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A morte de Hermann Wendeburg, diretor interino da Colônia Blumenau, e o desamparo de sua família

Capa: Hermann Wendeburg, o guarda-livros de Hermann Blumenau (nosso acervo) e a paisagem – o embrião do Stadtplatz, com a residência de Hermann Wendeburg e sem as Palmeiras do Boulevard Wendeburg. Acervo: Acervo Biblioteca Nacional Digital do Brasil. Folheando a Revista Blumenau em Cadernos de janeiro de 1960 (Tomo III – N° 1), deparamo-nos com […]

Capa: Hermann Wendeburg, o guarda-livros de Hermann Blumenau (nosso acervo) e a paisagem – o embrião do Stadtplatz, com a residência de Hermann Wendeburg e sem as Palmeiras do Boulevard Wendeburg. Acervo: Acervo Biblioteca Nacional Digital do Brasil.

Folheando a Revista Blumenau em Cadernos de janeiro de 1960 (Tomo III – N° 1), deparamo-nos com um texto que está alinhado a nossa opinião, ratificada em outros textos de nossa autoria relacionados à personalidade histórica de Hermann Wendeburg.

Aliás, a própria frase destacada abaixo, evidencia o “pouco caso” de Blumenau, por meio de seus representantes formais e instituições, com os feitos de Wendeburg, como por exemplo a retirada da homenagem a ele, ele, ao banirem seu nome da Rua das Palmeiras (Palmenallee) – Boulevard Wendeburg, para colocar o nome do fundador.

A Palmenallee, de acordo com o livro Centenário de Blumenau, na sua página 31, recebeu formalmente o nome de Boulevard Wendeburg, nome que permaneceu pouco tempo, renomeada posteriormente com o nome de Alameda Dr. Blumenau. Também na grande publicação de 1950, marco do centenário de Blumenau são listados nomes de personalidades da história das primeiras décadas, e o nome de Hermann Wendeburg, não foi contemplado.

Teve contato e trabalhou com pioneiros de Blumenau, primeiras lideranças, como também foi gestor da comunidade por 4 anos, na ausência de Hermann Blumenau, entre 1865 e 1869.

Destacamos as passagens do texto publicado na edição da citada revista de 1960, apontando-o como exemplo. Mas seu título ressalta este descaso, quando escreve “Um funcionário exemplar”, chamando atenção às funções do guarda-livros de Hermann Blumenau, cujas atividades foram muito além das atribuições de um “funcionário”. Em contrapartida, o texto a seguir afirma:

Cemitério Luterano Centro – Blumenau.

Morrera, à 13 de janeiro de 1881, o mais dedicado, o mais prudente e o mais operoso dos auxiliares do Dr. Blumenau, o sr. Hermann Wendeburg. A memória desse homem, que foi um modelo de funcionário trabalhador e honesto, não está sendo cultuada, como merece. Blumenau em Cadernos – janeiro de 1960, página 15.

Texto completo

Blumenau em Cadernos
Tomo III – N° 1 – 1960

“Um Funcionário Exemplar”
Lembrando o 79° Aniversário da morte de Hermann Wendeburg

No mesmo dia em que a Colônia Blumenau festejava o 20° aniversário da sua transferência para o domínio e administração do governo imperial, um fato lutuoso consternou toda a sua laboriosa população. Morrera, à 13 de janeiro de 1881, o mais dedicado, o mais prudente e o mais operoso dos auxiliares do Dr. Blumenau, o sr. Hermann Wendeburg. A memória desse homem, que foi um modelo de funcionário trabalhador e honesto, não está sendo cultuada, como merece. Houve tempo em que uma das principais ruas da cidade ostentava o seu nome. Mudaram-no, porém. No gabinete do sr. Prefeito existe o seu retrato a óleo, belo trabalho de um artista alemão. Deve permanecer sempre ali, para que o seu espírito inspire os dirigentes municipais, em todas as épocas, a continuarem a tradição de dignidade, de honradez, de absoluto respeito pela causa pública, legada pelos nossos antepassados. Uma placa de bronze, com a sua efígie, deveria figurar no pedestal da estátua do dr. Blumenau, porque Wendeburg foi o braço direito do fundador da colônia, foi o homem da sua absoluta confiança. Em ofício n.° 8, de 21 de janeiro de 1881, dirigido ao presidente da província, o dr. Blumenau faz o necrológio desse modesto servidor, admirável pela modéstia e dedicação ao seu chefe. Esse ofício, que transcrevemos a seguir, na íntegra, é o maior elogio que se poderia fazer às virtudes de Wendeburg:

“Cabe-me o muito doloroso dever de participar a V. Excia. o infausto e repentino falecimento do guarda-livros da diretoria a meu cargo, Hermann Wendeburg, no dia treze deste mês, o mesmíssimo dia, em que comigo, faz vinte anos, em 1860, havia entrado no serviço do governo, depois de me ter servido, como auxiliar e guarda-livros, já dantes e durante cerca de cinco anos, na minha empresa particular de colonização. Foi vítima de uma “angina pectorais”, que o fulminou, e morreu quase como o bom soldado no campo de batalha: – para corrigir alguns dados estatísticos, que ainda faltavam para o relatório geral sobre o ano, que acaba de findar, ele tinha, ainda que já algum tanto incomodado de saúde, ido a Gaspar e o calor abrasador do dia talvez que contribuis se para a precipitação do êxito fatal; pois que, pouco tempo depois da volta em casa, sofreu um fortíssimo ataque e mais meia hora depois já era cadáver.
O Estado – e especialmente esta colônia – perdeu com ele um muito honesto e distinto servidor e eu perdi um dedicado, sincero e honrado amigo, um inteligente e laborioso cooperador, que desde cerca de vinte e seis anos me tem auxiliado na árdua tarefa, com que a própria vontade e o fado, faz agora trinta e quatro anos, me carregaram, que durante muitos anos foi minha felicidade, mas nos últimos se me converteu em fonte de pungentes amarguras e aflições! O falecido deixa sua mulher e família, composta de uma filha e um filho, ainda crianças, duas filhas menores e um filho moço, apenas entrado em Buenos Aires na vida comercial e apenas capaz para se sustentar a si mesmo, e um velho sogro e a mulher dele, absolutamente indigentes, infelizmente em melindrosas circunstâncias para o seu futuro modesto sustento.
A vista dos merecimentos do seu falecido chefe, seria portanto uma graça bem entendida e bem aplicada, conceder, o governo imperial, à infeliz família, um auxílio pecuniário extraordinário por algum tempo e até que ela mesma possa prover à sua subsistência . ‘Para suprir o falecido no seu lugar de guarda-livros, ou escriturário, emprego provisoriamente o auxiliar do mesmo, Henrique Avé-Lallemant, e para suprir a este, emprego desde o dia quinze deste mês, também provisoriamente, o anterior ou antigo escrevente, que durante longos anos tem servido a esta diretoria, Teodoro Kleine Senior, solicitando, respeitosamente, a V. Excia. se digne aprovar estes meus atos, e dando eu hoje parte do ocorrido também ao Ministério da Agricultura por intermédio da Inspetoria Geral das Terras e Colonização”. Hermann Blumenau

A margem desse ofício, o presidente da província, que era o dr. João Rodrigues Chaves, escreveu, à lápis, esta recomendação ao seu secretário: “Responda que, ciente do falecimento do guarda-livros dessa diretoria, Hermann Wendeburg, que sinceramente lastimo, cabe-me dizer-lhe que deve a viúva desse empregado, requerer ao governo imperial, a graça de uma pensão, devendo contar que informarei a sua súplica como ela merece e com parecer de manifesta equidade . Que nomeio, provisoriamente, escriturário Avé-Lallemant, que indica, e nada há a fazer em relação a quem empregou como auxiliar de escriturário, criado por lei de 31 de janeiro de 1881″

A casa de Wendeburg já existia na Palmenallee, Boulevard Wendeburg, quando faziam 14 anos que vivia na Colônia Blumenau.
O avô de Renate Luise Rohkohl (Dietrich), aquela que cuidou desta histórica arquitetura e depois a doou para Blumenau com tudo que estava dentro. Não há registros no museu, das peças históricas que pertenceram à família Schwarzer, Rohkohl e Dietrich.

Um bom registro histórico, esclarecendo que Wendeburg faleceu trabalhando, tinha 55 anos incompletos, tendo deixado família, esposa, casal de sogros idosos e filhos pequenos, desamparados, o que supostamente explica venda de sua residência, em 1880, para o advogado Paul Schwarzer,  pouco antes de morrer. Seu espaço na história da Colônia Blumenau é imensurável, observado a partir de um conjunto de correspondências oficiais que encontramos no Setor de Documentos Raros da Universidade Federal de Santa Catarina, juntamente com outros artigos e documentos históricos, pouco divulgado na história formal de Blumenau.

Residência de Hermann Wendeburg – até 1880. Mais antiga edificação do Vale do Itajaí.
Localização da residência de Hermann Wendeburg – parte do atual Museu da Família Colonial.

Hermann Ernst Ludwig Wendeburg

Por compreendermos e constatarmos seu trabalho silencioso e pouco reconhecido, já tivemos oportunidade de escrever sobre seus feitos e sugerimos a leitura do texto: Hermann Ernst Ludwig Wendeburg administrou Blumenau entre 1865 e 1869 e foi condecorado com Comenda da Ordem da Rosa por D. Pedro II.

Hermann Ernst Ludwig Wendeburg nasceu em 2 de fevereiro de 1826, em Groß Förste, Landkreis Hildesheim, Niedersachsen, no território da atual Alemanha. Filho de Wilhelm Wendeburg e Elise (Hölmann) Wendeburg.

Wendeburg, chegou a Blumenau com um grupo de 27 imigrantes, em 1853 (Livro Centenário Blumenau), quando contava com 17 anos. Nesta fonte de pesquisa de 1950, quando se comemorava o centenário de Blumenau, referem-se a Wendeburg, como o “substituto de Blumenau”. Mereceu e manteve este “Titulo”?
Hermann Wendeburg se casou Hulda Jeny Gertrud Herbst (filha de August Herbst e Auguste (Rössel) Herbst) em 8 de dezembro de 1857, com mais de 21 anos. De acordo com o livro Pioneiros da Colônia Blumenau – Famílias Evangélicas de confissão Lutherana da colônia Blumenau. Período: 1856 – 1940, o casal teve os filhos: Paul Eberhard Hermann Wendeburg, Clara Auguste Wilhelmine Wendeburg, Edith Julie Emmy Wendeburg, Anna Eugenie Alma Wendeburg e Hermann Oswald Wilhelm Wendeburg.

Conforma relata José Ferreira da Silva, na página 85 de sua publicação – História de Blumenau, Hermann Bruno Otto Blumenau embarcou para a Europa – sem previsão de retorno – como representante do governo brasileiro, para contornar as denúncias de maus-tratos ao imigrante “alemão”, principalmente nas fazendas de café, onde este vinha ocupando paulatinamente o lugar da mão-de-obra escrava. E também, para apresentar, por meio de propaganda de convencimento, as “vantagens” para que os “alemães” migrassem para o Brasil e para a Colônia Blumenau.

Antes de embarcar, após sanadas algumas providências e ter deixado Hermann Ernst Ludwig Wendeburg interinamente na direção da Colônia Blumenau, que ficou conhecido como Diretor Interino. O fundador partiu para a  Europa, em 18 de março de 1865, onde permaneceu por 4 anos, tentando cumprir sua tarefa – tal qual fez Georg Anton Von Schäffer, a mando de José Bonifácio, na década de 1820.

Hermann Wendeburg administrou a Colônia Blumenau durante a sua ausência. Observando a história conhecida e as correspondências que encontramos no Setor de Documentos Raros da Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina, Wendeburg cumpriu muito bem sua missão, sendo até mesmo responsável pela organização do pelotão que ficou conhecido como “Voluntários da Pátria”, que esteve na Guerra do Paraguai.

Fotografia de documento assinado por Hermann Wendeburg, encontrado no Setor de Documentos Raros da Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. Muitos nomes de imigrantes alemães foram “abrasileirados”, como, por exemplo: Emil/Emílio; Franz/Francisco; Louis/Luiz; Karl/Carlos; Rudolph/ Rodolfo; Johann/João; Ernest/Ernesto; Willhelm/Guilherme; Heinrich/Henrique; Michael/Miguel; August/Augusto. Fotografia de 2015.
Hermann Wendeburg com algumas das lideranças da época de Blumenau, quando já fazia dois anos que administrava a colônia e Hermann Blumenau, de acordo com a história, permaneceria, ainda mais dois anos na Europa, neste tempo até contraiu matrimônio por lá.

Quando Hermann Blumenau retornou à Colônia Blumenau em 1869, após 4 anos de ausência e ciente da boa condução da mesma efetuada por seu “guarda-livros”, tudo continuou como dantes, o ótimo “funcionário” Wendeburg continuou no cargo de guarda-livros, no qual permaneceu até morrer em 13 de janeiro de 1881, com 55 anos incompletos, após uma deslocamento, sob sol quente, até Gaspar.
E o que aconteceu com a família?

Alguém se lembrou e escreveu que no 20.° aniversário de que Blumenau e este deixou de ser um negócio privado de Hermann Blumenau, e no qual trabalhava Hermann Wendeburg, e a Colônia passou a fazer parte da administração do governo imperial. O diretor interino morreu no ano seguinte, deixando uma família desamparada e sua história de contribuições para a construção de Blumenau e região, preticamente esquecida.

Mais de setenta anos depois, alguém escreveu: “morrera, à 13 de janeiro de 1881, o mais dedicado, o mais prudente e o mais operoso dos auxiliares de Hermann Blumenau, Hermann Wendeburg. A memória disse homem, que foi um modelo de funcionário trabalhador e honesto, não está sendo cultuada, como merece. Houve tempo em que uma das principais ruas da cidade ostentava o seu nome. Mudaram-no, porém.”.
O próprio Hermann Blumenau, através de um comunicado, noticiou a morte daquele que dedicara sua vida ao trabalho, em detrimento de seu projeto pessoal, sem o devido reconhecimento. Coisa que Ferdinand Hackradt, o primeiro “sócio” do fundador percebeu, naquele tempo, e teve o cuidado de alertar o colono Carl Hoepcke, seu sobrinho, para não permanecer na colônia e ir trabalhar com ele em Desterro, porque não recomendava.
Contou Hermann Blumenau, em sua nota publicada em Blumenau em Cadernos aqui mencionada. Diz o fundador: “…o infausto e repentino falecimento do guarda-livros da diretoria a meu cargo, Hermann Wendeburg, no dia treze deste mês, o mesmíssimo dia, em que comigo, faz vinte anos, em 1860, havia entrado no serviço do governo, depois de me ter servido, como auxiliar e guarda-livros, já dantes e durante cerca de cinco anos, na minha empresa particular de colonização. Foi vítima de uma “angina pectorais”, que o fulminou, e morreu quase como o bom soldado no campo de batalha.”

Em seu depoimento, Hermann Blumenau esclareceu que para corrigir alguns dados estatísticos, faltantes para concluir o relatório geral de 1880, mesmo doente, Wendeburg foi a Gaspar sob um dia de calor escaldante, que o fez passar mal e sentir as características dor no peito da angina, que já o vinha incomodando.

Em seu texto, Hermann Blumenau explicita que Hermann Ernst Ludwig Wendeburg, o imigrante Hermann Wendeburg que chegou na sua colônia com 17 anos de idade, faleceu, deixando sua esposa Hulda Jeny Gertrud Herbst (sem citar seu nome). Subentendo que o Stadtplatz de Blumenau, não fosse tão grande assim que desconhecesse o nome da viúva e demais familiares, formado por dois idosos, pais de Hulda e filhos, ainda crianças, somando cinco filhos. Lembra que o mais velho dos filhos de Wendeburg, estava tentando a sorte na cidade de Buenos Aires. Reconhece que não terão condições para o sustento e, só. Não, na verdade, em 1880, quando Hermann Wendeburg vendeu sua casa para Paul Schwarzer, Hermann Blumenau – o fundador da Colônia Blumenau, teve sua empresa avaliada pelo Império em 120 contos de réis. Desse total, pagou as dívidas ao Império no valor de 85 contos.
Hermann Blumenau, como funcionário público da coroa, no papel de Diretor da colônia – recebia um salário – conforme mediante a realidade local da época – de 4 contos de réis por ano (mais de 40 mil reais – ao mês – no valor atual). A conversão das moedas:

1 Real (Réis) – R$ 0,123
1 Mirréis (Mil Réis) – R$ 123,00
1 Conto de Réis (Mil mirréis) – R$ 123.000,00

A sua realidade de “bom funcionário” era muito diferente. Não teve qualquer iniciativa para auxiliar a família enlutada de Wendeburg por parte, do então, diretor da Colônia Blumenau, aquele que mais recebeu por um trabalho desenvolvido e praticado, pelo então “bom funcionário” Wendeburg.

Comentou em seu texto, que posteriormente foi publicado em Blumenau em Cadernos, em janeiro de 1960: Que não havia condições de sustentar, nem a si mesma, no caso a esposa, quanto mais, ao um velho sogro e à mulher dele, absolutamente indigentes, concluindo que a situação, infelizmente, era melindrosa se fosse considerado o seu futuro modesto sustento.

A única saída percebida pelo diretor da Colônia Blumenau, era, mais uma vez, apelar para o governo imperial, solicitando auxilio para a grande família enlutada, de Hermann Wendeburg. Refletia conclusivamente, que fosse somente por algum tempo, até que seus membros da família enlutada pudessem prover sua subsistência.

Hermann Blumenau nomeou, um substituto para os trabalhos feitos por Hermann Wendeburg, que foi o seu auxiliar, Henrique Avé-Lallemant, o qual iniciou no cargo, dois dias após o passamento de Wendeburg.

Quadro desaparecido do século XIX, contém o retrato de Wendeburg (onde está?)

Também registramos que uma das homenagens recebidas por Hermann Wendeburg, quatro anos após seu falecimento, também mencionada no texto de Blumenau em Cadernos, foi o seu retrato desenhado em um quadro óleo sobre tela, que na década de 1950, ainda figurava no gabinete do prefeito de Blumenau.

No gabinete do sr. Prefeito existe o seu retrato a óleo, belo trabalho de um artista alemão. Deve permanecer sempre ali, para que o seu espírito inspire os dirigentes municipais, em todas as épocas, a continuarem a tradição de dignidade, de honradez, de absoluto respeito pela causa pública, legada pelos nossos antepassados. Blumenau em Cadernos – 1960.

Além dessa menção, também encontramos outro registro sobre, também em Blumenau em Cadernos, em abril de 1958, mencionando a obra que homenageou Hermann Wendeburg. Pesquisamos quem foi o pintor alemão que pintou o quadro mencionado.

Quatro anos após a morte de Hermann Wendeburg, ele foi homenageado com a entrega de um quadro, que pode ter sido pintado por um grande pintor alemão do período romântico. em 1956, ainda se encontrava no gabinete do Prefeito.

A obra foi feita por um dos membros da família alemã Wislicenus e o mesmo foi entregue e colocado na sala da Câmara Municipal, em 2 de fevereiro de 1885, quando se completaram quatro anos da morte de Hermann Wendeburg. Hermann Wendeburg foi lembrado no seu tempo contemporâneo e quando Hermann Blumenau já não estava mais no Brasil.

Observando a data, há indícios que nos fazem concluir que o autor da obra pode ter sido um dos três pintores da família Wislicenus – Hermann Wislicenus ou um de seus dois filhos – Hans ou Max.

Hermann Wislicenus foi um pintor de personagens históricos alemão, nascido em Eisenach – Ducado de Saxe-Weimar-Eisenach – Turíngia, em 20 de setembro de 1825.
Sua formação artística foi na Academia de Belas Artes de Dresden, onde estudou. Foi aluno de Eduard Julius Friedrich Bendemann e de Julius Schnorr. Sua primeira obra – Abundância e Destituição – foi adquirida pela Galeria de Dresden em 1853.

Hermann Wislicenus foi casado com Ida Röderer. O casal teve quatro filhos: o Admiralitätsrat und Marineschriftsteller (Conselheiro do Almirantado e Escritor Naval) Georg Wislicenus (1858-1927), o pintor Max Wislicenus (1861-1957) e o pintor Hans Wislicenus (1864-1939) – podendo, também, um dos dois Wislicenus ser autor do retrato de Hermann Wendeburg.

Quando Hermann Wislicenus retornou para à região da Alemanha (Que ainda não era uma nação), fixou residência em Weimar e abriu seu estúdio de pintura. Em 1868 foi convidado a ser professor na Academia de Düsseldorf.

Hermann Wislicenus tornou-se conhecido pelas pinturas murais que criu no Kaiserpfalz Goslar – Palácio Imperial de Goslar.

Kaiserpfalz Goslar.
Barbarossas Erwachen – Kaiserpfalz Goslar – pintura de Hermann Wislicenus.
Martinho Lutero – Kaiserpfalz Goslar – pintura de Hermann Wislicenus.

Em 1877, Hermann Wislicenus participou de um concurso público para atuar no restauro do Kaiserpfalz Goslar. Foi o vencedor, com a contribuição – na equipe – de seus alunos. Durante 20 anos, pintou uma série de 68 afrescos, apresentando a sequência do governo imperial – desde Charlemagne ao governo prussiano – Império Alemão.

Interior do Kaiserpfalz Goslar – pintura mural de Hermann Wislicenus.

Durante o processo de Unificação da Alemanha, o Palácio Imperial – Kaiserpfalz Goslar, após um século de decadência, passou por um processo de restauro que teve início em 1868.

Kaiserpfalz Goslar.

A partir desse trabalho, o pintor – a partir desse trabalho – tornou-se referência na arte da pintura romântica, principalmente, sob a ótica das características medievais, que contribuíam para a identidade do Reich – estado alemão criado em 1871.

Quanto ao retrato de Hermann Wenderburg – o homem de confiança de Hermann Blumenau e Diretor interino da Colônia Blumenau por no mínimo 4 anos, recebeu uma pintura de seu rosto pintado por este renomado artista. Pode ter sido feito por qualquer um dos três pintores (pai e filhos) da família Wislicenus – A data o permite: 1885, anos da entrega da obra.

Teremos a resposta correta, somente quando revermos a obra.

Onde está essa obra da história de Blumenau?

No Setor de Documentos Raros da Biblioteca Central da UFSC – 2018.

Se alguém souber onde está essa obra pintada por um Wislicenus, poderíamos responder a questão anterior, e também poderíamos apresentar essa peça de importância histórica, não somente para Blumenau e região, como obra de um importante pintor alemão do período romântico, mas também, importante para a arte internacional.

Assinatura de Hermann Wendeburg, como Diretor Interino da Colônia Blumenau, durante 4 anos.
Documentos encontrados no Setor de Documentos Raros da Biblioteca Central da UFSC – 2018, Florianópolis. Pertenciam ao Consul Honorário Alemão de Brusque, genro do pioneiro Peter Wagner, Karl Renaux, cuja família doou para a pesquisa.

Correspondências enviadas por Hermann Wendeburg a Nossa Senhora do Desterro.

Reproduzimos aqui algumas das correspondências oficiais, dirigidas por Hermann Wendeburg a lideranças de Nossa Senhora do Desterro, na qualidade de Diretor interino da Colônia Blumenau, por quatro anos, mediante a ausência do proprietário, primeiro negociante de terras em Santa Catarina, o Diretor: Hermann Bruno Otto Blumenau.

Tais documentos podem ser encontrados no Setor de Documentos Raros da Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Um registro para a História.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)

Referências

  • Brasiliana Fotográfica. Imagens de Blumenau: por Bernardo Scheidemantel e em um álbum do início do século XX. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=16234.
  • Brasiliana Fotográfica. Instituto Moreira Salles. Álbum de Blumenau – Rua com casas na margem. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2627.
  • DEEKE, José. Traçado dos primeiros lotes Coloniais da Colônia Blumenau. 1864. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Colônia Blumenau. Mapas.
  • CENTENÁRIO DE BLUMENAU: 1850 – 2 de setembro de 1950. Blumenau: Comissão de festejos. 1950. p.417.
  • EFEMÉRIDES. 1850 – 2 de setembro. 1826 – Nasce em Foerste, em Hildesheim, o Sr. Hermann Wendeburg que emigrou em Blumenau em 15 de julho de 1853 e foi o vice-diretor e guarda-livros da Colônia, desde que aqui chegou até 1881, quando faleceu. Revista Blumenau em Cadernos. Fevereiro de 1859 – Tomo 2, N°2. Fundação Cultural de Blumenau, Blumenau, 1959.
  • EFEMÉRIDES Blumenauense. Fevereiro – 1985. Revista Blumenau em Cadernos. Fevereiro de 1858 – Tomo 4, N°1. Fundação Cultural de Blumenau, Blumenau, 1958.
  • FLOS, Max-Heinrich Fios. Unsere Väter – Nossos Pais. Ein Heimatbuch, in dem wir aus unserer DEEKE, José. O município de Blumenau e a história de seu desenvolvimento. Blumenau: Nova Letra, 1995.
  • DEEKE, José. Traçado dos primeiros lotes Coloniais da Colônia Blumenau. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Colônia Blumenau. Mapas.
  • Figuras do passado: Henrique Krohberger. Revista Blumenau em cadernos, Blumenau, Tomo I, n. 1, p. 11, Novembro. 1957.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
  • Pioneiros da Colônia Blumenau – Famílias Evangélicas de confissão Lutherana da colônia Blumenau. Período: 1856 – 1940. Prefeitura Municipal de Blumenau – Fundação Cultural de Blumenau. Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva. Tradução e transcrição: Curt Hoeltgebaum. Catalogação e formatação: Rita de Cássia Barcellos. Disponível em: http://pergamum.blumenau.sc.gov.br:8084/pergamumweb/vinculos/000000/0000004e.pdf. Acesso em: 4/12/2022 – 22:12h.
  • Revista Blumenau sua História. Um Funcionário Exemplar – Lembrando o 79° Aniversário de morte de Hermann Wendeburg. Janeiro de 1960. Fundação Cultural de Blumenau.
  • SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p.
  • SILVA, José Ferreira da. O Doutor Blumenau. 2.ed. – Florianópolis – EDEME, 1995. – 104 p.
  • VIDOR, Vilmar. Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina. Blumenau: Ed. da FURB, 1995. – 248p. :il.
  • WETTSTEIN, Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
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