Alunos com deficiência desenvolvem horta de chás terapêuticos na escola Leoberto Leal
Formato do corpo humano foi usado como base para representar em que local cada erva faz efeito
“Profe, o que você está tomando?”. Foi essa a pergunta que deu origem à horta em formato de corpo humano construída na Escola Básica Municipal Leoberto Leal, em Blumenau. A sustentabilidade, que se tornou um pilar da escola do Salto do Norte recentemente, já fez transformações profundas nos alunos.
Por causa de um problema de saúde, a professora do Atendimento Educacional Especializado, Margareth Marquetti passou a levar uma térmica de chá para as aulas da Sala Multifuncional todos os dias.
“A variedade que eu tomo é muito grande e eles ficaram curiosos. Eles começaram a pedir para beber também, e nós deixamos porque são todos naturais. Todo mundo gosta, e aí surgiu a vontade de entender um pouco mais”, explica.
A especialista em educação especial, que atende 32 alunos na escola, aproveitou o interesse dos alunos para começar um novo projeto com a turma. Ao lado da professora Janayne Darolt, elas reuniram os estudantes entre 4 e 15 anos para pesquisar sobre chás.
Eles passaram a estudar os benefícios de algumas ervas e começaram a planejar a horta. Para enfatizar o caráter educacional, o espaço foi construído em forma de corpo humano. Cada muda foi plantada no espaço que representa o local em que a planta faz efeito.
“A babosa está no topo da cabeça, pois auxilia na queda de cabelo. O alecrim, que é bom para o cérebro, também está na região da cabeça. Canela de velho está na região das articulações. O boldo na barriga e o guaco na garganta”, exemplificam as professoras.
Os estudantes possuem deficiências diversas, como autismo, síndrome de down, surdez, ataxia, síndrome de Williams e os considerados deficientes intelectuais. Alguns irmãos dos alunos também integram a equipe que se dedica à horta.
Cada criança plantou uma muda e uma vez por mês todos auxiliam na limpeza da horta. As famílias também estão buscando se informar e construindo junto dos filhos o conceito de consumir chás.
Atualmente, são 37 plantas catalogadas. Cada uma com uma plaquinha indicando quem a trouxe e o nome. O próximo passo será incluir os nomes científicos de cada erva no muro. Por isso, um livro aberto foi pintado ao lado da horta.
Colaboração da comunidade escolar
O terreno que antes abrigava canteiros que haviam sido abandonados, foi limpo com a ajuda dos pais e amigos. Eles se reuniram em um sábado, no final de abril, para remover as pedras e o mato e preparar o terreno.
“Na hora do desenho [do corpo humano] havia uma vózinha ajudando o tempo todo com a enxada. O neto dela estava junto participando e vendo o empenho da avó. Em cada momento houve a participação das crianças”, conta Janayne.
Para entender melhor como seria o formato da horta, montado com blocos, os alunos antes construíram uma maquete. Utilizando uma folha de papel pardo e botões, eles usaram um colega como base para planejar o espaço.
As plantas estão à disposição de todos os alunos, professores, pais e funcionários da escola. Algumas famílias aproveitam as mudas da horta para plantar chá em casa. “Nosso espaço está aberto para todos que quiserem conhecer”, destaca Margareth.
Para a articuladora do projeto Escolas Sustentáveis, Jeane Pukall, que atualmente se divide entre as escolas Visconde de Taunay e Leoberto Leal, este projeto vai além da sustentabilidade. “Aqui na horta vemos alunos autistas que normalmente não interagem com os outros fazendo parte do trabalho. E a comunidade toda se beneficia dos chás”.