A história de Rikobert Döring e a sua contribuição com a música e a arte em Blumenau
Capa: Rikobert Döring, músico e compositor nascido em Mulde Central, Timbó, em 5 de julho de 1932.
Registramos para a História da arte e da música, da cidade de Blumenau e região, momentos do evento da comemoração da passagem dos 50 anos da Banda Cavalinho (Branco) que aconteceu em 23 de agosto de 2023, no Setor 4 – Spaten Platz – no Parque da Vila Germânica.
O evento contou com a presença de integrantes atuais da banda, com ex-integrantes, a banda convidada “Os Fritz” e convidados da cidade de Blumenau e de outras cidades de Santa Catarina e do Brasil. Também estava presente, Rikobert Döring, o responsável pelo embrião dessa história.
Por volta das 21h30, a banda aniversariante deu início ao seu show com um Remake, a partir do uso do traje da Banda Cavalinho Branco e das canções compostas por Rikobert Döring, seu fundador. Rikobert estava presente no show festivo e ao assistir e ouvir suas canções no palco, não conteve sua emoção.
Rikobert Döring recebeu abraços dos ex-integrantes e também de seus filhos Marciel Döring e Marcos Döring. Também foi homenageado pelo grupo aniversariante com uma placa comemorativa da atual Banda Cavalinho.
“Se não fosse ele, nada disso estaria acontecendo”, Dias.
Rikobert Döring (Rigo) e o início da Banda Cavalinho Branco
Acompanhamos a trajetória de Rikobert Döring desde 1984, quando surgiu a primeira edição do Oktoberfest Blumenau e de sua liderança na banda que tocou no tradicional restaurante de Blumenau, fundado por Antônio Pedro Nunes e Marga Holtzmann Nunes, no edifício da Maternidade “Johannastift”, idealizada por pessoas que tinham interesse em oferecer o “bom parto” às mulheres que não tinham condições em tê-lo.
Rikobert Döring nasceu na localidade de Mulde Central, município de Timbó em 5 de julho de 1932. Seus pais foram Hermann Döring, nascido em 28 de janeiro de 1910 e Ida Döring, nascida em 9 de fevereiro de 1911.
Quando Rikobert tinha 16 anos, trocou sua bicicleta por um acordeom. Em Blumenau, estudou música com Franz Baumgart, no conservatório de Música Curt Hering, localizado no Teatro Carlos Gomes.
Franz Baumgart – O músico do povo
Professor de música de Rikobert por Edith Kormann
Franz Baumgart, o músico, o regente, o improvisador que sem formação acadêmica, ensinou tudo o que sabia e o que era para formar ou bandas musicais. Que com o seu surrado terno preto, a gravata borboleta mal afixada, que deixava de comer para comprar papel pautado para escrever músicas para seus alunos, amigos músicos e dirigentes de “Musikkapellen”, se transfigurava quando regia, e quando a frente da Banda Musical, desfilava com um garbo indescritível, alegrando o Vale do Itajaí com suas apresentações, faleceu pobre, sem alarde, e sua passagem pelo nosso Verde Vale foi brilhante como se pode constatar pelo número de músicas que passaram pelas suas mãos. Temperamental como todo artista, Chico, como alguns o chamavam carinhosamente, foi o músico do povo!
Francisco Baumgart, nasceu na (Berlin), no dia 8 de novembro de 1877, estudou no “Conservatório de Petersen até os 12 anos de idade. Aos 16 anos, acompanhado de seus pais Emil e Pauline Baumgart e do irmão Otto, embarcou no vapor “Argentina”, que aportou no Brasil no dia 19 de fevereiro de 1904, sendo caminhados para a ilha das “Flores”. Um ano depois seu irmão Otto voltou para a Alemanha e Franz com seus pais foram para Anitápolis. Depois de dois anos resolveram ir para Ibirama (Hammonia), onde adquiriram, em Rio Rafael, terras na lavoura e fabricavam tamancos. Rio Rafael, na época, era um lugar tão desolado que os colonos que lá se fixaram o com o nome de “Neu Elend” (Nova Miséria). Franz que estudara música na Alemanha, além de trabalhar na lavoura tevê oportunidade de participar do Conjunto Musical Sperber e Seltmann. No dia 11 de dezembro de 1918, Francisco Baumgart casou-se com Anna Koglin, nascida em Rio Sellin (Ibirama) no dia 24 de março de 1898. O casal teve quatro filhos: Edith, Marcolino Alfredo, Werner e Ilse que faleceu em Ribeirão Ferro. Mais tarde Franz exerceu o cargo de professor de uma escola particular em “Eisenbach” (Ribeirão Ferro). Na época, os candidatos ao cargo de professor tinham que se submeter a exame, principalmente português, e Franz submeteu-se, o que não foi fácil para quem só falava o alemão, porém não conseguiu continuar no cargo. Franz prestou exame em Blumenau com Carlos Techentin que era diretor de Grupo Escolar. Em Ribeirão Ferro, Franz, formou uma bandinha e uma sociedade de cantores, que tirou o primeiro lugar, por três vezes, em festa de cantores. A bandinha participava também das festas dos Atiradores, casamentos e outras atividades. Franz participou do conjunto musical que tocou na inauguração do salão dos Atiradores de Dona Emma.
Em 1925, mudou-se para Blumenau, no bairro da Velha, onde trabalhou como sapateiro e também como músico. Alguns meses de pois foi trabalhar na Empresa Industrial Garcia e como era músico, foi indicado para dirigir a banda da Empresa Industrial Garcia, que foi fundada, e dirigida por Heinrich Schreiber (Koester foi o segundo dirigente). Franz formou também um conjunto com Curt Winkler e Eugen Seelbach e tocavam no antigo teatro “Frohsinn”, e quando este foi demolido, foram tocar no Hotel Seifert (onde hoje se localiza o Edifício Catarinense). Um pouco antes da Segunda Guerra, Franz era dono de um bar na Rua S . Paulo (hoje Bar Rainha) quando foi convidado por Gustav Froehlich de Itoupava para auxiliá-lo na banda.
Os ensaios eram realizados no bar, porém com o rompimento das relações entre o Brasil e Alemanha, Franz fechou o bar. Ficou em grandes dificuldades financeiras, até que Afonso Moreira, que tocara com Franz na banda da Empresa Industrial Garcia e que formara o “Jazz Garcia” o convidou para participar do mesmo. Franz ficou apreensivo, pois era alemão e não tinha salvo-conduto, caso surgissem apresentações em outras cidades. Afonso Moreira conseguiu o salvo-conduto e Franz tocou até 1945, quando Afonso Moreira resolveu deixar tudo e ir para o Rio de Janeiro onde a remuneração era melhor. De 1945 até 1946, Franz tocou no conjunto de Carl Zachner, até que este caiu do palco quebrando todas as costelas, incapacitando-o para tocar bandoneon . Franz tocou violino com Manoel C. S. Krieger, e com Eugen Sselbach tocou trombone. Tocou sob a batuta do Maestro Heinz Gayer na Orquestra do Teatro “Carlos Gomes” e deu aula de música no Conservatório de Música “Curt Hering” . No dia 23 de janeiro de 1953, foi indicado para ser dirigente técnico para canto, música e teatro da Recreativa, e Cultural “LYRA”. Fundou o Stúdio Musical Universal e com os alunos da mesma formou inicialmente a Orquestra da Juventude. Em 1955 o Conjunto do Stúdio Musical do qual participaram, Rikobert Döring, Domenico Junkes, Heinrich Schlingmann, Alfred Baumgart (filho de Franz), Claudionor Lorenzo, A. Karsten e Kaltenbach. O Stúdio Musical Universal funcionava numa velha casa na Rua Paraíba, onde Franz reunia amigos para assistirem às principalmente os pais dos alunos. O Conjunto do Stúdio Musical Universal e a Orquestra da Juventude regidos por Baumgart se apresentaram na cidade de Blumenau e adjacências.
Mais tarde participaram do Conjunto Stúdio Musical Universal, Penzlien, Struck e Waldemar Felski. Franz também era compositor e uma de suas composições “Em Forma” faz parte do “LP” “Antigamente era assim .. . “. Em 1962, o então Prefeito Municipal Hercílio Deeke, convidou Franz Eaumgart para formar e dirigir a Banda Municipal de Blumenau.
Franz Baumgart, faleceu no dia 28 de agosto de 1977.
Baumgart, mais uma das personalidades que estão fora da História local.
Ele lançou Rikobert Döring, quando ao sair do Conservatório, fundou o Stúdio Universal que funcionava no mesmo prédio da Casa Willy Sievert, formando o Conjunto Musical do Stúdio Universal. A primeira apresentação do conjunto foi em 8 de janeiro de 1955 no baile da Sociedade Recreativa e Cultural “Lyra” – salão Paulo Fischer.
Rikobert Döring estreou em 1961, tocando um acordeom da marca Scandalli 1955. Portanto, há mais de 60 anos.
Em 18 de abril de 1965, Rikobert fundou o conjunto musical “Rigo e seu Conjunto”, que era a base do grupo de Baumgart quando ele o deixara. “Rigo” é o apelido de Rikobert.
“Rigo e seu Conjunto” tinha a seguinte formação:
- Rikobert Döring;
- Sérgio Max Rabitz;
- Domenicos Junkes;
- Esnard Oliveira;
- Abel Evaristo;
- Luiz Berti Neto e
- Perfeito de Aguiar.
Em 10 de maio de 1967, Rikobert Döring adquiriu um acordeom Frascatti com 120 baixos de Osni Sievert. Em março de 1969, a sua banda adquiriu um Gianini. Em 2 de julho de 1969 passaram a tocar no Restaurante Frohsinn, e destes momentos surgiu o Quarteto Frohsinn, formado por Rikobert, Franz Baumgart, Sérgio Rabitz e Perfeito de Aguiar. Em agosto de 1969, Franz Baumgart saiu e no seu lugar entrou Luiz Belti Neto. Em fevereiro de 1971, o Restaurante “Frohsinn”, contratou o cantor Vilmar, que se juntou ao “Quarteto” – apresentaram-se no restaurante até 30 de março de 1973. Lembramos que o G. F. Alpino Germânico que também tinha o músico Ronald Findeiss, se apresentou no Frohsinn de 1969 até 1976. Imaginamos o espetáculo em jantar e almoçar com o Conjunto do Rigo e com as apresentações do G.F. Alpino Germânico, atualmente sediado em Pomerode.
Em 10 de abril de 1973, o conjunto passou a tocar no “Restaurante Cavalinho Branco” ou Im Weissen Rössel (No Cavalo Branco), segundo Marga Holtzmann Nunes, nome inspirado em uma ópera muito famosa na Alemanha. O restaurante era de Antônio Pedro Nunes e Marga Holtzmann Nunes, que contrataram a banda depois de restaurar a edificação que foi idealizado para ser uma maternidade. Fizeram uma grande obra no porão da edificação, retirando barro para aumentar o pé direito do ambiente, como também foi feito no Bar Norden. Toda a mobília foi feita de madeira nobre, conforme uso na Alemanha, confeccionado na Marcenaria Rossmark, firma de imigrantes alemães de Unterfranken.
Toda essa mudança na banda de Rikobert Döring, resultou no primeiro LP, disco Long Play, chamado “Conjunto Típico Cavalinho Branco”, lançado em 10 de julho de 1978.
Nesse tempo a banda era formada pelos integrantes:
- Rikobert Döring;
- Marcos Döring;
- Marcos Novaski;
- Perfeito Aguiar – que esteve junto de Rikobert desde o início de seu trabalho e é falecido.
Em 3 de novembro de 1979, a banda começou a tocar na frente do Castelinho da Casa Moellmann.
Foi em 21 de março de 1981 que realmente seus integrantes oficializaram como banda de Banda Musical Cavalinho Branco Ltda., mesmo que não mais se apresentassem “Restaurante Cavalinho Branco” ou “Im Weissen Rössel”, que também não mais pertencia aos Nunes. Neste tempo com volta de Marcos Novaski, que havia saído do grupo em 1979.
A então formada Banda Musical Cavalinho Branco Ltda. Era composta de:
- Rikobert Döring;
- Marcos Döring;
- Marcos Novaski;
- Perfeito Aguiar – que esteve junto de Rikobert desde o início de seu trabalho.
Osni Sievert; - Luiz C. de Aguiar que em outubro de 1983 foi substituído por Silvio Luiz Capelani;
- Mais tarde, Lino Vieira.
Trabalho de 1986
Lados A e B
Vídeo – Disco de 1986
Lado A
Lado B
Trabalho de 1987
Disco de 1987
Lado A
Lado B
Rikobert Döring também compôs músicas que foram gravadas nos discos, como “3 de Julho” e o arranjo novo para “See Rosen”. No segundo disco compôs a marcha “Rigo’s Marsch”, o novo arranjo para “Mus I Denn” e para “Auch wiender Zeenn” – Aufwiedersehen. No terceiro LP, compôs a marcha “A banda já chegou” e no quarto, compôs “Eu sou de Blumenau” e “Cheguei”, além de novos arranjos para a valsa “São Paulo” e “Não vamos para casa”.
Rikobert Döring também foi maestro. Dirigiu o Coro Misto da Sociedade Recreativa e Cultural Lyra, o Coro Masculino e Infantil do Clube de Caça e Tiro Concórdia e o Coro Misto da Agua Verde. Para se tornar regente, Rikobert fez um curso de regência de corais em Linha Brasil- em Nova Petrópolis – RS, patrocinado e incentivado pelo C.C. 25 de Julho de Blumenau.
Franz Baumgart fundou a Banda Municipal de Blumenau e convidou Rikobert Döring para ser seu contramestre. Também foi professor de música e de alguns instrumentos, em sua residência, tendo até 65 alunos mensais.
Rikobert Döring também foi Delegado da Ordem dos Músicos do Brasil, em Blumenau, com jurisdição de Ilhota até Subida e também presidente do Conselho Fiscal do Sindicato dos Músicos Profissionais de Blumenau.
Homenagem no Show dos Velhos Camaradas – Oktoberfest Blumenau 2012 – pelo Coro Masculino Liederkranz – 24 de outubro de 2012
Entrevista em 8 de setembro de 2015
Na Oktoberfest Blumenau 2016, Rikobert Döring voltou aos palcos com o Rigo’s Stern, formado por ele, seu filho Marciel Döring e Elisiana Klabunde.
E também, em 2016, Rikobert participou da abertura oficial da edição da Oktoberfest Blumenau, a convite do Secretário de Turismo de Blumenau Ricardo Stodieck.
Tivemos o depoimento informal do músico e produtor Lino Vieira, que também foi aluno de Franz Baumgart e integrante da Banda Municipal de Blumenau, onde conheceu Rikobert Döring. Lino nos contou que Rikobert foi quem o convidou para ser o novo integrante do Cavalinho Branco na década de 1980, mesmo que muitos não concordassem por ele “não possuir o perfil típico de um cantor de banda de músicas alemãs” na região, atualmente muito natural. Rikobert foi firme e disse que Lino era um excelente e sério músico e seria o novo integrante da Cavalinho Branco. Por ter confiado e reconhecido seu trabalho, Lino nutre gratidão por Rikobert Döring.
A repaginada – nova banda – que comemorou 50 anos, a banda Cavalinho – homenageou Rikobert Döring.
Como o nome da banda, também seu perfil, os integrantes e a linguagem musical mudaram, mas a banda nunca deixou de tocar nas festas regionais, na Oktoberfest Blumenau e em outras festas que seguem a mesma linha musical da grande festa de outubro. As mudanças tiveram início quando chegaram cantores e músicos de bandas alemãs que vinham tocar na Oktoberfest Blumenau que em contato com os inúmeros estilos musicais tocados no Brasil continental e com o que conheciam na Alemanha, tornavam o ambiente da banda uma oficina de experimentos de suas criatividades. Com isso, não havia uma definição exata como linguagem musical. Não se reconhecia nesta produção, a canção do pioneiro alemão, a música da Alemanha atual e do Brasil de hoje, mas um ecletismo derivado da mistura do encontro cultural. A antropologia explica isso.
Como observadora, percebemos que esta mudança se iniciou, na prática, com chegada do músico e cantor Michael Lochner à banda Cavalinho Branco. Michael veio a Blumenau como vocalista da banda alemã Die Odenwälder, a qual convulsionava o Pavilhão “D” – Ginásio de Esporte Galegão durante as Oktoberfests.
Essa tendência não era inédita nessa festa. Já vinha se mostrando ao tempo do Maestro Helmut Högl, que foi impedido de realizar semelhantes experimentos a partir da livre criatividade para a prática dessa tendência, o que correu, de maneira livre, com a Banda Cavalinho, no momento em que lhe foi permitida esta liberdade. Pelo menos, depois que Rikobert Döring não estava mais na banda. Observa-se o texto do jornal JSC, do final da década de 1980.
Depois, chegou à Banda cavalinho, outro cantor e músico alemão, Alois Hoffmann da banda alemã Nülssberg Buam. Está na banda até os dias atuais, sendo um dos integrantes mais antigos da Cavalinho atual, participando desde a década de 1990.
Um registro para a História.
Referências
• KORMANN, Edith. Franz Baumgart, O Músico do Povo. Revista Blumenau em Cadernos. Tomo XXV – Edith Kormann . Outubro de 1984. N° 10.
• KORMANN, Edith. “Rikoberf Doering” (Rigo). Revista Blumenau em Cadernos. Tomo XXVIII – Edith Kormann . Janeiro de 1987. N° 1
• Site Banda Cavalinho. Disponível em: http://www.bandacavalinho.com.br/index.html . Acesso em: 7 de setembro de 2023 – 21h45.
Leitura Complementares – Clicar sobre o título escolhido…
- 1° Dia – Abertura – Show dos Velhos Camaradas e VoXX Club
- Rigo’s Stern – 33° Oktoberfest Blumenau 2016
- Banda Cavalinho Branco – Música
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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