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“Somos chamados de vagabundos”: profissionais de saúde de Blumenau relatam ataques de pacientes devido alta da demanda

A impaciência e a ansiedade geradas pelas longas filas nas unidades de saúde de Blumenau estão levando pacientes a agredirem verbalmente as equipes de enfermagem e médicos da cidade. Em comparação ao mesmo período no ano passado, os atendimentos dobraram nos Ambulatórios Gerais.

Entre 4 e 10 de janeiro de 2021, os AGs fizeram cerca de 50 mil atendimentos. Já de 3 a 9 de janeiro de 2022 foram aproximadamente 100 mil. A realidade reflete nas cidades da região e também na rede privada de saúde.

A alta demanda somada ao alto número de trabalhadores infectados gera esperas de muitas horas nas unidades do município. “Estamos sofrendo muitas agressões e não temos para onde correr. Diariamente somos chamados de vagabundos, o que não é verdade. Não tem médico nem administrativo. Estamos nos virando, mas é muito difícil”, conta Elen Linaltevich, enfermeira do AG da Velha.

Uma das colegas de Elen chegou a registrar um boletim de ocorrência na sexta-feira após ser agredida verbalmente por um paciente. Ao ouvir que teria que continuar esperando para ser atendido, ele partiu para cima da enfermeira. A profissional não quis se identificar por ainda estar lidando com o estresse do ataque.

“Se não fossem os colegas terem protegido, as agressões teriam se tornado físicas. Temos visto isso diariamente. Algumas unidades o primeiro atendimento demora por falta de recepcionista. Em outras são poucos médicos. Muitas equipes estão reduzidas por estarem adoecendo”, reforça o médico sanitarista Mário Kato.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Blumenau, dos 1,5 mil servidores que trabalham na atenção básica (ou seja, na linha de frente de combate à pandemia), atualmente 38 estão afastados. Seja por terem testado positivo para Covid-19 ou por serem considerados casos suspeitos.

“O problema é que a gestão não dá resposta pra gente. Já tivemos uma redução de funcionários e agora com as equipes sendo afastadas precisamos de mais trabalhadores. Queremos apoio de pessoal e de segurança”, afirma Kato.

Em resposta, a Prefeitura de Blumenau ressaltou que as equipes que estão de férias estão sendo chamadas de volta ao trabalho. Até o momento quatro médicos já retornaram voluntariamente.

“Além disso, os locais e horários de vacinação também foram ampliados, impactando nos atendimentos clínicos e mais do que isso, reduzindo a procura dos pacientes em situação grave aos hospitais”,  ressaltou a nota.

O problema se estende aos hospitais da cidade. O Santa Isabel, por exemplo, registrou um aumento de mais de 110% em um mês, indo de 217 atendimentos de síndromes gripais entre 15 de novembro a 4 de dezembro a 456 entre 5 de dezembro e 4 de janeiro. Ou seja, antes mesmo dos casos explodirem na cidade.

“Hospital é para urgências e emergências! Pacientes com sintomas respiratórios leves devem ir aos ambulatórios municipais, não para o hospital! Por conta do elevado número de pacientes com sintomas respiratórios nos últimos dias, o Serviço de Emergência do Hospital Santa Isabel está lotado, resultando em demora no atendimento. Precisamos que a população se conscientize sobre o local correto para buscar ajuda médica”, divulgou a unidade em nota.

Ômicrom

Uma das principais preocupações do médico com a nova variante se espalhando na cidade é a alta taxa de contaminação dela. Apesar de ser menos letal e ter menos chances de complicação, Kato acredita que os leitos ainda podem ficar lotados por conta da quantidade de infectados.

“A gente já sabia que isso poderia acontecer depois das festas de ano novo. Foi um problema tanto de gestão pública quanto dos pacientes, que não levaram os riscos a sério. Estamos pagando o preço alto agora”, reforça.

Para ele, uma das formas de evitar o colapso do sistema de saúde seria testando a população em massa e isolando os contaminados, para evitar novas infecções que pudessem se complicar.

“Essa é a única forma de quebrar a cadeia de contaminação, ao invés de esperar as pessoas se contaminarem. Todo o sistema hospitalar, ambulatorial e de atenção básica ficará sobrecarregado. Isso está acontecendo não apenas no Brasil, mas em todo o mundo”, alerta.

Confira a nota completa da prefeitura

A Secretaria de Promoção da Saúde (Semus) reforça que a alta demanda de pacientes com sintomas gripais, de fato, vem sobrecarregando o sistema, não apenas a rede pública, mas também a rede privada. Para garantir o atendimento, a Semus trabalha para ampliar as equipes de profissionais, chamando os que estão de férias. Quatro médicos entenderam a situação e já retornaram voluntariamente. Além disso, os locais e horários de vacinação também foram ampliados, impactando nos atendimentos clínicos e mais do que isso, reduzindo a procura dos pacientes em situação grave aos hospitais.

Vale ressaltar que os pacientes só devem procurar o atendimento em casos de sintomas gripais ativos. Em casos de sintomas leves, o paciente deve observar a evolução do quadro e procurar a unidade de saúde a partir de 72 horas após os sintomas para testar. Vale reforçar que tanto a estrutura quanto a quantidade de profissionais da saúde são limitados. A Secretaria de Promoção da Saúde reitera também que segue trabalhando para que nenhum paciente fique sem atendimento, mas que é fundamental que as pessoas façam sua parte e evitem aglomerações, sigam usando máscara e mantendo as medidas de higiene e distanciamento.


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