A história da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau

Capa: Sede (Ginástico) da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, inaugurado em 3 de agosto de 1923.

O Colégio Pedro II de Blumenau possuía um “ginásio” coberto, “o primeiro de Blumenau” e também, o primeiro “ginásio” coberto de Santa Catarina”, inaugurado em agosto de 1924, junto ao local da ex-escola Neue Deutsch Schule. Faz algum tempo, em 2017, passamos por ali e observamos sua arquitetura sem a devida manutenção e cuidado, que uma tipologia rara com um uso diferenciado, requer. Fizemos registros fotográficos para guardar para a história – nunca se sabe.
Qual é a história dele?
Sempre fez parte do patrimônio do “Pedro II”?
Ainda faz parte do patrimônio do “Pedro II”?
Vamos conhecer um pouco dessa história.
Na abertura da Exposição Futuros Possíveis, de Alencar Arquitetura, evento de arquitetura na cidade de Blumenau, ocorrido em 26 de março de 2024 no saguão da Biblioteca da FURB, e também, em outro ambiente, ouvimos mais detalhes sobre o patrimônio histórico enquanto conversávamos com o arquiteto Rafael Bauler Theiss, que naquele momento observou o valor histórico da arquitetura em questão, dentro da paisagem espacial e também, do espaço cultural de Blumenau. Não esquecemos.

Em 10 de maio de 2024, coincidentemente, a musicista blumenauense e também regente/professora do Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires, de Blumenau, Carla Simas, entrou em contato conosco, pedindo-nos informações sobre o histórico edifício, o “Ginásio do Colégio Pedro II”, ginástico, que estará completando 100 anos em 3 de agosto de 2024.
Não tem como não desejar contribuir com esse momento que envolve tantas pessoas que nutrem reverência e estão cientes da importância dessa história, materializada na arquitetura da sede (ginásio), ginástico, das práticas da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, em outro tempo, para o qual convergiam tantas outras práticas, sendo que muitas delas, foram silenciadas no período do Nacionalismo, durante a ditadura do governo de Getúlio Vargas.

Um pouco de História…

Colégio Pedro II

Como surgiu o “Pedro II”?
Em 17 de fevereiro de 1889, foi fundada uma escola pelos membros da comunidade luterana de Blumenau, religião das lideranças da colônia e da maioria dos pioneiros alemães da região. Os luteranos seguiram o exemplo da comunidade católica, cujo pároco era padre José Maria Jacobs. Padre Jacob fundou uma escola para os filhos dos colonos alemães, principalmente aqueles que residiam em lugares afastados da centralidade colonial, 12 anos antes desta data. O padre/professor atendia às crianças, independentemente de sua religião (ao contrário do registrado em muitas fontes), alimentando-os e também, fornecia hospedagem aos que residiam mais afastados, caracterizando um internato.

Quatro meses após a chegada do primeiro pároco da igreja católica à Colônia Blumenau – padre José Maria Jacobs – ele funda o Coleginho São Paulo na pequena construção de madeira da paróquia localizada na “Wurtstrasse”- atual Rua XV de Novembro. Tomou essa decisão, após ter visitado seus fiéis no interior da Colônia Blumenau e constatado a precariedade das muitas famílias católicas e inexistência de instrução destinada às crianças. Em apenas 4 meses iniciou seu projeto para modificar esta realidade.
O Colégio e a Igreja Católica de Blumenau ficavam afastados da então centralidade de Blumenau, Stadtplatz da Colônia Blumenau, onde estava a igreja luterana, religião da elite blumenauense da época e do próprio fundador Hermann Blumenau, a Igreja do Espírito Santo, presente na paisagem até os dias atuais, o primeiro Boulevard, a Palmenalle ou rua Hermann Wendeburg – Rua das Palmeiras, onde estavam localizadas as principais casas comerciais e residências do primeiro período histórico e o porto fluvial, porta de entrada à Colônia Blumenau, a partir do porto marítimo de Itajaí.(…)
Em 16 de janeiro de 1877, padre Jacobs abriu o coleginho ao qual chamou de São Paulo. Este foi instalado na antiga capela de madeira, em desuso desde a inauguração da igreja matriz, em 24 de dezembro de 1876. A ser instalada a paróquia de São Paulo Apóstolo, em 2 de junho de 1878, o padre Jacobs se tornou o vigário oficial da comunidade católica de Blumenau – Cura de Blumenau, e recebia o pagamento de 60 mil-réis por mês – o qual transferia, em sua totalidade, para o sustento da escola por ele fundada.
Observar como essa notícia importante para os objetivos de Hermann Blumenau, com intenção de criar o “município”, é apresentada na obra de Ferreira da Silva: “História de Blumenau”. O nome do padre Jacobs sequer é mencionado. (…)
O padre Jacobs reuniu 16 crianças, que foram seus primeiros alunos. Seria muito bom saber os nomes desses meninos. As meninas ficaram alojadas na casa de uma vizinha da igreja. As crianças faziam pequenos trabalhos agrícolas, ao mesmo tempo que o padre Jacobs lançava a pedra fundamental do novo colégio e também fundava a sociedade Associação Protetora da Infância Desamparada para que pudesse angariar fundos para a obra da escola e sua manutenção. Até então ele arcava com todos os gastos e também, com o trabalho. Angelina Wittmann, fevereiro de 2024.

A escola luterana iniciou suas atividades em 1º de maio de 1889, sediada em uma casa de madeira na Rua Pandiá Calógeras.
A escola fundada pelos luteranos, no Stadtplatz da Colônia Blumenau, 12 anos após a fundação do Colégio Santo Antônio, conhecida como Neue Deutsche Schule, recebeu sua sede, localizada ao lado da residência dos Zittlow, no estilo arquitetônico neoclássico, considerada a arquitetura internacional adotada pelas lideranças comerciais e industriais que surgiam em Blumenau e região; representava os novos tempos.
Historicamente, como consequência do “desarranjo histórico político nacional”, conhecido como Nacionalismo, em novembro de 1938 (ainda não acontecia a 2ª Guerra Mundial), sob uma ação da ditadora de política interna impetrada por Getúlio Vargas com tentáculos em Santa Catarina, através de seus interventores, a escola trocou seu nome e passou a se chamar Sociedade Escolar Pedro II em 5 de novembro de 1938. O mesmo não aconteceu com o Colégio Santo Antônio, em função da diplomacia dos franciscanos. Mais informações em artigos listados em Leituras complementares, no final deste.

Em 1915, a Neue Deutsche Schule adquiriu um terreno na Rua Floriano Peixoto, nas proximidades da entrada do Bom Retiro, onde já estava instalada a família Hering e sua fábrica. Em 1924, mesmo ano em que foi construído o “ginásio coberto”, o ginástico, e que não pertencia à Neue Deutsche Schule, foi inaugurado o novo edifício da escola. Será que foi sugestão da família Hering realocar a escola para as proximidades do Vale do Bom Retiro? Com isso, destacamos mais uma questão responsável pelo “esvaziamento” do Stadtplatz, a centralidade histórica de Blumenau, que paulatinamente aconteceu, no recorte de tempo entre o início do século XX, até o tempo presente.

Em 12 de agosto de 1942, a Sociedade Escolar Pedro II foi definitivamente integrada à Rede Pública do Estado de Santa Catarina, passando a ser uma escola pública estadual. Recebeu o nome de Grupo Escolar Modelo Pedro II. Processo posto em prática sem a devida indenização à comunidade luterana de Blumenau. Em 1946 foi criada a Escola Normal Pedro II, com a presença dos cursos primário, ginasial e normal, formando professores. Em 25 de maio de 1976, a escola foi transformada em Conjunto Educacional Pedro II.

Em outubro de 2017, o secretário de Estado da Educação, Eduardo Deschamps e o comandante da 7ª Região da Polícia Militar, o coronel Carlos Alberto Fritz Bueno anunciam que parte do espaço físico da EEB Pedro II será a sede do Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires – de Blumenau, junto com o “ginásio coberto”, antiga sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau. No local, funcionava, até então, a Escola Básica Municipal Tiradentes, o que se concretizou.
Atualmente a antiga sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau pertence à Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.

A ginástica

Onde existia uma comunidade de imigrantes alemães, no século XIX, ao menos no Sul do Brasil, havia música, gastronomia, literatura, práticas esportivas, jardinagem. Parte de sua cultura e práticas. Entre as práticas esportivas se destacava a ginástica.
Alguns exemplos:

Sociedade de Ginástica Porto Alegre

Atualmente a Sociedade de Ginástica Porto Alegre, que surgiu no século XIX, a exemplo de Blumenau, é um clube brasileiro que possui quase 40 mil sócios e uma infraestrutura capaz de oferecer esporte, lazer e entretenimento. Tudo começou quando os imigrantes alemães começaram a se fixar na capital gaúcha, na segunda metade do século XIX. Criaram sociedades de diferentes práticas, culturalmente inerentes às práticas da cultura alemã, em volta do mundo.
A Deutscher Turnverein (Sociedade Alemã de Ginástica) foi fundada em 10 de agosto de 1867 por um grupo de famílias alemãs lideradas por Alfred Schütt com um total de 25 sócios. Em 1869, a associação de ginástica implantou o tiro, criando a sociedade Deutscher Turn- und Schützverein (Sociedade Alemã de Ginástica e Tiro). O grupo de ginastas se separou do tiro e fundou a Deutscher Turnverein, Sociedade de Ginástica, em 1876. Em 2 de outubro de 1887 foi criada a Turnklub, clube de ginástica. Em 11 de abril de 1892, a partir da fusão do Deutscher Turnverein, com 28 sócios e o Turnklub, com 240 sócios, surge o Turnerbund, Federação dos Ginastas. Após a construção da sede própria, houve a possibilidade do Turnerbund possuir campo para esportes coletivos como o futebol, o punhobol e o tamborim. Ali se iniciaram as atividades do Fußball Mannschaft Frisch-Auf, time de futebol fundado por Georg Black em 1908. Foi também na inauguração do campo, em 21 de maio de 1911, que se realizou o primeiro jogo de punhobol no Rio Grande do Sul.
Novos esportes foram sendo introduzidos, como a esgrima (1885), o bolão (1901), o futebol (1908), o punhobol (1911), o atletismo (1913), o tênis (1914), o basquete (1926) e o vôlei (1926).
Durante o período do Nacionalismo, que iniciou antes do início da 2ª Guerra Mundial a partir da ditadura de Getúlio Vargas, o Turnerbund de Porto Alegre foi obrigado a mudar de nome, para Sociedade Ginástica Porto Alegre – SOGIPA, em 14 de abril de 1942.

Sociedade de Ginástica de Novo Hamburgo

Outra cidade fundada sob influência da cultura alemã é a cidade gaúcha de Novo Hamburgo que também teve sua associação de ginástica. A Sociedade Ginástica Novo Hamburgo foi fundada em 1894 por filhos e netos de imigrantes alemães, para a pratica de ginástica em aparelhos e dança.
Em 11 de julho de 1894, foi inaugurada a Turnverein Neu Hamburg – Sociedade Ginástica Novo Hamburgo, quando o município era um distrito de São Leopoldo. O espaço era usado para esportes, lazer e recreação.
Fundamentaram o desenvolvimento desportivo e social nos princípios adotados e difundidos pelo professor e atleta alemão, Friedrich Ludwig Jahn. Suas diretrizes são representadas por quatro letras “F” destacadas em relevo no teto do salão social, que significam Frisch (vigoroso), Fröhlich (feliz), Fromm (piedoso) e Frei (livre). Estes princípios foram e são adotados por todas as sociedades de ginástica do mundo.
Em 1908 se mudaram para uma sede social maior, onde passaram a praticar, a ginástica em aparelhos (atual Ginástica Artística), cujos equipamentos, como em Blumenau, foram trazidos da Alemanha – entre eles, paralela, cavalo, barra fixa e argolas. Em 1912 inauguraram a sede própria, quando foi introduzido o bolão.
Em 1961 foi construído o Parque Aquático; e em 1973 o Ginásio de Esportes. Em 1975 foi adquirido o Parque Canudo, Sede Campestre, em Nova Hartz.

Sociedade Ginástica de Joinville – 1858

A Sociedade Ginástica de Joinville foi fundada em 1858 e atualmente é denominada de Sociedade Ginástica de Joinville. É uma das entidades mais antigas do município e que ainda se encontra em pleno funcionamento.

Sociedade Ginástica São Bento

A Sociedade Ginástica São Bento foi fundada em 1925, um ano após a inauguração da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, fundada no século XIX. Como aconteceu às demais sociedades de ginástica, suas atividades foram suspensas devido à 2ª Guerra Mundial. Os trabalhos foram reiniciados na década de 1950, ocasião em que o instrutor alemão Fritz Beck resgatou as principais atividades e práticas no espaço.

Atualmente as pessoas não possuem muito conhecimento sobre essa prática trazida pelos imigrantes alemães e seus descendentes e não possuem a mínima noção sobre a importância dela em solo brasileiro, interpretando-a erroneamente, como, por exemplo, pela afirmativa extraída de uma das fontes pesquisadas: “faziam ginástica para se sentir mais próximos da Alemanha” – sem noção. Até poderiam, mas faziam pela consciência sobre a importância da atividade salutar, por prazer ao esporte, ao lazer e ao entretenimento que a prática envolve dentro de um espaço, para onde convergiam amigos e familiares, como ocorre até hoje na Alemanha. Isso também explicar a existência do grande número de trabalhadores das muitas fábricas que surgiram na região, no início do século XX, que adotavam a bicicleta como meio de transporte, como ainda assim ocorre em alguns lugares no tempo presente. A intermodalidade é uma realidade pautável e acessível na Alemanha atual. Não “andam de bicicletas, porque são pobres”, como já ouvimos.

Sendo Blumenau fundada por imigrantes alemães, também teve sua associação de ginástica e de práticas culturais e esportivas.
Quanto à ginástica, apresentamos sua prática em algumas cidades que tiveram em sua formação sociocultural, tal como aconteceu em Blumenau, para melhor compreender o que foi a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, no decorrer de sua história.

Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau

A prática do esporte e da ginástica faz parte da tradição e da cultura das famílias de imigrantes alemães e seus descendentes em várias regiões do Brasil e também daqueles que chegaram à região do Vale do Itajaí, e fundaram sua rede de cidades. Estas famílias trouxeram suas práticas presentes na culinária, na arte, na música, na dança e nos esportes. Em suas cidades natais, no Heimat, praticavam e praticam a mesma coisa e quando o assunto é ginástica, há unanimidade.
Famílias de imigrantes alemães também fundaram em Blumenau, sua associação de ginástica que durou por mais de seis décadas de existência e funcionamento – Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau e sua história foi interrompida devido à 2ª Guerra Mundial.
Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau – foi fundada em 5 de outubro de 1873, e seu estatuto registrado oficialmente, em 1º de agosto de 1904. Além das práticas esportivas, em seus ambientes, aconteciam atividades sociais e culturais, com espaços semelhantes, seguindo um programa similar observando seu uso (geralmente era um ambiente multiuso), em todas as cidades que receberam contribuição da cultura dos imigrantes alemães, no Brasil, como também, na Alemanha.
Nada especial como alguns observadores tentam “plantar”. Como nas demais cidades, que receberam grande leva de imigrantes alemães, principalmente no Rio Grande do Sul, conforme mencionado, também em Blumenau havia a prática do tiro, da ginástica, do remo, entre outras.

Os estatutos da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau foram assinados por:

• Paul Schwartzer (Presidente), amigo de Fritz Müller e sogro de Johann Otto Rohkohl.
• Henrique Brandes (Tesoureiro);
• Kurtring (Secretário)

Os Estatutos foram registrados no livro. n° 01, sob n°05, pág. 01, em 27 de agosto de 1904, no Tabelionato Fides Deeke

Os objetivos da associação, registrados no documento oficial eram: a “prática e a difusão da ginástica olímpica, esportes e jogos, principalmente o punhobol, bem como o intercâmbio esportivo, social e cultural com outras sociedades”.
Entre os itens dos mesmos Estatutos, constam as condições para associar-se, e entre elas, destaca-se a necessidade em se possuir uma reputação imaculada e ter quatorze anos completos. Contraditoriamente, na administração, somente sócios maiores de vinte e um anos poderiam participar das atividades. A aceitação era feita mediante o pagamento da joia.

Inicialmente, os sócios ativos praticavam ginástica no salão da Schützengesellshaft Blumenau – Sociedade de Atiradores de Blumenau, atual Tabajara Tênis Clube. As assembleias gerais eram realizadas no Theater Frohsinn e as pequenas reuniões da diretoria no Hotel Gross, localizado na Rua XV de Novembro.

A Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau teve vida longa. Apresentavam-se, além de números de ginástica, reuniões recreativas, excursões e noites de entretenimento com música, canto e teatro. As noites de entretenimento eram frequentes, com a inclusão de números artísticos e ginástica rítmica. De acordo com Edith Kormann, apesar das restrições quanto à admissão de sócios, as noites de entretenimento eram, geralmente, públicas. Em 21 de março de 1909, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau apresentou, no salão de Richard Holetz, uma noite de entretenimento pública, em que, além de números de ginástica foram feitas apresentações humorísticas, cenas burlescas e a peça teatral humorística “Augusto e Ângela na floresta das palmeiras”. A Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau também promovia Turnkraenzchen e excursões. Por exemplo, há registros que no dia 7 de maio de 1910 houve uma excursão dos membros para Hansa Hammonia.

A Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, fundou o primeiro Clube de Futebol de Blumenau em 1910 – Clube Blumenauense de Futebol. A primeira partida do time aconteceu em 1911. Em 1920 o time se desligou da associação.

Em 18 de outubro de 1913, Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau festejou a passagem de seus 40 anos de existência. Foi publicada em um jornal local, a poesia que dissertava sobre uma excursão ao “Spitzkopf” nos dia 17 e 18 de agosto de 1913, pequenas passagens e caricaturas. Esse evento aconteceu antes de existir o clube do professor suíço Rodolfo Hollenweger – Spitzkopfclub, fundado em 1927.
Em 24 de outubro de 1914, transcorria a 1ª Guerra Mundial. Muitos sócios tinham familiares na Alemanha e a associação de ginástica promoveu uma noite cultural no Theater Frohsinn em benefício da Cruz Vermelha Alemã. Antes de iniciar as atividades a coordenação expôs a finalidade de arrecadação da noite e compartilhou informações sobre a situação da Alemanha na guerra.
O programa dessa noite na Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau:

Es braust ein Ruf wie Donnerhall

Germaniens Söhne einst – Gruss an Deutschlands Söhne 1871

Canção conhecida por muitas famílias que migraram para Blumenau.

Durante estas apresentações aconteciam declamações de poesia, ginásticas com bastões e barras, encerrando desta primeira parte do programa com todos cantando Auf zur festlich frohen Stunde seguido de exercícios suspensos.

Auf zur festlich frohen Stunde

Text: Wilhelm Wulff (1899)
Musik: auf die Melodie von Strömt herbei ihr Völkerscharen –
in Allgemeines Deutsches Kommersbuch

Auf zur festlich frohen Stunde
stimmet ein im vollen Chor
aus des Herzens tiefstem Grunde
steige unser Lied empor
laßts wie Glockenläuten klingen
durch die Seele voll Gefühl
Laßt es hoch zum Himmel dringen
zu der Saiten frohem Spiel

Dankbar sind wir dieser Stunde
die uns weihevoll vereint
die für alle birgt die Kunde
daß noch unsere Sonne scheint
jene Sonne, Kameraden
die durch Pulverwolken stieg
und auf unseren Kriegespfaden
leuchtete zum Kampf, zum Sieg

Dank dem großen Gott dort oben
der in Not und in Gefahr
in des Schlachtendonners Toben
uns ein gnädger Retter war
was wir einst in heißen Stunden
ihm gelobet in die Hand
sei. als alte Schuld empfunden
heut aufs neue anerkannt

Dank euch, dank, ihr Heldenväter
deren Blut die Freiheit warb
wenn ja auch die Feder später
was das Schwert vollbracht, verdarb
aus dem Saatkorn jener Tage
wuchs empor der mächtige Baum
und zur Wahrheit wurd´ die Sage
und zur Wahrheit ward der Traum

Unser Blut war es, das düngte
das zur Frucht gebracht die Saat

in des Enkels Arm verjüngte
sich der Väter Heldentat
„Und nun rauschen es die Eichen
daß nach tausendjähriger Frist
über Blut und über Leichen
Deutschland eins geworden ist“

Segnend mit dem Palmenzweige
hebe über dieses Land heut
an des Jahrhunderts Neige
holder Friede deine Hand
segne Bayern, Schwaben, Hessen
Preußen und die Waterkant
Sachsen – Elsaß unvergessen
und das Lotharinger Land

Einem neuen Morgenrote
öffne du der Zeiten Tor
als der Zukunft Himmelsbote
trete strahlend du hervor
spanne aus den Friedensbogen
der in sieben Farben glüht
über Deutschland hingezogen
spann ihn aus- von Nord nach Süd

A segunda parte do programa:

• • • Was will Majestaet mit dem Jungen? de O. Anthas:
    • Freiwillige vor: de E. Edert;
    • Weinst du Mutter? de Eugen Stangen .
    • A apresentação três ginasta em uma barra.
    • Todos cantaram a canção “Ich hatt einen Kameraden”

• • • Die Fahne der Einundsechziger de J. Wolff;
    • Wallfahrt de W. Arminius;
    • Deutsches Flottenlied de Reinhold Fuchs.

Geralmente, as noites culturais aconteciam no período da páscoa e eram realizadas no Theater Frohsinn e no salão de Richard Holetz. Essa mesma programação foi apresentada em 16 de maio de 1914, no salão Eberst, Indaial, que também era território de Blumenau.
No período da 1ª Guerra Mundial aconteceram no ano de 1914, 88 aulas semanais de ginástica e 13 noites de apresentações, incluindo as noites culturais.
Em 1915 aconteceu a primeira grande competição esportiva em Blumenau, com a participação de ginastas de Brusque, Joinville, São Bento do Sul e de outros municípios catarinenses.
Em 9 de abril de 1916, aconteceu uma noite cultural e de ginástica para angariar fundos para Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, no Theater Frohsinn. À noite foram apresentados números de ginástica, canto, música e a peça teatral, em um ato: “O Inspetor de incêndio”. É muito interessante como a história local separa a sociedade de ginástica da sociedade do Theater Frohsinn, sendo que as pessoas eram as mesmas, ginastas e pessoas que praticavam a cultura no espaço do teatro, muito antes do recorte de tempo mencionado por algumas fontes (1920 – 1935). O grupo teatral fazia parte da Schützengesellshaft Blumenau – Sociedade de Atiradores, fundada em 2 de dezembro de 1859, como acontecia na sociedade de Porto Alegre, que ocupavam o mesmo espaço físico no recorte histórico inicial: o teatro, o tiro e a ginástica, que não é devidamente mencionada pela história local.
Fontes mencionam que o teatro, ou Theater-Verein Blumenau – Sociedade Teatral Blumenau, fundado em 24 de junho de 1860, e que não se resumia somente no nome de Edith Gaertner, a moça que criava os gatos e construiu o histórico cemitério, como insistem, alguns textos históricos publicados na região. A sociedade apresentou inúmeras peças teatrais, com o objetivo angariar recursos para construir a sede da associação de ginástica; de 1921 até 1935, ensaiavam uma média de quatro peças teatrais por ano. Em 1936, a sociedade incorporou o Coro Masculino Liederkranz, embrião criado para materializar a Sociedade Dramático Musical Carlos Gomes. Essas pessoas, em sua maioria, eram ginastas da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau.

Mais tarde, o grupo teatral passou a fazer parte da Schützengesellshaft Blumenau – Sociedade de Atiradores, fundada no dia 2 de dezembro de 1859. Em 24 de junho de 1860, um ano após a fundação da sociedade de atiradores, após uma apresentação teatral, foi fundado o Theater-Verein Blumenau, Sociedade Teatral Blumenau, que funcionava anexo à Schützengesellshaft Blumenau e era dirigido por Rose Gaertner, mãe de Edith e esposa do negociante e cônsul alemão Viktor Gaertner, sobrinho de Hermann Blumenau.
Em 12 de novembro de 1916, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau apresentou um grande espetáculo de ginástica com a participação da “Musikkapelle” de Brusque que contava com com vinte músicos.
Durante o período entre os anos de 1917 a 1919, praticamente cessaram as apresentações, principalmente as noites culturais, continuando os treinos e atividades esportivas, com práticas reduzidas.
Em 1917, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau adquiriu da Neue  Deutsche Schule, “um chão”, de 11.383m2 por 5:962$800 Réis e mais tarde, mais um pedaço de 840m2 por um conto de Réis.

As noites culturais retornaram em 1920. Aconteciam no Theater Frohsinn, com as apresentações de ginástica, música e teatro, apresentações do Coro Masculino Liederkranz sob a regência Kurt Böttner (Professor que também foi o idealizador do escotismo em Santa Catarina – fundado em 13 de janeiro de 1913). É curioso que somente nesse recorte de tempo histórico, são consideradas as atividades e movimentações culturais do Theater Frohsinn, com relevância para o registro, que já ocorriam no final do século XIX.
Nesse tempo o Mannergesangverein – Coro Masculino Liederkranz – foi “emparelhado” às demais sociedades: teatral, de música e ginástica. Muitos, atualmente desconhecem que este coro existe desde 1909.

Projeto da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau – “Ginásio” – Ginástico – Arquiteto

Com o terreno adquirido, os sócios buscaram meios para angariar fundos para a construção da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau. A renda veio das apresentações culturais, esportivas, mensalidades, joias, festas, bailes, apresentações teatrais, entre outras e o objetivo era a construção da sede no terreno adquirido da Neue Deutsche Schule. O montante ainda não era suficiente para executar a obra. Em uma reunião entre os membros do Conselho, em 1.° de janeiro de 1921, resolveram adiar o início da construção da sede. Em outubro de 1921, a festa realizada rendeu para os fundos da construção a quantia líquida de 1:500$000. Em reunião do Conselho realizada em 5 de maio de 1922, o presidente da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau apresentou o novo projeto da sede da sociedade que, aparentemente, foi assinado pelo “arquiteto” alemão Richard Antonius Aspard Abdallah Kaulich, mais conhecido como Richard Kaulich (1903 – 1976).
O novo projeto apresentava alterações na fachada e distribuições mais adequadas dos ambientes. A obra foi orçada em 47:529$800. Kaulich, por certo não era arquiteto formado, uma vez que tinha somente 19 anos de idade nesse tempo – 1922. é possível observar o quanto era jovem 23 anos após esta data, na fotografia de seu documento de Registros de Estrangeiros. Seu sogro Otto Wagner, igualmente era arquiteto.
Essa informação é curiosa. Não seria Kaulich auxiliar de Otto Wagner, pai de sua futura esposa, Johanna Werner?

Lançamento da Pedra Fundamental da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau – o ginástico/ginásio coberto

A pedra fundamental da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau foi lançada em 15 de outubro de 1922, com grande festa ao dia e à noite e um um baile no Theater Frohsinn. No final de 1923, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau recebeu novos equipamentos de ginástica de um comerciante de Hamburg conhecido como Stolz. Entre os novos equipamentos havia um barra fixa desmontável, paralelas, cavalo, entre outros.

A tão almejada edificação para sediar a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau foi inaugurada em 3 de agosto de 1924, completando seu centenário em 3 de agosto de 2024.

Sua inauguração aconteceu com uma grande festa, da qual fizeram parte o Mannergesangverein – o Coro Masculino Liederkranz, a “Musikkappelle” Werner (o mesmo nome da família da esposa do suposto arquiteto), as apresentações de ginásticas nas barras, cavalo, ginástica rítmica, entre outras, culminando com baile. Foi uma quermesse que ocupou o dia todo e parte da noite, e terminou com um baile. No dia foram dispostas barracas sonorizadas, em que foram comercializadas guloseimas.

Esta festa poderá se repetir em 3 de agosto de 2024, nas comemorações do centenário.

Em 1929, de acordo com Edith Kormann, foi celebrado o Centenário da Imigração Alemã em Santa Catarina, sem mencionar Brasil e São Pedro de Alcântara. Por quê? Porque o primeiro grupo de migrantes alemães em Santa Catarina se instalou no território onde está o município catarinense Mafra. Estes festejos, que aconteceram em 17 de novembro de 1929, foram realizado na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau a partir das 8h. Contaram com a participação da Musikkappelle Baumgart e das sociedades de Canto do Itajahytal, dirigidas pelo professor de Altona, Max Humpl. O Coro Masculino Garcia 1, dirigido por Franz Baumgart, cantou Gruss an Oberinntal.

Também se apresentaram na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, nesse dia festivo:

• Sociedade de Canto Eintracht de Altona, regida pelo professor Max Humpl;
• Seção de Canto da Sociedade de Atiradores Velha Nova, regida por Walter Seelbach (irmão de Eugen Seelbach – ex-regente do Coro Masculino Liederkranz);
• Sociedade de Canto Liedertafel de Velha, regida por Arthur Müller;
• Sociedade ele Canto Saenflerlust de Blumenau regida por Eugen Seelbach – irmão de Walter.

No pátio da escola, ex-escola Neue Deutsche Schule, foi apresentada a peça teatral de Victor Schleiff – Na mata virgem (Im Urwald) – com o grupo teatral de Nova Breslau (Presidente Getúlio).
No início da noite aconteceu a Marcha Flamteaux, com as crianças. À noite aconteceram bailes na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, no Theater Frohsinn e no Salão Brueckheimer.

Descrevemos este evento, similar aos demais que aconteciam neste espaço multiuso, atualmente tão pouco lembrado, assim como quase nada de sua história. Nos seus ambientes eram praticados: o canto, a música, o teatro, a ginástica, esportes e entretenimento. Seu uso pleno e para o qual foi construído sofreu uma lacuna no período do Nacionalismo. Para isso suas práticas, ainda no século XIX, não mediram esforços para organizar e construir este local, a partir da construção de um edifício com uma arquitetura definida e com qualidade artística que completará somente 100 anos, diferentemente de exemplos concretos da terra de origem daqueles que a construíram.

Outros fatos históricos relacionados à história da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau

Em janeiro de 1930, quando a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau contava com aproximadamente 300 sócios, foram efetuadas manutenção telhado e ampliação de área. Gastos R$6:000$000.
Nos dias 28 e 29 de outubro de 1933, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau festejou a passagem do 60° aniversário de fundação. A programação iniciou às 17h com os festejos na sede e às 20h15 horas, no Theater Frohsinn, onde foram apresentados números de ginástica no palco.
Também se apresentou o Coro Masculino Liederkranz sob a regência de Heinz Geyer, que igualmente regeu a Musikkappelle Lyra na noite festiva. O baile foi sonorizado pela Banda Breitkopf e aconteceu na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau.
Evento ocorrido em 12 e 13 de 1932, conhecido como Gauturnfest, sendo essa a 5° edição.

Na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau também aconteceu a festa do Saengnbund Itajahytal em 19 de maio de 1935. A programação desta festa que se iniciou com a recepção dos cantores, às 9h, na Estação Ferroviária da EFSC, seguida pela marcha festiva em direção à sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau. Ás 10h, todos os coros presentes, juntos, cantaram Eintracht und Liebe.
Em seguida iniciaram-se as apresentações individuais dos coros participantes. No período da tarde todos os coros masculinos (que era uma tradição em Blumenau) cataram juntos Beim Holderstrauch e os coros mistos, Schön Blüh’n Die Heckenrosen.

Descrevemos o evento para, a partir de uma amostra, ter-se uma noção de como a ginástica e as práticas culturais de Blumenau, tinham espaço na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau. Nesse dia ainda houve a apresentação do concerto de cada uma das sociedades de canto, e à noite, aconteceu o baile social.

Eventos similares sempre aconteciam na sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, até 1938, quando aumentou a perseguição iniciada com o Nacionalismo no Brasil, durante a ditadura do governo do presidente Getúlio Vargas. Com isto, foram afastados seus professores de ginástica em 11 de abril de 1939, sendo que o contrato foi assinado em 14 de abril de 1939, a sede e o campo de futebol foram arrendados pelo 32° Batalhão de Caçadores, por tempo indeterminado pelo valor de 300$000 réis mensais. Pode-se se fazer uma ideia de como ficaram estas pessoas, após o silêncio dessa efervescência cultural e ambientes que elas mesmas construíram para a prática da cultura e do esporte.
Tal situação não demorou muito. Em 7 de julho de 1939, o 32° Batalhão de Caçadores devolveu as chaves da sede à Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau. O fato aproximou o 32° Batalhão de Caçadores daquela associação. Em 1940, quando a sociedade comemorou seu 67° aniversário de fundação, entre as competições de ginástica realizadas, sete provas foram em aparelhos e dedicadas aos oficiais do 32° Batalhão de Caçadores. Cinco provas de atletismo para homens foram dedicadas à juventude do Brasil. Quatro provas de atletismo para moças foram dedicadas ao Tenente Coronel Floriano de Lima Frayner e sua esposa. O punhobol disputado entre diversos clubes, obteve o prêmio Frederico Ki1ian. A corrida de resistência foi patrocinada por Bruno Koschel. A corrida de revezamento 10 x l00 para atletas, teve como prêmio, a taça Ingo Hering. O revezamento para moças 6 x 75, teve a taça Franz Gestwicki e o jogo final de punhobol teve como prêmio, a taça Walter Werner, o arquiteto, sogro do outro “arquiteto”, Richard Kaulich.
Também participaram do momento festivo de aniversário: a Sociedade Recreativa e Esportiva Ipiranga, Sociedade Desportiva Blumenauense, Esporte Clube Amazonas, Recreativo Brasil Futebol Clube, Clube Vitória, Clube Náutico América, Clube Atlético Catarinense, Liga Atlética de Florianópolis e Colégio Santo Antônio.
Em 24 e 25 de agosto de 1941, na Semana de Duque de Caxias, o 32° Batalhão de Caçadores promoveu uma missa campal, às 9h, no campo da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau. Das 13h45 às 9h, aconteceu no local, competições esportivas. Últimos eventos da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, o silêncio das práticas dos pioneiros e o roubo de seu patrimônio aconteceriam na sequência.

“Há quase 90 anos eu fazia ginástica lá.

Duas vezes por semana, meninas e moças se reuniam sob a direção da professora Fräulein Frischknecht para exercícios variados. Estes eram praticados ao ar livre e dentro do salão, havia aparelhos que também usávamos. O aparelho de que mais gostávamos era o Rundlauf. Segurávamos as pontas de uma corda .presa no alto a um centro rotativo. Dávamos impulsos com os pés e ” voávamos” pelo salão. Era um final de aula por todos desejado.
Infelizmente o destino do Turnverein seguiu o caminho de quase tudo que funciona em nosso país: a negligência e ignorância.” Elisabeth Derschum, 17 de junho de 2024.

Em função da 2ª Guerra Mundial – o patrimônio da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau foi incorporado ao Conjunto Educacional Pedro II – sem indenização

Por ocasião da 2ª Guerra Mundial, a sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau e o campo passaram a ser de uso do Estado de Santa Catarina e anexados ao patrimônio do Conjunto Educacional Pedro II, sem indenização, depois de tantos eventos e mobilizações de várias sociedades de Blumenau de décadas anteriores. Lembrando, que a partir de muitos eventos, a Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau comprou o terreno da Neue Deutsche Schule que depois se tornou “Pedro II” e construiu a sede que atualmente, erroneamente, é chamada de ginásio, ou ginástico, para mais ter a permissão de cantar, fazer teatro, tocar, a fazer atividade de ginástica. Essa ação teve reflexo, em pelo menos duas gerações e o idioma quase foi esquecido.
Atualmente a sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau e o espaço da ex-escola Neue Deutsche é a sede do Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires de Blumenau. Em 27 de outubro de 2023, atendendo à solicitação do Deputado Estadual Egídio Ferrari foi transferida para o patrimônio da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.

A solicitação foi recebida pela Secretária Adjunta de Educação e aprovada pelo secretário de administração, Moisés Diersmann e possui validade retroativa, datada de 2018, quando o colégio iniciou a atuação na cidade. A doação de imóveis públicos é uma prática regulamentada pelo art. 17 da lei 8666/1993, e leva em consideração o interesse da comunidade.
Vemos com muita preocupação o futuro deste espaço histórico. De uma maneira abrangente, poucos têm noção do que ele significou para Blumenau. Com isso, em 18 de junho, atendendo o convite da maestrina Carla Simas, fomos ao local. Observando o patrimônio histórico, sede do Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, e também a antiga escola alemã que especializa o Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (CFNP). O comandante e diretor, major Tiago Teixeira Ghilardi nos acompanhou e apresentou o local junto da musicista e maestrina da banda do colégio Carla Simas, ambos com muito interesse na recuperação do patrimônio. Também, mobilizam-se para as festividades do centenário do ginástico, sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenaudo, em 3 de agosto de 2024, contando com o apoio da comunidade e lideranças blumenauense e catarinense.

Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires (CFNP) – em 18 de junho de 2024 – ex-escola Neue Deutsche Schule

 

 

 

Vídeo

Comentário

Após esta pesquisa, encontramos a explicação para a característica pose feita por muitos, nas primeiras décadas de história na região, onde se busca, de maneira disciplinar, a simetria da formação daqueles que estão na foto, seja na frente de uma escola, no bolão, no clube, ou mesmo em casa. É uma das características da formação final da ginástica. Como é bom conhecer e compreender a sociedade a partir do conjunto de suas práticas.

Arquitetura da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau

Não se poderia chamar esta edificação de ginásio, ou ginástico, mas sim, de sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, uma prática esportiva que está alinhada à arte, teatro, música, (…) e como tal foi projetada por um arquiteto cujo nome não temos certeza de seu nome. A impressão que tivemos é de que quando foi espaço multiuso era denominado “Ginástico”, que depois, quando parte do patrimônio de “Pedro II”, a edificação histórica se transformou em somente ginásio, e com o tempo, e a perda paulatina das informações históricas sobre esta arquitetura e o não interesse pela prática da ginástica dentro da sociedade de Blumenau do século XIX, a denominação permaneceu, como a verdade histórica. A edificação, tem sido encampada por um estabelecimento estadual, ficou “afastada” de sua história e origem, como também de seu conceito de uso.
Introduzimos essa descrição dessa maneira, porque sua arquitetura, a partir de seu uso original, lembra as várias variantes de arte. Talvez nem seja honesto reportar a edificação histórica “como o primeiro ‘ginásio’ coberto de Santa Catarina”. Não foi projetada e construída para ser um “ginásio”, tanto que em seus ambientes, eram apresentadas peças de teatro, apresentações de canto coral juntamente com apresentações de ginástica.

Sua arquitetura é eclética com elementos predominantes do clássico. Observando as raras fotografias existentes, é possível notar que o projeto original já foi alterado em alguma intervenção feita. Uma de nossas fontes de pesquisa, mencionou que o seu arquiteto é o mesmo que projetou Schützengesellshaft Blumenau – atual Tabajara Tênis Clube. Há elementos semelhantes nas duas arquiteturas históricas. A sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau, como elemento eclético, apresenta “colagens” de arquitetura de outros recortes de tempo e também de tipologias locais, como a presença da mansarda, com rosácea ovalada. As janelas são de madeira, tipo guilhotina, lembrando os edifícios públicos da época. Algumas das bandeira, terminadas com arco pleno, foram fechadas. Destaque para o alto-relevo de pilares com linhas clássicas.

Foi encontrado esse compartimento sob a grande escada de acesso aos ambientes culturais. Fez-nos lembrar da escada encontrada na Casa Buzzi de Ascurra, para esconder o padre José Maria Jacob, de seus perseguidores. Há um compartimento que permite um homem de pé, confortavelmente. Também lembrou os túneis, que chamam de galeria de águas pluviais, em Blumenau. Nós dizemos, que para um soldado prussiano, onde sua terra natal está em conflito, é natural a construção de um compartimento, para se proteger e também a sua família. A guerra traz traumas já registrados em publicações. Mas aí está, um compartimento sob a escada da sede da Associação Gymnastica Blumenau – Turnverein Blumenau – Ginástico.

Um Registro Para a História.

Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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@AngelWittmann (Twitter)

Referências

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• ASSMANN, Alice Beatriz; MAZO, Janice Zarpellon. As Schützenvereine- Sociedades de Atiradores – de Santa Cruz do Sul: um tiro certo na história do esporte no Rio Grande do Sul. Esporte e Sociedade, v.7, n.20, p.122-153, 2012.
• FERREIRA, Cristina. Visões do Vale: perspectivas hisroriográficas recentes. Organizadoras: Cristina Ferreira e Méri Frotscher. Blumenau: Nova Letra, 2000.
• GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José : Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.) : il., retrs.
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• QUITZAU, Evelise Amgarten. Associativismo ginástico e imigração alemã no sul e sudeste do Brasil (1858-1938). 2016. 242f. Tese (Doutorado)- Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 2016.
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• KORMAM, Edith. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva – 7.1.10.1 doc – 01. 
• Redação NSC notícias. Colégio Militar em Blumenau será na escola Pedro II. 16 de outubro de 2017. Disponível em: https://www.nsctotal.com.br/noticias/colegio-militar-em-blumenau-sera-na-escola-pedro-ii . Acesso em 12 de junho de 2024, 10h.
• ROSSBACH, Roberto Fabiano. A música em Blumenau no início da colonização alemã (1863-1937).2008. 175f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Música, Universidade do Estado de Santa Catarina, 2008.
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• Secretaria de Cultura e Relações Institucionais. Memória Digital: Memória Digital: Frohsinn Blumenau, 1° de agosto de 2017. Disponível em: https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/fundacao-cultural/fcblu/memaoria-digital-frohsinn58. Acesso em 16 de junho de 2024, 17h04.
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• FROTSCHER, Méri. Identidades móveis: práticas e discursos das elites de Blumenau.(1929-1950) Blumenau: Edifurb, 2007.