O assunto polêmico da vez em Blumenau é a construção de duas torres residenciais e uma comercial ao lado do Parque Natural Municipal São Francisco de Assis, ou, simplesmente, Parque São Francisco, um belíssimo fragmento de floresta nativa praticamente intacta em pleno Centro de Blumenau, em área pertencente à Província Franciscana da Imaculada Conceição.

Compreende-se que a ninguém, nem a este autor, agradará a construção (este um impacto temporário) nem a posterior presença permanente dessas edificações ao lado do Parque São Francisco.

Acontece que, como todos sabem, ou deveriam saber, a origem do Parque São Francisco está visceralmente atrelada à possibilidade dessas edificações. O acordo assinado em 5 de junho de 1995, Dia Mundial do Meio Ambiente, em solenidade acontecida nas dependências do Senai, na rua São Paulo, foi ratificado pela Lei Complementar nº 99/95, permitindo a construção de prédios multifamiliares ao invés de residências unifamiliares, estas sim, ocupando muito mais área e comprometendo fatalmente a qualidade da floresta nativa do local.

No meio do caminho aconteceu a tragédia de novembro de 2008 e posterior alterações do Plano Diretor da cidade. Mais recentemente, surgiu uma nova proposta: ao invés de 5 prédios residenciais e um comercial, a Província está propondo a edificação de dois residenciais e um comercial. Isso implica aumentar alturas com diminuição da área construída total, permitindo acrescentar mais sete mil metros quadrados, de imediato, à área do Parque. Com isso, o São Francisco passa dos atuais 223 mil m² (metros quadrados) para 230 mil m², uma inquestionável vantagem para o meio ambiente e para a comunidade.

Novos redesenhos já acordados permitem que a área do Parque São Francisco aumente ainda mais, saltando para 260 mil m², destinados à proteção da biodiversidade e ao uso público de contato com a natureza. Como termo de comparação, dentro da área ampliada desse Parque Natural, caberiam seis e meio Parques Ramiro Ruediger, hoje o maior parque urbano do município.

Enquanto os prédios eram realidade distante, ninguém se incomodava. Porém, com essa realidade agora em vias de se concretizar, começaram alguns protestos e, até de certa forma, compreensível, movimento contra a sua implementação.

Acontece que o “Xópim” Neumarkt, ao que se sabe, vai construir três enormes prédios igualmente colados ao Parque São Francisco, um deles talvez em cima da tubulação do córrego ali existente e ninguém fala nada. Não houve nem audiência pública que eu saiba, muito menos estudos de impacto ambiental e sabe-se lá se já não estão aprovados pela prefeitura.

Esses prédios do “xópim”, como quaisquer outros em qualquer bairro, vão causar, naturalmente, maior adensamento populacional e impacto de vizinhança. Não haverá, porém, ao que se sabe, maiores compensações ambientais. Se houver, não chegarão nem aos pés da compensação dos prédios da Província Franciscana.

No entanto, a caça às bruxas da vez são os prédios da Província Franciscana, justo os que, em troca de ocupação de 15 mil m², doarão para a comunidade 260 mil m², uma inquestionável compensação ambiental e social para a comunidade. Por quê? Por que a briga contra os prédios da Província e não os outros?

No mesmo bairro Centro de Blumenau acontecem vários outros absurdos ambientais e, no entanto, pouco ou quase nada acontece de protesto. Como exemplos, temos a icônica e histórica prainha da Ponta Aguda, destruída por um absurdo enrocamento executado pela Prefeitura de Blumenau e ninguém, salvo este autor, está protestando.

A obra da margem esquerda segue na total contramão dos modernos conceitos de cidade-esponja. Fora o Comitê da Bacia e eu, que já publiquei uns 10 artigos a respeito, quem mais fez alguma coisa contra essa anacrônica obra que se implanta à vista de todos? Estão jogando na lata do lixo os sábios conselhos da Jica – Agência de Cooperação Internacional do Japão, que iam na mesma linha do atual conceito de cidades-esponja há mais de 20 anos e ninguém fala nada.

Pior, ao invés de ser proativa, a prefeitura ignorou recomendações de planejamento de longo prazo e permitiu a ereção de um “marmitão de vidro” de 36 andares, justo no espaço recomendado para melhorar a vazão do rio Itajaí Açu por ocasião das enchentes, critérios igualmente inseridos no conceito de cidades-esponja, ali inviabilizados pela inépcia e falta de proatividade da administração municipal.

E o Parque das Nascentes, com seu surpreendente potencial de atratividade eco-turística, deixado quase que “ao deus-dará”, cadê os protestos contra esse fato?

E onde estão os protestos contra o fechamento do Museu Fritz Müller, abandonado há dois anos, justo depois dos 200 anos do seu ilustre morador que foi um dos três maiores naturalistas MUNDIAIS do século 19?

Mas tem gente preocupada em combater a ereção de 3 prédios que resultarão na doação ao município de 260 mil m2 em troca do uso legalmente previsto de menos de 15 mil m2, numa proporção de 17,3 m2 doados para cada m² ocupado, que vão gerar a provável maior compensação ambiental conhecida no Brasil.

Há protestos contra impactos ambientais decorrentes do período de construção dos prédios VIZINHOS ao Parque, no que há que se concordar, mas, não se fala da agressão causada pela varrição de trilhas a jato de ar produzido por barulhento e poluidor motor a gasolina DENTRO do Parque. Duplo absurdo: o método usado e a varrição em si, inexplicável dentro de um parque natural.

“É preciso que eu suporte duas ou três lagartas se quiser conhecer as borboletas” diz a famosa frase de Antoine de Saint-Exupèry. Seria preciso, então, que a sociedade (este autor incluso) suporte a presença de 2 ou 3 prédios vizinhos ao Parque, se quisermos que aconteça a efetiva implementação do nosso belo e precioso Parque Natural Municipal em pleno Centro da cidade?

Sem essas edificações e sua consequente grande compensação ambiental, quais seriam então as alternativas? Comecemos por algumas que me ocorrem no momento:

⦁ O município de Blumenau declara de utilidade pública e desapropria todos os quase 300 mil metros quadrados no Centro e a cidade ganha um parque livre da vizinhança das lagartas, digo, prédios;

⦁ A sociedade se organiza numa gigantesca vaquinha e arrecada as dezenas ou centenas de milhões de reais necessários para a compra da totalidade daquela área;

⦁ A Província Franciscana faz a plena doação ao município dos quase 300 mil m² sem receber nada em troca;

⦁ Estudar a possibilidade de negociação de potencial construtivo em outros locais e bairros como compensação à abdicação, por parte da Província Franciscana, da edificação dos prédios nesse local;

⦁ Alguém sensibiliza Elon Musk ou algum outro bilionário brasileiro ou do exterior para que faça essa doação ao município.

Nesta foto, destinada a um “Baú Ambiental” do futuro, Leocarlos Sieves clica uma das belas visões do recém-inaugurado desvio da BR 101 da grande Floranópolis. Inicia-se agora um movimento para fazer deste um trecho livre de “out-doors” ou painéis de propaganda comercial que tanto maculam e infestam as paisagens das estradas brasileiras e, principalmente, de Santa Catarina.

Jamais seremos a Santa e Bela Catarina enquanto não extirparmos a poluição visual comercial de nossas estradas, que impedem que um viajante ou turista obtenha belas imagens sem que apareçam esses painéis comerciais em primeiro plano. Que se comece, então por este contorno da BR 101, declarando-se o mesmo livre de “outdoors”, à semelhança do que tanto admiramos em outros países quando para lá nos dirigimos como turistas.


Veja agora mesmo!

Feito com sangue e miúdos de pato, Schwarzsauer era tradição nos casamentos da Colônia Blumenau: