Anônimos: de maneira voluntária, psicólogo atende escolas e casas asilares de Blumenau
Manoel encara trabalho voluntário como uma missão que beneficia todos os envolvidos
O atendimento psicológico é frequentemente visto como algo exclusivo para quem pode pagar por ele. Sessões terapêuticas normalmente são caras, e muitas pessoas nem cogitam buscar ajuda profissional acreditando que não é possível bancar pelo serviço.
Porém, também há psicólogos preocupados com essa população. Atendimentos a preços sociais, realizados por acadêmicos ou feitos de forma gratuita são algumas das possibilidades.
Para Manoel Roxo, psicólogo que mora em Blumenau há mais de 15 anos, estender o consultório para escolas, hospitais e casas asilares é o que move o trabalho. “Na vida, só faz sentido o que a gente doa”, defende.
Carioca, Manoel se especializou em Gestalt-terapia, arteterapia, psicologia transpessoal e acupuntura. Há cerca de 27 anos, ele atua como psicólogo. Mas hoje, aos 55, o que move ele é o trabalho voluntário.
“Não me sinto chegando perto da velhice. Pra mim eu to chegando nos 30”, brinca. “Você não pode deixar esse número definir quem você é. Dizer que você não pode fazer algo por conta da idade, é a maior mentira que já nos contaram”.
A primeira vez que Manoel atuou como voluntário foi em 2008, durante a enchente que afetou Blumenau e região. Morador do Garcia, ele ofereceu os serviços para os professores e pessoas abrigadas na escola Santos Dumont.
Em seguida, ele participou dos Alegres Terapeutas, visitando hospitais. “Dizem que rir é o melhor remédio, mas para mim é a melhor prevenção. Você suaviza a vida e, com isso, se cura de um monte de coisa”, diz.
Junto de uma paciente, ele teve a ideia de montar uma peça teatral para levar para as escolas de Blumenau. A ideia ficou de lado por não encontrarem participantes, mas logo a colega encontrou um novo caminho.
Ela se tornou coordenadora do programa Mais Educação, voltado para educação integral, e convidou Manoel para atuar na escola Alice Thiele, no Garcia, com crianças e adolescentes. O trabalho foi desenvolvido ao longo de cinco anos.
“Eu percebi a necessidade de ter alguém para falar com os adolescentes sobre as emoções. Medo, raiva, tristeza, alegria… O que fazer, como identificar, para poder ajudá-las. Muitos adultos não sabem, quem dirá as crianças”, explica.
Enquanto isso, no consultório, Manoel recomendava que os pacientes que sofriam de depressão ou síndrome do pânico buscassem o voluntariado como uma forma de lidarem com o sofrimento.
Foi uma paciente que começou o trabalho voluntário na Casa São Simeão no início do ano e convenceu Manoel a participar. “Nisso quem se encantou fui eu, e acabei ficando. Conversava com os idosos para que eles se sentissem importantes”, comenta.
A atuação de Manoel com as crianças e adolescentes foi notada pelo Rotary Club, que levou o psicólogo para outras escolas. Porém, o trabalho precisou ser adiado por conta da pandemia. Nessa trajetória, os objetivos do projeto também mudaram.
“De um ano para outro eu consigo perceber uma evolução e mudanças absurdas em mim como psicólogo. Temos que olhar para si para ajudar o outro. É muito gratificante ouvir de um adolescente que ele quer ser como você que nem crescer. Sempre digo que no futuro pode ser ele ajudando”, argumenta.
A visita aos residentes da Casa São Simeão também precisou ser interrompida. Mas o psicólogo assume que a saudade dos idosos é grande. Com o objetivo de deixar a vida deles mais leve, ele também era beneficiado.
“Isso talvez fazia mais bem a mim do que a eles. Nós vivemos num mundo muito acelerado, as pessoas não veem mais os outros. Às vezes a gente mesmo não se vê, não se ouve, não se sente”, desabafa.
Atualmente, Manoel atende apenas à distância. Por conta da pressão alta, ele foi aconselhado a permanecer em casa. “Prefiro ser um endividado com vida do que morrer com as contas pagas. É mais importante me manter vivo para poder ajudar mais gente no futuro”, justifica.
Mesmo nos dias mais cansativos, Manoel não abria mão de ir para a Casa São Simeão. “Às vezes eu pensava ‘hoje vou para casa’ e o carro ia sozinho para lá. E eu saía renovado. Virou minha segunda família”, conta.
Para o psicólogo, a sensação de dever cumprido é incomparável. O que move ele é saber que pode contribuir com a vida de alguém. “A vida na terra não é uma viagem de férias. Estamos aqui para melhorar enquanto pessoas e dar um pouco do que a vida e Deus nos ofertam”.
Pensando nos públicos que não têm acesso à terapia, Manoel se juntou a uma colega de Timbó. Juntos, eles estão preparando uma terapia comunitária integrativa. A ideia, é atender em postos de saúde de ambas as cidades de forma voluntária.
“Todos estamos aqui para ajudar. A grande oportunidade é você estar vivo hoje. Seja para ler um livro para um idoso, conversar com quem precisa, tricotar no clube de mães… Escolha aquilo que você gosta e oferte para a comunidade. É terapêutico para você e para quem você está ajudando”, defende Manoel.