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Um ano do caso Jaguar: famílias seguem aguardando decisão da Justiça

Nem processo na Justiça, nem investigação administrativa contra PRFs foram concluídos

No próximo domingo, 23, completa-se uma volta inteira no ano desde a morte de duas jovens no acidente na BR-470, em Gaspar, conhecido como “Caso Jaguar”. E é desse jeito que a data será lembrada por Elizabete Grabner, tia e madrinha de Amanda Grabner, de 18 anos, uma das vítimas fatais.

“Estamos fechando um ciclo de luto. Foram todas as datas comemorativas possíveis, Páscoa, Natal, Dia dos Pais, Dia das Mães, nossos aniversários e o dela. Sempre fomos muito unidos. Todo dia dói, mas nesses a gente lembra ainda mais”, desabafou Elizabete.

Reproducão/Facebook

A madrinha foi a única que conseguiu dar entrevista. A mãe e o pai, segundo ela, ainda não conseguem falar muito sobre o assunto, ainda mais próximo ao dia que completa um ano do acidente.

“A gente tem que ter muito força. Eu ainda consigo lutar, falar, mas eles, principalmente nessa semana, não estão conseguindo falar muito. Todos nós ainda sentimos muita falta e seguimos muito mal”, confirmou a madrinha.

Amanda Grabner tinha 18 anos e estava começando a faculdade, no Senai. Ela estava no banco de trás do Palio que foi atingido pelo Jaguar, e morreu no hospital, no mesmo dia do acidente, devido aos ferimentos.

A outra vítima fatal foi Suelen Hedler da Silveira, de 21 anos. Ela estava no banco da frente e morreu logo após a batida, ainda na BR-470. Silvana Hedler Silveira é irmã de Suelen e falou pouco, mas contou como a família está neste um ano.

“Não tenho palavras pra descrever, sabe? Desde aquele dia a gente sofre, e agora, chegando mais perto, a gente tem que relembrar, falar sobre o acidente. O que é importante pra cobrar por justiça, mas é doloroso, porque vem tudo de novo na cabeça”, conta emocionada.

Reprodução / Facebook

Suelen morava com a mãe ao lado da casa de Silvana. Segundo ela, todas eram muito unidas. “Ela fazia aniversário no mesmo dia que meu filho, que era afilhado dela. Foi muito difícil no dia, essas datas são as piores”, complementa.

Sobreviventes

Além de Amanda e Suelen, outras três meninas estavam no carro. Thainara Schwartz, de 22 anos, era a motorista do Pálio. Ela teve ferimentos na costela, além de diversos cortes por conta dos estilhaços de vidro.

Um ano após o acidente, ela já voltou a trabalhar como secretária, na mesma empresa que está há quatro anos. Ela conta que por mais que a “siga a vida”, ela sempre lembra das amigas que faleceram.

“Vai passar um ano, dois, 10 anos. Nunca vou me esquecer delas e disso. Hoje eu agradeço por estar viva, mas a luta por elas não pode acabar”, conta a jovem.

Reprodução / Facebook

Sem acompanhar o processo, pois o pai prefere que ela fique de fora, para evitar mais lembranças e reviver o caso, Thainara conta que ainda sonha com acidentes.

“Eu sonho com outras batidas, não com a nossa. Essa semana também sonhei que tinham marcado o júri popular dele, é algo que sempre vem na cabeça”, desabafa.

Maria Eduarda Kraemer, de 26 anos, foi a que mais teve ferimentos. Ela passou por cirurgias e ainda é submetida a tratamentos e acompanhamento psicológico. Nossa reportagem conversou com a mãe, dona Roseli, que contou que a data piorou a situação da filha.

“Está bem difícil esta proximidade da data de um ano do acidente. Para Duda foi e é muito difícil, cirurgias, tratamentos e o psicológico dela bem abalados. Esta semana ela se trancou e não quer falar”, contou.

Arquivo Pessoal

Thayná Cirico, 21 anos, foi a quarta vítima. Nossa reportagem tentou conversar com a jovem ou com alguém da família, mas não teve retorno.

Indenizações

Todas as cinco famílias estão na Justiça cobrando indenizações pelo acidente. Porém, segundo elas, ainda não houve acordo

“Não recebemos nada. Nem uma ligação de pêsames”, afirmou Bernardete, tia e madrinha de Amanda, e uma das principais engajadoras de protestos em relação ao caso.

“Não recebi nenhum pagamento, tudo meus pais me ajudaram a pagar. Pelo que sei todas as cinco famílias ainda estão na Justiça”, também contou Thainara.

“A pensão está sendo paga. Esse dinheiro é relacionado apenas porque minha irmã morava com ela e ajudava nas contas da casa. Mas nenhuma indenização, nem um olhar, nem um pedido de desculpas, nadinha”, confirmou Silvana.

Nossa equipe entrou em contato com os advogados de Evanio Prestini, motorista do Jaguar, porém, até a publicação da reportagem não recebemos retorno.

Processo criminal

Evanio Prestini é acusado por dois crimes de homicídio e outras três tentativas, além do crime de dirigir embriagado. Em decisão em junho do ano passado, ele irá passar por júri popular. Porém, até que todos os recursos sejam encerrados, o julgamento não poderá ser marcado.

Atualmente, o processo está parado por conta de um recurso solicitado pela defesa de Prestini, para impedir que ele vá a júri popular. O recurso está há quase sete meses aguardando decisão da Justiça.

Enquanto isso, Prestini segue aguardando o julgamento em liberdade, após decisão favorável do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), ao pedido de habeas corpus, em julho de 2019. Antes disso, ele ficou cinco meses no Presídio Regional de Blumenau. O Ministério Público até tentou fazer com que o acusado retornasse à prisão, mas o pedido foi negado.

Como condições para a liberdade, Prestini precisa comparecer em juízo a cada 30 dias para informar suas atividades e está proibido de frequentar bares ou boates. Também não pode se ausentar da cidade onde mora por mais de 30 dias, sem autorização judicial.

Prestini terá que ficar recolhido em casa entre as 20h e 6h, e em período integral nos dias de folga do trabalho. Ainda foi determinado a suspensão da habilitação para dirigir. Caso qualquer uma das condições seja descumprida, ele poderá ter a prisão novamente decretada.

No fim de 2019, a defesa do acusado tentou a liberação para que Prestini passasse a virada de ano em Balneário Camboriú com a família. Porém, o pedido foi negado pela juíza Camila Murara Nicoletti, titular da Vara Criminal da comarca de Gaspar.

Processo administrativo na PRF

O Processo Administrativo Disciplinar para investigar a conduta de três agentes que estavam de plantão no posto de Blumenau, no dia do acidente, ainda não foi concluído. De acordo com a PRF, “não há novidades sobre o caso para se divulgar”.

O processo foi aberto no dia 22 de abril de 2019, pela Corregedoria da PRF. O objetivo é averiguar por que o Jaguar dirigido por Prestini não foi interceptado na BR-470, minutos antes de invadir a pista contrária e bater contra o Pálio. Um outro motorista gravou um vídeo do Jaguar instantes antes do acidente, andando em zigue-zague, e acionou a PRF.

O processo disciplinar, aberto no dia 22 de abril, deu início a uma segunda fase da investigação. Primeiro, uma sindicância coletou informações preliminares. Com base nelas, a corregedoria decidiu que havia motivos para a avaliação disciplinar de três patrulheiros. Os nomes deles não foram divulgados.

Manifestação

Neste domingo, 23, uma manifestação será realizada em frente ao fórum de Blumenau, para cobrar por justiça pelas vítimas e aceleração do processo criminal contra Evânio Prestini. Organizado pela Elizabete, madrinha de Amanda, o evento está marcado para às 10h.

“Elas não serão mais um número, uma estatística”, o intuito é que isso não caia no esquecimento. Queremos cobrar justiça”, afirma Elizabete.

Ainda segundo ela, o evento vai ocorrer em Blumenau, não em Gaspar – onde tramita o processo – pela proximidade dos familiares e amigos, que querem participar do protesto.

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