A licitação de compra dos 200 respiradores no valor de R$ 33 milhões, pagos antecipadamente pelo Governo do Estado, está cada vez mais absurda e a cada dia que passa se descobre um pedaço de um esquema que, segundo o Tribunal de Justiça e o Ministério Público, tinha a intenção de desviar 50% de tudo que foi pago.

Agora se descobre que esses respiradores foram comprados pela Veigamed, empresa contratada pelo Governo de Santa Catarina, através de um site de compras online. A transação foi feita através do AfricaMed, um site voltado a venda de dispositivos médicos que só intermedia a compra e venda entre empresas. Classificado como B2B, ele não tem ligação nenhuma com as empresas fabricantes, permitindo inclusive que você poste uma mensagem que quer comprar determinado produto e outra empresa pode ver e entrar em contato com a empresa que quer comprar, como pode ter ocorrido no caso da Veigamed.

Outro problema encontrado nesse emaranhado de empresas que estão sendo investigadas, é o caso da TS Eletronic, de Itajaí, que foi contratada pela Veigamed para importar os respiradores, já que a Veigamed não tem as licenças para tal fim. Mas essa empresa não é da área médica e nem teria condição financeira de realizar essa operação com um valor tão vultoso, ficando obrigada a contratar a Quattror Serviço de Importação, uma terceira empresa localizada em Vila Velha (ES), que, pasmem, também não tinha experiência na área médica.

Segundo investigações do Ministério Público, Tribunal de Justiça e Polícia Civil de SC, o intermediador do esquema é o empresário e médico Fábio Guasti, que de acordo com o relatório do Gaeco, pretendia-se usar o dinheiro desviado dos respiradores e comprar tudo em testes rápidos de Covid-19, revendendo para outros estados e “esquentando” o dinheiro, como se diz na gíria, e aí sim distribuí-lo para os envolvidos.

A Weg, de Joinville, tinha oferecido fabricar os respiradores para o governo do estado de SC pelo valor de R$ 60 mil e a Intelbrás, de São José, também se colocou a disposição para importar os respiradores cobrando apenas o valor dos aparelhos, que sairia por cerca de R$ 70 mil cada, mas na época a Casa Civil disse não ser necessário.

Isso mostra que, desde a licitação do hospital de campanha, da compra de EPIs, e finalmente a compra dos respiradores, tudo em regime de emergência por conta da pandemia, era o momento que os donos de empresas e também alguns membros do governo estavam esperando para usurpar o dinheiro do catarinense.

Na próxima semana os ex-secretários Helton Zeferino e Douglas Borba irão depor na CPI que está investigando o caso dos respiradores e aí saberemos mais um pouco dessa trama que envolveu quem deveria zelar pela administração pública de um estado que já paga muito para o governo federal, mas sempre recebeu menos que merece.

Douglas Borba renuncia cargo de vereador e deixa vida pública

Na tarde dessa terça-feira, 19, o então vereador Douglas Borba renunciou o mandato pelo qual foi eleito em 2016 com 1313 votos, o segundo mais votado entre os 14 que foram aprovados para o Legislativo de Biguaçu.

Borba disse que “depois de doze anos de vida pública, ocupando os cargos de secretário municipal e vereador, alem de secretário de estado, é chegada a hora de me desligar da atividade política para que possa me dedicar à família e as atividades privadas”.

No dia 7 deste mês a vereadora Salete Orlandina Cardoso (PL) protocolou um pedido de cassação do vereador Douglas Borba pelo envolvimento dele no caso da compra dos respiradores. Salete também informou que o afastamento de Borba, em janeiro de 2019 para assumir a Casa Civil, descumpriu a lei orgânica do município.

Borba se formou em direito pela Univali, onde também é professor da matéria de Direito Administrativo e Ética Profissional, no campus de Biguaçu, e deve voltar para as suas atividades particulares já a partir da próxima semana, quando também irá depor na CPI dos Respiradores, na Assembléia Legislativa de Santa Catarina.