Resgatamos a história do arquiteto alemão nascido na Eslováquia em 10 de outubro de 1921, Hans Broos através de uma pesquisa ampla e publicamos em nossas páginas on line. Após acompanhar seus últimos momentos, em Blumenau, antes de seu falecimento em 23 de agosto de 2011 em um asilo da cidade, ficamos sensibilizados, por conhecer sua obra, sua vida e seus últimos momentos.

Conhecemos um pouco mais a nobreza de ser de Hans Broos. Passou seu último ano de vida praticamente abandonado por seus admiradores, seguidores, instituições e sem família, pois tinha-se perdido de seu único sobrinho que ainda vivia, Hans-Peter Broos.

No seu velório, rápido, antes da cremação, também ocorrido de forma rápida, haviam seis pessoas, em uma tarde chuvosa. Decidimos escrever um pouco sobre sua vida e obra e a partir desse trabalho, divulgado em nossas páginas. Para nós, era como se pulverizássemos um pouco sobre a memória do mestre, pois temíamos que o mesmo fosse esquecido, considerando seus últimos momentos de vida.

Com isto, naturalmente houve a construção de “pontes” através da internet. As informações chegaram na universidade onde o arquiteto se graduou e, também, chegaram até seu único sobrinho Hans-Peter Broos, que também o tinha perdido e mesmo tardiamente, o encontrou, pois também o procurava. 

Também, as informações sobre o arquiteto inspiraram o diretor da Eslováquia Ladislav Kaboš, que resultou em um documentário sobre a obra e vida de Hans Broos, Architekt Drsnej Poetiky – este lançado na Europa  e na América em 2021, com bons resultados de público e crítica.

Em março de 2022, chegou da Europa, uma solicitação inusitada sob um dos vídeos publicados em nosso canal do YouTube. A mensagem veio por parte de Denisa B de Eslováquia, que dizia:

“Olá, boa tarde, Angelina! Tudo bem? Tenho uma dúvida meio aleatória que talvez você consiga me ajudar, não sei. Acabei de assistir o documentário eslovaco sobre Hans Broos e não consegui pegar o nome de uma amiga brasileira dele, que ele se referiu a ela num momento, como se fosse “a mulher brasileira” dele, uma artista que até aparece algumas obras dela no filme, acho eu, quando o ator principal menciona a morte dela. Será que você pode me ajudar nisso? Fiquei com vontade de saber mais sobre ela. Muito obrigada!” Denisa B. de Eslováquia.

Conhecemos Freya Gross, a artista mencionada no documentário eslovaco sobre Hans Broos, a partir de nossas atividades de arquitetura de interiores, em seu ateliê localizado no bairro Bom Retiro, Blumenau, quando íamos escolher obras de arte para compor os ambientes projetados por nós – no final da década de 1990.

Pessoa silenciosa e firme no momento que definia algo. Seu ateliê estava localizado na esquina entre as ruas Hermann Hering, homenagem ao avô de seu falecido esposo Ralph Bruno Gross, e Gertrudes Gross, homenagem a sua sogra.

O ateliê possuía um ambiente comum e amplo, em contato visual com o vasto jardim, onde Freya promovia saraus de pensamentos, poesias e artes. Foi em um desses saraus que conhecemos o seu namorado, o arquiteto Hans Broos, pessoalmente.

Ele estava envolvido com a recuperação do edifício da antiga Prefeitura de Blumenau pós-incêndio – atual sede da Fundação Cultural de Blumenau. Nesta noite de apresentações no ateliê de Freya Gross, percebemos que o arquiteto, o qual reencontramos mais de duas décadas depois, em situação bem diferente, era uma pessoa elegante, nobre de caráter e dotada de muita cultura, sem a afetação inerente, geralmente, àqueles que possuem este conjunto de características.

Nesta noite também ficamos sabendo que ambos eram namorados, confirmado pelos dois. Curiosamente esta história jamais foi externada abertamente em alto e bom tom. Desconhecemos o motivo.

Arquiteto Hans Broos – namorado de  Freya Gross – nos últimos mais de 30 anos de suas vidas. Fotografia que recebemos do sobrinho do arquiteto.
Hans Broos, em outubro de 2010 – no seu último aniversário e sem a presença da Freya, com um dos seus amigos/colaboradores, que trabalhava para os dois – há muito tempo. Contava-nos como viviam os dois na chácara e na casa, e de como ela tomava conta dele. Não anotamos seu nome.

No momento que pesquisamos para escrever sobre Freya Gross, igualmente, quase nada encontramos sobre sua vida e obra. Por que?

P o r   q u e ?

Quando visitamos o arquiteto, em sua residência localizada no bairro Boa Vista – Blumenau, quando estava doente, pessoas próximas a ele, antigos funcionários das casas de Freya e Broos comentavam que eles estavam sempre juntos, na residência do arquiteto, em Blumenau, na chácara e na residência de São Paulo, sem nunca se preocuparem em oficializar sua união, o que após o falecimento de Freya, em 5 de novembro de 2008, três anos antes do falecimento do arquiteto, trouxe muitos problemas com o inventário patrimonial. Despertou interesses de pessoas nas propriedades do arquiteto Hans Broos e de sua companheira por mais de 30 anos, Freya Gross. Eram um casal há muito tempo, não oficializado, e ambos não tinham filhos.

Houve muita confusão, pois Hans Broos ficou muito doente, sem condições de decisão e muitos falavam coisas diferentes sobre sua situação, confundindo o pequeno grupo que estava disposto a ajudar, na ocasião (ano de 2010).

Um pouco da vida e da obra de Freya Schmalz Gross.

Freya tem uma nuvem de mistério em torno de sua vida e obra, além daquelas passagens que conhecemos através do trabalho do arquiteto Hans Broos. Trabalhou ao lado do companheiro em muitos de seus projetos, através da arte cerâmica, divulgada somente há bem pouco tempo na esfera do meio artístico blumenauense, quando em 15 de outubro de 2021 foi inaugurado um painel seu, batizado “Aldeia” em uma sala revitalizada da Fundação Cultural de Blumenau, onde o ambiente passou oficialmente a se chamar Sala Freya Gross.

Obra de Freya Gross, colocada em uma sala da Fundação Cultural de Blumenau que recebeu o seu nome. O nome da obra é “Aldeia” e mede 3,96m por 2,13m, resultando 364 azulejos cerâmicos. Homenagem feita em outubro de 2021.

Quem foi Freya Gross?

A Deusa Freya

Freya é o nome de uma deusa nórdiga. Símbolo da mulher guerreira, que luta e vai atrás de seus objetivos, que encanta e atrai diversas pessoas. Freya é a deusa nórdica mais conhecida e cultuada. Deusa do amor na mitologia nórdica.

Significado de Freya – o nome Freya significa “senhora”, tem origem nórdica antiga “Freyja” e pode ser escrito das seguintes formas: Freija, Frejya, Freyia, Fröja, Frøya, Frøjya, Freia, Freja, Frua e Freiya.

Detentora de características e qualidades únicas, a deusa Freya é representante da força, sabedoria e beleza feminina. De certa maneira, Freya Gross herdou um pouco destas características divinas da mitologia nórdica, relacionadas ao seu nome, pois foi companheira, por mais de 35 anos, do, também renomado, arquiteto Hans Broos.

A história de Freya Gross ou Freya Schmalz

Freya Gross nasceu na família pioneira Schmalz em 19 de setembro de 1916, na cidade de Blumenau. Seus pais foram Adolfo João Paulo Schmalz e Meta Therese Clara Franke. Freya teve uma Irmã, Aida Schmalz que se casou com Afonso Rabe. Sua irmã partiu depois de Freya, em junho de 2014 e teve o filho Jan Rabe.

Casarão – castelinho onde Hans Broos residiu pela primeira vez, quando chegou em Blumenau em 1956.

Freya Schmalz se casou com o neto de Friedrich Hermann Hering, um dos dois pioneiros irmãos Hering, conhecido Hermann Hering (nasceu em Dresden em 7 de março de 1868). O marido de Freya foi Ralph Bruno Gross, filho da escritora Gertrud Walli Toni Hering Gross (1879 – 1968) e de Richard Franz Gross (1880–1931). Richard e Gertrudes se casaram em 1° de maio de 1906. Gertrudes, mãe do marido de Freya, ficou viúva, residindo no casarão da Hering, mesma rua que tem seu nome e onde estava localizado o ateliê de Freya, por 37 anos. Era uma mulher livre que vivia à frente de seu tempo e fazia surgir burburinhos sobre seu modo de viver, pois não se preocupava em dar satisfações sobre suas escolhas. Nascida em Dresden – Alemanha, com o pai. Teve os filhos: Ralph Bruno Gross – marido da Freya Gross (1907–1963); Eva Gross (1909–1989); Hildegard Gross (1911–2005) e Gertrud Margaretha Hedwig Gross (1879 –1968).

Na época que a saúde do Arquiteto Hans Broos necessitava de cuidados e nós o visitávamos, entre as centenas de correspondências eletrônicas que recebemos (e guardamos para a história) – destacamos esta, com o seguinte teor:

“Não tenho maiores detalhes sobre a chegada do arquiteto Hans Broos a Blumenau. Sei que foi acolhido pela Sra. Gertrud Gross, que morava num palacete que ficou sendo conhecido como “Castelinho”, numa travessa da Rua Hermann Hering, no Vale do Bom Retiro. A Sra. Gertrud e sua filha eram consideradas excêntricas e “liberadas” para os padrões sociais da época, segundo um amigo da família Hering me contou uma vez. Não sei que grau de parentesco ela tinha com D. Freya Gross.”

Fotografia do final da década de 1960, com a presença do jardineiro/operador do forno, seu funcionário e amigo Ewald Witte. Ewald era o responsável em manter o fogo e acompanhar o processo das cerâmicas no forno. Acompanhou o trabalho da Freya no Ateliê durante toda sua vida. Sentiu muito quando teve que presenciar a demolição da casa onde estava sediada a casa e o ateliê de Freya Gross. Witte compartilhou com o filho, em meados de 1974, que Freya tinha um namorado, nos dando a dica aproximada de quando Freya e Broos assumiram seu romance.
Missões Jesuíticas, onde teve contato com os modernistas.

Sabemos que Gertrud Hering Gross foi mãe de Ralph Bruno Gross e, portanto, era sogra de Freya Gross que residia na mesma rua, um pouco mais na frente. Freya Gross, portanto, conheceu Hans Broos na casa de sua sogra e cunhada, ainda em 1954, quando o arquiteto chegou em Blumenau e ficou hospedado na residência da filha de Hermann Hering. Ele não permaneceu por muito tempo – de maneira fixa, porque – a partir desta data, até 1957, atuou como assistente do professor Lucas Mayerhofer, com quem colaborou no estudo e na restauração das ruínas das Missões Jesuíticas no Rio Grande do Sul. Segundo Broos, foi neste período que se pode conhecer muitos arquitetos brasileiros. A Faculdade Nacional de Arquitetura foi o principal centro de formação de arquitetura do país até a década de 1950 e recebia alunos de todo o Brasil. Neste período, foi importante para sua experiência, por que lhe proporcionou uma vasta rede de contatos e a oportunidade de elaborar projetos em diversas regiões do país. 

Na década seguinte, Freya ficou viúva. O marido de Freya – Ralph Bruno Gross, nascido em Blumenau em 13 de junho de 1907, faleceu com 55 anos de idade, em 9 de maio de 1963, quando sofreu um infarto, deixando Freya viúva com a idade de 46 anos e por 45 anos permaneceu viúva, pois não se casou mais. 

Atestado de óbito de Ralph Bruno Gross.
Fonte: FamilySearch.

Neste tempo faziam 9 anos que o arquiteto Hans Broos estava no Brasil e estava com 42 anos incompletos.
Gertrud Hering Gross ainda era viva e quando faleceu em 1968, o arquiteto Hans Broos se mudou definitivamente, para a cidade de São Paulo.
Sua casa no bairro do Morumbi, é um dos seus mais belos projetos em concreto e vidro, foi construída no período entre 1970 e 1978.

Casa e ateliê de Hans Broos – Morumbi – São Paulo.

De acordo com Robinson Witte, filho de Ewald Witte, auxiliar e amigo da artista por muito anos, responsável em manter o fogo e acompanhar o processo de queima das cerâmicas no forno, seu pai, em um dado momento de 1974, informou em casa como novidade, que Freya tinha um namorado – Hans Broos. Entendemos, portanto, que sua relação com Broos foi formalizada na metade da década de 1970, quando Freya já era viúva, por uma década.

Esta fotografia de Hans Broos é uma fotografia enviada por seu sobrinho Hens Peter Broos de Berlin, para nós.

A artista Freya Gross

Na mesma década que Hans Broos chegou à região e à cidade de Blumenau – década de 1950, Freya conheceu o trabalho de arte sacra do artista, escultor e ceramista italiano Angelo Tanzini, que residia na região e também viveu em Minas Gerais, tendo retornado para a Itália na década de 1960. Com Tanzini, Freya conheceu técnicas diversificadas de arte, desde a escolha da argila, as etapas e cuidados até a queima, no ofício de cerâmica.

Este conhecimento despertou em si a arte da cerâmica, tornando-a uma referência desta técnica – não somente em Blumenau, mas no Brasil, pois acompanhou a arquitetura de Hans Broos.  Os painéis cerâmicos permitem a interação entre a arte e a arquitetura e assim aconteceu entre a arte de Freya e a arquitetura de Hans Broos e também, especialmente com eles, unindo-os através expressão artística de cada um, sejam plástica ou de arquitetura.

Quando a conhecemos na década de 1990 e também a ele, no seu ateliê, em um sarau cultural, ela  apresentou Broos como seu namorado. Namoro que durou por mais de 30 anos, antes de seu falecimento em 2008.

Freye e Broos, mantinham juntos em Blumenau, um sítio localizado às margens do Rio Itajaí Açu, tal como também era a localização da residência do arquiteto, em Blumenau. No sítio, ambos compartilhavam os momentos que o arquiteto passava na cidade. Ali neste local, também Freya criava. 

Tampo de mesa de centro com a obra de Freya, residência de Hans Broos – São Paulo.
Arquitetura residencial e mobiliário assinado por Hans Broos com a obra cerâmica de Freya Gross – Blumenau SC.
Arquitetura residencial e mobiliário assinado por Hans Broos com a obra cerâmica de Freya Gross – Blumenau SC.

O trabalho de Freya Gross em cerâmica retrata pessoas, objetos, vegetação e abstrações. Seu ateliê – como já mencionado – estava no bairro Bom Retiro, onde estava o reduto familiar de seu falecido marido. Neste local tinha instalado o forno onde ela forjava suas peças únicas e as guardava no grande quintal de sua casa. Ali eram possíveis apreciar placas, flores, vasos, lajotas, quadros, paisagens apresentadas sobre fundo cerâmico, expressões que refletiam a cultura brasileira, a pureza dos índios, lembranças de uma Blumenau esquecida e de um Brasil, de outros tempos. 

Seus traços apresentam a influência que absorveu do artista argentino que vivia em Salvador, Carybé. Em Blumenau produziu uma arte cosmopolita mundial. “… ao mesmo tempo, viver as sensações de estar percorrendo as galerias de arte dos maiores centros, como New York, Paris, Londres ou Milão. Tinha a simplicidade de um Niemeyer.” Dizia CUNHA. 

Explicava que seu processo de criação era um processo natural e simples. Tomava um lápis, uma folha e riscava, com singeleza, firmeza e síntese, o esboço de uma nova obra. 

Seu amigo Cunha conta que em uma de suas viagens, descobriu um quadro belga, do século XVII com motivos florais representado em cores diferentes, resultado da influência do tempo sobre as cores originais. Freya o fotografou e o reproduziu, em Blumenau, num quadro cerâmico em apenas duas unidades, preservando uma releitura da tela. 

Danilo Cunha ainda externou em uma manifestação formal publicada em seu Blog, de que Freya desejava que Blumenau e suas lideranças colocassem em prática a vontade da artista, para disponibilizarem às pessoas – residentes e visitantes – além da festa da cerveja de outubro, em local visível e acessível de fácil apreciação, o painel que ela vinha criando, um mosaico de elementos culturais e históricos da cidade fundada por pioneiros alemães no meio da paisagem natural do vale – e acreditamos que seu desejo não foi atendido. Ou talvez, sim, através da fixação da obra “Aldeia”. Mas este local não é exatamente o local idealizado pela artista.

Por sua obra, estudos feitos e de vanguarda, Freya Gross é muito pouco lembrada, tanto que mal foi esclarecido seu papel de “companheira” do Arquiteto Hans Broos no seu documentário, com quem viveu um relacionamento de mais de 30 anos.  Sempre ouvimos a história dos dois, personalidades locais e do Brasil, dentro de suas atividades, com certa reticência, no entanto, Freya Gross era viúva desde a década de 1960.

Freya Schmalz Gross.

O professor Danilo Cunha, de Florianópolis, refletiu Freya, dizendo:

“(…) a reflexão sobre a importância de pessoas, como ela, que notam e valorizam detalhes da vida, que nem sempre a grosseria do material, a frieza do dinheiro, o deslumbramento dos novos ricos ou a insensibilidade dos ocupantes do poder, permitem que se observem. Freya vivia em um jardim e mantinha outros. Seu sítio, próximo às margens do rio Itajaí-Áçu, preservava o verde nativo e cultivava flores e árvores, pelo simples encantamento que o verde lhe causava. Não era somente uma ceramista. A cerâmica, na verdade, era a tela que ela usava para retratar pessoas, objetos, plantas e abstrações. Sua casa, no bairro Bom Retiro, abrigava um estúdio, o forno onde ela forjava suas peças únicas e tinha um terreno, que era um verdadeiro cofre aberto, onde eram guardadas e expostas as suas obras-de-arte. Por todos os cantos se podia ver placas, flores, vasos, lajotas, quadros, paisagens. Todos sobre fundo cerâmico, oferecendo a quem os visse, um mundo de variedades, que refletiam a cultura brasileira, a pureza dos índios, lembranças de uma Blumenau esquecida e de um Brasil, que já não encontramos mais. Além de suas próprias obras, Freya adquiria, ganhava, e expunha, quadros, poesias, poemas, de artistas de todo o mundo. A elegância de suas atitudes permitia que se pudesse apreciar a visão da arte que acontecia no mundo. Sempre foi cosmopolita e atual. Acompanhou, desde os anos 60, todos os movimentos na cultura brasileira. A leveza e cores vivas, que caracterizavam as suas criações, acompanhavam a bossa-nova, o tropicalismo e toda a riqueza de vida e vibrantes emoções, que marcaram, e estão presentes, em todas as manifestações artísticas nacionais. Seus traços denotavam a nítida influência que absorveu do renomado Carybé. Era local, e por isso mesmo, retratava o mundo. Visitar sua galeria equivalia a conhecer detalhes bem locais e, ao mesmo tempo, viver as sensações de estar percorrendo as galerias de arte dos maiores centros, como New York, Paris, Londres ou Milão. Tinha a simplicidade de um Niemeyer. Perguntada sobre seu processo de criação, pegava um lápis, uma folha e riscava, com singeleza, firmeza e síntese, o esboço de uma obra nova, ou explicava como tinha criado alguma anterior. Em uma de suas viagens, descobriu um quadro belga, dos anos 1600, que retratava vasos e flores, em cores raras, uma vez que as tintas usadas tinham a idade, e o desgaste, do tempo passado. Freya o fotografou e o reproduziu, em Blumenau, num quadro cerâmico em apenas duas unidades, preservando a belíssima tela. Pelo conjunto de sua obra, por tudo que criou. Pelo legado que deixa para os que ficam, enviamos nossos melhores augúrios a sua sobrinha-neta, Bettina von Hertwig, para que, como numa corrida de revezamento, leve à frente esse bastão da beleza, da originalidade e da elegância, do exemplo e da arte de Freya Gross. E que Blumenau e seus líderes, e dirigentes, ajudem a realizar o sonho da artista, que partiu aos 92 anos. Que disponibilizem, para todos os blumenauenses, e para aqueles que tiverem a ventura de conhecer e visitar a cidade, não somente a alegria e o chope da festa de outubro. Que coloquem em local acessível e de fácil apreciação, o painel que ela vinha criando, um mosaico de elementos culturais e históricos da cidade alemã criada em meio ao verde do vale.  Danilo Cunha – 2008.

Hans Broos – Em maio de 2019 – antes de sofrer dois pequenos derrames, processo contínuo a partir de então.

Freya Gross e Hans Broos desenvolveram inúmeros trabalhos juntos. 

Freya faleceu em Blumenau, no dia 5 de novembro de 2008, deixando um vazio e uma grande tristeza em seu companheiro, que adoeceu e não mais se recuperou plenamente, tendo tido uma sequência de pequenos derrames que comprometeu suas funções e neste momento, aproximamo-nos dele, sem muito o que poder fazer. Foi doloroso testemunharmos estes momentos não muito bons. O arquiteto Hans Broos faleceu 3 anos após o falecimento de Freya Gross, em 23 de agosto de 2011. 

Nosso comentário: 

Temos a sensação, ao recuperar esta história, que Freya Schmalz Gross viveu a frente de seu tempo e de certa maneira, sofreu alguma descriminação e preconceito – não por sua arte, mas por ter sido livre e ter vivido um grande amor, por mais de 30 anos. Ela é “escondida” nas informações relacionadas à genealogia, onde somente aparece seu nome de solteira e informações outras, quase nenhuma, exceto o registo de seu amigo Cunha e a homenagem recebida, somente em 2021, na Fundação Cultural de Blumenau 13 anos após a sua morte. 

Seu desejo de montar o último painel em um lugar público de Blumenau, não foi concretizado, ou talvez, seja este exposto na Fundação Cultural de Blumenau. 

Agradecemos a Denisa B. da Eslovaquia, por proporcionar esta busca e disponibilizar esta pequena história, que poderia ser infinitamente maior, aqui e daqui, para o mundo.

Resposta de Denisa B. da Eslováquia a este texto – 15 de junho de 2022

“Adorei saber mais sobre a Freya! Muito obrigada, Angelina!  Acabei de ler a matéria, fico feliz que minha curiosidade deu no que deu e seu texto deixa o mundo conhecê-la um pouco mais. Pelo que li, parece-me que ela tinha, sim, um grande amor e apreço, pelo simples e belo da vida. Só fiquei com mais vontade de conhecer mais haha sabe, uma pessoa que desperta alguma coisa dentro de você mesma. Amei ver mais obras dela, mesmo que poucas, acho os painéis muito lindos! E, que pena que o ateliê acabou sendo demolido, poxa.  Sabe se, ao menos, foi conservado o acervo? Enfim. Obrigada por ter ido atrás. Já sei o que fazer em Blumenau. Um abraço. Denisa B.”

Um registro Para a História!

Referências

  • CUNHA, Danilo. Freya Gross – a estética da natureza. Blog de Textos e Reflexões. 8 de novembro de 2008. Disponível em: http://danilocunha.blogspot.com/2008/11/freya-gross-esttica-da-natureza.html . Acesso: 28 de abril de 2022 – 16:40h.
  • WITTMANN, Angelina. Contato da Família do Arquiteto Hans Broos da Alemanha – a partir de um publicação nossa no You Tube.  21 de fevereiro de 2018. Disponível em:   https://angelinawittmann.blogspot.com/2018/02/contato-da-familia-do-arquiteto-hans.html
  • WITTMANN, Angelina. Documentário Arquiteto Hans Broos – Equipe eslovaca Diretor Ladislav Kaboš. 12 de maio de 2017. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/05/documentario-arquiteto-hans-broos.html  
  • WITTMANN, Angelina. Hans Broos . 23 de agosto de 2011. Disponível em:   https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/arquiteto-hans-broos.html
  • WITTMANN, Angelina.Jardim suspenso Cia Hering – Entrevista com João Maria Schissel . 17 de maio de 2017. Disponível em:   https://angelinawittmann.blogspot.com/2017/05/jardim-suspenso-cia-hering-entrevista.html
  • WITTMANN, Angelina. O Documentário da Vida e Obra de Hans Broos – Estréia Oficial em Bratislava Outubro de 2021 – Documentário Architekt Drsnej Poetiky – Arquiteto da Poética Bruta. 21 de setembro de 2021. Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2013/10/arquiteto-hans-broos.html

Eu sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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