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“Aproveitamos muito nossa juventude”; conheça o grupo de velhos amigos do Cine Garcia que até hoje se encontra

Grupo engloba diversas pessoas que moraram no bairro entre os anos 1940, 1950 e 1960

Considerado um dos maiores bairros em termos de população e tendo passado por diversas mudanças ao longo dos anos, o Grande Garcia – que engloba os bairros Garcia, Zendron, Jordão, Valparaiso, Progresso e o bairro Da Glória -, é um local que guarda uma história a cada esquina. E o Cine Garcia foi palco para diversas delas.

Localizado onde atualmente é a igreja de Santo Antônio, na rua Amazonas, no bairro Garcia, o espaço onde o Cine Garcia era localizado foi construído no começo do século XX, por volta dos anos 1905, mas é só por volta dos anos 1944 que os filmes começaram a ser exibidos oficialmente.

O que era o Cine Garcia

O espaço, que ficou aberto de 1944 até 1974, por muitos anos foi o ponto de encontro de todas as crianças, adolescentes e jovens do grande Garcia. Além de exibição de filmes, havia trocas de gibis, brincadeiras, conversas, shows de talentos e de calouros, shows de outros músicos, e também o bar do senhor Schoenfelder, que era uma sorveteria adorada por muitos. 

“Às vezes minha mãe me dava um dinheirinho escondido do meu pai só para eu poder ir no Cine Garcia comer um sorvete e uma pipoquinha. No entanto, precisávamos ir andando porque não tínhamos dinheiro para o ônibus”, brinca Deusdith de Souza, um dos frequentadores assíduos do local, quando jovem.

Era comum que todos frequentassem o cinema, todos os tipos de famílias, adultos jovens e crianças. Ansiosos para as matinés de domingo que aconteciam no local, os jovens que ainda estavam na escola passavam a semana inteira discutindo quais gibis tinham ou quais queriam trocar.

Cine Garcia por volta de 1966. / Créditos: Adalberto Day

“Nós tínhamos pilhas de gibis, ficávamos combinando a semana inteira para quando nós chegássemos no Cine Garcia, pudéssemos trocar com várias outras pessoas”, comenta Sérgio Lapolli, outro frequentador assíduo do local, quando jovem.

Eles ainda comentam que ir para o Cine Garcia já fazia parte dos fins de semana de todos os “garcienses”, por isso, não poder frequentar o local já havia virado um tipo de castigo. “Os pais ameaçavam as crianças e os jovens dizendo que caso eles não obedecessem, não poderiam ir naquele fim de semana, ou não ganhariam dinheiro. Dessa forma, todo mundo acabava obedecendo, por que queriam ir”, comentam, rindo. 

Mas assim como era usado como castigo, muitos pais também deixavam um trocadinho ou outro em cruzeiros para que os filhos pudessem aproveitar o fim de semana no Cine Garcia. 

Além disso, o local ainda possuía outro nome: pulgueiro. Reza a lenda que havia uma pulga carimbada escondida nos cantos do cinema, e quem a entregasse para o proprietário, receberia um prêmio. Ninguém nunca encontrou esse carimbo, mas o nome ficou marcado pelos frequentadores.

Sessões de cinema

Ambos guardam muitas histórias das tardes de domingo no Cine Garcia, inclusive sobre o clima de romance que permanecia no ar, já que muitos encontros aconteciam no escuro das sessões dos filmes. Inclusive, contam que era muito comum os “mocinhos” convidarem mais de uma garota e era uma confusão só durante o dia. 

Filmes do ator, humorista e cineasta Mazzaropi e filmes com temática de faroeste e “bang bang” eram as sessões que mais lotavam. Como o Cine Garcia existiu dos anos 1940 até os anos 1970, os filmes eram armazenados em rolos, e por conta disso, era comum diversos problemas.

Esses problemas muitas vezes causavam vaias e alvoroços dos telespectadores que estavam nas sessões. “Nós fazíamos muita festa e bagunça no cinema. Às vezes acontecia de os organizadores do cinema trocarem as fitas dos filmes, e, por conta disso, alguns filmes já começavam com o mocinho morrendo, e do nada ele aparecia vivo de volta, mas era só porque a ordem do filme tava errada”, comentam os dois, rindo.

Amigos do Cine Garcia

Após o fechamento do local, muitas pessoas mantiveram contato, mas acabaram se desencontrando enquanto cresciam. Houve tentativas de reunir todos os amigos daquela época, mas os grupos acabaram não dando certo por um longo tempo. Foi quando Sérgio Lapolli, que já havia participado desses grupos, resolveu tomar a iniciativa, procurar todos os amigos daquela época e criar um grupo para juntar todos. 

Foi dessa forma que surgiram os Amigos do Cine Garcia. Apesar de ter esse nome, engloba ex-alunos da Escola São José e Santos Dumont, ex-trabalhadores da Artex e EIG, ex-jogadores do Amazonas EC, ex-coroinhas da paróquia Nª Sra. da Glória, amigos de infância e juventude, nascidos no entroncamento entre os bairros Garcia, Progresso, e Glória, nascidos na década de 1940, 1950 e início dos anos 1960 e, claro, ex-frequentadores do Cine Garcia.

Segundo encontro dos Amigos do Cine Garcia, em março. / Créditos: Arquivo Pessoal

O grupo conta, atualmente com mais de 80 pessoas e, desde que foi formado, já houve três encontros, um em outubro de 2021 e outros dois em março de 2022. “Depois que o grupo já estava formado, eu pensei: ‘tá bom, mas, e agora? O que vamos fazer?’, foi quando pensei em como começar a ajudar as pessoas”, comenta Sérgio. 

Ele ainda relata uma das ações que já foram feitas desde que o grupo surgiu, como as arrecadações feitas para ajudar famílias carentes. “Conhecemos uma família que precisava de muita ajuda e com a organização do grupo, conseguimos arrecadar dinheiro suficiente em apenas três dias”, comenta. 

Atualmente, o grupo está organizando uma nova campanha. Segundo o que Sérgio relatou, o grupo está planejando realizar a renovação da pintura da Paróquia Nossa Senhora da Glória, que fica na rua da Glória, no bairro Glória, já que lá também foi palco para diversas festas e dias divertidos para todos do bairro. 

“Nós vivemos ótimos momentos no Garcia, foi uma época ótima e aproveitamos nossa juventude. Agora, já somos mais velhos, nosso futuro é literalmente amanhã, não podemos mais deixar para fazer as coisas depois, e, por isso, penso que é muito importante nos reunirmos e realizarmos essas ações”, finaliza Sérgio. 


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