Capa: Montagem a partir de imagens retiradas do Google Maps, para se ter e a impressão do tamanho da principal fachada fabril da Porcelana Schmidt localizada na Rua Luiz Abry.

Os períodos de festas e encontros de família, remetem-nos à tradição e à história com base nos relatos dessas famílias. Fazem-nos lembrar da mesa em torno da qual reunia-se e ainda se reúne a família.

Não há residência, na região ou no estado de Santa Catarina, que não conheça a Porcelana Schmidt, tradição repassada de geração a geração, de pai para filho, há algumas décadas.

Logomarca da coroa surgiu com a Porcelana Real em 23 de setembro de 1943.

Exemplificando, nós comemoramos as Bodas de Prata – 25 anos de casamento, em 2009 – e fomos presenteados com um par de xícaras de chá, decoradas com os motivos da celebração das bodas de prata, da tradicional porcelana produzida em Pomerode.

Um dia depois, a sogra nos presenteou com o jogo de um par de xícaras que ela e o sogro receberam no dia das comemorações de seu casamento de prata. Neste dia, também repassou para nosso cuidado, o par de xícaras que sua mãe e seu pai receberam nas comemorações de seu casamento de prata – jogo pertencente à Oma e ao Opa do marido – família Goll.

A Oma Anna Frieda (Lorenz) nasceu no final do século XIX, em 1898, na cidade de Dresden – Alemanha. Todas as peças, de três gerações foram produzidas pela Porcelana Schmidt.

O primeiro jogo, recebemos em nossas bodas de prata, o segundo, os pais do marido e o terceiro seus avós.
Peças da Porcelana Schmidt de três gerações.

Também, conversando com um maestro sobre a Porcelana Schmidt, ele contou, que seus avós maternos, presentearam as três filhas, no dia de seu casamento, com um jogo completo de jantar da Porcelana Schmidt, entre elas, sua mãe, que guarda o jogo, com grande zelo, até os dias atuais.

Faz parte da tradição das mesas daqueles que formavam e formam sua casa, ter um jogo de jantar da Porcelana Schmidt para melhor servir seus visitantes, através de uma mesa bonita e bem “vestida” com toalhas ricamente bordadas, também herança cultural dos enxovais e existiam muito antes dos “bordados da casa Meyer”.

Pequeno vaso que pertenceu a Anna Frieda Goll – a Oma.
Prato de Bodas de Prata que pertenceu a Anna Frieda Goll – a Oma.
Presente de Orla Kadletz, filha de Frederico Kilian, filho de Otto Sttutzer.
Prato de comemoração adquirido na Associação da Empresa aniversariante – Malwee Malhas.
Na Porcelana Schmidt, Pomerode SC.

Alguns anos atrás, a sogra narrou uma história. Lembrou que uma amiga de sua mãe (geração nascida no final do século XIX) e colega de trabalho na Cia. Hering, decidiu deixar de ser uma das tecelãs daquela empresa e se juntar à sua família para fundar a Porcelana Schmidt, em 1945.
Vamos conhecer um pouco mais dessa história e sua tradição, que transpassa gerações não somente na região, no Brasil, mas além das fronteiras nacionais, e depois comentaremos sobre a colega da Oma.

É um conjunto arquitetônico característico, em tijolos à vista a partir de composições longas cobertas com dois panos de telhados, lembrando a casa do imigrante, com alguns destes construídos em madeira. entre eles está a primeira construção fabril.
Detalhes das composições arquitetônica da firma fundada em 1945 na cidade de Pomerode.
As primeiras construções, em madeira ainda estão, historicamente, no local.
Rua estreita que marca a quadra ocupada pelo prédio fabril da Porcelana Schmidt.

Localização

A Porcelana Schmidt ocupa uma grande área entre duas importantes ruas de Pomerode, marcada pela Rua Jaraguá. Grande parte de seu parque fabril está localizado entre as ruas Luiz Abry e Avenida 21 de janeiro, no centro de Pomerode, SC.

Detalhes destacado da Rua Jaraguá que cria uma caminho muito bonito entre as duas ruas que delimitam a quadra ocupada pela fábrica de cerâmica, há quase oito décadas.
Observar o “grão” da fábrica da Porcelana Schmidt com os demais formadores da malha urbana da cidade. Na paisagem urbana inexiste impacto visual.

Um pouco de História

Porcelana Schmidt
A imigração

Como em toda a antiga Colônia Blumenau, os imigrantes, alemães e italianos recebiam lotes coloniais para se instalar com sua família. Produziam, com base na agricultura e na pecuária de subsistência, seus primeiros sustentos, os quais também, um tempo depois, forneciam matéria prima às primeiras fábricas alimentícias da região e do Estado de Santa Catarina. Foram, assim, responsáveis pela industrialização do Estado, bem como pelo surgimento de povoações no interior de seu território.

Com exceção de Lages, somente o litoral era povoado em Santa Catarina até iniciar a colonização no Vale do Itajaí e no Vale do Itapocu. Para estes primeiros pioneiros do Vale do Itajaí, que eram colonos, pois recebiam uma colônia para desenvolver sem exceções, como tentam alguns, também aconteceu no Vale do Testo, pertencente a Bacia do Itajaí. Em toda a região da Bacia do Itajaí, os rios eram os primeiros caminhos e, a partir deles, eram desenhados os lotes coloniais com a devida acessibilidade, garantindo, igualmente o abastecimento de água.

Traçado dos primeiros lotes coloniais da Colônia Blumenau (1864). Fonte: Fundação Cultural de Blumenau – Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Mapa feito por José Deeke, 1864 – Alterado por WITTMANN publicado no livro A Ferrovia no Vale do Itajaí Estrada de Ferro Santa Catarina.
Lotes Coloniais estruturados a partir dos rios e ribeirões locais.

Os primeiros colonos, como eram conhecidos esses imigrantes, cultivavam arroz, fumo, batata, mandioca, cana de açúcar, milho e feijão, como também criavam gado leiteiro e suíno.

A comunidade de Pomerode, cujo território era parte do território da Colônia Blumenau (até 1958), mais ou menos início do século XX, era uma comunidade com atividades quase exclusivamente voltadas para a agricultura e para a pecuária de subsistência, dotada de um pequeno comercio na área central da povoação. Era uma comunidade sustentável, quase autossuficiente.

Paisagem do Vale do Rio do Testo – Virada do Século XIX para o Século XX.
Prato em Porcelana Delf, com cenas do cotidiano (Século XVII) – Holanda. Johann Friedrich Bottger.
Johann Friedrich Bottger.

A partir da primeira metade do século XX, surgiram as primeiras indústrias na região, como: Weege Indústria Alimentícia e a Porcelana Schmidt.

Destacamos que a indústria de porcelana chegou à Europa, somente dois séculos e meio antes da fundação da Porcelana Schmidt, em Pomerode. Na Alemanha, a porcelana ficou conhecida e foi produzida, somente no século XVIII, mais ou menos na mesa época em que os primeiros imigrantes se deslocaram para a região do Vale do Itajaí – Colônia Blumenau.

Era algo muito novo, que teve origem no oriente – China, entre os séculos VII e X. Só a título de informação, a porcelana nasceu, da mistura de dois minérios: Feldspato e caulim. Quando estes eram aquecidos a grande temperatura, o feldspato, vitrificava e o caulim, viabilizava a forma. Atualmente, são usados na fórmula, de maneira básica: Quartzo, caulim, feldspato e argila.

Marco Polo viajante/mercador/explorador/veneziano- 1250/1324, conhecendo o yao (expressão chinesa para a porcelana) batiza as peças de porcellana (fazendo alusão a um molusco de concha branca e brilhante).

Tentando imitar a porcelana chinesa, os italianos descobriram outra fórmula à base de argila e vidro – fabricada em Florença, por volta de 1575. Tinha uma estrutura mais mole e frágil.

Foi somente em 1707 que Johann Friedrich Bottger e Ehrenfried Walter von Tschirnhaus – químicos alemães –  conseguiram desvendar a fórmula da verdadeira cerâmica chinesa. Somente dois séculos e meio antes dos estudos de um jovem de 16 anos, que saiu de Blumenau, para estudar todo este processo na Alemanha e contribuiu para criar uma tradição no Sul do Brasil.

Em 1929, um filho de pioneiro e descendentes de Dr. Fritz Müller, na Colônia Blumenau – Fritz Lorenz, o mesmo pioneiro e desbravador que construiu a Cia Lorenz, entre outras alternativas, patrocinou os estudos do neto de sua tia Selma, irmã de sua mãe Thusnelda, ambas filhas de Dr. Fritz Müller (Dr Johann Freidrich Theodor Müller – (1822-1897)). O neto de Selma era Fritz  Erwin Schmidt.

Quem foi Fritz Lorenz, o mentor da ideia da cerâmica?

Friederich Fritz Carl Lorenz ou Fritz Lorenz, nasceu na localidade de Tatutiba, que pertencia a Blumenau e localizada no atual município de Massaranduba, em 16 agosto 1882 – filho de Robert Lorenz (1851–1896) e Thusnelda Lorenz (1860–1937). Sua mãe era filha do Dr. Fritz Müller (1822–1897) e de Karoline (Thöllner) Müller (1826–1894).

A assinatura de Thusnelda Lorenz no mesmo documento que está a assinatura de seu segundo marido, Richard Paul. Documento de nascimento original, de um dos seus filhos.

Em 1897, com cinco anos de idade, Lorenz foi morar com os avós Fritz Müller e Karoline Müller, que foram responsáveis por sua educação e criação, até quando Lorenz tinha 14 anos de idade. Este episódio de sua vida, nos faz concluir que, de fato, seus pais não permaneceram casados. Na casa de seus avós Müller, período onde conheceu muito bem sua tia Selma (1863–1948), e toda sua família, incluindo o seu tio Peter Wilhelm Johannes Schmidt (1822–1897) e do neto de Selma e de Peter, Fritz Erwin Schmidt, filho de Hans Ernst Schmidt.

Robert Lorenz faleceu em São Paulo, depois que Thusnelda já tinha família com Richard Paul. A impressão é de que os pais de Fritz Lorenz não tiveram uma união feliz. aparentemente, um dos motivos por ter ido morar com seus avós maternos.

Em 1902, com 20 anos de idade, Lorenz viajou para a Alemanha. Quando retornou, trabalhou na Firma de Koehler & Asseburg, no Paraná. Casou-se em 1909 com Marie e, mais tarde, assumiu, em companhia de seu irmão Johannes Hans Lorenz, a direção da firma de seu meio irmão, Richard Paul, em Timbó. Lembre-se que todas estas localidades faziam parte do grande território da Colônia Blumenau.

Os irmãos Lorenz compraram a firma do meio irmão, Paul e então, fundaram a primeira fecularia de um total de 12, no Vale do Itajaí, na comunidade de Encano e uma outra em Campo Alegre. Produziam maisena e fécula de batata. Johannes Hans Lorenz se mudou para Blumenau, para se dedicar inteiramente às indústrias de fécula – na Altona. Friederich Fritz Carl Lorenz, o Fritz, ficou com a direção da firma em Timbó, adquirindo posteriormente a parte do irmão.

Investiu em produtos e beneficiamento (criação de porcos, banha, fumo, arroz, queijos, conservas e serraria). Esse ramo o aproximou da região do extremo Oeste quando foi informado de que estava perdendo negócios para aquela região, mais especificamente em Videira que era munida de uma estação ferroviária.

Essa história é muito curiosa.
Fritz Lorenz ao perceber que sua firma do Vale do Itajaí perdia o mercado de São Paulo para uma firma do Meio Oeste do estado, viajou para a região para conhecer o concorrente, que no caso era a família Frey, que contava com a presença do modal ferroviário viabilizaram seus negócios no mercado paulista. Este quadro fez com que Lorenz fundasse um frigorífico naquela região, igualmente.

Acreditou ser esta a única questão que o diferenciava da firma dos Frey que tinham a matéria prima dos italianos, fornecedores de matéria prima desde o início dos negócios da família. Mas também havia a questão do modal de transporte, seguro, pontual e barato que era o ferroviário, cuja estação de Perdizes esteva próximo a Firma dos Frey.

O modal ferroviário próximo a firma dos Frey e que ligava o local de produção diretamente com o mercado paulista, responsável pelo custo final do produto naquele mercado e, que não existia em Blumenau, Pomerode e Timbó (EFSC a ferrovia do Vale do Itajaí, era uma ferrovia isolada de outros troncais e não chegava até São Paulo). Não demorou muito e Fritz Lorenz vendeu seu frigorífero para os Frey.

Em 1938, após a partida e o encerramento dos negócios dos Lorenz, os irmãos Renê e Arnoldo Frey formaram uma sociedade com Luiz Kellermann, funcionário do Frigorífico Fritz Lorenz, com intenção de aumentar o capital para investir na expansão dos negócios da família. A sociedade recebeu o nome de Sociedade Catarinense Casa da Banha Ltda., que foi o embrião da empresa Perdigão. Fritz Lorenz, juntamente com Renê Carlos Fray e Luiz Kellerman, também foram responsáveis pela construção da primeira ponte, que foi edificada com a técnica enxaimel, sobre o Rio do Peixe, na cidade de Videira.

Luiz Kellermann era funcionário de Fritz Lorenz em Perdizes – atual Videira.

Lorenz voltou sua atenção para os negócios da família no Vale do Itajaí, onde seu centro industrial se localizava no bairro Encano (divisa com Indaial) e tinha diversas beneficiadoras. Em um desses negócios, Fritz Lorenz se encantou com a cerâmica, ocasião em que, em 1929, pagou os estudos na Alemanha, do neto de sua tia Selma, Fritz Erwin Schmidt, que tinha 16 anos de idade.

Fora conhecer o ofício da cerâmica e, a partir de sua iniciativa e ação, iniciou um novo capítulo da história do Vale do Itajaí. Fritz Lorenz faleceu em Blumenau, em 22 de abril de 1959, quando já havia sido fundada a Porcelana Schmidt, em Pomerode. Vamos conhecer cada uma das etapas dessa história que deve sua existência ao seu protagonismo.

Companhia Lorenz – encano Indaial, pintura do alemão Heinrich Graf, que foi doada ao Museu de Arte de Blumenau em 2023 – e da qual foi feita essa fotografia.
Cerâmica Bunzlau.

Fritz Erwin Schmidt, neto da tia de Fritz Lorenz, e patrocinado por ele para estudar o ofício da cerâmica, embarcou para a Alemanha em 8 de abril daquele ano, com 16 anos de idade, para estudar na cidade de Bundslau, onde permaneceu por 4 anos. Também estudou as técnicas de fabricação de artigos de barro do tipo Bunzlau, uma espécie de grês fino, muito conhecido na época.

Genealogia de Fritz Erwin Schmidt

Fritz Erwin Schmidt nasceu em 9 de abril de 1913, em Blumenau. Seus pais foram Hans Ernst Schmidt (1886-1961) e Emmy Paula Schmidt (nascida Heilmann). Seu avô paterno foi o pioneiro Johannes Peter Wilheim Schmidt. Chegou ao Brasil em 1879. Sua avó paterna foi Selma, filha do Dr. Fritz Müller, irmã da mãe de Fritz Lorenz, seu benfeitor.

Sua mãe Selma, curiosamente, nasceu em Nossa Senhora do Desterro, na época em que Fritz Müller, contra sua vontade, foi “orientado” por Hermann Blumenau, de que aquele era um lugar bom para ele residir e criar sua família lecionando na escola alemã. Seus avós maternos, foram: Friedrerich Otto Heilmann e Maria Maria Margarethe Heilmann (Voss) – pioneiros que chegaram a Blumenau em 1878.

Em 2 de junho de 1933, Fritz Erwin Schmidt se formou e retornou ao Brasil com o diploma de ceramista.

Lembramos que esta atividade industrial era muito recente na Alemanha – século XVIII. Com o retorno de seu pupilo, neto de sua tia Selma, da Alemanha para o Brasil, Fritz Lorenz foi ousado mais uma vez e fundou uma fábrica de cerâmicas de Bundslau, na cidade de Blumenau. Quem sabia dessa história? Mas não deu certo.

A  fábrica não vingou. Lorenz, ousou mais ainda. Montou, então uma fábrica de Grés, em Mauá – estado de São Paulo, em 23 de setembro de 1933. A fábrica produzia uma porcelana a partir de pastas de quartzo, feldspato e caulino. Sua nova tentativa de fazer uma fábrica de porcelana, também não teve êxito.

Lorenz concluiu que o público brasileiro não apreciava este produto. Observando toda esta movimentação, Hans Altenburg – amigo de Lorenz em Itoupava Seca, sugeriu para que abrisse uma fábrica de porcelana de laboratório. Foi a primeira fábrica a produzir estes produtos no Brasil. Lorenz inaugura a fábrica – Porcelana Mauá – em 1937 e contava com o trabalho e conhecimento de Fritz Erwin Schmidt.

Dr. Johann Friedrich Theodor Müller – Dr. Fritz Müller.

Neste momento, também, foram empregados outros membros da Família Schmidt, que tiveram uma formação técnica, através de Fritz Erwin Schmidt, com o repasse do conhecimento técnico adquirido na Alemanha e custeado por Fritz Lorenz.
Em 29 de março de 1941, em São Paulo, Fritz Erwin Schmidt se casa com Gertrud Bieging, filha de Johanna e Gustav Bieging, com quem teve o primogênito – Frederico João Schmidt.

Certidão de casamento de Fritz Erwin Schmidt e Gertrud Bieging.

A fábrica de Mauá foi bem até os Schmidt’s saírem do corpo de colaboradores, na década de 1940. O motivo da saída? Não está muito claro. Algumas fontes apresentam a justificativa de sua saída, causada por desentendimentos com herdeiros de Fritz Lorenz, após sua morte, o que aconteceu somente em 1959. Há algum conflito de informações e datas.
Aparentemente os Schmidt’s saíram da Mauá, quase 20 anos antes da morte de Franz Lorenz. Isso aconteceu em 28 de maio de 1942, quando Fritz Erwin Schmidt se desligou da Porcelana Mauá e pediu demissão. Com ele, os demais familiares, técnicos especializados que trabalhavam na Indústria também. Fritz Lorenz faleceu em 22 de abril de 1959. Seus herdeiros eram: Charlotte Ilse Lorenz (1912–2014), Friedrich Lorenz (1915–), Loreni Lorenz (1919–1922), Erica Lorenz (1919–1922), Käthe Lorenz e Lenni Lorenz. Sem o clã dos Schmidt’s, e outros que os acompanharam, a Porcelana Mauá chegou a parar sua produção por algum tempo.

Fritz Erwin Schmidt e seus irmãos, fundaram (após trabalharem em outras cerâmicas, como: Céramus e Matarazzo, em 23 de setembro de 1943) a Porcelana Real S/A, também em Mauá – no local da Porcelana de Fritz Lorenz. Também em 1943, na Porcelana Real, foi fabricado o primeiro jogo de jantar completo de porcelana branca, no país e na América do Sul. Nesta porcelana, trabalhou a personalidade histórica, cuja história resgatamos através de seu local de trabalho, atendendo a pedidos da Alemanha, Otto Frity Rebling. Link disponível nas referências.

Letra de Otto Frity Rebling no carimbo. Selo da Porcelana Real. Data 26 de julho de 1953.

Em 1945, a Família Schmidt decidiu se mudar novamente para Santa Catarina, onde estava a origem de sua família no Brasil. Tinha a ideia fixa de fundar a Porcelana Schmidt que aconteceu em 19 de dezembro do mesmo ano.
Os fundadores, juntamente com Hans Erwig Schmidt, foram: Hans Ernst Schmidt, Ailhen Krämer, Arthur Leopold Schmidt e Rodolph Pedro Schmidt.
A Porcelana Schmidt, foi a 3° fábrica de cerâmica do Brasil.
A nova porcelana foi instalada em um galpão de madeira – primeiras instalações, na cidade de Pomerode – SC e que ainda se encontra no local. Fotografamo-lo em 2013.

Local das primeiras instalações da fábrica de porcelana.

Em pouco tempo de atividade, a empresa teve acentuado crescimento motivada pela moderna tecnologia e aumento de sua capacidade produtiva – no período do pós-guerra.

Pomerode na década de 70 do século passado – Sua História confunde-se com a História da Porcelana Schmidt.

Quanto a História da colega da Oma que trabalhava na Cia Hering e saiu para fundar a Porcelana Schmidt, há um sentido histórico nesse fato. A Família Schmidt era grande e a maioria de seus membros se mobilizaram para o êxito da fábrica, trabalhando nela. Provavelmente esta senhora, a colega da Oma, era uma das mulheres da família, entre outras que fizeram parte da equipe Schmidt e que construíram esta tradição, nos primeiros momentos da fábrica, em Pomerode SC, na década de 1940.

Caminhões na frente da Porcelana Schmidt – Pomerode – 1950.

A arte de Curt Erwin Teichmann – presente na produção de porcelanas da Schmidt

Curt Erwin Teichmann, ex-professor de Pomerode, que durante o Nacionalismo ficou desempregado, desenvolveu outras atividades que conheceu na sua família, que já havia residido em Blumenau, e nesse momento estava residindo em Rio do Sul. Teichmann desenvolveu técnicas de pintura e escultura e logo adquiriu uma identidade própria na sua produção artística, a ponto de levar exposições para outros Estados.

Anjo de porcelana produzido na Porcelana Schmidt, criado por Erwin Curt Teichmann – fotografado em um cemitério de Indaial. Encontramos este adorno cemiterial, praticamente em todos os cemitérios da região e também em outras regiões, como no Vale do Cubatão.

Em 1946, em uma das muitas exposições pelo Brasil, conheceu Arthur Leopold Schmidt, em São Paulo, durante a exposição. Schmidt lera a notícia sobre e exposição do artista de Pomerode no jornal local e encontrou-se com o artista. Nesse tempo, a Porcelana Schmidt não estava há muito tempo em Pomerode. Fazia somente um ano de sua fundação.
Os laços se estreitaram e passados 9 anos, em 1955, Arthur Leopold Schmidt contratou Erwin Curt Teichmann para suporte artístico à produção e criação. Mas antes disso, repetiu o que fez o visionário Fritz Lorenz. Enviou Teichmann para a Alemanha para se aprimorar e conhecer o ofício e as linhas de produção das maiores empresas europeias de porcelana e cerâmica. Teichmann permaneceu na Europa estudando e pesquisando por 8 meses, por conta da Porcelana Schmidt. Partiu em março/abril de 1955 em um voo da KLM – alterando entre Alemanha e Itália. Na Alemanha visitava as fábricas, artistas, e trocavam impressões com pessoas ligadas às artes plásticas e técnicos. Criou contatos que teve ao longo de sua vida.
Ao retornar para o Brasil, Erwin Curt Teichmann foi trabalhar na área da criação da Porcelana Schmidt e ajudou a empresa ser uma das maiores empresas do ramo de porcelana, não somente em tecnologia, mas também na parte da criação e arte. Sem a arte de Teichmann, os produtos da Schmidt seriam outros, não tão aprimorados, requintados, criativos e artísticos quanto foram. Referência mundial.
Arno Hercílio Teichmann, filho do artista, nos contou que a primeira coisa que seu pai fez, na Porcelana Schmidt, foi implementar uma produção de decalques para decorar as porcelanas. Em sua própria casa, sob a escada, montou uma sala escura para fazer sunscreen. Conseguiu fazer decoração de decalques que fechavam bem as cores que deveriam ficar fixas. Em 1946, o primeiro contato com porcelana aconteceu em São Paulo, quando Arthur Leopold Schmidt deixou estabelecido que a fábrica de Pomerode estava à sua disposição, e que ele tinha a liberdade de desenvolver o projeto que desejasse. Começou a modelar bibelôs, coisinhas miúdas, que depois iam para a produção. Com isto, Erwin Curt Teichmann teve a oportunidade de ter contato com materiais como a cerâmica, ampliando suas técnicas de arte, que já eram muitas.

Bibelôs criados por Erwin Curt Teichmann e produzidos pela Porcelana Schmidt. Acervo do Museu Erwin Curt Teichmann – Pomerode SC.
Jogo de café criado por Erwin Curt Teichmann e produzidos pela Porcelana Schmidt. Acervo do Museu Erwin Curt Teichmann – Pomerode SC.
Peças de decoração criadas por Erwin Curt Teichmann e produzidos pela Porcelana Schmidt. Parte da onça fotografada, encontramos na residência da família Meister. Acervo do Museu Erwin Curt Teichmann – Pomerode SC.
Jogo de jantar da Porcelana Schmidt – criação de Erwin Curt Teichmann. Pegado na forma de “gota d’água.

Na fábrica da Porcelana Schmidt, Teichmann assumiu a direção técnica – fazia a arte final, participava das reuniões, e em uma destas reuniões perguntou: – “Por que vocês não fazem uma gota d’água?” A sensação de uma gota d’água. E foi feito este jogo de jantar na década de 1950. Foi um sucesso. A cada dois anos, era criado um novo aparelho e Erwin Curt Teichmann se solidificou como o criador artístico da Porcelana Schmidt e talvez o responsável direto por seus períodos áureos – em vendas de cerâmica de qualidade e arte.
Além de trabalhar na fábrica, Erwin Curt Teichmann também participava de congressos e seminários representando a Porcelana Schmidt, como parte da criação.

Abertura de Capital

Em 1948, a Família Schmidt admitiu novos acionistas e com o novo quadro de entrada de capital, adquiriu o resto das ações da Porcelana Real Ltda, de São Paulo. Em 2 de janeiro de 1954 foi fundada a Porcelana e Steatita e em 1956, a Porcelana Schmidt adquiriu o controle acionário da Cerâmica Brasileira de Campo Largo – PR, transformando-a também em fábrica de cerâmica – Porcelana Steatita. Em 1972, as três empresas se fundiram, surgindo o Grupo Schmidt, com três fábricas, em três cidades e três estados: Pomerode – SC; Campo Largo – PR e Mauá – SP.

Nesse período, a empresa chegou a produzir mais de um milhão de peças de porcelana por mês, contando com uma estrutura de 60.000 m2 e aproximadamente 1.500 funcionários.

Em 1991, as três fabricas passaram por uma reestruturação e não usaram mais as marcas Steatita e Real, trabalhando todas sob a marca Porcelana Schmidt e sob o símbolo da coroa. Durante a década de 1990, tinha 80% do mercado nacional no setor de porcelana.

Marcas.
Publicidade de 1958.

Levantamento de dados/pesquisa – 28 de abril de 2014.

Rodolph Otto Schmidt.

Na empresa da Porcelana Schmidt, fomos recebidos por Rodolph Otto Schmidt, neto de Fritz Erwin Schmidt, o fundador e que nutre grande carinho pelo patrimônio familiar. Rodolph estava fazendo um levantamento da História da Porcelana Schmidt e montando um acervo para expor no museu, que se encontra fechado atualmente. Fomos até a fábrica na companhia do Pastor Hugo Westphal e sua esposa Simone Wetphal, amigos de Rodolph.

Rodolph Otto Schmidt e o casal Westphal.
Rodolph com suas anotações.

Linha de produção em 2013 – colocando o selo, antes de ir ao forno.
Linha de produção em 2013 – preparado para ir ao forno.
Processo da linha de produção em 2013.
Estrutura do telhado totalmente de madeira. Construção da metade do século XX.
Linha de produção em 2013.
Linha de produção em 2013.
Linha de produção em 2013.
Estrutura do telhado totalmente de madeira. Construção da metade do século XX.
Linha de produção em 2013.
Linha de produção em 2013.
Rodolph Otto Schmidt, neto de Fritz Erwin Schmidt, nos permitiu concretizar esta pesquisa. Muito obrigada.

No século XXI, a abertura do mercado chinês e a mudança do padrão de consumo foram fatores que contribuíram para uma desestabilidade na empresa, a partir da década de 1990. Houve em torno de 2.500 demissões no campo fabril de Campo Largo, e a queda de 20% para 5% das exportações, como também a queda de 2,4 milhões de peças cerâmicas/mês para 1.9 milhão/mês, em 2010. Também em 2010, houve atraso de salários e a empresa entrou em Recuperação Judicial, para evitar a falência. Uma tradição e uma história estavam em perigo. Foi essa situação negativa que nos motivou pesquisar sobre esta emblemática história e estimular a sociedade para que fosse feito algo que não permitisse o fim dessa tradição, na sequência das gerações.
Houve uma pequena melhora na situação. Um dos fatores, entre outros, que contribuíram para esta recuperação foi a Lei antidumping, medida do governo brasileiro, com base na Resolução N° 57, de 24 de julho de 2013, a qual aplica direito de antidumping provisório, por prazo de até seis meses, às exportações brasileiras de objetos de louças para mesa, originárias da China. De acordo com Rodolph Otto Schmidt, no mês de setembro de 2013 as vendas dobraram, para o Japão, Alemanha e França. Passados 10 anos, a empresa está tentando contornar uma situação não muito positiva, mas que mantém esperanças.
É uma tradição que vive nas residências desde 1945, de uma geração para outra, e não poderia terminar. Visitamos uma família em 2023, a família Meister que ilustra exatamente essa tradição.

Casal Meister – Pomerode – A Tradição que deve continuar

Casamento de Inge Voigt e Edmundo Meister em 1960, data que receberam de Arthur Leopold Schmidt , o mesmo membro da família que enviou Erwin Curt Teichmann para estudar na Alemanha, seu jogo de jantar da Porcelana Schmidt.

Presentes do dia do casamento de Inge e Edmundo Meister em 23 de abril de 1960, recebidos das mãos de Arthur Leopold Schmidt,  o mesmo Schmidt que contratou Erwin Curt Teichmann, um dos irmãos fundadores da Porcelana Schmidt. Inge Meister trabalhava na residência de Arthur e Edmundo na fábrica da porcelana, tendo tido a oportunidade de conhecer o artista Erwin Curt Teichmann.

Fotografamos o casal com o jogo de jantar presenteado por Arthur Leopold Schmidt em 1960. Quando saímos de sua casa, pedimos que usassem o jogo de jantar em um almoço de domingo, nem que tivesse somente os dois. Inge Meister partir uma semana depois desse nosso encontro.

O jogo de jantar está completo e por certo, é raríssimo.

Parte do acervo de porcelana dos  Meister’s que lhes foi presenteado por Arthur Leopold Schmidt.

Presente que Inge recebeu de seu padrinho, quando tinha 2 anos de idade, há mais 80 anos atrás. Deveria ser uma das primeiras peças produzidas na Porcelana Schmidt.
Em 23 de abril de 2023, quando visitamos os Meister para estudar sua casa enxaimel, onde residiam há mais de 60 anos. conhecemos sua linda história de família e sua relação com a Porcelana Schmidt. Edmundo e Inge conheceram os Schmidt e o Teichmann. Inge faleceu uma semana após esse encontro.

A Porcelana Schmidt é muito mais que somente uma empresa. É uma tradição que passou por gerações com um lastro histórico imensurável a partir do olhar visionário de um homem, que investiu na família Schmidt e esta acreditou e voou sozinha. Todos descendentes do Dr. Fritz Müller, que possui uma grande descendência.

É muito importante que a família Schmidt e seus conterrâneos continuem acreditando, com o mesmo espírito de Fritz Lorenz e de Arthur Leopold Schmidt. Atualmente é um pouco mais fácil, porque existe a estrutura física, a tecnologia, a tradição e sua rica história.

Um registro para a História.

Referências

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  • HERING, Maria Luiza Renaux. Colonização e indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento. Blumenau: Ed. da FURB, 1987.
  • HUMPL, Max. Crônica do vilarejo de Itoupava Seca: Altona: desde a origem até a incorporação à área urbana de Blumenau 1.ed. Méri Frotschter Kramer e Johannes Kramer (organizadores). Escrito em 2018. Blumenau: Edifurb, 2015. 227 p. : il.
  • LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução: Bernardo Leitão et al. 4. ed. Campinas: Ed. Unicamp, 1996.
  • MAUCH, Cláudia; VASCONCELLOS, Naira (Org.) Os alemães no sul do Brasil: cultura, etnicidade e história. Canoas: Ed. ULBRA, 1994.
  • _____. Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico  teuto brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí. Florianópolis: FCC, 1982.
  • SILVA, José Ferreira. História de Blumenau. -2. ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 P.
  • SINGER, Paul. Blumenau. In: Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1968. p.81-140.
  • TOMIO, Fabrício R. L. (Org.) Nosso passado (in)comum: contribuições para o debate sobre a história e a historiografia em Blumenau. Blumenau: Ed. FURB: Cultura em Movimento, 2000. p.15-65.
  • VIDOR, Vilmar. Industria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. – 248p. :il.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.

 Leituras Complementares – Clicar sobre o título escolhido:

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)

Agenda:

  • Dia 9 de agosto estaremos apresentando os livros de nossa autoria, na Feira Internacional de Pomerode, na parte da manhã.
  • Dias 24 e 25 de agosto estaremos apresentando o livro Fragmentos Históricos e fazendo a palestra “Gottlieb Reif de Santa Catarina para Pouso Redondo” na 7ª Feira do Livro de Pouso Redondo.