A história do fundador de uma das empresas mais importantes de Blumenau que descobriu ser autista
Werner Keske além de programador e empreendedor, também é formado em Biomedicina
Werner Keske é um programador, biomédico e fundador da empresa blumenauense WK, desenvolvedora de softwares de gestão e líder no segmento contábil e fiscal. O empreendedor é natural de Indaial, porém mora em Blumenau desde os 26 anos.
Os primeiros encontros com a tecnologia
Werner sempre foi autodidata e conta que em setembro de 1968, saiu da escola. “Disse para o meu pai que eu não queria mais ir para o ginásio, ele me tirou e eu fiquei fazendo cursinhos por correspondência”, explica.
Mesmo ainda muito jovem, Werner gostava de comprar jornais. Num deles, viu um anúncio que procurava programadores de computador. O salário oferecido era bom, portanto, ele se interessou – ainda que, na época, nem soubesse o que significava programar computadores.
“Me decepcionei um monte”
Werner comprou um livro sobre o assunto. O título “Computadores Analógicos e Digitais”, de Celso Marques Penteado Serra, despertou ainda mais o interesse dele pela computação.
A primeira oportunidade dele na área foi já aos 15 anos. Quando fez um curso de programação de computadores dado pelo Centro Eletrônico da Indústria Têxtil (Cetil). Porém, a primeira impressão não foi a esperada.
“Me decepcionei um monte. Eu pensei que era mexer com eletrônica”, confessa. No entanto, com o tempo, ele passou a gostar do curso. Como em tudo que se propunha a fazer, Werner se dedicava e estudava muito as matérias aplicadas.
Com 16 anos, ele assumiu a vagas no próprio Cetil. Foi perfurador de cartões, operador de computado e, por fim, programador. Durante 11 anos, Werner trabalhou no mesmo local, em diversas funções diferentes.
1984: um divisor de águas
Em 1984, decidiu sair da empresa, virou freelancer e continuou oferecendo serviços para eles, dessa nova maneira.
No mesmo ano, Werner conheceu Maria Ignêz, em uma das empresas para quem oferecia serviços. Eles começaram a namorar e o casamento aconteceu ainda em 1984. Atualmente, são quase 40 anos juntos.
Também em 1984, a WK foi fundada pelos dois, o que mudou completamente a vida do casal. “Ná época, muita ansiedade. Será que vai dar certo?”, lembra Werner sobre o início da empresa.
O início da WK
Em 1985, a WK produziu o primeiro software de contabilidade para vender em escala. Antes, faziam apenas produtos singulares, a pedido dos clientes. Quando estava pronto, levaram o produto para São Paulo e, segundo Werner, a criação saiu até no Jornal Nacional.
Na época, Werner ainda trabalhava para outros locais, para ganhar dinheiro. Por isso, dava as instruções do que fazer na WK para os sócios e, durante a noite, resolvia algumas pendências da empresa. “Foi assim, um negócio foguete. Isso foi o início”, relembra.
Uma descoberta
Anos depois, com o sucesso da WK garantido, Werner se deparou com algo que mudou a sua vida. Em 2011, ele e a família foram fazer um curso de psicodinâmica de Negócios, em Florianópolis. O que era para ser apenas uma viagem em família, para expandir conhecimentos, se tornou o pontapé inicial para um diagnóstico de autismo.
Durante a aula, o instrutor do curso explicou o que é o teste de personalidade MBTI (Myers-Briggs Type Indicator). Ele fez uma análise com personagens de filmes e disse que, caso haja identificação com determinado personagem, é possível comparar o MBTI.
A partir disso, a família foi em busca de personagens que se identificavam. O filho de Werner, Wilson Keske, disse que ele era igual ao doutor Sheldon Cooper, personagem da série The Big Bang Theory, conhecido pelas características de muita inteligência e pouco traquejo social.
“Eu nem sabia o que era autismo”, confessa Werner.
Em busca de um diagnóstico
O assunto ganhou certa importância na mente de Werner e, um tempo depois, com a curiosidade aflorada, ele começou a ler sobre o assunto. Com o sentimento de dúvida, Werner continuou em busca de um diagnóstico.
Ele viu na Internet uma lista de características relacionadas ao autismo e entregou para diversos conhecidos. O intuito era que dessem uma nota, de 0 a 10, para o quanto cada tópico se relacionava com a personalidade de Werner.
“Praticamente todas me davam 10, 9, 8, 100 mil, mas era só de zero a 10, tá?” conta.
Autismo
Posteriormente, ele decidiu ir para um congresso sobre autismo em São Paulo. Um dos principais palestrantes do evento era um médico de Florianópolis. Werner agendou uma consulta com o médico, realizou diversos exames e teve seu diagnóstico comprovado por um profissional.
Werner tem autismo nível 1, antigamente chamado de Síndrome de Asperger. Atualmente, a condição deixou de ser um diagnóstico específico e passou a ser classificado como Transtorno do espectro autista de nível 1, conhecido popularmente como autismo leve.
Sintomas
Ele explica que sentia dores em várias partes do corpo, internas e externas, no sistema digestivo, como esôfago, cárdia, estômago e intestino, que, segundo ele, descobriu estarem relacionadas com o autismo. Além disso, a partir dos exames, descobriu uma série de defeitos genéticos que possui.
Alguns exemplos são: defeito no receptor de vitamina D e impossibilidade de eliminação de mercúrio e chumbo. Ou seja, quando ele come alimentos que possuem esses componentes, eles se acumulam no corpo.
“Todos os exames que eu fiz nos Estados Unidos mostram os metais ou as substâncias que você tem a mais no corpo, que você precisa cortar. E as que você tem a menos, que precisa suplementar”, afirma.
Mudança de vida
Após ser diagnosticado com autismo, a qualidade de vida de Werner melhorou 99%, segundo ele. No início, estava quase desistindo dos tratamentos, porque durante nove meses não viu nenhum avanço.
“Levou nove meses para eu começar a acreditar no tratamento. Até lá eu estava a ponto de desistir. De repente mudou minha vida”, afirma.
Antes, ele não falava muito, característica comum em autistas. Isso também mudou após o tratamento. “Antes eu ficava de boca fechada e não incomodava ninguém, agora incomodo todo mundo”, brinca.
Sobre o tratamento de autismo, Werner lembra que precisa um médico precisa ser consultado, afinal, cada pessoa possui características específicas.
“Então, uma coisa que para mim faz mal, para ti não faz mal. (…) Tem que ir ao médico que entende do assunto, não tem jeito. Não fique inventando aí por conta própria. Não é só um comprimido, que toma uma vez acabou. É o resto da vida”, ressalta.
De volta à sala de aula
O diagnóstico também mudou a vida de Werner em outro sentido. A vontade de entender mais os artigos que lia sobre autismo fez ele retornar à sala de aula. Aos 62 anos, conquistou o diploma em Biomedicina.
Depois, ele fez pós-graduação em tratamento integrativo de autismo e TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). Porém, Werner não parou por aí. Atualmente, ele cursa outra pós-graduação. Dessa vez, em gastroenterologia funcional e nutrigenômica.
Interesse pela Bioinformática
Ainda quando estava na faculdade de biomedicina, em 2018, Werner descobriu que tem miastenia grave, uma doença autoimune em que a comunicação entre os nervos e os músculos é afetada, causando episódios de fraqueza muscular.
Antes disso, o programador possuía o desejo de unir seus interesses em informática e biomedicina, para produzir algo maior. “Eu tava querendo fazer sites de análise genética, antes de ter miastenia, inclusive comprei uns aparelhos”, lembra.
Werner queria se aventurar na bioinformática: “unindo as duas coisas dá para fazer o mundo. Eu tava com intenção de fazer algumas coisas nesse sentido, mas eu teria que praticamente abrir uma nova empresa ou um Instituto de Pesquisa, alguma coisa assim”.
Aposentadoria
No entanto, por conta da doença, ele a Ignêz decidiram reformular a organização da WK e se aposentar. Com isso, Werner acabou deixando de lado seus planos com a Bioinformática para poder ter uma rotina mais leve.
“A gente fica feliz, né? Ter uma empresa que trabalha sozinha, que a gente pode passear, sem se incomodar”, diz, aos risos.