Após 30 anos de estudo, pesquisadores da Furb descobrem insetos para controle biológico

Eles percorreram o Brasil de norte a sul para estudar como combater a aroeira

Uma pesquisa desenvolvida pelo Programa de Pós Graduação em Engenharia Florestal da Furb (PPGEF) está introduzindo dois insetos capazes de combater a aroeira, uma planta nativa brasileira, mas que é considerada uma praga agrícola nos Estados Unidos.

Os trabalhos, que iniciaram há cerca de 30 anos, estão sendo implantados em 2019. Os testes, que buscam controlar a planta em solo americano, já estão colhendo resultados positivos.

A aroeira é uma espécie de planta comum principalmente na faixa litorânea do Nordeste brasileiro se estendendo até o Uruguai. Antigamente, a madeira dela era usada para fazer cercas, pois tem alta densidade. Hoje o principal valor econômico é o fruto, conhecido como pimenta rosa, utilizada na gastronomia, com sabor suave.

A aroeira foi introduzida nos Estados Unidos ainda no século XIX, em 1890, por um paisagista que veio ao Brasil. Ele decidiu levar ao território americano e transformá-la em uma planta ornamental. Como é exótica em solo americano, não tem um predador, inimigo natural.

Logo, cresceu desordenadamente em várias regiões no sul do Estados Unidos, como a Flórida, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Lousiana, Texas e até na Califórnia. Os furacões, comuns principalmente na Flórida, ajudaram a contribuir pela disseminação desenfreada, a transformando numa das maiores pragas dos EUA.

“Os americanos tentaram várias formas de controle da planta: herbicidas, cortando a planta, fazendo queima controlada. Nada deu certo”, comentou Marcelo Diniz Vitorino, coordenador da pesquisa e professor do PPGEF.

Um dos principais meios, de modo geral, para o controle da aroeira – e de outras plantas – é achar um inimigo, um predador natural. “Pelo tamanho da área invadida nos EUA e para controlá-la, tinha que encontrar um inimigo natural: algum bicho que só comesse a aroeira. Algum animal que evoluiu durante todos esses anos com a planta”, afirmou Vitorino.

Durante 29 anos de trabalho, os pesquisadores da Furb andaram de norte a sul do Brasil à procura de insetos predadores. Hoje existem 300 insetos associados à aroeira, inclusive alguns que não se tinha conhecimento. Neste período, cerca de 30 foram estudados para verificar se a aroeira é sua única fonte de alimento.

“Existem protocolos que são realizados, como testes com plantas da mesma família, em diferentes estações do ano, diferentes temperaturas. Tudo para avaliar se o bicho controla a aroeira”, detalhou Vitorino. Só nestes testes específicos, foram cerca de 10 anos de trabalho.

Depois de vários testes, os pesquisadores acharam dois animais que são capazes de controlar a aroeira: o tripes e a galha da folha, insetos que só se alimentam de aroeira. Outros dois animais ainda estão sendo avaliados.

O tripes foi solto em solo americano em outubro de 2019, durante o evento que contou com diversas autoridades na Universidade da Flórida. A galha da folha está prevista para ser solta no início de 2020, após um período de quarentena. A Furb conclui sua participação no projeto na identificação do inseto predador. Os norte-americanos continuam para saber o nível de controle da aroeira pelos insetos.

“Os pesquisadores norte-americanos soltam cerca de mil insetos semanalmente em toda Flórida, desde outubro. A expectativa é que se consiga mensurar o controle ou ver algum dano daqui a dois ou três anos”, avaliou Vitorino.

Todo o trabalho da pesquisa é feito com licenciamento das autoridades brasileiras e norte-americanas. O pesquisador da Fub ressalva que o trabalho realizado não é de extinção da aroeira em solo americano e sim de manutenção da espécie, pois, além do controle biológico, afeta a vegetação nativa.

Reconhecimento internacional

A Furb é reconhecida internacionalmente na área de controle biológica de plantas há mais de três décadas. Além dos Estados Unidos, há projetos em andamento na Austrália, África do Sul e no território do Havaí. Com uma normativa do Ministério da Agricultura há cerca de dois anos os trabalhos de controle de pragas exóticas no Brasil também estão evoluindo.

A Engenharia Florestal da Furb é o único curso do Brasil que trata de Invasão Biológica e Controle de Plantas dentro da disciplina de Controle Biológico na graduação. “Nossos egressos da graduação contam com uma formação diferenciada e também na pós graduação, pois tem uma formação específica com esses projetos internacionais” ressaltou Vitorino.

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