Artigo: Dez anos do falecimento do cicloativista Wilberto Boos

Artigo assinado por Anna Coirolo, academica de Jornalismo na Furb

18/12/2024 – Hoje, quarta-feira, completam dez anos do falecimento do cicloativista Wilberto Boos

Eu não conheci o Boos em vida. Minha chegada ao mundo da bicicleta foi tardia em comparação a sua precoce partida desse mundo. Tudo o que sei é do que os outros viveram com ele. Talvez, a única lembrança que eu tenha, seja do seu cortejo final, já que morava entre a capela mortuária e o cemitério. Por anos me intrigou o fato de ser tão lembrado e de ter consigo escapar daquilo que muitos temem – o esquecimento após a morte.

– Tales, será que o Marcus Marquetti não consegue me ajudar em relação ao texto do Boos?

[Coincidentemente, a vida me fez encontrar o Marquetti poucos dias depois, na rua.]
– A pessoa mais indicada para falares é com o Cela. Ele era amigão do Boos. […] algo engraçado, né?! Tanto ele como o Boos não tiveram carro durante a vida. Só andaram de bicicleta. O Cela, apesar disso, é motorista do serviço público municipal […]
Meu encontro com o Fernando Cela Neto ocorreu em uma terça-feira à tarde, na padaria Saxônia, no centro da cidade. Tempo chuvoso. Marcamos, pontualmente, 13h30 e por lá ficamos até próximo das 18h.

Durante a conversa Cela me indica outro nome – Adriana Boos, sobrinha do Boos. Adri é quem cuida da memória do tio. Inclusive, até hoje, possui a última bicicleta comprada por ele que, infelizmente, não teve o prazer de pedalá-la. Seu capacete e suas fotos guardadas, memórias todas guardadas, não só fisicamente, mas no coração da sobrinha. Pela distância em quilômetros, nossa conversa foi por um aplicativo de troca de mensagens.

Giovani Siebel, a quem eu já conhecia anteriormente, foi o primeiro nome que listei para conversar. Nas inúmeras fotos que vi do Boos em bicicletadas, câmara de vereadores e em festividades, Gio sempre estava por perto do amigo. Nossa conversa mesclou o presencial e o online.

UM ACIDENTE QUE MUDOU TUDO

No primeiro semestre de 1977, três jovens decidiram ir até a praia de bicicleta. Boos, seu irmão Irineu e um vizinho amigo, o Gerson. É preciso lembrar que o sistema de saúde era diferente no Brasil. Próximo a um local conhecido como “Paraíso dos Pôneis” um grave acidente acontece. Um bêbado atropelou os três jovens. Não apenas “passou cima”, o carro os prensou contra um muro de uma casa e eles foram parar dentro do terreno.

Não havia ambulâncias, era preciso contar com a “dó” de quem passava pelo local para que fossem levados ao hospital. O vizinho amigo morreu no local do acidente. Irineu, chegou consciente ao hospital, mas teve complicações e não resistiu. Boos, que sabemos que morreu anos depois, estava irreconhecível. Diferente dos outros dois, ele estava acidentado da cabeça aos pés, semimorto. Não era a sua hora – e nem seu último acidente envolvendo bicicleta.

A sobrinha de Boos, tinha cinco anos na época do acidente. Ela recorda que era de madrugada quando os três jovens saíram. Ela estava olhando pela janela. O destino era a cidade de Piçarras. “Eles estavam indo para Piçarras para visitar o tio, que era padre na Igreja Matriz da cidade… Padre Antônio. A casa paroquial era bem próxima ao mar e tínhamos o costume de ir para lá aproveitar a praia” recorda.

Na realidade, não eram três, mas quatro jovens. Giovani conta que durante o enterro do Boos um homem, que ele nunca havia visto, chegou do seu lado e disse “No acidente eu era o quarto elemento”. A sobrinha Adriana confirma a história com o pai. Pelo fato de estar mais a frente, ele saiu “são” e salvo e um pouco esquecido na história.

Na casa dos Boos, o Boos, era conhecido por Neni, de neném já que era o mais novo. Wilberto e Adriana Boos. Arquivo pessoal.

UM GRANDE AMIGO

Em 1981, Cela e Boos se conheceram. Pedalando? Não! Em uma banda de rock. Os jovens fizeram parte do grupo “Costa Sul”. Foi na recuperação do acidente que Boos aprendeu a tocar violão, depois contrabaixo. Cela era cantor. Entre ensaios e shows, descobriram que além da música, compartilhavam um amor pela bicicleta. Como curiosidade, vale contar que o Boos inclusive já foi um empreendedor da cena noturna de Itajaí. Ele e um outro amigo abriram uma balada chamada Pirilampo, próximo ao Mercado Público e perdurou por volta de um ano.

Foto: Banda Costa Sul. Arquivo pessoal.

Cela foi para Brasília, a banda acabou.
Com o retorno a Blumenau, a amizade se reestabeleceu. Nessa época, Boos apenas usava a bicicleta utilitariamente, pois a mãe, dona Frau Boos [Rosália Huber Boos], que não foi atropelada na carne, também foi vítima daquele acidente. Mas o inevitável aconteceu…
Fernando relembra:

Eu comecei a trabalhar no Banco Sul Brasileiro. Com o meu primeiro salário comprei uma Caloi 10, o Boos e minha namorada na época tinham bikes do modelo Monark 10. Depois de um tempo, e já trabalhando no Teatro Carlos Gomes, resolvi comprar um velocímetro para bike, pois queria saber o quanto que pedalava. Comprei, instalei. No mesmo dia me roubaram o velocímetro. Fui na loja Weigmann comprar outro… na volta da loja passamos no Boos. Isso era um sábado.

– Ah, Boos, vamos pedalar?

Daí nós saímos, para dar uma volta de bicicleta. Sabe onde é que nós fomos parar? Lá em Ilhota.

Nós fomos lá pelo Belchior, subimos aquela morreba toda do baú, passamos do lado do baú, aquilo era uma descida sem fim. A gente, maior felicidade do mundo. Descia, descia, descia, descia. Não levamos nada, né? Não levamos dinheiro, não levamos câmara de ar, não levamos bomba, nada, nada, nada, nada. E daí nós saímos lá em Ilhota. Nós quase morremos, quase morremos.

A cada ponto de ônibus na Rodovia Jorge Lacerda, a gente parava e se deitava. Para respirar, né.

Eu pensei: “Meu, é hoje que o Boos morre”.

Fiquei tão assustado. Eu acreditava que ele não poderia resistir a esse tipo de coisa. Isso foi num sábado, foi o primeiro dia da Oktoberfest de 1988. Primeiro dia. Passava pela gente um monte de ônibus de turismo. Até que uma hora passou o ônibus de turismo e jogou um papel higiênico no meu olhado, pegou o papel higiênico botou dentro da água e jogou nas costas do Boos, acredita?!

Apesar dos três acharem que nunca mais repetiriam a dose, no outro sábado estavam repetindo o trajeto, porém munidos com equipamentos, dinheiro e câmera fotográfica. E esses sábados viraram também terças e quintas.

A FÊNIX

Acreditando que saúde debilitada após o acidente não poderia suportar o ritmo do pedal, Boos, família e amigos foram surpreendidos pelo famoso médico blumenauense Dr. Agobar Fagundes.

Cela conta o diálogo que Boos descreveu para ele. “O Agobar chegou para perguntou “O que que você está fazendo?” e eu respondi “Estou pedalando. Estou pedalando muito”. E o Dr. Falou “Então continue, porque isso está te fazendo muito bem!”. Foi uma coisa impressionante a mudança que isso trouxe no Boos.

Frau Boos não gostou do retorno do filho ao mundo do pedal e Fernando entende que por anos ela ficou chateada com ele por incentivar o amigo, mas entendeu que aquilo que quase matou o filho era o “antídoto” para sua doença.

ATÉ NASCER O “PEDAL DO BOOS”

Os pedais eram pesados. Aos sábados, faziam 100km, 80, 120, 130 km. Percorriam cidades vizinhas, iam para a praia. É preciso recordar, que na década de 1980, o Brasil não era aberto a importação de produtos. Usava-se apenas o que era produzido no Brasil. Porém a bicicleta Caloi 10 não era adequada para trilha. Tanto Boos, como Cela, começaram criar em conjunto adaptações em bicicletas para que pudessem encarar novos desafios, como exemplo uma extinta trilha que havia na localidade Faxinal do Bepe, extremo sul de Blumenau.

Cela e Boos na localidade Faxinal do Bepe, em 1989. Foto: Arquivo pessoal Fernando Cela Neto.

Fernando relembra:

“Eu e o Boos inventamos o mountain bike em Blumenau.

Eu digo… Não é brincadeira. Nós inventamos o mountain bike sem saber. Por necessidade.
Não tinha conhecimento. Não tinha informação nenhuma. Equipamento. E aí, um certo dia, teve um amigo nosso comum que ele morava na Alemanha e ele veio para o Brasil e trouxe uma mountain bike (MTB). Quando voltou, acabou deixando a bicicleta com a mãe dele e o Boos a comprou. Nisso eu comecei a estudar, estruturar e montei minha própria MTB. Eu fui até em São Paulo em lojas praticamente clandestinas atrás de peças. Deu certo!”

Nasceram ali, de uma só vez, dois mecânicos de bicicleta.

Placa da oficina que era localizada na sua casa. Foto: Arquivo pessoal.

Cela foi morar na Alemanha por um tempo. Lá, trabalhou também como mecânico de bicicletas. Em contato com o amigo, trazia e enviava para o Brasil ferramentas, equipamentos, peças. Combinaram de que quando retornasse ao Brasil abririam uma oficina de consertos e vendas.

Boos já tinha no fundo de sua casa um espaço onde consertava bikes. Durante o dia, trabalhava em uma distribuidora de brinquedos e, à noite, consertava bikes. Fernando, retornando da Alemanha, isso no ano de 1994, foi direto trabalhar na oficina. As visões de negócio dos dois amigos eram diferentes. Fernando queria profissionalizar o negócio, já Boos, aqui talvez o lado “Wilberto” tivesse medo de abrir o negócio, um pouco de teimosia.

Amigos, amigos; negócios à parte. A parceria comercial não deu certo, mas a amizade continuou a mesma. Boos, um tempo depois, saiu da distribuidora, e foi, como profissão, mecânico de bicicletas até sua morte.

Em paralelo à oficina, o “pedal do Boos” foi tomando corpo. Primeiro, com os encontros saindo da oficina e depois do “Castelinho da Moellmann”, hoje “castelinho da Havan”, o pedal era conhecido por não fazer distinções ciclísticas. Participavam crianças, idosos, quem sabia pedalar, quem estava aprendendo. Ninguém ficava para trás. Inclusive Boos ficou conhecido por ser “o último a chegar”, justo por não deixar ninguém para trás. O pedal fico na ativa até o ano de sua morte, após isso assumiu o pedal o Marlon, do Marlon Bikes, e hoje o pedal é conhecido por “Amigos do Pedal”, que ainda está em atividade.

Adriana relembra de outros pedais com tio. Ela também fez parte dos primeiros pedais do grupo.

Adriana conta:

“O meu tio resolveu ir com um pessoal, adultos e muitas crianças, inclusive vizinhos da rua João Boos, onde morava para um pedal de contemplação. Não tinha esse lance das bicicletas top, não tinha roupa especial, mal tinha um capacete, né?!

Os pais deixaram as crianças irem juntos, só que acho que eles não faziam ideia da distância que meu tio às vezes resolvia pedalar. A gente tinha combinado a princípio irmos todos para o Morro do Baú até a cachoeira.

Nós chegamos lá, fomos foi tomar banho de cachoeira… foi legal, foi bacana.

Voltamos pela BR470 que estava em obras, tu acreditas? E assim a gente pedalando pela estrada de barro no meio de trator e caminhão. Aquilo lá foi uma loucura chegou um ponto que uma pessoa caiu numa das descidas se ralou e não foi pouco.

Imagina a distância que foi voltar pela 470 em obras ainda! Acho que os pais nem podiam sonhar na época, não sei se os filhos contaram, eu sei que teve crianças que não conseguiram mais pedalar.

O que aconteceu foi que meu tio e outros adultos pegaram cordas amarram na bicicleta dessas crianças na deles e guincharam. Isso foi uma aventura, a gente morrendo de fome, chegamos lá na altura da República Argentina atacamos um pé de goiaba verde porque estava todo mundo morrendo de fome não aguentava mais, depois o pessoal foi se distanciando.

Todo mundo chegou bem… todo mundo chegou vivo, mas todo mundo cansado. Aquilo lá ficou para a história!”

Assim como o Cela já havia dito, Adriana reforça que a frase “o Boos não deixava ninguém para trás!” Em uma dessas andanças de bike, ela, a irmã Cristiane, o tio e mais um grupo de pessoas foram para a Nova Rússia. Pedalada vai, pedalada vem, pararam para tomar banho de rio. Todo o grupo havia se distanciado, apenas os três ficaram para trás. Depois de alguns mergulhos, os três se encontram com o grupo que estava enfurecido, achando que algum acidente havia acontecido dada a demorada do três.

A sobrinha do Boos enfatiza que nem eles escaparam das críticas do outros ciclistas.
“Tinha um rapaz que, na época, falou assim “Pô, esses sobrinhos do Boos tão aí atrasando ele. Se não estavam preparados para pedalar, então não viessem!!”

E mal ele sabia, eu o peguei do flagra falando isso.”

Adriana recorda do ponto de parada favorito na região: o Rancho do Willy. O local, conhecido pelo café colonial caseiro, fica na Nova Rússia, extremo sul de Blumenau. Lá, seu tio sempre fez questão de combinar com antecedência com os proprietários, Dona Irene e Willy, para garantir o café que abastecia os ciclistas antes da volta para casa.

O MISSIONÁRIO DA BICICLETA

Da Alemanha, Cela voltou não só com ferramentas, mas com visão de mobilidade por bicicletas. Até os anos de 1997, não havia nenhum tipo de espaço exclusivo para rolagem de bicicletas. Boos e ele, começaram uma empreitada em busca de espaços seguros para os ciclistas na cidade. Politicamente, em 1996, Décio Lima foi eleito prefeito da cidade. Durante campanha, falaram com a chapa que apoiou a ideia de implementação de ciclovias em Blumenau, já que a “modernização urbana” era um dos pontos chave da campanha. Não perdendo tempo, na noite da vitória, já entraram em contato com a chapa vencedora marcando reunião.

Paralelo a isso, ainda em 1996, o empresário Eldon Jung convocou uma assembleia pública em relação a atropelamentos que aconteciam na rua Bahia, próximo a sua empresa. O intuito era a implementação de uma ciclovia no local. Eldon, Cela e Boos começaram a conversar e dessa união nasceu a Associação Blumenauense Pró Ciclovias (ABC), a primeira do Brasil nesse seguimento e na ativa até hoje.

Além da ABC, Boos fez parte de outros movimentos. Foi o primeiro diretor de MTB da Federação Catarinense de Ciclismo (FCC), em 1991; também foi o percursor do Cicloturismo em Urubici, Blumenau e região.

Cicloturismo em Urubici. Foto: Jonathan Junge

Giovani conheceu o Boos mais ou menos pelos anos de 2004, em uma reunião da Associação. Anterior a isso traz que sua relação com a bicicleta se aprofundou somente depois dos 27 anos. Na infância, brincava com sua Monareta Vermelha, mas na adolescência o sonho era “fazer 18 anos e ter um carro” relata. A vida transcorri e as pessoas mudam. Para conseguir conciliar estudo, trabalho, transporte e renda, Giovani adotou a bicicleta como meio e transporte diário. Na época, usava uma bike que havia dado de presente para sua companheira, Beta. Acompanhado do primo, foram fazer alguma manutenção na bicicleta quando receberam o convite do Lino, dono Bike Blu, para participar de uma votação da Associação e “dar uma força para o pessoal”. Nessa reunião, conheceu Boos, Eldon, Fabricio e outros integrantes. Conheceu o cicloativismo e reconheceu a importância de, como ciclista, se posicionar frente as questões de mobilidade. Talvez uma reunião que tenha mudado o curso da sua vida.

A relação dele com a bicicleta é outra, é transporte. Entretando, reconhece o importante papel que Boos teve para a sua formação como cicloativista.

Giovani conta:
“Minha relação com o Boos foi muito relacionada com políticas públicas, com a oficina dele, com as reuniões da ABC, organização de passeio ciclístico aos domingos com escolas e tal, da gente montando, fazendo roteiro.

Pedalar com ele à noite nesses pedais que ele fazia ou nessas viagens de cicloturismo ali eu fui bem pouco, bem pouco mesmo.

Ali na oficina, na casa dele, naquele lugar, aquilo foi sempre uma fonte de inspiração, de estar presente com ele, de entender a bicicleta. Fui absorvendo bastante daquilo e me ajudou a formar essa pessoa que eu sou hoje.”

Boos permaneceu na Associação até o seu falecimento, sendo um importante ativista da bicicleta a nível local e reconhecido nacionalmente. “Ele tinha um carisma único. A bicicleta era mais do que um meio de transporte para ele; era uma extensão de quem ele era”, recorda Fernando.

As palavras de Boos, eternizadas no documentário “Boos – Mobilidade Humana” produzido pelo Lambreta filmes e disponível no Youtube, revelam sua filosofia de vida: “Pedalando descobri a cidade onde vivo. Olho nos olhos das pessoas, vejo pássaros, sinto o vento, a chuva e às vezes até a dor. É minha forma de viver e ser feliz.”

Blumenau homenageou Boos nomeando a malha cicloviária em sua memória, um reconhecimento simbólico para alguém que viveu e morreu acreditando no poder transformador da bicicleta.

Bicicletada na rua XV de Novemebro. Foto: Gregori Morastoni.

PAUSA PARA O CAFÉ

Apesar da aparente linearidade do texto, nossa conversa foi e voltou nos assuntos. Outros inclusive que não foram o Boos. Após uma pausa para um café e o retorno da gravação, eram 16h.

Fernando, que apesar de bem-falante, no início das gravações estava com um sentimento no olhar que eu não sabia descrever. Provavelmente, antes mesmo de chegar ali, ele pensou muito no que iria falar. Revisitou sentimentos que nesses dez anos o cérebro da gente faz questão de guardar bem guardado.

Às 16h, Cela chora de forma discreta. Seus olhos aguam e desaguam. Saudade era o sentimento, sentimento esse que as vezes a gente máscara com outro. Chora porque lembra das dores que o amigo sentia por sequela do acidente, saudade da amizade verdadeira. Não escrevi antes, mas inúmeras vezes ele ressalta o carisma, alegria, a risadas e o companheirismo com o amigo – às vezes um pouco teimoso. Como ele mesmo define, uma dupla, uma dupla dessas que a gente só encontra uma vez na vida.

Carismático e engraçado, Boos levava alegria e boas palavras por onde passava. Foto: Arquivo pessoal.

Fernando, em muitos momentos, disse que o “SE” não existe na vida. E “se” tal coisa tivesse acontecido e “se isso” ou “se aquilo”, “ia ser assim” ou “assado”. Um “SE” ele traz como certeza: “Se” o acidente não tivesse acontecido, Boos não seria quem ele foi, quem ele é.

Adriana não entende a partida antecipada do tio. Precisou de algum tempo para digerir tudo o que aconteceu com ele em seus últimos meses de vida. Sua morte foi causada por uma sequela do AVC, que sofreu em setembro de 2014. Um desequilíbrio fatal, coisas que não entendemos por que são como são. Melhor do que falar sobre sua partida, é valor sobre sua vida, seu legado.

Giovani ocupa, mesmo sem se dar conta, um espaço em aberto que foi deixado após a partida do Boos. Muitas pessoas passaram, mas poucos permaneceram tão fielmente ao cicloativismo local. Um nome que é sempre lembrado. Quando Boos tinha a sua oficina ele recebia as pessoas, nem só para arrumar bike, mas para boas e filosóficas conversas. Giovani tem, como ponto de encontro, a rua quinze novembro onde aluga bicicletas e ensina muitas pessoas a pedalarem e a experimentarem esse mundo que o Boos nos ensinou a contemplar.

Contemplação da cidade de Blumenau. Foto: Angelina Wittmann

Esse texto além de ser uma homenagem para o cicloativista Wilberto Boos, é uma homenagem a todos os ciclistas que perderam sua vida no trânsito local, como o Irineu, o Gerson e o Paulo André Braga (Paulo Lexotan).

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