“Atingir a nova classe média é um desafio para candidaturas tradicionais”
Colunista avalia como mudança no perfil do eleitorado influencia o atual cenário político brasileiro
Um novo eleitor de um Brasil diferente
As Eleições 2018 ainda nem acabaram, mas os resultados do primeiro turno exigem de todos nós brasileiros ampla e profunda reflexão. E isso se estenderá por algum tempo, tamanhas foram as mudanças, a exemplo do que ocorreu nas eleições parlamentares.
Mas são as candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), vitoriosos do primeiro turno destas eleições presidenciais, que talvez sejam as mais reveladoras.
Desde as eleições presidenciais de 1989, a primeira do atual período de redemocratização do Brasil, o PT vem se colocando como único partido genuinamente representante da classe operária, ou, em bom português, dos pobres. O duelo se deu com Fernando Collor (PRN), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), José Serra (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Aécio Neves (PSDB).
Ocorre que nesse período o eleitor do Brasil não só aumentou muito, como também alterou significativamente o seu perfil. A chamada nova classe média, ou classe C, foi incrementada em quase 40 milhões de pessoas nos últimos anos.
Com renda média entre um e três salários mínimos, estima-se que representam metade da população brasileira. São cidadãos que pela primeira vez embarcaram num avião, passam a frequentar cinema, shoppings e restaurantes, tornando-se mais exigentes e senhores de si.
Atingir esse eleitor é um desafio para as candidaturas tradicionais, tanto do PSDB quanto do PT. Este último, que inventou o “nós” e o “eles”, ficou ainda mais distante da nova realidade, na medida em que o partido ainda se autoproclama único legítimo representante dos pobres.
A sociedade mudou, o Brasil está mudando, e os partidos, as campanhas eleitorais e principalmente os governos precisam acompanhar os novos tempos. Sob pena de vivenciarmos os seus enterros, um a um, nas urnas.
César Wolff escreve sempre às quintas-feiras