O respeitado jurista Édis Milaré, define antropocentrismo, como “aquilo que é relativo aos humanos, como a característica central do mundo, interpretando as questões ambientais e dos recursos unicamente em termos de valores de padrões humanos”. 

O cérebro humano, responsável por tantas conquistas maravilhosas, é o mesmo que nos colocou na situação em que estamos, que alguns já qualificam como civilização suicida. Precisamos dar uma guinada de 180 graus no que estamos fazendo, para evitar a progressão de uma hecatombe que já começa a atingir grande parte da vida na Terra.

Uma das causas para o atual estado de coisas em que nos metemos enquanto humanidade moderna é o antropocentrismo que nos impede de enxergar o mundo como ele é, mas, apenas, como queremos que seja. Confinados dentro da nossa casca de ovo humana, só olhamos para nosso umbigo e não percebemos o que se passa além dessa casca. 

Se, ao invés do ser humano, fosse um cachorro que tivesse evoluído seu cérebro como o nosso, o cão cientista que classificasse todas as espécies intitularia a espécie canina como Canis sapiens e sua visão de mundo seria, sem dúvida, canicêntrica.

Se uma formiga tivesse evoluído como nós evoluímos, a formiga cientista que classificasse os seres vivos, iria intitular sua espécie algo como Mirmex sapiens e sua visão de mundo seria, naturalmente, “mirmecocêntrica”.

Se fosse um peixe, o peixe cientista qualificaria sua espécie como Pisces sapiens e sua visão de mundo seria, certamente, “piscicêntrica”.

Como seres humanos que somos, portanto, é natural que sejamos antropocêntricos. Qual o problema, então?

O problema é o nosso antropocentrismo exagerado e cego, que nos faz agir apenas em função dos interesses de nossa espécie, esquecendo que somos parte de um todo muito maior e mais complexo, do qual dependemos totalmente. 

A humanidade em relação ao planeta age como um coração com vontade própria que só olha para si e esquece que é parte de todo um corpo orgânico. Se ele bate mais rápido e forte ou mais fraco e devagar quando ele quer e não quando o corpo precisa, todo o sistema entra em colapso! 

Nosso antropocentrismo, principalmente o da civilização judaico-cristã ocidental é um antropocentrismo exagerado, que só olha para seu próprio umbigo, ignorando tudo o que nos cerca em volta.

Por isso, urge que tenhamos consciência de que somos PARTE e não À PARTE da Natureza. Mesmo que nos consideremos o coração de um corpo chamado Biosfera ou Ecosfera, temos que interagir com harmonia e não em desacordo com seu ritmo e complexidade.

Por milênios, até o recente século 17, predominou o Geocentrismo que considerava a Terra como o centro do Universo em torno da qual giravam, além da lua, o sol, os outros planetas e as estrelas. A humanidade se considerava importante demais, éramos, neste planeta especialmente designado para nós, simplesmente, o centro do Universo!

Quando Copérnico, Galileu e outros questionaram isso, foram duramente criticados, acusados de heresia e ameaçados de morte por demonstrar que isso não era verdade. Giordano Bruno foi queimado vivo na fogueira da inquisição em 17 de fevereiro de 1.600 por ter defendido até o fim posições como as de Copérnico e Galileu. 

Hoje, qualquer criança sabe que é a Terra que gira ao redor do Sol e não o contrário. Sabe que não somos sequer o Centro do Sistema Solar, que dirá do Universo e ninguém perde o sono e nem se sente menos importante por causa disso. 

O antropocentrismo imoderado está na origem dos muitos males que já causamos ao planeta e a nós mesmos. Podemos dispor de todas as técnicas para resolvermos um problema ambiental, mas, sem visão ECOCÊNTRICA, gastaremos mais dinheiro e teremos muito maior dificuldade de resolvê-lo de fato, como temos insistido muito nesta coluna, usando exemplos regionais. 

A partir do momento que entendermos que somos parte de um todo muito maior e interdependente chamado Natureza, Biosfera, ou melhor, Ecosfera, tudo o mais se resolverá mais fácil e racionalmente e atingiremos muito mais eficientemente o tão sonhado equilíbrio ecológico.

Ter em mente que somos parte, e não à parte da natureza, respeitando todas as formas de vida, precisa se tornar algo tão normal quanto sabermos que o coração é parte, e não à parte de nosso corpo ou que a Terra não é o Centro do Universo. E ninguém perderá o sono, nem se sentirá menos importante por causa disso. 

Assim como o Século 17 testemunhou a substituição da visão Geocêntrica pela visão Heliocêntrica e cósmica do Planeta Terra, que o atual século 21 seja o século em que todos compreendam e assumam uma visão e atitude ECOCÊNTRICA. Quanto antes isso acontecer, melhor será a vida para todos, humanos e as milhões de outras espécies destas e das futuras gerações.

O amigo de faculdade Vitório Felski posa junto a uma kombi ainda cheia de lama ressequida que ficara sob as águas da grande enchente que quase varreu Tubarão do mapa em 1974. Passados três meses daquela tragédia, ninguém voltou para requerer ou resgatar esse veículo. Provável indício de que pertencia a um, dos quase 200 mortos naquele evento, talvez a família inteira. Foto: Lauro Eduardo Bacca, em 09/07/1974.


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