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A história das embarcações no rio Itajaí-Açu em Blumenau

Capa: O rio Itajaí-Açu já teve um intenso trânsito fluvial e dotado de dois grandes portos públicos, somado a outros tantos privados. Na fotografia, a ponte ferroviária Aldo Pereira de Andrade, a comunidade Farroupilha, o Vapor Blumenau I e o grande rio Itajaí-Açu. Fotografia de Willy Sievert.

Capa: Stadplatz da Colônia de Blumenau e as vias fluviais no Vale do Itajaí. Fonte: SANTA CATARINA – Atlas de Santa Catarina, 1986 – Alterado por WITTMANN.

[…] “mais um rio navegável e a facilidade da saída dos produtos que combina com fertilidade do solo garantem a prosperidade do lavrador e um extensíssimo sertão de ubérrimas terras devolutas, acomodação e estabelecimento de ainda muitos milhares de família. Estas extensas terras devolutas e incontestadas formam, na realidade, um precioso tesouro, que em tão boa situação não se acha em muitas partes no Império.” (MATTOS, p. 98).

O primeiro barco a vapor a navegar pelo rio Itajaí-Açu foi o Dom Pedro, da Marinha de Guerra do Brasil, em 1857. Em 1871, algumas lideranças locais, sob a associação do Kulturverein, decidiram que também era o momento de colocar um vapor que fizesse a ligação do ponto final de navegabilidade do Itajaí-Açu, sede da Colônia Blumenau, até o porto marítimo, pois os negócios locais estavam sendo prejudicados pela dificuldade de escoamento da produção.

Esta foi a primeira iniciativa das primeiras lideranças locais, entre muitas ações com a pretensão de melhorias nas vias de comunicações entre a região do Vale do Itajaí e outras. Mais tarde, foi complementada pela efetiva implantação da estrada de ferro na região, interligando todos esses núcleos urbanos distribuídos na bacia do Vale do Itajaí.

Seguindo esta primeira decisão das lideranças locais, surgiu o primeiro barco a vapor para fazer o trajeto regular entre Blumenau e Itajaí. De acordo com notícias na revista Blumenau em Cadernos, tomo XXI nº 10, outubro de 1980, página 284, o barco foi adquirido por Eduard Schadrack, ou o seu nome verdadeiro – Carl Wilhelm Eduard Schadrack, de Brestlein de Joinville, em agosto de 1871. Tal vapor, batizado de São Lourenço, inaugurou suas viagens regulares como rebocador de lanchas de carga.

Carl Wilhelm Eduard Schadrack, nascido na Hamburg, em 14 de setembro de 1816 e falecido em Blumenau em 7 de abril de 1899.

“Eduard Schadrack veio ao Brasil, pela primeira vez, segundo relato de um de seus netos, ainda sozinho, em 1860, ao término de uma longa viagem, que iniciou na Venezuela, seguindo a cavalo até Santiago do Chile atravessou os Andes cavalgando, visitou a Argentina, o Uruguai, entrou no Brasil pelo Rio Grande do Sul e finalmente seguiu, sempre a cavalo, à procura de uma nova pátria para ele e sua família, até a nova Povoação de BLUMENAU, lugar que considerou o mais propício para servir de nova pátria para sua família.” Frederico Killian –  Figuras do Passado. Revista Blumenau em Cadernos, junho de 1977.

Relatório da lista de imigrantes que viajaram no Vapor São Lourenço. Fonte: WITTMANN.

Transcrição (ipsis litteris)
Colonia Blumenau

Relação dos imigrantes, transportados pelo vapôr São Lourenço e entrados n’esta colonia em 30 de outubro de 1879.

Colônia Blumenau, 31 de Outubro de 1879.
O Director
H. Blumenau

O trajeto de Blumenau a Itajaí, rio abaixo, era feito em 5 horas, e de rio acima em 10 horas. Mais tarde, São Lourenço fazia as viagens irregulares entre a capital da Província e outros pontos da costa catarinense. Ele subia o Itajaí-Açu até Belchior, onde corredeiras impediam-no de ir até Blumenau.

A seguir, fotografia de uma correspondência de Hermann Blumenau, solicitando verbas para a retirada de pedras do leito do rio, nas proximidades de Belchior, para permitir a passagem do vapor pelo rio Itajaí-Açu até Blumenau.

Fotografia da correspondência do diretor da colônia, Hermann Blumenau à Presidência da Província. Fonte: WITTMANN

Transcrição (ipsis litteris)

Ilmo. e Exmo. Snr.
Pelo aviso do Ministério da Agricultura – communicado também mutatis mutandis, à essa Presidência – e 27 de janeiro de 1875, foi posta à minha disposição a importancia de cinco contos de reis, por conta da verba de Terras Públicas e colonisação para preceder a remoção de algumas pedras de uma corredeira do rio Itajahy, afim de tornar-se franca a navegação do mencionado rio, de sorte que o vapor da empreza subvencionada pelo Estado, que serve para a communicação entre a colonia Blumenau e a Capital, possa chegar ao porto d’aquella.
Ora, não sendo então, nem hoje praticavel, tornar franca a alludida navegação para um vapor do genero do São Lourenço e seu calado de cerca de seis pés inglezes – em mesmo com o emprego de dezenas de contos, e não querendo eu esbanjar com serviços infructiferos aquelle credito, restringi-me a alguns ensaios e a remover do canal algumas pedras, das mais perigosas, e grande numero de troncos.
Despendi assim a quantia de Rs 358, 810, mas por conta da receita ordinaria da Diretoria, achando-se esta despeza exarada no balanço do primeiro trimestre – Julho a Setembro – do exercício de 1876-77, no seu tempo apresentado à Thesouraria, e tendo portanto ficado intacto o alludido credito de Rs 5:000,000.
Actualmente as circomstancias estão completamente mudadas, sendo adiantada a construção.

O governo provincial liberou uma quantia de 5 contos para desobstruir o rio Itajaí-Açu nas corredeiras de Belchior, e no dia 10 de agosto de 1878 foram aprovados os estatutos da “Companhia de Navegação Fluvial a Vapor Itajahy-Blumenau”.
Mesmo com as dificuldades encontradas pela companhia, ocasionadas pela desconfiança do sucesso do empreendimento, foi encomendado um navio a vapor de rodas, construído nos estaleiros de Schlicksche Flussdampfwerke, em Dresden, Alemanha. O navio, adquirido com um capital inicial de 30 contos de réis, dividido em títulos de 100 mil réis, atravessou o Atlântico a reboque de outro barco e transportaria passageiros, pequenas cargas, bem como rebocaria grandes lanchas, destinadas unicamente a carga pesada, entre a sede da colônia e o porto de Itajaí.

“O vapor, a que foi dado o nome de “Progresso”, construído em Dresden, chegou, efetivamente, a Blumenau em meados de 1879, tendo-o a população recebido com música, foguetes e júbilo geral. Era um barco de rodas laterais, de 22 e meio metros de comprimento por 3,34 m de largura, calado de 70 centímetros.” (SILVA, 1988, p. 103).

Vapor Progresso. Fonte: WITTMANN

Lembre-se que, nesse período, coincidindo com a chegada do Progresso, a região passava também a ser entreposto comercial entre o litoral e o planalto, graças à abertura da estrada que ligava a região ao Planalto Serrano – estrada Blumenau–Lages.

“Emil Odebrecht mostrou sua impressão aos companheiros Fritz Mueller, Wilhelm Friedenreich, Carl e Teodoro Kleine:“[…] Blumenau é tão somente um elo importante na imensa cadeia, por ficar junto ao porto marítimo natural de todas aquelas regiões […] as distâncias deixarão de ser entrave e no que concerne às despesas de transporte, serão ínfimas, possibilitando relativa prosperidade ao colono”. Com o crescimento da produção colonial e industrial, reforçou-se a busca deste canal de escoamento da produção. Em 1881, colonos, comerciantes e industriais comemoraram a chegada a Trombudo Central da estrada que ligaria Blumenau a Curitibanos. Faltavam apenas 41 quilômetros do total de 170 quilômetros previstos. Enquanto isso, a ligação por terra com Itajaí continuava precária e não era uma prioridade, pois a utilização do rio parecia ser muito mais fácil, rápida e barata. Meio de chegada do fundador e dos primeiros colonos, o rio Itajaí-Açu continuou sendo a porta de entrada e saída de Blumenau por muitas décadas. A ida e vinda de pessoas e mercadorias era feita entre a cidade e o porto de Itajaí em canoas ou pequenos barcos até 1879, quando passou a operar o vapor Progresso.” (SANTIAGO, 2001, p. 35).

Porto Fluvial localizado na atual Praça Hercílio Luz, que recebeu duas construções em sua área pública, nos último 20 anos. Espaço de notório valor histórico para Blumenau e região e foi um dos locais mais movimentados e no qual entravam as novidades de outras regiões e do mundo. Festividade marcada pela presença de inúmeras embarcações.

Por esses tempos, igualmente, foram colocadas inúmeras balsas para travessia em vários trechos do rio Itajaí-Açu, nos locais onde atualmente ficam Itoupava Norte, Badenfurt, Passo Manso, Carijós e Ascurra; e balsas que proporcionavam acesso às nucleações da margem esquerda, como Itoupava, rio do Testo, Mulde, Benedito, Cedros, São Pedro, Guaricanas, São Paulo, Rodeio, entre outras (território da Colônia Blumenau).
Com o fortalecimento econômico da região, resultado do aumento das transações comerciais, o Progresso não atendia mais à demanda do transporte de cargas e passageiros. Em 1893, a Companhia de Navegação Gustav Ferdinand encomendou um navio maior, na mesma fábrica alemã construtora do vapor Progresso. Sua construção foi concluída em 1894, e tinha 28 metros de comprimento, 4,40 metros de largura e 2,10 de altura. Foi batizado de Vapor Blumenau. Navegou pela primeira vez em 1895, tendo a bordo o governador Hercílio Luz. Também, registrado nessa coluna, por muitos anos, seu capitão foi Gustav Hackländer.

Vapor Blumenau. Fotografia: Willy Sievert.
Porto Fluvial de embarque e desembarque de passageiros – Stadtplatz da Colônia Blumenau. Fonte: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU – Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.
As mercadorias eram transportadas até o porto fluvial, por veículos de tração animal. Fonte: Fonte: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU – Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.
Porto na foz do Ribeirão Garcia, no rio Itajaí-Açu – Blumenau. Fonte: RIO DO SUL (SC) – Arquivo Público Histórico de Rio do Sul – Alterado por WITTMANN.

Curiosamente, a citação abaixo foi extraída do Anuário de Itajaí, de 1949, afirmando que a construção do navio Vapor Blumenau data de 1897, contradizendo historiadores locais, que afirmam que a Companhia de Navegação Gustav Ferdinand encomendou o Vapor Blumenau em 1893, na mesma fábrica alemã construtora do vapor Progresso, a Damfschiffs und Maschinen Bauanstalt. Afirmam, ainda, que sua construção terminou em 1894.

“Ao Progresso seguiu-se anos depois um vapor maior, também de rodas, chamado Blumenau. Todo o material foi importado, fazendo-se aqui a armação apenas.
A construção deste navio data de 1897. Assim que se fundou a Estrada de Ferro Santa Catarina, para realizar a construção do trecho Blumenau e Hammonia, ela incorporou a Companhia Fluvial e tratou de provê-la de melhor material, além de uma grande chata de ferro para o transporte do material rodante e de outras peças pesadas.” (KONDER e SILVEIRA JÚNIOR, 1949, p. 29).

Porto e Prainha. Fonte: WITTMANN.
Vapor Blumenau I.
Vapor Blumenau I.
Navegação no Rio Itajaí-Açu. Fonte: WITTMANN.
Localização do porto fluvial de embarque e desembarque de carga e de passageiros – Colônia Blumenau. Fonte: GOOGLE MAPS, 2006 – Alterado por WITTMANN.

É importante a participação da Companhia Fluvial na história da ferrovia na região. Logo que foi inaugurada a implantação da EFSC, esta incorporou a Companhia Fluvial, que foi munida de uma chata de ferro para o transporte do material rodante e outras peças pesadas utilizadas na construção da ferrovia no Vale do Itajaí.
Para esclarecer:

Chata é um tipo de embarcação de pequeno calado e fundo chato que podem ter sua própria propulsão ou não. São conhecidas também de chata as embarcações de serviço em portos, seja para a dragagem, carga e descarga de navios ou abastecimento de óleo.

A EFSC construiu um segundo porto na sede da Colônia Blumenau, para que o material pesado para a construção da ferrovia não precisasse passar pelo centro da cidade e separar os embarques e desembarques de pessoas e produtos. O porto situado na Itoupava Seca foi um local estratégico para fazer a baldeação entre os dois meios de transporte que se complementavam, durante pelo menos 45 anos (de 1909 até 1954 – data da inauguração do trecho ferroviário de Blumenau a Itajaí). Anexas ao porto da Itoupava Seca localizavam-se as oficinas da EFSC.

Porto fluvial de embarque e desembarque de carga – Itoupava Seca, da Colônia Blumenau. Fonte: GERODETTI; CORNEJO, 2005.
Porto de cargas, Itoupava Seca. No rio Itajaí-Açu, a balsa mais ou menos no local da Ponte Santa Catarina. A Grua de madeira.
Porto de Cargas de Itoupava Seca. Há uma pessoa “pulando”, fotografada nesse instantâneo. Também, a balsa atravessando o Rio Itajaí-Açu.
Porto de Cargas – Itoupava Seca. Fonte: WITTMANN

De acordo com a narração de Marcos Konder, pai de Victor Konder e de Gustavo Konder, no anuário de Itajaí de 1949, a Companhia Fluvial teve concorrente. A empresa, de propriedade de Henrique Grewsmühl, de Blumenau, e Luiz Altenburg, de Gaspar, tinha um rebocador chamado “Jahn” (1889) e diversas peruas de reboque. Mais tarde, a Companhia Fluvial incorporou esta empresa e ficou sozinha em campo.

No dia 9 de setembro de 1904 foi comemorado o Jubileu de Prata do vapor Progresso, celebrando seus 25 anos de viagens entre Itajaí e Blumenau. Todo embandeirado e ornado de palmitos e flores foi recebido com grande festa, no porto do Stadtplatz de Blumenau.

Vapor Progresso – 9 de setembro de 1904, Jubileu de Prata. Fonte: WITTMANN

Mesmo com a presença da estrada de rodagem entre Itajaí e Blumenau, de apresentação muito rudimentar e em condições precárias, a empresa de navegação fluvial não sentia a concorrência com o transporte por terra. O transporte fluvial ainda era mais econômico, rápido e seguro. Esta afirmativa é avalizada por Marcos Konder no anuário de Itajaí de 1949, conforme citação abaixo. A Empresa de Navegação Fluvial complementava o transporte ferroviário para o escoamento da produção. A ferrovia promovia a ligação entre as principais nucleações do vale acima e destas ao porto fluvial da sede da colônia. Esta parceria aconteceu até 1954, data da inauguração da ferrovia até Itajaí.

“Surgiu então a estrada de rodagem entre Itajaí e Blumenau, a princípio com condições precárias, dando passagem apenas a fordecos antigos, mas essa concorrência terrestre não fazia mossa à navegação fluvial, porque conduzia apenas passageiros, continuando a carga com o rio, que era sempre a via de comunicação mais barata. Tanto assim que se formou outra empresa fluvial: Juvêncio Tavares d´Amaral e Cap. Adolfo Germano de Andrade, para a condução de carga.” (KONDER e SILVEIRA JÚNIOR, 1949, p. ??).

Navegabilidade no Rio Itajaí Açu. Fonte: WITTMANN.

“Quando a estrada de rodagem passou por melhorias e aumentou a frota de caminhões de carga e ônibus, ‘a via fluvial, embora mais em conta, começou a sentir os efeitos da concorrência terrestre, mesmo porque o transporte da mercadoria era feito da casa do vendedor à do comprador, não ficando sujeito a avarias, faltas e roubos’.” (ANUÁRIO DE ITAJAÍ, 1949).

De acordo com o relatório de Marcos Konder no Anuário de Itajaí de 1949, houve um incremento no negócio de madeiras para a Argentina; tudo se reajustou e surgiu a necessidade de criar linhas de navegação fluvial para o transporte desse produto extrativo, de Blumenau ao porto de Itajaí. Apesar disso, o transporte terrestre continuou com intensidade, uma vez que era buscada madeira até no oeste catarinense, especialmente em Caçador. A situação se agravou para as empresas de navegação quando o governo argentino cessou os negócios de madeira e as empresas fluviais se encontraram em dificuldades para manter seu tráfego. Algumas ações foram usadas para tentar baixar as tarifas da madeira, mas um poder mais alto se levantou:

a) a alta dos salários dos tripulantes;
b) o aumento do número da tripulação;
c) a intervenção da estiva em Blumenau e Itajaí para as empresas fluviais, que jamais estiveram sujeitas a semelhante regime;
d) a concorrência do transporte feito por caminhões e ônibus, e melhorias nas rodovias.

Ônibus da Ferrovia EFSC. Fonte: WITTMANN.

Exceto a Companhia Fluvial da Estrada de Ferro Santa Catarina, que permanecia atuando com o transporte ferroviário – embora este já estivesse sendo apontado como deficitário – todas as demais empresas de transportes fluviais pararam suas atividades.

“[…] amarram as suas lanchas e as suas embarcações de reboque para deixá-las apodrecer e converter-se em lenhas e sucatas. Encerrou-se talvez para sempre uma página gloriosa do nosso rio, fadado a ser agora uma simples correnteza a levar ao mar aguapés e à cidade pequenas embarcações com lenha, e servir de elemento para as redes de espinhel dos pescadores ribeirinhos […].” (KONDER e SILVEIRA JÚNIOR, 1949, p.??).

Norberto Cândido Silveira Júnior foi assessor especial do gabinete do governador Antônio Carlos Konder Reis.

Porto marítimo em Itajaí. Detalhe do Vapor Blumenau atracado, início do século XX.

O transporte fluvial foi uma extensão, por longo tempo, do transporte ferroviário na região do Vale do Itajaí. E durante um período o Vale do Itajaí tinha em funcionamento os transportes rodoviário, ferroviário e fluvial, caracterizando a intermodalidade existente na região neste tempo, onde também existia o transporte cicloviario.

Porto na Foz do Ribeirão Garcia, no Rio Itajaí-Açu. Fonte: WITTMANN.

Curiosamente a Prainha situada na Praça Juscelino Kubitschek – Blumenau, era um espaço público de lazer dos blumenauenses nas primeiras décadas de sua história, onde tomavam banho de rio e atravessavam de uma margem a outra de balsa. Conforme se pode observar na fotografia anterior, o porto fica localizado na Praça Hercílio Luz, na outra margem.

Prainha – aos fundos o Morro do Frohsinn – Mirante natural de Blumenau.

O Vapor Blumenau I e a Enchente

Praça após a enchente de 2008 – não mais retornou a sua normalidade. Vapor Blumenau I – que tivera sido totalmente restaurado.
Sem acesso às pessoas – Contemplação. Enchente de 2014.
Em junho de 2020.

Mediante o risco de nova inundação no local, agora nesse tempo de outubro de 2023, pessoas entraram em contato conosco e nos solicitaram que observássemos o Vapor Blumenau de suas janelas e ele, aparentemente, se encontrava em risco de ser levado pelas águas do rio Itajaí-Açu, semelhantemente ao que acontecera com o outro barco, mais jovem e utilizado para passeios pelo rio Itajaí-Açu, com serviço a bordo. Esse barco foi avariado em uma das enchentes; foi então deixado em um determinado local do rio de sua margem direita, e afundou.

Vapor Blumenau II afundou às margens do rio Itajaí-Açu, em Ilhota. Tipologias de barcos que navegam em rios da Alemanha atual. O profissional de turismo Antônio Pedro Nunes sabia disso.
Outubro de 1982, gastronomia e passeio de barco no rio Itajaí-Açu à bordo do Vapor Blumenau II. Barco idealizado por Antônio Pedro Nunes, Secretário de Turismo de Blumenau que organizou a primeira edição do Oktoberfest Blumenau, exatamente dois anos após essa fotografia, em outubro de 1984.

As pessoas, ao observarem o Vapor Blumenau I em uma situação de perigo, alertaram autoridades e também nos encaminharam uma notinha, cientes de que todos somos guardiões daquilo que herdamos, no que tange à história presente no patrimônio, paisagens construídas e naturais. É preciso ter cuidados com o Vapor Blumenau I, sabendo que toda essa região será revitalizada, e a história somente aumenta seu lastro e identidade.

“Gostaríamos de lhe avisar sobre uma coisa séria que está acontecendo com um dos maiores patrimônio histórico de Blumenau. Eu e minha mãe, olhando aqui do terraço do nosso prédio, para a prainha, vimos que o rio está chegando perto do barco Vapor Blumenau I. Se não tirarem ele de lá, a enchente acabará o levando. Ele poderia ser colocado na rua Porto Rico, próximo do Ataliba e estaria seguro. Ligamos para os bombeiros falando sobre o assunto, uma vez que na enchente passada foram eles que tiraram ele de lá. Responderam-nos que não tem nada a ver com o caso e que é com a prefeitura. Ligamos para a prefeitura, ninguém atendeu. Então ligamos para defesa civil, e também ninguém atendeu. Então, se você puder falar com alguém sobre isso e salvar o nosso vapor, já que o outro barco Blumenau já afundou e não podemos perder mais esse. Agradecemos muito se puder fazer. Era isso que nós queríamos lhe avisar.” Caleu Milchert e Rute Imianoski. Blumenau, 8 de outubro de 2023.

E não poderia ser diferente. Vamos salvaguardar também o patrimônio histórico de Blumenau, se houver necessidade. Nada está definido com relação ao clima/tempo, mas as águas do rio Itajaí-Açu então abaixando, felizmente. Fica o alerta para quando houver situação semelhante.

Vapor Blumenau I. Fonte: Redes Sociais – Guia SC Turismo.

Nos vídeos a seguir, feitos em  7 de outubro e 9 de outubro de 2023, respectivamente, estão alguns dos locais citados no presente artigo. No primeiro, quando o nível do rio Itajaí-Açu estava em torno de 5 metros e no segundo, em torno de 10 metros.

Chegada dos primeiros 17 imigrantes alemães para fundar a Colônia Blumenau – Foz do Ribeirão da Velha no grande Rio Itajaí-Açu. 2 de setembro de 1858. Foto da obra original.

Um registro para a História.

Referências

  • GERODETTI, João Emílio; CORNEJO, Carlos. As ferrovias do Brasil nos cartões-postais e álbuns de lembranças. São Paulo: SOLARIS, 2005. 260 p, il. +, 1 Mapa.
  • KILLIAN, Frederico. Figuras do Passado. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo XVIII, N° 6, Junho de 1977. Fundação de J. Ferreira da Silva. Direção: F. C. Allende. Blumenau, 1977.
  • MATTOS, Gercino. Símbolo de saudade e progresso. Blumenau em Cadernos, Blumenau, tomo 9, n. 5, p. 83, maio 1968.
  • SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita; FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
  • SILVA, José. História de Blumenau. 2. ed. Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. 299 p.
  • SILVEIRA, Norberto Cândido Júnior; KONDER, Antônio Carlos. Anuário de Itajaí, de 1949
  • WITTMANN, Angelina C.R. – A ferrovia no Vale do Itajaí: Estrada de Ferro Santa Catarina – Blumenau: Edifurb, 2010. – 304 p. :il.

Leituras complementares – Clicar sobre o título:

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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