – semelhante este da foto acima.

Resolvemos conhecer mais sobre este personagem da Colônia Blumenau do século XIX, e sobre seu local de trabalho. Compartilhamos com todos os interessados.

Encontramos duas versões publicadas sobre um acidente com os cavalos. A primeira, foi retirada do Jornal Blumenauer Zeitung, publicada na década de 1880. Apresentamos as duas – abaixo.

A centralidade da Colônia Blumenau até o final da segunda metade do século XIX estava localizada junto à foz do Ribeirão Garcia, onde foi construído um Boulevard – um larga via, com pistas duplas separadas por duas fileiras de palmeiras – conhecida também, na época – em alemão, como Palmenalee (traduzido – Alameda das palmeiras) – a qual foi batizada com o nome de Boulevard  Hermann Wendeburg – atual Rua das Palmeiras – ou Alameda Duque de Caxias (Nome trocado durante o período do Nacionalismo de Getúlio Vargas – no Vale do Itajaí. Esta foi a primeira grande Alameda/Boulevard de todo o Vale do Itajaí. Esta centralidade era conhecida como  Stadtplatz (centralidade) da Colônia Blumenau – cuja região abrangia praticamente todo o território do Vale do Itajaí considerando as áreas do Alto Vale do Itajaí e do Médio Vale do Itajaí e parte de Gaspar e região de Brusque.

Imagem do porto fluvial de Blumenau feita a partir da Prainha, em dia de algum evento importante na cidade. Na imagem é possível vislumbrar o Casarão Schmidt, a esquerda, o Hotel Schreep, Palmenalle e a Câmara e Cadeia/Prefeitura – Esta era a centralidade de Blumenau até o início do século XX, quando a Casa São José começou a interferir, com seus espaços multiculturais nas proximidades da igreja católica, localizada na Rua XV de Novembro.

Johann Schreep, imigrante alemão que residia no Boulevard Hermann Wendeburg, com sua família. De acordo com registros históricos, foi uma das primeiras famílias da Colônia Blumenau, pois seu nome consta da lista publicada no Blumenau em Cadernos de setembro de 1961, onde foram listados os nomes das famílias que residiam na Colônia Blumenau no ano de 1857.

Aos fundos o Barracão dos Imigrantes – Cujo material foi usado na Casa São José.
O nome do pioneiro está “abrasileirado” de Johann para João em publicação pós Nacionalismo.

De acordo com o Arquivo de Blumenau – virtual de genealogia, é mencionado nas informações do nascimento de seu filho –  Peter Johann Heinrich Schreep, em 24 de abril de 1858 e, de sua filha Maria Schreep, em 6 de junho de 1860, que seu pai Johann Schreep era colono (Como todos o eram – pois viviam em uma colônia alemã e tinha que plantar e cuidar da criação) e alfaiate.

Em 1860 a Colônia Blumenau tinha 10 anos de existência e antes de mais nada – e novamente, como todos os imigrantes que chegavam à Colônia de Blumenau, tornavam-se colonos – por adquirirem uma colônia. Na mesma fonte, no registro de nascimento da terceira filha – Emilie Schreep em 14 de julho de 1862, seu pai, Johann foi citado como hoteleiro. Concluímos que dentro de um recorte de tempo de 2 anos, entre os anos de 1860 e 1862, Johann Schreep, mudou seu ramo de negócios. 

Antes de prosseguirmos com sua história na Colônia Blumenau – apresentamos um pouco sobre a vida de Schreep. Johann Schreep que foi casado com Luise Dorothea Elisabeth Lemmessier – chamada, como é comum entre as famílias alemãs, pelo segundo nome, no seio da família e entre amigos. Na lista de residentes da Colônia de Blumenau do ano de 1857, Schreep é apresentado como originário de Mecklenburg – região localizada ao norte da Alemanha atual – junto ao mar Báltico – mais ou menos na Pomerânia Ocidental. Johann nasceu na cidade de Dassow em 05 maio 1824  – e sua esposa Luise Dorothea Elisabeth Lemmessier, na cidade de Pritzwalk. Johann era filho de Joachim Heinrich Schreep e de Margaretha Schreep.

Localização das cidades da Alemanha – onde nasceu o casal Schreep.
Localização das cidades da Alemanha – onde nasceu o casal Schreep.
Schloss Lütgenhof.
Vista Panorâmica de Dassow.
Desfile – aos fundos a Igreja Luterana de Dassow – St. Nikolai – A igreja foi construída após a partida de Johann da cidade.
Vista parcial de Pritzwalk.
Engenheiro Heinrich Krohberger Esta fotografia tem cópias com “maquiagem” Herr Krohberger estava com os olhos fechados na foto original.

Como informações e referências históricas, os compadres dos Schreep, foram as seguintes personalidades da Colônia Blumenau – contemporâneos seus e residentes nas primeiras décadas de colônia:

Os padrinhos do filho mais velho – foi Peter Johann Heinrich e não foram registrados nas publicações. Os padrinhos de Maria foram Auguste Rosemann, Auguste Riemer e Hedwig Wloch. Os padrinhos da filha mais nova – Maria Clara foram: Marie Ebert, Clara Friedenreich e Margarethe Zarchow. 

Também é interessante registrar, que o Engenheiro que forneceu a educação à José Deeke como filho e lhe forneceu formação profissional (um personagem importante da história regional) – Heinrich Krohberger, foi testemunha de casamento da filha do meio de Johann Schreep – Maria Schreep.

Como hoteleiro, Johann Schreep foi proprietário do primeiro e principal hotel da Colônia Blumenau  no século XIX. O hotel estava localizado na esquina do Boulevard Hermann Wendeburg (Palmenalee – Rua das Palmeiras) com a rua que, atualmente, é a Rua XV de Novembro. Na época era a rua do porto. Além de hoteleiro, o ex alfaiate, Johann Schreep também era açougueiro.

Conde D’Eu.

O Hotel Schreep possuía, entre outros ambientes – um salão de baile – o qual era alugado para eventos festivos privados e públicos. Em suas dependências hospedavam-se visitantes importantes como por exemplo, o marido da Princesa Isabel e genro de D. Pedro II – o Conde D’Eu e sua comitiva, quando visitou Blumenau no ano de 1884 – dois anos após a morte de Johann Schreep. O hotel estava sob administração da família. Também foi no ano de 1884, que os amigos de Hermann Blumenau se reuniram no Hotel Schreep para se despedir do fundador que partia definitivamente para a Alemanha. Este encontro aconteceu no salão do Hotel Schreep e dentro das homenagens organizada pelo Professor Rudolf Damm, estava a poesia declamada pelo padre Jacobs e os cantos de Damm. Neste tempo, Hermann Blumenau residia no Hotel Schreep – pois sua casa tinha sido “tragada” pela grande enchente de 1880.

Em 1880, o edifício sofreu avarias, como aconteceu em grande parte da Colônia Blumenau – consequências da grande enchente de 1880. Por conta disto, o edifício foi totalmente reformado. Talvez nesta reforma, ao observarmos as fotografias históricas, o edifício recebeu a “roupagem” – a maquiagem decorativa – com as características da arquitetura vigente internacional – o neoclássico. Em 1897, o governador da Província Santa Catarina e sua comitiva, Hercílio Pedro da Luz, também se hospedaram no Hotel Schreep. Hercílio Luz já havia residido em Blumenau.

Em 9 de julho de 1883, Karl Wetzel usou ambientes desta casa, agora propriedade da viúva Schreep, para locar a Deutsche Privat-Schule, embrião da escola que em breve seria instalada no Stadtplatz – Neue Deutsche  Schule – Escola Nova Alemã de Blumenau, inaugurada em 1889. Nesta escola improvisada no espaço do antigo hotel, eram lecionados  o Alemão, Matemáticas, Geografia, História (do Brasil, da Alemanha, Universal e Natural), Física Elementar e Religião, por uma mensalidade de 1$500 réis.

Em 1899, o Hotel Schreep foi arrendado para Theodor Lürdes, que tinha chegado à Colônia Blumenau no ano de 1879. Lüders rebatiza o local com o nome de Hotel Brasil.

Na primeira fotografia, ainda era Hotel Schreep, após a reforma. Na segunda foto, passa a ser Hotel Brasil.

A linguagem arquitetônica adotada após a reforma do Hotel Schreepl/Brasil é a linguagem internacional da virada do século XIX para o século XX – Neoclássico – Arquitetura adotada em Blumenau, principalmente nos edifícios comerciais – novos empreendedores do início do século XX – dos novos ricos.

Provavelmente a reforma do edifício do Hotel Schreepl/Brasil ocorreu após a enchente de 1880, com uma repaginada e atualização arquitetônica

Entre os anos de 1900 e 1903, o Hotel Brasil foi adquirido por Hannes Schmidt. Comenta-se que o hotel fundado por Johann Schreep tenha encerrado suas atividades nos anos de 1920, porque na década de 1930, em pleno período do Nacionalismo – o histórico edifício foi demolido e no seu local foi construído um novo edifício comercial eclético distribuídos em três pisos, com elementos da arquitetura dos pioneiros (Telhado – com a presença de panos de telhados e mansardas) e com algumas características do estilo Art Decó. No local iniciou as atividades da Casa Comercial de Carlos Koffke.

Em 2013, o edifício onde estava instalado o Casa Comercial de Carlos Koffke sofreu, mais uma vez, reformas/revitalização – realizadas para sediar – através de aluguel – a Câmara de Vereadores de Blumenau. Atualmente o espaço é alugado para sediar a Câmara de Vereadores de Blumenau. Não temos conhecimento de quem seja o proprietário do imóvel histórico.

Através da reforma, o edifício foi ampliado, através da criação de mais um pavimento – que não existia. A estrutura do telhado foi mudada, com a retirada da mansarda e as aberturas de madeira, característica da casa do imigrante alemão. Também a fachada foi “maquiada” através da aplicação de revestimento de tijolos maciços – algo que foi “moda” um tempo atrás – nas revistas de decoração – hoje, não mais. Toda esta movimentação foi feita de maneira discreta e sem muito “barulho”, mas não passou despercebido para nós e já registramos para a História.

Câmara de Blumenau destinará parte do fundo da sede própria para combate ao coronavírus | Pedro Machado | NSC Total
Vista de cima – onde é possível vislumbrar a descaracterização do edifício, com o acréscimo de mais um pavimento, feito sem qualquer debate público localizado na frente da Palmenalee – Rua das Palmeiras também contemplada na foto – Nos fundo edifícios construídos no Centro Histórico e a centenária Igreja do Espírito Santo – à direita. Fotografia de Patrick Rodrigues: NSC Total.

Vídeo do Comercial Carlos Koffke em pleno funcionamento 

Igreja do Espírito Santo – Igreja luterana Centro Blumenau.

Parte destes locais foram ainda mais descaracterizados, após a inserção de uma ponte desconsiderando a existente, sobre o Ribeirão Garcia e também se cogitou uma loja de departamento com arquitetura Kitsch em uma das extremidades da Palmenalle, mais especificamente na base do elevado onde está a igreja centenária do Espírito Santo.

A presença do urbanismo na área – intervenção que se perdeu, com o passar dos anos e continua em processo.
Inaugurada na administração de Mário Hildebrandt. Mapa ilustrativo com o “Norte” errado. Desenho com o Norte para abaixo – segundo o jornalista Pancho – autor da matéria retirado do projeto executivo da Prefeitura Municipal de Blumenau. Valor da obra – ponte sobre um ribeirão na cidade de Blumenau: 2 milhões de reais.. Neste croqui deveriam mostrar o entorno maior e o seu impacto no local.

Em 2021 Johann Schreep – imigrante do século XIX em Blumenau – é lembrado em Dassow.

Dassow – Fonte- Site:http://www.naturstrand-ostsee.de/.
Dassow.

Em fevereiro de 2021 recebemos uma mensagem da cidade alemã de Dassow, historicamente muito interessante, que acontece sentido Alemanha- Blumenau. 

Compartilhamos, mais uma vez, a partir “da ponte” estabelecida a partir desta pesquisa, entre o país daqueles que fundaram muitas das cidades do Vale do Itajaí e de seu país de origem – a Alemanha e viabilizado pela existência desta tecnologia nas edificações que temos atualmente. Muitos acompanham nosso trabalho no Velho Mundo, quase sempre, pessoas de famílias que deixaram sua marca na história de Blumenau..

Parte da Mensagem

Liebe Frau Wittmann, durch einen Zufall sind wir darauf gestoßen, dass aus unserem kleinen Städtchen Dassow Mitte des 19. Jahrhunderts sehr viele Menschen nach Blumenau emigriert sind, u.a.auch Johann Schreep, der Hotelier. Ich sitze jetzt seit Tagen am PC und recherchiere über ‘unsere’ Dassower Aussiedler nach Brasilien. Unser Verein, der Heimat- u. Tourismus-verein Dassow, gibt regelmäßig eine Zeitschrift heraus, in der wir über die Geschichte unseres Städtchens berichten. Für die erste Ausgabe 2021 werde ich einen Aufsatz über die Auswanderer nach Blumenau schreiben und veröffenttlichen. Ich finde das total spannend.  Liebe Grüße aus Dassow

Prezada Sra. Wittmann, por acaso, ficamos sabendo que um grande número de pessoas da nossa pequena cidade de Dassow emigraram para Blumenau em meados do século XIX, incluindo Johann Schreep, o hoteleiro. Estou sentado em frente ao computador há dias, fazendo pesquisas sobre “nossos” emigrantes de Dassower para o Brasil. Nossa associação, a Heimat- u. Tourismus-Verein Dassow, publica regularmente uma revista, na qual relatamos a história de nossa cidade. Para a primeira edição de 2021, vou escrever e publicar um artigo sobre os emigrantes para Blumenau. Eu acho isso muito emocionante. Saudações de Dassow

Stadtplatz da Colônia Blumenau no final do século XIX e a localização do Hotel Schreep, mesmo local da atual Câmara de Vereadores de Blumenau.

Caminhos percorridos por famílias que saíram de Dassow  – Alemanha, entre elas a família Schreep, para ajudar a construir Blumenau – Brasil.

 História dos povos.

Referências

 

Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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