Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Santa Catarina é líder nacional em violência doméstica”

Colunista destaca casos recentes em Blumenau e aponta discurso que legitima o machsimo

Quantas Biancas ainda vamos perder?

Na última quinta-feira, 17, Blumenau foi notícia nacional. Desta vez, não por nossos eventos turísticos, ou por qualquer outra característica positiva da “Alemanha sem passaporte”, mas por uma notícia terrível. O vídeo de uma mulher sendo espancada em via pública. Em tempos de redes sociais, o vídeo viralizou na internet e rodou o Brasil.

Em uma busca rápida no site do jornal O Município Blumenau ou no Google, percebe-se que infelizmente o caso não é um fato isolado. No período de dezembro a janeiro, o número de pedidos e de concessões de medidas protetivas de urgência amparadas na Lei Maria da Penha quadruplicou em Blumenau.

O fenômeno não é novo. Intelectuais e estudiosos do tema há muito estão chamando a atenção para a necessidade de debatermos e combatermos esse tipo de violência. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registra, por dia, 606 novos casos de violência doméstica.

Em Santa Catarina, são 225 casos a cada 100 mil habitantes. Somos os líderes nacionais. Ainda ecoa na memória de todos o nome de Bianca Wachholz, blumenauense assassinada diante da mãe porque queria romper o relacionamento com o namorado.

O fenômeno da violência doméstica assenta-se no machismo e no patriarcado. Na ideia de que, por características de nascimento, os homens são biologicamente superiores e por isso têm o direito de dominar as mulheres, tratando-as como posse.

Uma crença cega que, infelizmente, tem ganhado força nos últimos dias, em falas que parecem ser inocentes e engraçadas, mas não são.

Infelizmente, uma sociedade que divide as pessoas pela cor da roupa que elas devem usar, normatizando os papéis de gênero, esconde e legitima casos graves de violência como as que temos assistido nos últimos dias em Blumenau.

A mulher que foi agredida no meio da rua na semana passada não estava vestida nem de rosa, nem de azul. Suas roupas estavam rasgadas e sujas de vermelho-sangue.

Sangue que suja as mãos daqueles que fazem populismo político com a vida alheia, defendem que o machismo é normal, que as mulheres são seres inferiores, fruto de uma mera fraquejada e, por isso, desigualdade de gênero não deve ser debatida e superada.

Só entraremos em uma nova era quando todos, homens e mulheres, independentemente da sua identidade de gênero, tiverem garantidas vida e liberdade.

Quantas Biancas ainda vamos perder?

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