Tradição e decoração: conheça a história dos panos de parede – Wandschoner
Wandschoner – Panos de Parede – foi uma peça de decoração usada nas casas de regiões de países como: Alemanha, Áustria, Hungria, Holanda, Suíça, Norte da Itália, Dinamarca, Croácia entre outros, no recorte de tempo entre os anos de 1870 e 1930 – e encontrada, ainda, até a década de 1950.
Muitos integrantes da geração contemporânea de descendentes de imigrantes alemães, na região do território da antiga Colônia Blumenau, ainda lembram-se destes, nas paredes das casas de suas Oma’s e Opa’s.
Primeiramente, o Wandschoner foi usado pela burguesia e elite na Europa do final do século XIX e início do século XX. Mais tarde, como sempre acontece historicamente, foi adotado pelas demais representações sociais, chegando também no campo, nas residências do campo e nas residências dos trabalhadores da indústria, neste período, emergente. Lembramos que nesta época aconteceu o início do desenvolvimento das indústrias têxteis na Alemanha. As peças eram ricamente bordadas com esmero e riqueza. As famílias possuíam coleções de Wandschoner.
A atividade do bordado ainda fazia parte das atividades das mulheres das regiões citadas, no período entre o final do século XIX e início do século XX. Uma das peças, entre outras que recebiam bordados, como: toalhas, protetores de utensílios, cortinas, colchas, peças intimas da indumentária feminina, era o Wandschoner.
Os Wandschoner’s eram bordados com diversos pontos e motivos, acompanhados de frases poéticas, religiosas, cômicas, ditados folclóricos, populares. Os motivos, também variavam entre cenas do cotidiano, natureza, religiosos, mitologia, etc. – como: flores, pássaros, ramos, pessoas, anjos, passagens bíblicas, …
Além dos Wandschoner’s, eram bordados protetores de Caixas de Bauer em Herrgottwinkel (Tipo de canto alemão) nas salas, também, bordados em linho para armários da sala. Os motivos variavam entre temas: moralizantes, engraçados, educativos, poéticos, provérbios religiosos.
No Museu das Mulheres de Hittisau – Áustria, há um grande acervo e solicitam, se alguém tiver em casa, e quiser doar para a coleção, composta por peças emprestadas, não importa o estado de conservação, pode fazê-lo.
O Wandschoner foi trazido para o Brasil por imigrantes alemães. Em Santa Catarina, o primeiro grupo de imigrantes alemães chegou em 1828, na cidade de Mafra e no Vale do Itajaí, em 1850. Portanto, nesta época não se usavam estas peças de decoração, panos de parede, nas casas da região, onde atualmente é Alemanha – que só passou a existir em 1871.
A prática de se usar o Wandschoner surgiu quase junto com o surgimento do estado alemão. Os panos de parede foram e são encontrados (aqueles que resistiram ao tempo e foram guardados) em várias regiões brasileiras onde moravam famílias de imigrantes alemães e seus descendentes.
Pessoas, no Brasil, confundem a origem desta peça decorativa, acreditando que a mesma veio com imigrantes italianos. Não confere.
Na Alemanha, os Wandschoner’s eram bordados em tecidos de algodão ou linho. No Brasil, reutilizavam sacos de farinha e ou, de algodão cru, que eram usados como embalagens de algum produto farináceo. Na Alemanha, os Wandschoner’s eram colocados na sala de estar e nos quartos, como também, no Brasil, onde também eram colocados na cozinha.
Em algumas regiões brasileiras, erroneamente é propagado que os Wandschoner’s foram criados para amenizar a rusticidade das primeiras edificações dos colonos – imigrantes alemães, em um primeiro momento quase todos, agricultores. Errado – esta afirmativa era propagada por brasileiros de outras etnias que desconheciam a herança cultural e muitas vezes usavam os panos de parede para este fim, exatamente.
A grande maioria dos imigrantes, pelo menos aqueles que chegaram na Colônia Blumenau, vieram de centros médios e grandes e trouxeram consigo uma “moda” usada na Alemanha e adequada ao local, com os materiais disponíveis no local (quase semelhante de como construíam suas primeiras casas).
Entre os imigrantes e seus descendentes, não se usava o Wandschoner para cobrir paredes rústicas de casas rudimentares dos pioneiros que vieram para a região. Era uma atividade prazerosa adotada pelas mulheres caprichosas que tinham prazer ao buscar encantar suas residências, tal como já se fazia na Alemanha.
Atualmente, na Alemanha e também, no Brasil, não se tem mais a prática do uso dos Wandschoner’s nos enxovais das moças e tampouco, nas paredes das casas. Tal qual não se usa mais fogão à lenha, nem equipamentos de fazer banha, nem gamela e rancho.
Talvez restou a prática de bordar toalhas, de todos os tamanhos e tipos, roupas de cama e lenços.
Não existe mais o uso do Wandschoner. Ficaram as peças históricas do enxoval que ainda existem, de uma prática que fez parte dos hábitos e costumes de um povo, de famílias que dentro de suas famílias trouxeram para o Brasil – dentro de um recorte de tempo histórico. Ficou a lembrança que permanece da casa da Oma e do Opa e de uma parte da História dos descendentes dos imigrantes alemães no Brasil.
Imagens do Wandschoner
Estão comercializando Wandschoner em locais onde a cultura não tem mais o lastro dos pioneiros e o processo sócio/cultural, que existiam no final do século XIX e no início do século XX. Não houve uma continuidade e muitas vezes, estão e são descaracterizados.
Apropriam-se de uma prática, a partir do seu discurso e resultados e do apelo emocional inerente, muitas vezes, sem conhecer sua origem, comercializam-no com a narrativa “é coisa de alemão”. É importante lembrar que o Wandschoner fazia parte do enxoval das moças e estas o faziam nas noites e nos dias frios, quando não havia trabalho na propriedade ou na casa.
Poderiam comercializar, como algo contemporâneo, com uma nova linguagem que reportasse e lembrasse passagens históricas, mas não se deve afirmar tratar de um resgate. Para ser definido como tal, deveria estar guardado entre as peças do enxoval das moças solteiras – e confeccionados por elas.
É novo e está inserido dentro de um novo contexto social e econômico – usado para lucrar, portanto, somente um produto decorativo.
“Aos 16 anos bordei este pano. Foi meu pai quem me presenteou com o tecido já riscado e as linhas. A tarefa foi executada aos poucos, nos momentos de folga do trabalho na lavoura. Como não havia luz elétrica era necessário aproveitar a claridade do dia para a execução do bordado. Mesmo já tendo atingido os 82 anos de idade, ainda conservo intacta a peça que fiz com tanto carinho. Ela é parte das minhas memórias.” Silvia Zuge – Pomerode, 29 de junho de 2021.
Hábitos e Costumes – Identidade!!
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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