30 anos de sacerdócio, fé e dedicação: conheça a história do padre João Bachmann
Entre as diversas missas realizadas semanalmente, o sacerdote também divide o tempo com os trabalhos de acolhida de pessoas em situação de rua
Aos 55 anos, o sacerdote recorda que cortava uma banana em rodelas para usar como hóstia, servia um suco de uva que representava o vinho, e usava as toalhas de casa como a batina.
Em todas as vezes que os professores lhe questionavam sobre a carreira que desejava seguir, o jovem João nunca titubeou ao responder que gostaria de ser padre.
Anos de estudo
A família de agricultores de Guaramirim notou o interesse da criança e, talvez por esse motivo, não ficou espantada quando ele informou aos 15 anos que gostaria de entrar para o seminário logo após finalizar o ensino fundamental.
Por serem ativos na igreja, os pais Dionízio Bachmann e Terezinha Reinert Bachmann sempre deram apoio ao filho e estiveram presentes durante os 10 anos de formação seminarística.
“Meus pais eram agricultores e muito religiosos e ao mesmo tempo tinham uma participação na comunidade, na igreja. Meu pai sempre foi ministro da eucaristia, então tinha esse apoio religioso de acolhimento a vocação do sacerdócio na época”, recorda.
Aos 16 anos, ele ingressou no Seminário Menor Divino Espírito Santo, em Joinville, onde concluiu o ensino médio e iniciou o curso para sacerdócio. Três anos depois ele iniciou os estudos na faculdade de Filosofia, na época chamada de FEBE, em Brusque. Já em 1989 ele ingressou no Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC), em Florianópolis, para cursar a faculdade de Teologia. Com 25 anos, João foi ordenado padre e abraçou o sacerdócio.
Até hoje, padre João guarda com carinho as lembranças da primeira missa celebrada na cidade natal para os familiares, amigos, pais, professores e conhecidos. “Não tem valor igual, nem emoção mais natural e mais feliz que toca o coração do padre. Penso que hoje todas as missas que eu celebro, faço memória da primeira missa”. Após essa celebração, padre João ainda rezou uma missa na casa onde nasceu destinada para os pais, familiares e vizinhos do interior.
Assista entrevista com padre João Bachmann:
Em todos esses anos, padre João já realizou 13 viagens de peregrinação religiosa para o Vaticano e outras cidades com santuários católicos. Ele já teve a oportunidade de visitar os três últimos papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco. “O sentimento é de sempre voltar para igreja mãe, a igreja romana, o Vaticano, é a nossa igreja mãe do catolicismo presente no mundo inteiro. É um estado de graça, satisfação e de alegria muito grande por fazer essas visitas”.
Pelas cidades de Santa Catarina
Nos três primeiros anos de sacerdócio, padre João atuou na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Pirabeiraba, em Joinville.
A transferência para Blumenau veio em 1995, para a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Itoupava Norte, onde ele trabalhou por três anos. Depois foi designado para a Paróquia Imaculada Conceição, no Vila Nova, onde ficou por cinco anos.
Ele ainda retornou à paróquia no Itoupava Norte, onde permaneceu por mais cinco anos. Em 2008 veio a transferência para a Catedral São Paulo Apóstolo, lugar em que o padre João trabalhou durante 11 anos. Já em 2018, ele foi designado para a Paróquia Santa Inês, em Indaial, onde completará quatro anos no fim de 2022.
“Em todas as paróquias é um povo, uma missão diferenciada, é uma comunidade. Em todas elas, Joinville, Blumenau e hoje Indaial, o acolhimento sempre foi muito grande. Sempre tive muita facilidade de comunicação e de trabalho”, salienta.
Prova do carinho da comunidade são as missas cheias e com a participação da comunidade. Para o padre João, tamanho reconhecimento só mostra que as pessoas gostam do sacerdócio exercido por ele e se sentem acolhidas.
“Penso que é um carisma pessoal, que veio desde a minha infância, e sempre pude expressar de forma natural e espontânea. A cada ano que passa do meu sacerdócio eu sempre digo que faria tudo novamente, pois eu amo o que eu faço e faço o que amo”.
Após 24 anos de atuação em Blumenau, padre João comenta que tem um sentimento muito grande pelo município, onde também recebeu o título de cidadão blumenauense. “O sentimento é de amor, de ser acolhido e de quem também acolheu Blumenau no coração”.
Em todos os anos em que celebrou o sacerdócio, o padre João esteve sempre com os pais, hoje falecidos. Este será o primeiro ano em que dona Terezinha não estará presente nas festividades de aniversário de sacerdócio.
“É uma presença sem igual, pois viemos do seio dos nossos pais, da bondade e fé deles, que sempre estiveram muito presentes na minha vida”, comenta. Ele ainda recorda o hábito semanal de visitar os familiares todas as segundas-feiras, no dia conhecido como o descanso do padre. Após perder a mãe, as visitas diminuíram com o tempo.
Trabalho social
Uma das características do padre João é o trabalho social com pessoas em situação de rua. Atualmente ele tem dois projetos ativos, sendo um em Blumenau e outro em Indaial.
O padre comenta que a primeira porta que as pessoas menos favorecidas batem é a da igreja. “Eles vêm pedir comida, roupas, remédios, orientação para o acolhimento na cidade e informações. Eu sempre digo que a igreja é uma porta que tem que estar sempre aberta para essas causas sociais, pois aqui nesse mundo a igreja é um grande hospital de campanha, que está ali para trazer o remédio, a orientação através dos trabalhos de caridade e acolhimento”.
Ele também recorda do dia da celebração da ordenação, em 11 de outubro de 1992. Um evento muito grande foi realizado para comemorar a novidade. Entre as inúmeras pessoas na festa, um morador de rua chamou a atenção do padre.
“Ele queria chegar perto de mim e as pessoas que estavam na organização das festividades não queriam permitir, pois ele era um homem maltrapilho. Enquanto eles afastavam ele de mim, ele disse em voz alta ‘padre João, eu também sou filho de Deus’. Nisso os meus olhares se cruzaram com os dele e parece que ele olhou na minha alma. Eu estendi a mão por cima da cabeça das pessoas e disse ‘se queres chegar até mim, vem”.
O sacerdote recorda que o morador de rua ficou ao lado dele até o final da festa. No término dos festejos, o homem tirou um anel do bolso da calça e entregou ao padre João. “Ele disse assim: ‘recebe esse presente, coloque no dedo da sua mão esquerda e seja um padre feliz”. Depois disso, o homem se retirou da festa.
Padre João comenta que por muitos anos tentou encontrar novamente o morador de rua, mas não teve sucesso. Após muita procura, ele ouviu de uma irmã religiosa que o homem misterioso era o próprio Cristo enrustido naquela pessoa. O presente recebido há 30 anos permanece na mão do padre João até hoje. O anel tem o desenho de uma cruz e a conta de 10 aves marias.
“Por isso me sensibilizou fazer uma obra voltada para aqueles que estão em situação de rua”. Durante os anos em que atuou em Blumenau, ele criou o projeto cozinha comunitária Bom Pastor que serve inúmeras pessoas diariamente.
Após a transferência para Indaial, ele decidiu criar um novo projeto, a casa de acolhida São Francisco de Assis, que também alimenta as pessoas necessitadas, além de prestar apoio.
“São as meninas dos meus olhos. Esse trabalho continua. É uma semente forte e temos um grande número de voluntários. Eu vou sendo transferido, mas esse trabalho vai ficando onde nós conseguimos plantar com muito sacrifício, oração, dedicação e muito empenho”, finaliza.