A história da Kulturverein, a primeira cooperativa do Brasil, fundada na Colônia Blumenau
Capa: Bella Alliança, atual Rio do Sul – Colônia Blumenau. A ideia de cooperativismo veio junto com o idealizador e fundador da Colônia Blumenau, na metade do século XIX – Hermann Bruno Otto Blumenau. Fundou uma colônia agrícola particular baseada na distribuição de propriedades rurais familiares autossuficientes, a partir de um planejamento regional, contando com uma rede de caminhos que promovia a integração dos principais núcleos produtores. O excedente produzido nessas propriedades rurais seria destinado à indústria que surgiu, principalmente, alimentícia.
Pouco tempo atrás contamos a história da Companhia Jensen, entre tantas outras indústrias alimentícias, na região, processo responsável pelo surgimento da indústria no estado de Santa Catarina, o qual também aconteceu na região de Joinville.
A Colônia Blumenau nasceu como uma “Firma” que operou como uma empresa particular de agricultura/pecuária à indústria, pertencente ao fundador Hermann Bruno Otto Blumenau, ex-fiscal da “Sociedade de Proteção aos Emigrados Alemães” com sede em Hamburg, na qual, ele foi um dos representantes enviado para o Brasil para averiguar a situação dos imigrantes alemães nas fazendas de café do sudeste.
“A construção Social do Vale do Itajaí não teve “in loco” nenhum processo econômico anterior ao capitalismo. Não houve, como sugerem alguns autores, o modo de produção feudal, anterior à revolução industrial. No projeto de ocupação do território, elaborado por Hermann Blumenau, estava explícito o modo de produção capitalista; ele prepôs desenvolver a agricultura cuja produção seria beneficiada industrialmente.” Pag. 9 (VIDOR, 1975).
A colônia nasceu sob o empenho da racionalização, sob a tutela do planejamento e com o requinte da capacidade empresarial de muitos de seus administradores e componentes. Nasceu como empresa agrícola com vistas ao desenvolvimento industrial. Nasceu impregnada dos “novos tempos” que mal atingiam as áreas de onde provieram os colonos – a revolução industrial. pag. 46. (LAGO, 1968).
Participamos do XII CAAL – Encontro Internacional das Comunidades da América Latina de Língua Alemã, na cidade de Nova Petrópolis – Rio Grande do Sul – no mês de setembro de 2014. Durante uma das palestras que assistíamos, ouvimos que a primeira cooperativa no Brasil, surgiu no Rio Grande do Sul, no início do século XX.
Conversando com uma pessoa ligada às cooperativas de Blumenau e ouvimos a mesma versão. Conhecíamos a história da fundação da Colônia Blumenau e também a história da associação Kulturverein e percebemos um equívoco histórico.
A primeira cooperativa do Brasil surgiu no Vale do Itajaí, em 1863, e foi formada pelas primeiras lideranças da própria Colônia Blumenau.
Analisando aspectos históricos e conceitos, concluímos que a primeira cooperativa do Brasil tenha sido a Kulturverein – fundada na segunda metade do século XIX por Carl Willhelm Friedenreich, sob coordenação de Hermann Blumenau. Para registro, Friedenreich, foi um dos 17 pioneiros fundadores, e quando chegou à região contava com 27 anos. Era veterinário, natural da Prússia.
Partindo do pressuposto que o cooperativismo aflora com a união de pessoas ou grupos a fim de um objetivo comum, compreende-se que essa forma de associação esteve presente desde os primórdios da humanidade, quando de forma solidária, nossos ancestrais pela necessidade de sobrevivência em lugares avessos supriam suas necessidades pela cooperação no intuito de conseguir abrigo e alimentos. (CENZI, 2012).
São diversos os exemplos de congregação de grupos e pessoas ao longo da história da humanidade no intuito de auxílio mútuo. Os nômades se reuniam para coletar e caçar. Povos asiáticos cultivavam lavouras e os diversos povos indígenas ao redor do mundo se agrupavam para caçar, pescar e guerrear. (CENZI, 2012).
Isso do associativismo ter sido utilizado, como foi, na comunidade dr. Blumenau, apenas por existir como equipamento de herança social do imigrante implantado ali, não é um entendimento completo. O imigrante ali, foi liderado e a sua sensibilidade associativista, funcionou no programa de um sistema. E esse sistema foi conduzido por um líder atuante: o Dr. Blumenau. (JAMUNDÁ, 1966, p.53)
De acordo com o conceito moderno, a essência da cooperativa de trabalho é a de criar vantagens e/ou, condições melhores para o cooperado exercer sua atividade, ao contrário do que se estivesse trabalhando de forma autônoma, tal como aconteceu em Blumenau, ainda no século XIX.
Cooperativismo na Colônia Blumenau
Associação Kulturverein
Associação agropecuária fundada em 19 de julho de 1863 que tinha como principais objetivos – devidamente listados em seus estatutos, tal como segue abaixo, lembrando a base do conceito atual do cooperativismo:
1 – Melhorar a economia rural, bem como as condições sociais, morais e científicas da Colônia Blumenau.
2 – Para conseguir essas metas, a sociedade “promoverá” reuniões periódicas nas quais haverá:
a) conferência sobre assunto instrutivo;
b) troca de ideias e consultas mútuas sobre os diversos problemas;
c) deliberações referentes a esses mesmos problemas.
De acordo com a publicação da revista Blumenau em Cadernos Tomo X, março de 1969 – N° 3, em 1863, havia na Colônia Blumenau: 14 marceneiros, 17 carpinteiros, 4 fabricantes de carros, 1 fabricante de canoas, 2 construtores de engenhos, 3 torneiros, 6 tanoeiros, 12 pedreiros, 2 cavouqueiros, um açougueiro, 6 alfaiates, 8 sapateiros, 5 seleiros, 1 funileiro, 8 ferreiros, 3 médicos, 1 espingardeiro, 1 relojoeiro, 1 caldeireiro, 3 barqueiros e catraieiros, 1 médico homeopata e parteiro, 1 farmácia, 10 casas de negócios de secos e molhados e 6 hospedarias e tavernas.
Os moradores da Colônia possuíam 80 canoas, no valor de Rs. 3:000$000.
Uma grande canoa e 1 bote faziam carreira regular para a Vila de Itajaí, o porto marítimo da Colônia.
Segundo LAGO (1968), e ciente do objetivo de Hermann Blumenau, a Colônia Blumenau nasceu como uma empresa agrícola com foco na industrialização do excedente das propriedades rurais. A localização determinou sua função desde o início, de entreposto comercial e de centro preferencial de investimentos aplicados no setor da economia industrial.
Passados alguns anos após a fundação, a colônia apresentava certo desenvolvimento econômico, pela comercialização do excedente agrícola das propriedades coloniais e surgimento de pequenas indústrias familiares. O objetivo socioeconômico da implantação dos núcleos urbanos dentro da grande Colônia Blumenau era o de produzir (produção agrícola x transformação industrial) e inserir esses grupos no mercado nacional.
Kulturverein
A primeira preocupação dos pioneiros e de Hermann Blumenau, foi o de promover uma cultura agropecuária de maneira racional e eficiente, dentro das propriedades agrícolas, que rendesse uma quantia significativa em pouco espaço de tempo para compensar o trabalho nas propriedades com a melhor tecnologia e meios disponíveis. Com este objetivo, se organizaram na associação do Kulturverein, a qual propiciava fomentar um amplo debate entre os colonos (que neste momento eram todos os primeiros imigrantes), sobre questões que trariam melhorias na produção agrícola e pecuária, através da aquisição de novas tecnologias e produtos, bem como, a troca de informações, afim de conseguir a evolução e o aumento da produção para todos os sócios e a quem estivesse interessado mediante um pequeno pagamento.
Muitas de suas atividades, desde sua fundação, foram pesquisadas e traduzidas do alemão para o português por Frederico Kirlian, que analisou e estudou documentos originais, os quais organizou e resumiu, publicando-os posteriormente em alguns exemplares do periódico mensal – Blumenau em Cadernos.
A Kultuverein die Colonie Blumenau foi fundada em 19 de julho de 1863, no ambiente do Schützenverein Blumenau. Os membros do Kulturverein eram em número de vinte e seis. Destes, dezoito eram sócios da Schützenverein Blumenau, e Friedenreich era sócio fundador da primeira sociedade de tiro de Blumenau.
Muitas das atividades, da Kulturverein, desde sua fundação, foram pesquisadas e traduzidas do alemão para o português por Frederico Kirlian, que analisou e estudou documentos originais, os quais organizou e resumiu, publicando-os posteriormente em alguns exemplares do periódico mensal – Blumenau em Cadernos.
A iniciativa foi de Willhelm Friedenreich que convidou os demais para o ato de criação da Sociedade em sua residência, em 19 de julho de 1863. Neste mesmo dia foi definida a pauta da primeira reunião da associação, que aconteceu em 16 de agosto de 1863. Foram abordados entre outros assuntos:
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- debate sobre a escolha da cultura predominante na colônia, naquele momento;
- palestra sobre a Vida das plantas;
- definição e pagamento das mensalidades por parte dos sócios.
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Parte da Ata de fundação da Kulturverein
“Atendendo a um convite do Sr. Willhelm Friedenreich, reuniram os senhores Rohlacher, Faust, Sametzkl, Baucke, Schaeffer, W. Schaeffer, Külps, G. Schäffer, L. Sachtleben, Benz, Lobedan, Wehmuth, Ernesto e Henr, Weise, Wendeburg, Breithaupt, Lösecke e Johann Jarschow, no dia 19 de julho de 1863, na casa do primeiro, que fez um exposição das finalidades, natureza e vantagens da Sociedade de Cultura a ser fundada, passando-se, então, à discussão e aprovação dos Estatutos, que foram assinados pelos presentes, resolvendo estes fixar o prazo de uma semana, dentro do qual os demais interessados que o quisessem poderiam assinar os mesmos estatutos que, para esse fim, se achavam a disposição na casa do Sr. Victor Gaertner. A primeira diretoria eleita na ocasião, ficou assim constituída: Presidente, Wilhelm Friedenreich; vice, Sr. Sametzkl; tesoureiro: Hermann Wendeburg. Foi designado o dia 16 de agosto do dito ano de 1863 para se realizar a primeira reunião da Kulturverein…”
Primeira Reunião após o ato de fundação
Dia 16 de agosto de 1863
Sametzki palestrou para os presentes sobre a cultura de milho, do tabaco, do algodão e do bicho-da-seda. Também, Friedenreich recomendou o plantio de frutos oleosos e plantas fibrosas, como, por exemplo: pita, agave, bananeiras, etc. Houve o depoimento de Riemer que afirmou já ter feito experiências com bananeiras de flor vermelha. Também, aconteceu o debate sobre a cultura do tabaco, no qual Fridenreich leu matérias jornalísticas sobre o assunto, publicadas em jornais norte americanos.
Foram nomeadas comissões para fazer experiências com sementes e plantas de tabaco. Sametzki, Bruch, Romer e Müller foram designados para as experiências.
Foi definida a pauta para a próxima reunião: apresentação dos relatório das comissões de experiências e prosseguimento das palestras sobre a cultura do tabaco.
A segunda reunião da Kultuverein aconteceu em 13 de setembro de 1863, na qual foram decididas várias questões. Nesse dia, Hermann Blumenau contribuiu no debate da cultura do fumo, recomendando que se espalhasse serragem misturada com um pouco de alcatrão sobre as sementeiras. Disse que isto, manteria as lesmas afastadas do cultivo. Nesta reunião foi definida a pauta para a 3° reunião da Kulturverein que aconteceu em 11 de outubro de 1863.
Nesta reunião, foi lido o trabalho sobre a cultura do milho, que deu margem a um grande debate sobre o assunto e sobre o melhor modo de se fazer experiências a respeito. Como a comissão do fumo, também foi feita a comissão do milho. Também foi reformulada a diretoria. Presidente: Wilhelm Friedenreich, Vice: Sametzki e Secretário: Labes.
Na reunião de 8 de novembro de 1863 – a 4ª – houve uma palestra sobre o tema fixado na ordem do dia. Friedenreich continuou sua palestra sobre a ação do agricultor e fez ver, no decorrer dela, a necessidade e a importância de se acumular adubos. Foi formada uma comissão para efetuar a primeira revisão dos estatutos e conversou-se sobre a cultura de plantas bulbosas. Também foram distribuídas sementes de feijão de várias qualidades: manteiga, tupim, olho-de-pombo, carrapto, caboclo, mouro, garombe, guari, tupim carioca, favas de lastro e outras para onze colonos. Estes plantariam e fariam observações para os sócios em reuniões futuras do Kulturverein.
Na reunião de 13 de dezembro foi apresentado o estatuto devidamente revisado por sua comissão.
Nessa revisão foi apontada a necessidade de elevar o nível social, moral e científico da Colônia Blumenau, através da Kulturverein. Ficou também definido que todos os moradores da colônia, do sexo masculino, que houvessem completado 15 anos, poderiam ser sócios da Kulturverein, sem o direito de voto. Este era somente permitido aos homens com idade acima de 21 anos. Sócios menores de 21 anos, pagavam uma mensalidade de oitenta réis e os sócios maiores, 160 réis. A renda arrecadada na Kulturverein era destinadas para à aquisição de sementes, máquinas agrícolas, livros, manutenção de uma biblioteca, etc. A aplicação do capital da sociedade dependia de autorização prévia tomada em reunião de sócios. A Diretoria não necessitava de autorização prévia para quitar despesas inferiores a um mil réis.
…”Após a aprovação dos Estatutos, os sócios ainda trataram de vários assuntos, tendo o Sr. Kleine feito uma interessante conferência sobre a cultura de tubérculos, seguindo-se ao mesmo um intenso debate. em vista da importância do tema, foi adiada a continuação dos debates para a reunião seguinte. Os senhores S. Scheefer, Schroeder e Riemer, ofereceram-se para fazerem experiências com a cultura do taiá. o Sr. Friedenreich proseguiu na sua conferência sobre o tema: “O papel do Agricultor”, abordando, nesta, especialmente, a criação de animais domésticos, notadamente o aperfeiçoamento de raças cavaleres. A “Caixa de perguntas” continha a seguinte pergunta: ” Não considera a sociedade muito proveitoso incentivar a criação de ovelhas na Colônia, não só para o consumo de lã, como também para aumentar o mercado de carne para consumo da colônia?”… Ata – Dia 13 de dezembro.
Na reunião de 17 de janeiro de 1864, Friedenreinch comentou sobre o conteúdo de amido nas diferentes plantas e na reunião do dia 14 de fevereiro de 1864, foi debatida a questão da importação e criação de ovelhas na colônia, com a elaboração de um regulamento contendo, em seus 7 artigos, importantes disposições sobre a distribuição de reprodutores. Como por exemplo: O sócio adquirente de reprodutores, tinha o prazo de um ano para pagar, em duas prestações, o valor do animal, acrescido das despesas havidas com a importação. Somente era permitido abater as ovelhas se o criador provasse que havia criado um número maior de ovelhas do que pretendia abater. Quanto aos carneiros machos, só poderiam ser abatidos, quando nenhum colono demonstrasse interesse nestes.
Na próxima reunião, que aconteceu em 13 de março de 1864, entre outras coisas, foi debatido o assunto da cultura de algodão e novamente foi pedido a Hermann Blumenau, uma semente de qualidade, já adaptada ao clima do sul do país. Na 9ª reunião – no dia 10 de abril de 1864, foi sugerido a Blumenau que conseguissem mudas do bambu da Espanha – O que foi declinado na reunião de 8 de maio de 1884. Os sócios concluíram que o bambu da Espanha poderia se tornar uma praga, o que foi suficiente para a Kulturverein não seguisse adiante com a ideia. Também nesta reunião foram distribuídas sementes de trigo oriundas da Romênia e foi decidido que a Kulturverein fizesse importação de sementes de hortaliças da Alemanha. Também foi feita a leitura do trecho do livro “Viagem às Índias Ocidentais”.
Finalmente, na reunião da Kulturverein de 12 de junho de 1864, foi distribuída a semente de milho com grãos miúdos. Nesta mesma reunião, aconteceu a palestra de Eberhard dando sequência ao assunto – “A vida das Plantas” e a do Pastor Hesse que falou sobre a “História do Brasil”. Foi sugerido, que nas próximas reuniões fosse feita uma pesquisa estatística apresentando as diversas culturas já efetuada na colônia e seu respectivo rendimento, o que ficou a cargo de um dos palestrantes da noite – Pastor Hesse.
Na reunião de 14 de agosto de 1864, Friendenreich apresentou uma planta dizendo tratar-se da “mata-cavalo”. Foi decidido que a Kulturverein compraria um cavalo para ser cobaia na experiência com a planta apresentada.
A 14ª reunião aconteceu em 9 de outubro de 1864 e foram abordados assuntos como: a renovação, por eleição, da Diretoria. Na reunião seguinte – 15ª reunião – que aconteceu em 8 de janeiro de 1865, foi proposto que a associação intercedesse para um aumento da criação de ovelhas. Também foi levantada a hipótese de que a sociedade adquirisse uma máquina de fiar para o beneficiamento da lã e do algodão produzidos na Colônia. Na 16ª reunião – reunião do dia 12 de fevereiro de 1865, foi debatida sobre a compra de uma máquina de fiar. Decidiu-se encarregar Hermann Blumenau para adquirir a máquina na Alemanha, custeada pela Kulturverein. Para realizar a 17ª reunião, houve um lapso de 10 meses. Esta aconteceu no dia 10 de dezembro de 1865.
Parte da Ata da 17ª reunião…
“…Sr. Friedenreich apelado para os presentes, que não deixassem decair a sociedade, propondo ainda que se acrescentasse um parágrafo no estatutos, que determinasse que os haveres da sociedade, de forma alguma, pudessem ser aplicados para outros fins, a não ser os declarados nos estatutos, e, si por ventura a sociedade deixasse de existir, seus bens deveriam ser guardados, pela diretoria, até que se formassem outra sociedade agrícola e com os mesmos fins, à qual ditos bens seriam então entregues. A proposta foi aceita. A seguir, procedeu-se à eleição da nova diretoria que ficou assim constituída: Presidente – H. Baucke, Vice-Presidente – Pastor Hesse, Secretário – Th. Schröder.”
A intenção desta aprovação era para adquirir a obtenção dos direitos corporativos (Cooperativa). Isto no século XIX, e este fato não consta na história das cooperativas do Brasil.
Houve várias modificações na nova versão estatutária da Kulturverein, como por exemplo – uma, presente no § 3°, que fixava a Assembleia Geral de fim de ano para 2 de dezembro. Nesta data, se comemoraria, também a data natalícia do Imperador do Brasil – D. Pedro II. Também, foi aumentada a mensalidade dos sócios de 160 réis para 200 réis, e fixada uma joia de um mil réis.
A aplicação da renda ficou a mesma praticada até então. Kulturverein utilizava a renda para a aquisição de sementes, instrumentos e máquinas agrícolas, animais para reprodução, livros e revistas sobre agricultura e para a formação de um biblioteca popular e como já mencionado – Despesas superiores a cinco mil réis necessitava de autorização e aprovação da Diretoria, em reunião mensal.
A 20° reunião aconteceu em 13 de maio de 1866. O destaque para esta reunião foi o fato que o presidente comunicou a renúncia do Pastor Hesse de seu cargo de Vice-Presidente. A vaga foi preenchida, após eleição, por Labes, aquele que construiu a casa enxaimel na Rua São Paulo e esta foi realocada. A sociedade decidiu nesta reunião, organizar e custear uma exposição pecuária.
Em 10 de junho de 1866, aconteceu a 21ª reunião da Kulturverein. Entre os principais temas abordados, estava o projeto da exposição pecuária.
Na 22ª reunião, ocorrida em 8 de julho de 1866, foi deliberado sobre a aquisição de livros técnicos referentes à criação de animais domésticos.
A 23ª reunião aconteceu em 9 de setembro e a 24° reunião, em 14 de outubro de 1866. Nesta última foram definidos detalhes sobre o programa da reunião de encerramento que aconteceria em 2 de dezembro e a festa do aniversário do Imperador do Brasil – D. Pedro II. Muito interessante esta prática da sociedade dos imigrantes oriundos de uma parte da Europa, que conviviam em contato com Reinados e culturalmente com os contos dos Irmãos Grimm. Possuíam contatos com suas culturas e histórias, fortes ligações com o sistema político, em suas principais cidades, muitas vezes muito distantes dos demais brasileiros que viviam na região e, portanto, quase indiferentes.
Nesta reunião também se conversou sobre a importação de sementes de grama e capim dos Estados de La Plata.
A 26° reunião aconteceu no salão do farmacêutico Keiner. Houve a eleição da nova diretoria. O novo secretário eleito – Theodor Kleine, que recebeu o saldo em caixa – Rs. 114$600. Após a reunião, todos foram para o jardim da residência de Keiner, onde festejaram e brindaram com música e discursos, o aniversário do Imperador do Brasil – D. Pedro II.
A Kulturverein se reuniu em 13 de janeiro de 1867, na 27° reunião ordinária. Nesta reunião os sócios receberam sementes. O restante destas sementes foi comercializado entre os não sócios. Observa-se que os sócios da Kulturverein já caracterizavam uma pequena elite dentro da nova colônia alemã fundada no Vale do Itajaí, no interior de Santa Catarina. Nesta reunião, um dos sócios – e componente da diretoria – Labes – recebeu um empréstimo da Kulturverein, sem juros e com um prazo de 2 anos para quitar, para investir na cultura do bicho-da-seda.
Nas reuniões seguintes, os sócios organizaram pedidos de encomenda e aquisição de sementes da Alemanha e da Argentina. Na 31ª reunião, ocorrida em 15 de setembro de 1867, Schellenberg fez a demonstração de uma invenção de sua autoria aos demais presentes na sede da sociedade. Seu evento era uma máquina para descaroçar o algodão.
Kirlian – Comentando sobre as Atas da Kulturverein
“…A estes relatos se seguiam interessantes debates, e uma conferência sobre o tema deste debate. Os conferenciais mais citados são: Dr. Eberhardt, Wilhelm Friedenreich, Dr. Blumenau, Pastor Hesse, Theodor Kleine, Sametzki, August Müller, Fritz Müller, W. Scheefer, Labes e outros, sendo que, por ocasião da mudança do Sr. Dr. Eberhardt, para a cidade de Desterro, (Atual Florianópolis), a assembleia da sociedade, por unanimidade, lhe conferiu o Título de sócio honorário, em vista dos reais serviços prestados à Sociedade. O próprio Dr. Blumenau, mostrava grande interesse na atividade da Kulturverein nunca deixando de enviar à mesma novas qualidades de sementes e auxiliando-a, que encarregando-se da compra e importação de animais de raça ou mudas de plantas, que pleiteando junto ao governo imperial, isenção de direitos alfandegários para tais importações ou ainda a cessão gratuita de animais reprodutores.”
Na reunião de 15 de setembro de 1867, Blumenau encaminhou à Kulturverein, por Gärtner, sementes de sésamo, para ser distribuídas entre seus sócios.
Na reunião de 13 de março de 1867, houve deliberação foram deliberados sobre os recursos da sociedade para a aquisição de dois touros – um da raça “Oldenburger” e outro, da raça “Allgäuer”. Também foi adquirida uma máquina de fiar para o beneficiamento do algodão produzido na colônia.
A biblioteca fomentada, organizada e administrada pela Kulturverein, continha obras especializadas e livros técnicos, referentes à agricultura e à pecuária. A biblioteca foi a célula para a fundação da Biblioteca Pública da Colônia de Blumenau. Foi encontrada em correspondência de agradecimento da diretoria da Kulturverein ao Cônsul Geral alemão pela doação de cinquenta libras esterlinas enviadas à associação – por Hermann Blumenau. Nesta correspondência a diretoria da Kulturverein comunica ao Cônsul, que a sociedade aplicou o capital recebido, na aquisição de livros, para a “Biblioteca Popular”, que mesmo a cargo e sob administração da Kulturverein, ficaria à disposição de todos os moradores da colônia.
Parte da Correspondência…
“Com a aquisição de bons livros, obras populares de todos os ramos da ciência esperamos, juntamente com os esforços da sociedade, realizar o possível para o esclarecimento instrutivo em nosso meio, e assim corresponder da melhor forma ao intento da doação”.
A Kulturverein foi uma das sociedades blumenauenses que maiores serviços prestou à coletividade. E para que se possa ter uma ideia da variedade de objetivos que constavam das suas atribuições, foi traduzida do “Colonie-Zeitung” de Joinville de 1° de fevereiro de 1868 a seguinte correspondência assinada por Freihold:
O brinde de honra à Sua Majestade, levantado pelo diretor H. Wendeburg, foi calorosamente aplaudido. Através de um levantamento feito nas últimas semanas, constatou-se o fato lamentável da ausência de compreensão, entre os colonos, do valor da estatística, tão proveitosa quanto indispensável no desenvolvimento da economia pública. Soube-se de casos, até então, não só de falta de compreensão, como de manifesta má vontade. É necessário agir através de exemplos e ensinamentos para extinguir opiniões errôneas e substitui-las pela compreensão e convicção da necessidade de organização de relações estatísticas decretadas pelo governo. Seria um ponto a ser incluído no programa da Sociedade Cultural. Conforme notícias colhidas, entre a população total de 3391 almas, 127 meninos e 136 meninas, portanto 263 crianças receberam instrução escolar nas 12 escolas existentes. considerando-se que, nas regiões mais distantes da Colônia, ainda faltam escolas, a relação numérica de alunos não é insatisfatória. A coisa muda, entretanto, observando-se a relação da frequência. constatam-se casos de 0 a 100% de ausências. Que os pais, a quem mais se deve atribuir essas faltas, se convençam que eles nada de mais precioso podem oferecer aos filhos do que proporcionar-lhes instrução adequada. Eles deveriam considerar que, mais tarde, por falta de cultura dos cidadãos, representados na atual juventude escolar, os postos exponenciais da administração dos núcleos de colonização alemã, por força das circunstâncias, serão ocupados por brasileiros e a cultura e os nossos costumes atávicos, ao invés de serem aproveitados cada vez mais em prol do nosso desenvolvimento, de nada mais nos servirão, extinguindo-se, finalmente. Existem atualmente 5 prédios escolares na colônia, dos quais dois foram construídos, inteiramente, às custas do governo, que contribuiu, também, para os outros 3. É de se mencionar ainda que, por parte da direção da Colônia, foram reivindicados auxílios para mais dois prédios escolares, sendo um para Encano e outro para o Alto Rio do Testo, de 600$000 para cada um cujo deferimento se espera. Há poucos meses publicou este jornal a tradução de um regulamento para as Colônias, organizado pelo governo. Se bem que este projeto, para peritos de sistemas de auto-administração, não seja perfeito, divergindo, mesmo, em diversos pontos, das constituição liberal de nossa nova Pátria, não devemos esquecer que as colônias não se podem manter ainda pelos próprios impulsos, necessitando, seguidamente, de auxílios da parte do governo. Podemos, mesmo assim, receber com satisfação a introdução deste Regulamento, como primórdios do início da auto-administração. Em outubro já chegou a aprovação, por parte da instância governamental, dos nomes propostos pela direção da Colônia, para o Conselho Colonial. São os dos senhores Baucke, Freygang, Kuelps, Müller, Schreiber e Spierling. além desses cidadãos é o médico da colônia (Dr. Knoblauch) Membro perpétuo e o diretor (H. Wendeburg) presidente deste conselho. O último convocou para 5 de novembro uma reunião para proceder-se a eleição do secretário e suplente do mesmo, ficando um dos membros ainda incumbido do planejamento do programa de regulamento comercial. Foram tomadas outras decisões e deferidos pedidos de empréstimos financeiros. Na segunda reunião, a 3 de dezembro (as reuniões realizam-se sempre às primeiras terças feiras de cada mês) foi aceito este projeto do regulamento comercial e deliberado sobre outros assuntos. Convêm realçar as seguintes decisões: Mandar traduzir e imprimir as Posturas para torná-las acessíveis aos colonos; construir fornos para os colonos recém chegados; adquirir um terreno para curral do Conselho; construir diversas estradas e pontes, assim sobre o Encano e a Itoupava; empregar inspetores de caminho, com pequena gratificação, set., Será o projeto governamental de regulamento para as Colônias adotado, por enquanto, apenas experimentalmente, pretendendo-se empreender estudos e discussões sobre o assunto, para, caso consideradas oportunas algumas alterações, apresentá-las ao governo para a devida aprovação. Suponho ser do conhecimento geral que o projeto do Regulamento Colonial, organizado pelo Conselho anterior, não obteve a respectiva aprovação. Mesmo assim, os seus representantes se reuniram recentemente de novo, propondo novas eleições para o ano próximo. a maioria, entretanto, com critério acertado sobre a situação, declinou da proposta. Deveria ter sido, portanto, este o último sinal de vida desta corporação. Seria? Freihold “
A partir desta primeira organização cooperativa surgiram outras organizações com inúmeros objetivos para efetuar e aplicar projetos importantes à Colônia, através da união de seus sócios e desenvolvimento de suas atividades dentro da colônia que sistematicamente era construída a partir da infraestrutura, escolas, casas comerciais e a indústria.
No momento do surgimento das classes sociais e a divisão do trabalho na região – a partir do comerciante forte e do industrial que usava a matéria prima excedente das propriedades rurais – tal como fora planejado inicialmente – parte do script do fundador Hermann Blumenau, ficou difícil, todas as lideranças locais (agora em partes opostas) participarem de uma mesma cooperativa e sociedade, pois os interesses predominantes eram diferentes. Com as classe sociais surgiram outras associações. Sócios da Kulturverein fundaram a Associação Comercial e Industrial de Blumenau – ACIB, por exemplo, pois seus interesses passaram a ser outros e não poderiam debater com aqueles que forneciam matéria-prima para suas fábricas e estoques para seu comércio.
“Com o fortalecimento comercial e industrial na colônia, a Kulturverein – Sociedade de Cultura, associação dos principais colonos, fundada em 1863, não atendia mais às expectativas da nova elite blumenauense.
Mesmo existindo já a divisão de trabalho na colônia desde a fundação, há um momento em que fica mais nítido o papel do produtor, mão de obra (colono, agricultor), o comerciante (atravessador) e o industrial (transformador), sem contar, agora, com a formação de uma massa de trabalhadores que passam igualmente a trabalhar na indústria emergente. Com uma distinção de classes sociais mais evidenciada e a definição da estrutura social para a produção do capital, surge a necessidade de mudar o perfil da associação que representa esta nova elite na Colônia Blumenau. Cria-se, então, a nova Associação em 5 de novembro de 1901, denominada Associação Comercial e Industrial de Blumenau – ACIB, atual Associação Empresarial de Blumenau. Esta associação tinha como principais objetivos, naquele momento, início do século XX:
a) aumentar os lucros sobre a compra de produtos adquiridos dos colonos a um custo menor, (questão sensível que implicava diretamente com os interesses dos produtores);
b) desenvolver o comércio dentro dos núcleos urbanos afastados, por meio da venda de utensílios domésticos e para a lavoura (os produtores, seus consumidores);
c) padronizar, aumentar a qualidade do produto industrializado na indústria local e fiscalizar a qualidade da matéria-prima oriunda dos colonos, atrelando esta condição ao seu valor;
d) melhorar os caminhos e estradas entre os vários núcleos urbanos da colônia e desta para outras regiões, para o rápido escoamento dos produtos industrializados (quase sempre a mão de obra era das famílias produtoras);
e) viabilizar a construção de uma ferrovia na região (plano antigo – trazido pelas premiras lideranças e que influenciou na escolha do local do Stadtplatz da Colônia);
f) inserir representações políticas locais no cenário político estadual e nacional.
Participaram dessa primeira assembleia de fundação, como sócios- fundadores, os senhores Herman Sachtleben, Henrique Probst, Alwin Schrader (Prefeito), Ricardo Scheffer, Friederich Blohm, Bruno Hering, Hermann Hering, Paul Husadel, Ferdinand Schrader, Caetano Deeke, Wilhelm Nienstedt, G. Arthur Koehler, Pedro Christiano Feddersen e Gustav Salinger.
O primeiro presidente da ACIB foi o cônsul alemão Gustav Salinger, sócio do Cel. Feddersen. A associação teve no ato da fundação a adesão de 34 empresas.
Pedro Christiano Feddersen, Cel. Feddersen, viajou em 1904 para a Europa, onde entrou em contato com possíveis interessados no projeto da ferrovia, mostrando e destacando a estes todas as vantagens da sua construção no Vale do Itajaí. Teodoro Lüders elaborou estatísticas para Feddersen levar e apresentar aos pretensos parceiros europeus.
De acordo com Santiago (2001), a primeira missão dos novos diretores da ACIB foi a de buscar entendimento com os líderes da Kulturverein, pois se tratava da sociedade associativa mais forte da cidade, que unia agricultores e comerciantes, e nesta última estavam somente os comerciantes.” (WITTMANN, 2010.)
Sindicato Agrícola
Um dos embriões do primeiro banco no Estado de Santa Catarina foi o Sindicato Agrícola que surgiu a partir da necessidade de angariar recursos para viabilizar as primeiras ações para a construção da estrada de ferro, modal de transportes idealizado, por Hermann Blumenau quando implantou a sede da colônia no último ponto navegável do rio Itajaí-Açú.
Em 1° de setembro de 1907, foi realizada uma reunião no Salão Paupitz – na região do Passo Manso – atual bairro de Blumenau. Muitos dos presentes foram sócios da Kulturverein.
No Salão Paupitz, foram estabelecidas as bases para a fundação de um Sindicato Agrícola e eleita uma comissão encarregada da execução dos trabalhos preliminares para a realização da Assembleia Constitutiva da nova organização. Essa Comissão compunha-se de Henrique Miehe, João Hennings, Guilherme Wise, Otto Hindlmeyer Bruno Hering, Alvin Schrader e Eugênio Fouquet. A Assembleia Constitutiva voltou a se encontrar no 27 de outubro do mesmo ano, no Salão Oscar Gross – no Stadtplatz de Blumenau, quando foi oficializada a fundação do Sindicato Agrícola Blumenauense e também com a finalidade de fundar uma Caixa Agrícola ou Caixa Econômica de Empréstimos – o Primeiro banco do Estado de Santa Catarina.
“…A Caixa Econômica de Empréstimos – primeira instituição bancária de Santa Catarina – havia surgido (aparentemente) para guardar o capital excedente da produção dos colonos organizados sob o Sindicato Agrícola de Blumenau, que o faziam, até então, nas “Vendas”, conhecidas casas comerciais. Além da exploração mercantil, os comerciantes absorviam a poupança local, os depósitos dos habitantes, sendo conhecida a inexistência de bancos. As pessoas em situação financeira mais cômoda e em condições de poupar depositavam o dinheiro em algumas casas comerciais, que subtraiam certa taxa de juros pelo dinheiro guardado. Entretanto, este dinheiro disperso, recolhido e acumulado não sendo suficiente para impulsionar o processo industrial, foi necessário a exploração dos trabalhadores, ou seja, no lugar de um salário como forma de pagamento pelo trabalho, muito frequentemente, os trabalhadores percebiam a importância correspondente a seu trabalho em forma de mercadorias, provenientes da casa de comércio pertencente ao patrão.
[…] a utilização do capital local acumulado e a exploração da força de trabalho não sendo ainda suficientes, os empresários precisam solicitar empréstimos aos bancos alemães e brasileiros. E, neste aspecto – a busca de capitais, de tecnologias e outros recursos – os empresários locais sempre se mantiveram ligados à Alemanha. (VIDOR, 1995).
Historicamente, em 1º de setembro os sócios do Volksverein (Sociedade Popular) aprovaram a fundação de um sindicato agrícola, com o objetivo principal de criar uma Caixa Econômica de Empréstimos, oficializada no dia 27 de outubro de 1907. O fato foi propagado por meio de um folheto anexado ao jornal Urwaldsbote, de agosto de 1907, anunciando o evento. Essa Caixa Econômica iniciou seus trabalhos em janeiro de 1908. Contraditória e ironicamente, essa instituição financeira propagava ao seu público-alvo, os colonos, as vantagens e a necessidade de poupar, sob o argumento de ser uma sociedade popular, embora tivesse sido fundada por um grupo de pessoas entre as quais representantes da ACIB, que, por sua vez, estavam envolvidos com a construção da EFSC e, oportunamente, precisavam de capital para viabilizá-la. Esta iniciativa foi empreendida por um representante das lideranças locais. De acordo com Santiago (2001, p. 48), a iniciativa foi liderada por Bruno Hering, Alwin Scharader e Eugen Fouquet (jornalista), João Hennings (trabalhava na Fecularia Lorenz), Guilherme Weise, e Otto Hildelmeyer (professor de ginástica). Empolgado com o sucesso da Caixa Econômica de Empréstimos, o comerciante membro da ACIB e prefeito de Blumenau, Alwin Schrader, passou também a gerenciar a Caixa Auxiliadora Agrícola Ltda., que aceitava depósitos para poupança a partir de três mil réis, pagando 4% de juros ao ano. De acordo com Santiago (2001, p. 51), a atividade financeira passou a fazer parte do cotidiano de Blumenau.” (WITTMANN – 2010)
“Este efervescer comercial, o surgimento do embrião da indústria urbana e o desejo de ampliar o mercado conectando comercialmente os núcleos urbanos do Vale do Itajaí motivaram a elite da colônia de Blumenau, formadas pelos principais comerciantes, artífices, industriais e alguns poucos colonos mais bem-sucedidos que tinham interesses. Passaram a buscar ações concretas para melhorias mais acentuadas e efetivas no sistema de transportes. A nova elite oriunda deste novo momento social, a exemplo das antigas lideranças que estavam organizadas na Kulturverein (formada por colonos e comerciantes) – Sociedade de Cultura – funda, então, a Associação Comercial e Industrial de Blumenau – ACIB. Essa entidade representou os interesses da nova elite blumenauense do início do século XX, no momento em que são bem definidas a segregação social e a dicotomia campo-cidade, no surgimento da indústria e no fortalecimento do comércio local.” (WITTMANN – 2010)
Portanto, o pioneirismo estava presente na Kulturverein, que foi a primeira Cooperativa do Brasil e foi idealizada, quando o fundador da Colônia Blumenau – Hermann Bruno Otto Blumenau, executava os planos para fundar a sua colônia empresarial agrícola.
O fundador teve contato com a escola de economia científica europeia, a fisiocracia de Fraçois Quesnay e a partir desta, “organizou” o projeto de fundação de sua colônia agrícola nos trópicos.
“Partindo-se do princípio de que, do século XVIII em diante, as Doutrinas Econômicas começaram a influir sobre o comportamento social dos grandes vultos históricos, teremos que admitir que Hermann Blumenau, não podia ser uma exceção às regras. Mas quais as Doutrinas Econômicas que mais atraíram o Dr. Blumenau, na época, o Século XIX, em que ele viveu? Os precursores das Doutrinas Econômicas foram os fisiocratas, em século antes, tendo como seu grande animador, François Quesnay, médico e economista, aliás, ele um dos médicos de Maria Antonieta, donde adveio o seu prestígio em toda a Europa. Como economista, o Dr. Quesnay, aplicou à circulação do sangue no organismo, a própria circulação das riquezas dos povos, por isso que quando a circulação humana era perfeita a saúde também o era. Concluído que de nada valeria produzir, se não se pudesse circular, perfeitamente, para os centro consumidores as produções. Logo para os fisiocratas toda a saúde econômica dos povos dependeria da perfeita circulação de suas riquezas econômicas. O Dr. Quesnay muito escreveu sobre os princípios fisiocráticos e acredito que Hermann Blumenau, como filósofo, portanto homem culto, tenha lido e se influenciado pelas doutrinas fisiocráticas, não só por seus conhecimentos filosóficos como por seu espírito civilizador. ” Nemézio Heusi – Blumenau em Cadernos
Comentário
Há divergência quanto a denominação técnica das sociedades como essa, que apresentava como um dos objetivos, em seu estatuto, trazer melhorias paro agricultor e o pecuarista, nos primeiros tempos da história de Blumenau. Recebemos duas contribuições. Uma, colocada junto do artigo publicada em nosso blog, e a outra, de maneira informal, nas redes sociais. Apresentamos aquela feita junto ao artigo, como material para outras mais pesquisas sobre o tema.
A cooperativa era denominada “Consumverein”, e a Associação agrícola, como “Kulturverein zu Blumenau”. A primeira foi criada pela segunda, como também o conselho comunal, Gemeinderath. As atas das duas associações, e do conselho, eram publicadas separadamente, no jornal Kolonie Zeitung, a partir de 1869. Brigitte Brandenburg
De fato, não havia uma formalização e era, somente, dotada de uma denominação e um nome. Seu funcionamento e organização atende ao sistema organizacional de uma Cooperativa e seus estatutos embasam esta afirmativa.
No artigo apresentamos também, o contexto sócio, econômico e cultural, no momento da presença dessa associação na sociedade de Blumenau da segunda metade do século XIX e surgiu a conclusão, uma cooperativa que foi base para muitas outras atividades pioneiras na região da grande Colônia Blumenau, lembrando que suas lideranças chegaram a ir para Desterro, com intuito de formalizá-la como cooperativa.
Agradecemos as contribuições.
Leituras complementares de autoria de Frederico Kilian
Um Registro para a História.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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@AngelWittmann (Twitter)
Referências
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- CENZI, Neiri Luiz (2012). Cooperativismo: desde as origens ao projeto de lei da reforma ao sistema cooperativo brasileiro. Curitiba: [s.n.]
- BASSANI, Maite Daiana. Rotinas Culturais Vivenciadas pelas crianças envolvidas pelo ideário típico alemão blumenauense. Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Estado de Santa Catarina.Orientadora: Profª Dra. Julice Dias. Florianópolis, 2020. Disponível em: https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/251/Maite_Daiana_Bassani_disserta__o_16154836106101_251.pdf . Acesso em: 30 de julho de 2024, 14h55.
- Blumenau em Cadernos. Blumenau em 1863. Tomo X, março de 1969 – N° 3.
- Blumenau em Cadernos. 1863. Tomo XVII, maio de 1976 – N° 5.
- Blumenau em Cadernos. 1869. Tomo XVII, maio de 1976 – N° 5.
- JAMUNDÁ, Theobaldo da Costa. Um alemão brasileiríssimo, o Dr. Blumenau. Dep. de Cultura de Santa Catarina, 1966.
- KILIAN, Frederico. A Kulturverein. Blumenau em Cadernos. Tomo II, abril de 1959 – N° 4, 1959.
- KILIAN, Frederico. A Kulturverein. Blumenau em Cadernos. Tomo II, maio de 1959 – N° 5, 1959.
- KILIAN, Frederico. A Kulturverein. Blumenau em Cadernos. Tomo IV, janeiro de 1961 – N°1, 1961.
- KILIAN, Frederico. A Sociedade da Cultura. Blumenau em Cadernos. Tomo VI, N°2.
- LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina: a terra, o homem e a economia. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1968.
- PINHO, D. B. (1966a). A doutrina cooperativa nos regimes capitalista e socialista: suas modificações e sua utilidade. São Paulo: Pioneira
- SANTIAGO, Nelson Marcelo; PETRY, Sueli Maria Vanzuita;
- FERREIRA, Cristina. ACIB: 100 anos construindo Blumenau. Florianópolis: Expressão, 2001. 205 p, il.
- SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau /J. Ferreira da Silva. -Florianópolis : EDEME, [1972?]. – 380 p. :il.
- SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau /J. Ferreira da Silva. Blumenau 150 anos de Fundação. Blumenau em Cadernos. disponível em: http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/blumenau%20em%20cadernos/2000/BLU2000009.010.pdf . Acesso em: 30 de julho de 2024 – 12h40.
- WITTMANN, Angelina. A ferrovia no Vale do Itajaí :Estrada de Ferro Santa Catarina -Blumenau : Edifurb, 2010. – 304 p. :il.
- VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. 248p, il.
- Revista Blumenau em Cadernos – Ano 1959.
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