Anônimos: atrás dos microfones, Elza Aparecida ajuda a comunidade há décadas

Paixão pelo trabalho e pelo próximo move a radialista, conhecida por sempre estampar um sorriso no rosto

Elza Aparecida é conhecida por estar sempre de bom humor. Radialista, atua na área desde a pré-adolescência por influência do pai. Apesar das adversidades, a moradora de Blumenau se tornou um exemplo por nunca “deixar a peteca cair”.

Há quase 20 anos, a voz de Elza é conhecida por todos que acompanham o BlumenauFest. Focado na cultura alemã, além de muita música o programa também atende os pedidos da comunidade.

Natural de Ibirama, suas primeiras participações nas rádios foram por meio do canto. Após passar pela Rádio Estadual de Ibirama e pela Rádio Clube de Indaial, o pai de Elza foi parar na Rádio Mirador, em Rio do Sul.

“Eu sempre acompanhava ele, porque gostava de ver. Viajava junto para vender propagandas. Em Rio do Sul eu também cantava. E com o tempo comecei a querer caminhar sozinha”, conta.

Foi aos 16 anos que ela começou a atuar na Rádio Difusora de Rio do Sul. “Meu primeiro programa sozinha foi o Feliz Aniversário, no qual as pessoas pediam música e aquela coisa toda”, relata.

Em sua vida adulta, Elza se aventurou em outras áreas. Chegou a ser instrutora de auto escola e vendedora no comércio, mas sua paixão sempre esteve na rádio. Após uma rápida participação na Rádio Coroado, em Curitibanos, ela veio para Blumenau apresentar o Jornal da Manhã, ao lado de Elias Silveira.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Em 1984 Elza entrou para a equipe da Rádio Clube de Indaial. Todas as manhãs ela comandava o Show da Mulher. A participação que durou 12 anos estendeu o trabalho da radialista com o público. Além disso, ela também cantava com os Clarins de Prata, em Timbó.

“Nos Dia das Crianças eu buscava patrocínios de refri e pipoca com o Ciro Balão Mágico e juntava de 2 a 3 mil crianças em uma tarde. Nunca ganhei nada, o maior lucro era o carinho dos pequenos”, relembra.

Foi em 2001 que Elza Aparecida assumiu o posto que hoje ocupa na Rádio Clube Blumenau. Participando de eventos, levando música para os salões de dança e organizando café com cuca e pão com “chimia”.

“Levamos muita coisa para os bairros, sem cobrar nada. Já chegamos a juntar mais de 800 pessoas numa tarde de quinta-feira, e isso que deixa a gente feliz. Nem tudo precisa ser cobrado na vida. Sou grata a Deus por isso por ter me ajudado a construir isso”, agradece.

Apesar de apresentar um programa sobre música e cultura alemã, Elza aproveita a oportunidade para ajudar. Muitos ouvintes ligam pedindo doações e a radialista conecta quem precisa com quem quer ajudar.

“Em um programa mobiliamos a casa inteira de uma mulher que havia perdido tudo num incêndio. Faltando dois minutos para terminar, ligaram oferecendo o que faltava: um forno. Isso é o que mais me satisfaz, tem situações que é difícil de acreditar”, narra.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Com tudo que Elza faz pela comunidade, seria de se imaginar que não sobra tempo para nada. Mas a verdade é que a moradora de Blumenau não para nem em casa. Ela cuida da mãe e do filho, que precisam da ajuda dela para basicamente tudo.

Por conta de uma condição médica que chegou de repente, o professor de música se tornou dependente da mãe em 2012. Hoje, o filho de Elza tem 40 anos. Já a mãe, hoje com 91, ficou doente logo depois e acabou na cadeira de rodas.

“Já cheguei a internar os dois no mesmo dia. Às vezes a equipe médica precisa ir até minha casa três ou quatro vezes em um dia. Já saí do programa ao vivo para ajudar eles. Já vim trabalhar depois de passar a noite no hospital e voltei direto pra lá. Mas nunca digo que está ruim, porque não ajuda em nada”, relata.

Apesar da ajuda da irmã, que mora perto, e de uma enfermeira, Elza só pode descansar depois que os dois foram para a cama. No tempo livre, ela aproveita para ter novas ideias e se preparar para mais um dia.

“Não deixo isso me abalar. Não adianta, não vai resolver. Temos que sair e correr atrás. O dia que você sair de casa para trabalhar desanimando, tem que largar aquilo e procurar algo que te faça feliz e te motive”, opina.

Por conta do novo coronavírus, as festas e eventos precisaram ser adiados. O sentimento geral de preocupação e tristeza levou Elza a querer trazer um pouco de alegria para os dias dos ouvintes. Foi então que ela decidiu começar uma live.

A ideia surgiu enquanto ela estava sentada na sala, apenas ouvindo a mãe e o filho dormirem. Com máscaras personalizadas, ela organizou o programa ao vivo, transmitido no Facebook e disponibilizado no YouTube. Sempre com música ao vivo, ela tenta divertir os espectadores e distrair os músicos.

“Às vezes você precisa parar tudo e fazer uma reunião com você mesma. Se eu estou para baixo, paro o carro e resolvo. Sempre brinco e dou bronca em mim mesma, para não deixar cair a peteca. Tudo tem um propósito, mas o que importa é amar o que você faz”, aconselha.

Para Elza, o segredo para manter a cabeça erguida apesar das adversidades está em acreditar em Deus. Ela também defende que pensar no coletivo, e não apenas em si mesma, faz toda a diferença.

“Eu dou valor para o meu trabalho, para o que eu faço e para tudo ao meu redor. No dia em que eu não tiver mais ânimo para trabalhar e correr atrás, pode saber que eu morri por dentro. Eu amo o que faço e tiro forças de onde precisar”, diz.

Achar graça das coisas, se cercar do que faz feliz e nunca pensar que não é capaz também são conselhos da radialista. Para ela, acreditar que nada é por acaso é o segredo para não lamentar o que não se pode controlar.

“Se Deus mandou para mim, é para mim. Você não recebe nada que não seja uma carga que consegue carregar. Tudo na vida é aprendizado, mas precisamos ter prazer e amar o que fazemos. Acho que essa vontade de viver é o que me faz seguir em frente”, conclui.


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