Capa: Adolph Friedrich Wilhelm Busch fundou a primeira fábrica de fósforo na Colônia Blumenau – na Wurststrasse. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. 

A primeira fábrica de fósforos instalada na Colônia Blumenau pertencia  a Adolph Friedrich Wilhelm Busch – conhecido como Guilherme Busch Sr.. Também foi o proprietário do primeiro automóvel de Santa Catarina, bem como responsável por instalar a primeira hidrelétrica de Blumenau e de Santa Catarina, justamente para alimentar essa fábrica e outras, e a iluminação elétrica instalada de maneira pioneira, em 1909. Com isso, também foi pioneiro em projetar filmes, fato viabilizado pela produção de energia elétrica.

Residência de Frederico Guilherme Busch na Wurststrasse, Estrada da Linguiça – atual Rua XV de Novembro, na atualidade.
Residência de Frederico Guilherme Busch na Wurststrasse, Estrada da Linguiça – atual Rua XV de Novembro, dentro do processo do tempo histórico e a transformação da paisagem e da própria arquitetura.

Adolph Friedrich Wilhelm Busch – Adolfo Frederico Guilherme Busch, conhecido como Guilherme Busch Sr., conheceu Blumenau em 1888, com 22 anos de idade.

Guilherme Busch nasceu em Santo Amaro da Imperatriz, território de Palhoça, em 29 de dezembro de 1865. Era filho do comerciante e carpinteiro de Nossa Senhora do Desterro, Wilhelm Busch. Seu pai fazia comércio de importação e exportação na Rua Altino Correa (atual Conselheiro Mafra).

Ao se instalar em Blumenau, abriu um comércio para exportação de manteiga, queijo, banha e outros produtos oriundos das propriedades coloniais localizadas nas nucleações urbanas instaladas acima do Stadtplatz de Blumenau.

Essa prática atendia ao objetivo do fundador quando fundou sua colônia seguindo o ideário fisiocrata do economista francês Quasnay – criou uma colônia agrícola, de onde o excedente gerado seria beneficiado em fábricas, o que impulsionou a industrialização não somente na região, mas no estado de Santa Catarina.

Em um primeiro momento, todos eram colonos participantes de uma só sociedade, o Kulturverein, fundado em 19 de julho de 1863. Em pouco tempo, não existia mais somente uma sociedade. Com a estruturação da colônia na base social, surgiram outras classes e sociedades afins, que defendiam seus próprios interesses a partir dos grupos da indústria, do comércio e do produtor de matéria-prima que era o agricultor e que, muitas vezes, simultaneamente, também era funcionário da fábrica de processamento alimentício, acumulando duas jornadas de trabalho.

Desenho ilustrativo nosso, apresentando a pequena fábrica alimentícia do Vale do Itajaí, que também era a propriedade colonial, onde, igualmente era beneficiado e guardado o excedente de alimentos, matéria prima das primeiras fábricas da região.

Um exemplo destas novas sociedades foi a fundação, em 5 de novembro de 1901, da conhecida ACIB – Associação Empresarial de Blumenau, que tinha como um de seus objetivos, melhor preço da matéria-prima, neste momento não mais com interesses emparelhados.

Guilherme Busch se casou com Marie Clara Probst, de Blumenau, filha de Heinrich Probst e Caroline Köehler Probst, em 3 de outubro de 1890. Marie Clara (Probst) Busch faleceu em 28 de março de 1900, durante um parto, deixando quatro filhos pequenos: Cecilia, Gustavo, Frederico Guilherme Busch Jr. e Martha Juliane (falecida em 1897, com 6 anos e meio de idade). Um pouco mais de três meses depois, Guilherme Busch Sr. se casou com sua cunhada, Ottilie Johanna Dorothea, em 14 de junho de 1900.

Com a 2ª esposa, Otillie, Guilherme Busch teve mais 3 filhos, sendo que 2 faleceram cedo: Harry Carl (com 8 dias de vida) e Edith Agnes Auguste (com 2 anos).

Guilherme Busch Sr., que teve um filho com seu nome (foi prefeito de Blumenau por 3 gestões, denominado Guilherme Busch Jr.) atuou em muitas áreas na cidade de Blumenau e região: alfaiataria, exportação de laticínios e agente empresarial, trazendo para Blumenau a 1ª Companhia Lírica, em 1900.
Em 1903, Busch adquiriu um automóvel, importado dos Estados Unidos da América. É considerado o primeiro automóvel da região e um dos primeiros do Brasil, movido a vapor. De acordo com informações de Adalberto Day, este automóvel – um Ford Model “A” -, ficou por muito tempo no parque fabril da empresa Garcia, da qual Busch era sócio e integrante da diretoria. Em torno de 1940, o primeiro veículo motorizado de Blumenau foi enterrado para dar lugar à construção de novas edificações.

Foi publicada uma nota na revista Blumenau em Cadernos, tomo IX, maio de 1968, n.5, p. 100, comentando o fato e o desejo de se ter uma ferrovia no Vale do Itajaí. Transcrição a seguir.

“Foi nas ruas de Blumenau que começou a rodar o primeiro automóvel que Santa Catarina viu. Isso foi em 24 de setembro de 1903. E quem importava o revolucionário veículo da América do Norte fora o senhor Frederico Guilherme Busch. A respeito, o “Urwaldsbote” nº 13 daquele mês e ano publicava a seguinte nota: “os modernos meios de comunicação já estão invadindo o sertão. Na semana passada, podemos ver pela primeira vez, nas ruas de Blumenau, um veículo automotor. O proprietário desse meio de transporte é o Sr. Frederico Busch, que adquiriu na América do Norte. A nossa civilização está progredindo. Ainda há bem pouco tempo, o velocípede era, aqui, uma curiosidade e agora já temos inúmeros dêles. Até já nos acostumamos a ver senhoras montadas em velocípedes. Do velocípede passamos agora para o automóvel. Infelizmente ainda falta o mais necessário: a estrada de ferro. Quando será que ouviremos seu apito?”

Primeiro automóvel de Blumenau e de Santa Catarina – Família Busch. Foto do livro a Ferrovia no Vale do Itajaí – Estrada de Ferro Santa Catarina.

Lendo a citação, pareceu-nos uma previsão. O apito da primeira viagem de trem na região aconteceu somente 6 anos depois, quando foi inaugurado o primeiro trecho da Estrada de Ferro Santa Catarina – EFSC – 3 de maio de 1909 – ligando a sede da Colônia Blumenau a Warnow – Indaial.

Estação de Warnow em festa, no dia da inauguração do primeiro trecho ferroviário, 3 de maio de 1909 – Blumenau a Warnow – Indaial. Fonte: HENKELS e HABITZREUTER, 2009.

A fábrica de fósforos

Em 1906, Busch inaugura a fábrica de fósforos, a Phosphoros Catharinenses.
Conseguiu automatizar a manufatura de fósforo porque em 1905, havia conseguido uma autorização para produzir e fornecer energia elétrica.

Instalou a primeira usina hidrelétrica da Colônia Blumenau e de Santa Catarina, em Gaspar Alto – ainda no início do século XX. A execução da hidrelétrica durou quase cinco anos, pela necessidade de levar os cabos, para a distribuição da energia elétrica, que foi gerada em sua propriedade. Também a cidade de Blumenau foi a primeira cidade catarinense a ter iluminação pública, que aconteceu em 9 de fevereiro de 1909, quando foram instaladas 116 lâmpadas pela empresa de Guilherme Busch Sr.. Algumas residências também receberam o conforto da nova tecnologia, e também outros proprietários de fábricas e comerciantes, graças ao excedente da produção elétrica.

O trole está “estacionado”, mais ou menos na frente da residência de Guilherme Busch Sr. (Frente do atual Banco do Brasil), na rua XV de Novembro. Observar os postes de energia elétrica, pioneiramente instalados na cidade de Blumenau. Observar que belíssima tipologia construída com técnica construtiva enxaimel, com a volumetria da residência Busch. Chegamos a ficar em dúvida se não era a mesma, rebocada. Posteriormente, encontramos um registro anterior a esta data que a residência já estava rebocada. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Talvez por ser pequena, essa primeira hidrelétrica não tenha sido contemplada na história do estado de Santa Catarina. Mas não se pode negar seu pioneirismo, visto ter sido construída antes da Usina Salto e de qualquer outra hidrelétrica no Estado.

A fábrica de fósforos de Frederico Guilherme Busch estava instalada na Wurststrasse, Estrada da Linguiça – atual Rua XV de Novembro, onde está o atual Shopping da XV.

Local da Fábrica de Fósforos de Frederico Guilherme Busch e sua residência na Rua XV de Novembro – Blumenau. fonte: Google Earth – modificada.

Guilherme Busch Sr. instalou a fábrica de fósforos em 1906, na Rua XV de Novembro, local na fotografia anterior.

Inicialmente os palitos – matéria prima  – eram importados da Rússia. Posteriormente, passaram a ser produzidos com madeira nacional.

Como isso aconteceu?

Busch escolheu nove ou dez amostras de espécies de madeira nativa, que eram muitas, e enviou-as para a Alemanha, com o objetivo de que fossem feitas as experiências necessárias e fosse separada a madeira que mais bem se adaptasse a ser palitos de fósforo. Foi escolhida a madeira de imbaúba pelos técnicos alemães. Afirmaram que essa madeira possuía inflamabilidade muito superior à do pinho, embora tivesse o defeito de ser mais quebradiça.
Os fósforos produzidos pela fábrica Busch denominavam-se Catarinenses, Dominó e 10.000.

Imbaúba.

Para ilustrar as caixinhas, que variavam de denominação, utilizava-se da arte para criar os rótulos, os quais traziam a identificação impressa B. Scheidemantel – Blumenau.

Bernhard Scheidemantel.

Bernhard Scheidemantel: Considerado o pioneiro da fotografia na Colônia Blumenau. Foi desenhista, fotógrafo e jornalista. Nasceu no ano de 1834 no território que mais tarde seria a Alemanha (1871). Chegou com sua família à Colônia Blumenau, com 25 anos de idade, no ano  de 1859. Com vocação para o desenho, não foi preciso muito tempo para tornar-se jornalista e um dos principais chargistas, além de ilustrador fundador do Jornal  Immigrant, em 1883. Durante 9 anos foi o editor da publicação do jornalFaleceu com 74 anos, no dia 18 de outubro de 1908.

Nos seus primeiros momentos de existência, a fábrica possuía 15 funcionários e sua produção girava em torno de 1800 a 2000 caixas mensais, cada uma com 120 pacotes de 10 caixinhas de fósforo, com a marca Dominó.

Um pouco mais sobre a história de Adolph Friedrich Wilhelm Busch – Guilherme Busch – em Blumenau

Para registro, Guilherme Busch Sr. foi o responsável por importar um Cinematógrapho, com exibidor ambulante e fixo, um projetor da empresa Wesphalen & Cia. (Hamburg), e filmes da Pathé Frères (Paris). Acreditávamos ter encontrado uma máquina semelhante a esta no antigo ginástico, quando estivemos pesquisando no local, mas estudando melhor, não confere. Mas deveria ser algo semelhante.
Em 1908, foram amplamente noticiadas as atividades de Busch Sr. com projeção de filmes, no Club Guarany, em Itajaí.

A máquina que está no Ginástico de Blumenau é um epidiascópio, que é tipo de projetor de slydes, mas pode-se imaginar algo semelhante. O epidiascópio é para uso doméstico e é um aparelho de projeção que pode projetar objetos opacos – como cartões postais ou pedrinhas – em uma tela por meio de um sistema de luz e espelhos. Em registros antigos que menciona o equipamento, há elogios – mencionando o aparelho como “fonte de entretenimento e educação”. Este foi fabricado em Düsseldorf, Alemanha, onde sua fábrica era um dos maiores fornecedores de ferramentas visuais.
Cine Busch I.

Em 1906, com a chegada da luz elétrica (antes de Florianópolis) – também contribuição tecnológica de Busch Sr., as projeções de filmes foram viabilizadas. Alguns dos primeiros filmes projetados no Salão Holetz foram: Der Koffer aus Barmen – O Baú do Barmen; Der Mysteriöse Schrank – O Armário Misterioso; Der Wunderbare Bienenkorb – A Maravilhosa Cesta de Abelhas; Ehre eines Vaters – Honra de um Pai, entre outros.
Em 30 de abril de 1913, Guilherme Busch Sr. lançou no rio Itajaí-Açu o 1º barco a motor – o Gustavo. Possuía dois motores tipo Daimler de 50 cavalos com capacidade para 60 passageiros, fazendo o percurso Blumenau-Itajaí em 8 horas, podendo-se ir e voltar no mesmo dia, o que não acontecia até então.

Barco a motor – Gustavo, começou a navegar nas águas do rio Itajaí-Açu em 30 de abril de 1913.

Em sociedade com seu sogro, Heinrich Probst e Louis Hermann Schtleben, no início do século XX, por volta de 1900, adquiriu a empresa que seria conhecida mais tarde como Empresa Industrial Garcia, antiga fábrica de Johann Heinrich Grevsmuhl, fundada em 1868.

Empresa Industrial Garcia, local onde está “sepultado” o primeiro automóvel de Blumenau.

Em maio de 1914, Guilherme Busch introduziu o primeiro ônibus motorizado, para transporte público,  com capacidade para 12 passageiros sentados e 2 em pé, fazendo o percurso entre a centralidade de Blumenau e a comunidade de Itoupava Seca.

Transporte público em Blumenau foi iniciativa de Guilherme Busch Sr. Linha entre a centralidade de Blumenau e Itoupava Seca.

Em 26 de julho de 1921, o Cine Busch exibiu o primeiro filme colorizado – Der Fluch der Vergangenheit (A Maldição do Passado). Uma curiosidade: na bilheteria não era aceito dinheiro, mas sim 25 caixinhas vazias de fósforos da marca Dominó, da empresa de Guilherme Busch Sr..
Após mais de 30 anos na atividade de exibidor cinematográfico, em 1940, em plena guerra mundial, três anos antes de falecer, inaugurou-se a nova sala do Cine Busch, na Alameda Rio Branco, com capacidade para 1.323 pessoas, tendo permanecido em atividade até 20 de outubro de 1993. O cine Busch II marcou época nesse espaço por cerca de 40 anos (local em que, por 40 anos, Herbert Holetz trabalhou de lanterninha a gerente).

Gilberto Gerlach e Herbert Holetz. Encontro dos Pescadores de Ilusões no Museu de Arte em Blumenau. Março de 2011 – Fotografia de Renato Rizzaro.

A estreia aconteceu em 29 de junho de 1940, um sábado, às 20h, com a produção alemã Mädchenjahre einer Königin – O Favorito da Rainha, (Erich Engel, 1936). No dia seguinte, domingo, a comédia foi projetada – o musical Rosalie (W.S. Van Dyke, 1937).

Cine Busch II, recém inaugurado. Fonte: Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.

Adolph Friedrich Wilhelm Busch, ou Guilherme Busch Sr. como ficou conhecido, faleceu em 26 de julho de 1943 e está sepultado no histórico cemitério Luterano Centro – Blumenau, onde também está sepultado Guilherme Busch Jr.

Túmulo de Guilherme Busch Sr. Cemitério Luterano Centro – Blumenau.

Um registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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 Leituras Complementares – Para ler, basta clicar sobre o título escolhido.

  1. Quase tudo sobre a Estrada de Ferro Santa Catarina à Ferrovia da Integração
  2. Blumenau – Frederico Guilherme Busch.
  3. Colônia Blumenau – Final do Século XIX – Fotografias de Bernhard Scheidemantel
  4. Usina do Salto – Ponte de Ferro e Rio Itajaí Açú
  5. Gilberto Schmidt Gerlach
  6. Cemitério I – Local de Visitação e História – Cemitério Luterano Centro – Blumenau

Referências

  • Adalberto Day. Frederico Guilherme Busch. 21 de maio de 2008. disponível em: https://adalbertoday.blogspot.com/2008/05/frederico-guilherme-busch.html. Acesso em: 9 de julho de 2024 – 15h23.
  • CENTENÁRIO DE BLUMENAU: 1850 – 2 de setembro de 1950. Blumenau: Comissão de festejos. 1950. 
  • Agência de Notícias SECOM Governo do Estado de Santa Catarina. Governo do Estado autoriza reforma geral na EEB Pedro II em Blumenau. 28 de maio de 2020. Disponível em https://estado.sc.gov.br/noticias/governo-do-estado-autoriza-reforma-geral-na-eeb-pedro-ii-em-blumenau/ . Acesso em 12 de junho de 2024 , 10h54.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José : Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
  • HENKELS, Luiz Carlos, HABITZREUTER, Rubens Roberto. Estrada de Ferro Santa Catarina – 1909-2009. Consórcio Empresarial Salto Pilão – CESAP. Santa Catarina, 2009. 192p.:il; 23x31cm.
  • WITTMANN, Angelina. A Ferrovia no Vale do Itajaí: A Estrada de Ferro Santa Catarina. Blumenau. Edifurb, 2010.